A Longa Noite

POV IVY

Ivy chegou em casa bem depois da meia-noite, exausta fisicamente, mas com a mente em um turbilhão. Ela jogou a bolsa em um canto do pequeno apartamento e foi direto para a cozinha, onde abriu a geladeira em busca de qualquer coisa que pudesse distraí-la. Tudo o que encontrou foi uma garrafa de água e algumas sobras de comida da noite anterior.

Ela suspirou, fechando a geladeira com mais força do que o necessário. "Quem ele pensa que é?" A frase ecoava em sua mente como um disco arranhado. Aquele homem misterioso, com sua postura imponente e olhar ardente, parecia estar gravado em sua memória contra a sua vontade.

De repente, o som de uma notificação no celular a tirou de seus devaneios. Era uma mensagem de Nina, sua melhor amiga.

Nina: "Tá acordada? Quero saber tudo sobre esse trabalho extra que te fez cancelar nossa noite de pizza e filmes!"

Ivy sorriu pela primeira vez em horas. Nina sempre conseguia arrancar uma reação positiva dela, mesmo nos piores dias.

Flashback: Como Ivy e Nina se conheceram

Elas se conheceram há cinco anos, quando Ivy começou a trabalhar como garçonete em um pequeno café do centro da cidade. Nina, uma cliente habitual, era impossível de ignorar – sempre cheia de energia, com risadas contagiantes e comentários sarcásticos sobre a vida.

"Você é nova aqui, né?"  Nina perguntou em sua primeira visita, apoiando o cotovelo no balcão enquanto estudava Ivy com olhos atentos.

"É, comecei hoje."  Ivy respondeu, tentando soar confiante apesar de sua insegurança.

"Bom, um conselho: nunca confie nos doces da vitrine. Eles são bonitos, mas vão te decepcionar." “ Nina piscou, fazendo Ivy soltar uma risada inesperada.

A partir daquele momento, uma amizade nasceu. Nina aparecia todos os dias no café, e logo as duas começaram a sair juntas. Era fácil estar perto de Nina. Ela era engraçada, leal e tinha um jeito peculiar de sempre saber quando Ivy precisava de apoio, mesmo sem ela dizer nada.

De volta ao presente, Ivy respondeu à mensagem enquanto se jogava no sofá.

Ivy: "Foi um pesadelo. O tipo de evento onde as pessoas te olham como se você fosse invisível ou uma mancha no tapete persa delas."

Não demorou nem um minuto para Nina ligar. Ivy atendeu antes do primeiro toque terminar.

"E então? Conta tudo! Algum figurão bêbado tentou te passar cantada barata?"  Nina começou, sem rodeios.

"Não, nada disso. Foi… diferente." “ Ivy hesitou, mordendo o lábio.

"Diferente como?" “ Nina perguntou, com a curiosidade evidente na voz.

"Havia esse homem…" “ Ivy começou, mas imediatamente se arrependeu ao sentir o tom de provocação que Nina assumiria.

"Ahá! Um homem misterioso! Continue, quero todos os detalhes."

 "Ele era… estranho. Intenso. Sabe quando alguém olha pra você como se pudesse ver direto na sua alma? Foi assim. E ele parecia… irritado comigo, por algum motivo."

Nina soltou uma risada curta.

"Talvez ele não goste de garçonetes. Ou talvez seja um milionário excêntrico que está acostumado a todo mundo abaixar a cabeça pra ele."

Ivy revirou os olhos, mas não conseguiu evitar um sorriso. Nina tinha uma maneira de transformar qualquer coisa em algo menos assustador.

 "Você tá rindo, não tá? Eu sabia que ia fazer você relaxar!" Nina disse triunfante.  "Agora, me diz uma coisa: ele era bonito pelo menos?"

 "Isso não vem ao caso."  Ivy respondeu, corando levemente.

 "Ah, então ele era lindo. Estou certa?" Nina insistiu, com uma risada zombeteira.

 "Tá, ele era… diferente. Bonito de um jeito meio selvagem, entende? Mas tinha algo nele que me dava arrepios."

O tom de Nina mudou para algo mais sério.

"Arrepios bons ou ruins?"

"Não sei. Talvez os dois?"

Por um momento, houve silêncio entre as duas, até Nina mudar de assunto abruptamente.

 "Falando em homens, lembra do Diego? Aquele meu ex que dizia que ia ser um grande empresário, mas só sabia vender curso de pirâmide?"

Ivy soltou uma gargalhada alta, a tensão do dia finalmente começando a se dissipar.

 "Como eu poderia esquecer? Ele te mandou mensagem de novo?"

 "Mandou. Disse que queria 'reconstruir o que perdemos'. Eu só respondi: 'Eu perdi meu tempo, Diego. Espero que você reconstrua o seu.'"

As duas riram juntas, e a conversa descontraída continuou por mais alguns minutos, com Nina contando histórias sobre seus desastrosos relacionamentos passados e Ivy compartilhando alguns dos seus próprios.

Quando finalmente desligaram, Ivy se sentiu um pouco mais leve, mas a sensação persistente de inquietação ainda estava lá, como uma sombra à espreita.

Ela se deitou na cama, mas, ao fechar os olhos, tudo o que viu foi aquele par de olhos verdes acinzentados. Por mais que tentasse afastar a imagem, ela parecia gravada em sua mente.

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