As semanas seguintes se desenrolaram como um novo amanhecer para Ivy. A dor da guerra ainda era recente, as cicatrizes invisíveis marcavam sua alma, mas havia também uma chama crescente dentro dela. Algo ancestral, poderoso, e que, pela primeira vez, não a assustava. Com Kael ao seu lado, cada treino, cada momento de conexão com seus poderes, tornava-se mais fluido, mais parte de quem ela realmente era.Kael era paciente e firme. Ele a guiava com confiança, ensinando-lhe a controlar a força de seus golpes, a canalizar a energia que emanava dela em ondas de luz e calor. A transformação em sua forma de Lycan havia sido dolorosa, sim, mas também libertadora. Ela se lembrava de como seus ossos pareciam estalar sob a pele, da forma como a pele queimava ao se esticar, das lágrimas que correram por seu rosto misturadas ao suor... mas também se lembrava do olhar de Kael, firme e amoroso, o mantendo no presente, impedindo-a de se perder na dor.Agora, se mudara para a mansão definitivamente. A
O mundo parecia silencioso demais quando Ivy foi autorizada a sair da ala de cura. Eles também moveram Damian para o quarto da mansão, já que ele não tinha nenhuma piora e assim Nina poderia dormir ao seu lado. O frio da guerra ainda pairava sobre a alcateia, mesmo que o sol brilhasse com mais constância e o cheiro de sangue já não fosse presente no ar. Havia algo de estranho em caminhar pelas trilhas novamente, sentindo a vida pulsando sob seus pés, quando tantos não podiam mais.Kael a ajudava a andar, com o braço firme ao redor de sua cintura, como se tivesse medo de que ela caísse. E, por vezes, ela quase caía. Não só pela fraqueza física, mas pelo peso em seu peito.“ Eles não estão mais aqui “ ela sussurrou, encarando as clareiras vazias, os postos de vigia silenciosos.“ Mas parte deles vive em tudo isso “ respondeu Kael. “ No que vamos reconstruir. No que você é.”Ao retornar à mansão, Ivy sentiu os olhos marejarem. O lugar que antes lhe parecia um campo de batalhas internas
O tempo parecia passar em outra frequência desde que Damian despertou. Uma semana havia se passado, e renascimento e transformações que moldaram a nova realidade. Damian, agora sentado ao lado de Nina no jantar, estava mais leve, com o sorriso de quem voltou de um lugar sombrio e reencontrou a luz.“ E quando eu achei que estava perdido pra sempre, vi uma explosão de luz... “ contou ele, arrancando um suspiro emocionado de Nina. “ Era como se uma força antiga me puxasse de volta. Eu sabia que era vocês. “ Ele olhou para Ivy e Kael com um sorriso sincero.“ Estamos felizes que voltou, irmão “ respondeu Kael, batendo no ombro dele. “ E não se preocupe, não vai voltar para as sombras tão cedo.”Damian deu uma risada.“ Sabe, Kael... até que enfim deixou de ser bundão e marcou logo a mulher. Já tava virando novela mexicana “ disse, e todos riram, até Ivy.Ela corou, desviando o olhar, mas não conseguiu conter o sorriso.“ E eu estou feliz... muito feliz por fazer parte dessa alcateia. Por
POV IVYIvy Delacroix passou a vida aprendendo a lutar. Não com os punhos, mas com a resistência de quem enfrenta o mundo sozinha desde sempre. Órfã desde os seis anos, cresceu saltando de um lar temporário para outro, acumulando memórias amargas de rejeição e negligência. A cada mudança, ela construía paredes mais altas ao seu redor, aprendendo que depender de alguém só trazia dor.Agora, aos 25 anos, Ivy tinha poucas coisas que chamava de suas. Seu pequeno apartamento com paredes finas e móveis usados. Um emprego como garçonete em um restaurante simples durante a semana e, ocasionalmente, extras em festas luxuosas para pagar o aluguel atrasado. E, claro, os pesadelos que a acompanhavam desde a infância, lembranças fragmentadas de uma noite que roubou seus pais e a deixou sozinha no mundo.Fisicamente, Ivy era uma combinação de suavidade e força. Cabelos castanho-escuros ondulados que chegavam à altura dos ombros, quase sempre presos em um coque bagunçado, olhos cinzentos que carrega
A noite parecia se arrastar para Ivy. O salão, cheio de risadas artificiais e olhares julgadores, era sufocante. Cada passo que dava carregando a bandeja parecia um teste de equilíbrio e nervos. E então aconteceu.Um tropeço. Um deslize mínimo, mas suficiente para que a bandeja escorregasse de suas mãos, derrubando as taças de cristal em um estrondo alto e devastador.O som ecoou pelo salão como um alarme, cortando o burburinho das conversas. Todos os olhares se voltaram para ela. Ivy sentiu o rosto queimar, como se mil refletores estivessem focados em sua humilhação. Ela engoliu em seco, paralisada por um instante, antes de se agachar para recolher os cacos.Mas antes que seus dedos alcançassem o primeiro pedaço de vidro, ele estava lá.O homem que ela havia visto perto da lareira mais cedo. O mesmo que parecia ter cravado seu olhar nela, deixando-a em um misto de fascinação e medo. Ele estava ajoelhado ao seu lado, suas mãos grandes e firmes movendo-se com uma precisão desconcertant
POV IVYIvy se movia pelas bordas do salão, carregando uma bandeja de bebidas com cuidado para não derrubar nada. Sua estratégia era clara: manter-se invisível. Os vestidos brilhantes, as conversas cheias de risadas artificiais e o cheiro opulento de perfumes caros faziam-na sentir como se estivesse em um mundo ao qual não pertencia.O som abafado da música e das conversas parecia envolver o salão em uma bolha. Ivy respirou fundo, tentando ignorar o desconforto que crescia dentro dela. Tudo o que precisava fazer era terminar o turno, pegar seu pagamento e voltar para a sua vida simples e previsível.Mas então, ela o viu.Ele estava de pé próximo à lareira, segurando um copo de uísque com uma mão enquanto observava a sala com uma intensidade que parecia palpável. O homem exalava uma aura perigosa, como se pertencesse a outro mundo. Seu terno preto impecável moldava seu corpo poderoso, destacando ombros largos e uma postura que demandava respeito sem esforço.Ivy parou no meio do caminh
POV IVYIvy chegou em casa bem depois da meia-noite, exausta fisicamente, mas com a mente em um turbilhão. Ela jogou a bolsa em um canto do pequeno apartamento e foi direto para a cozinha, onde abriu a geladeira em busca de qualquer coisa que pudesse distraí-la. Tudo o que encontrou foi uma garrafa de água e algumas sobras de comida da noite anterior.Ela suspirou, fechando a geladeira com mais força do que o necessário. "Quem ele pensa que é?" A frase ecoava em sua mente como um disco arranhado. Aquele homem misterioso, com sua postura imponente e olhar ardente, parecia estar gravado em sua memória contra a sua vontade.De repente, o som de uma notificação no celular a tirou de seus devaneios. Era uma mensagem de Nina, sua melhor amiga.Nina: "Tá acordada? Quero saber tudo sobre esse trabalho extra que te fez cancelar nossa noite de pizza e filmes!"Ivy sorriu pela primeira vez em horas. Nina sempre conseguia arrancar uma reação positiva dela, mesmo nos piores dias.Flashback: Como I
Ivy andou pela sala do pequeno apartamento, os braços cruzados, como se tentasse se segurar. Seu coração ainda estava acelerado, e a sensação dos lábios dele nos seus continuava a assombrá-la. Era como se o beijo tivesse deixado uma marca invisível que queimava cada vez que ela pensava nisso – o que era constante."Isso é loucura," murmurou para si mesma, jogando-se no sofá. Tentou se concentrar em qualquer outra coisa: no som distante de buzinas na rua, na televisão desligada, até mesmo no estalo leve do cano do aquecedor. Mas nada abafava as lembranças daquela noite.Raiva e atração se misturavam de maneira desconfortável dentro dela. Ele a havia beijado sem permissão, a puxado para aquele momento de pura intensidade... e ela havia correspondido. "Por quê?" pensou, a irritação consigo mesma crescendo. Ela não era o tipo de pessoa que se deixava levar por impulsos, muito menos por estranhos que a perseguiam pelas ruas. Até mesmo seus antigos namorados ela não se permitia assim.Seu t