POV IVY
Ivy Delacroix passou a vida aprendendo a lutar. Não com os punhos, mas com a resistência de quem enfrenta o mundo sozinha desde sempre. Órfã desde os seis anos, cresceu saltando de um lar temporário para outro, acumulando memórias amargas de rejeição e negligência. A cada mudança, ela construía paredes mais altas ao seu redor, aprendendo que depender de alguém só trazia dor.
Agora, aos 25 anos, Ivy tinha poucas coisas que chamava de suas. Seu pequeno apartamento com paredes finas e móveis usados. Um emprego como garçonete em um restaurante simples durante a semana e, ocasionalmente, extras em festas luxuosas para pagar o aluguel atrasado. E, claro, os pesadelos que a acompanhavam desde a infância, lembranças fragmentadas de uma noite que roubou seus pais e a deixou sozinha no mundo.
Fisicamente, Ivy era uma combinação de suavidade e força. Cabelos castanho-escuros ondulados que chegavam à altura dos ombros, quase sempre presos em um coque bagunçado, olhos cinzentos que carregavam uma melancolia constante e pele marcada por pequenos arranhões e cicatrizes que pareciam contar histórias. Seu corpo era magro, mas forte, reflexo de anos de trabalho duro e sobrevivência em um mundo implacável.
Naquela noite, Ivy estava exausta. Ela tinha aceitado um turno extra para servir em um evento luxuoso em uma mansão no alto de uma colina, um lugar tão afastado que parecia tirado de um filme. O salão era grandioso, decorado com lustres cintilantes e tapetes persas, lotado de pessoas bem-vestidas e de aparência intimidante.
POV KAEL
Kael Ryan era o exemplo perfeito de poder e autoridade. Alto, com mais de 1,90m, seu corpo parecia esculpido para a batalha, cada músculo carregando a promessa de força bruta. Seu cabelo negro, sempre levemente bagunçado, conferia a ele um ar selvagem, mas era nos olhos verdes acinzentados que residia o verdadeiro perigo. Olhos que pareciam carregar uma tempestade, frios e calculistas, sempre analisando o ambiente com precisão letal.
A sala de eventos, iluminada por lustres de cristal e cheia de risadas superficiais e jogos de poder, era um contraste absoluto com a essência de Kael. Ele odiava esses encontros sociais, mas era necessário manter as aparências. Como alfa da maior alcateia do continente, suas alianças políticas eram tão importantes quanto sua força no campo de batalha.
Enquanto bebia um uísque caro – mais para ocupar as mãos do que pelo sabor – Kael sentiu um aroma. Não era qualquer aroma. Era doce e floral, com uma nota sutil de algo desconhecido, algo que o fez congelar no lugar. Seus olhos percorreram o salão, a mandíbula tensa, enquanto tentava localizar a fonte daquela fragrância que agora dominava todos os seus sentidos.
Foi quando a viu.
Ela estava ali, movendo-se entre os convidados com uma graça despretensiosa, segurando uma bandeja com taças de champanhe. O uniforme de garçonete que ela usava era simples, mas havia algo que fazia o mundo ao seu redor desaparecer. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque bagunçado, deixando à mostra a delicada curva do pescoço. Sua pele tinha um brilho natural, e os olhos – grandes e profundos, de um castanho quente – carregavam uma mistura de cansaço e determinação que o fez se sentir vulnerável, um sentimento que ele desprezava.
“Não… Não pode ser”, pensou Kael, sentindo a garganta secar.
Dentro dele, Orion rugiu, praticamente empurrando Kael para reivindicá-la ali mesmo.
“ Companheira “ a voz de Orion ecoou em sua mente, forte e inabalável. ‘Sinta isso. É o vínculo.”
Kael apertou a mandíbula, tentando ignorar a presença dominante de seu lobo.
“Porra, a Deusa da Lua deve estar de brincadeira, uma HUMANA, fraca, frágil. “
Orion, no entanto, não recuava.
“A Deusa da Lua não comete erros. Vamos reivindica-la logo.”
Kael sentiu um misto de raiva e desespero crescer em seu peito. A ideia de que sua companheira destinada – aquela que deveria fortalecer seu legado e sua posição como alfa – fosse humana era inaceitável. Humanos eram frágeis, efêmeros, alheios às complexidades do mundo sobrenatural. Como ele poderia proteger a alcateia e, ao mesmo tempo, proteger alguém tão… vulnerável? Como iria comandar a maior alcateia do continente com um ser tão desprezível e fraco. Ela não seria a nossa Luna.
Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nela como se fosse um predador à espreita. Mas a cada passo, o cheiro dela se tornava mais forte, e com ele, a necessidade primitiva de tocá-la, de reivindicá-la como sua. Orion alimentava essa urgência, rugindo em sua mente com uma intensidade que fazia o corpo de Kael tremer.
“Pare com isso, Orion! Eu não a aceitarei.”
“ Você não tem escolha “ respondeu Orion com um tom de certeza implacável. “Sua resistência é inútil. Não pode rejeita-la, olhe para ela, Kael. O jeito que ela respira, o jeito que o coração dela b**e... ela já é parte de nós.”
Kael respirou fundo, tentando ignorar o calor que subia por seu corpo, o desejo irracional que ameaçava consumir sua lógica. Ele cerrou os punhos, suas garras ameaçando surgir enquanto lutava para controlar o lobo dentro de si.
De repente, os olhos de Ivy se ergueram, encontrando os dele por um breve momento. Aquela troca de olhares durou segundos, mas pareceu uma eternidade. Ela franziu a testa, como se sentisse algo estranho, antes de desviar o olhar rapidamente e continuar com seu trabalho.
Kael sentiu uma onda de frustração e algo que ele não queria reconhecer: uma pontada de dor por ela não tê-lo reconhecido como sua alma gêmea.
“Ela não sabe “disse Orion, mais calmo agora, mas ainda com um tom possessivo. “Mas vai saber. E quando souber, será tarde demais para você fugir.”
Kael girou o copo de uísque em sua mão, sua mente em caos absoluto. Ele sabia que a Deusa da Lua não fazia nada por acaso, mas isso? Isso parecia uma crueldade deliberada. Ele precisava se afastar. Precisava se concentrar em seus deveres, não em uma humana que nem sequer sabia da existência dos lobisomens.
Mas, enquanto observava Ivy desaparecer entre os convidados, Kael sabia que estava mentindo para si mesmo. Algo havia mudado, e não importava o quanto tentasse negar, ele nunca mais seria o mesmo.
“Você pode tentar fugir, Kael”, pensou Orion, com uma risada sombria. “Mas ela é nossa, quer você queira ou não.”
Kael virou o restante do uísque em um único gole, sentindo o calor da bebida queimar sua garganta. Ele precisava se afastar, agora. Não iria deixar que esse castigo da Deusa da Lua atrapalhasse seus negócios. .
A noite parecia se arrastar para Ivy. O salão, cheio de risadas artificiais e olhares julgadores, era sufocante. Cada passo que dava carregando a bandeja parecia um teste de equilíbrio e nervos. E então aconteceu.Um tropeço. Um deslize mínimo, mas suficiente para que a bandeja escorregasse de suas mãos, derrubando as taças de cristal em um estrondo alto e devastador.O som ecoou pelo salão como um alarme, cortando o burburinho das conversas. Todos os olhares se voltaram para ela. Ivy sentiu o rosto queimar, como se mil refletores estivessem focados em sua humilhação. Ela engoliu em seco, paralisada por um instante, antes de se agachar para recolher os cacos.Mas antes que seus dedos alcançassem o primeiro pedaço de vidro, ele estava lá.O homem que ela havia visto perto da lareira mais cedo. O mesmo que parecia ter cravado seu olhar nela, deixando-a em um misto de fascinação e medo. Ele estava ajoelhado ao seu lado, suas mãos grandes e firmes movendo-se com uma precisão desconcertant
POV IVYIvy se movia pelas bordas do salão, carregando uma bandeja de bebidas com cuidado para não derrubar nada. Sua estratégia era clara: manter-se invisível. Os vestidos brilhantes, as conversas cheias de risadas artificiais e o cheiro opulento de perfumes caros faziam-na sentir como se estivesse em um mundo ao qual não pertencia.O som abafado da música e das conversas parecia envolver o salão em uma bolha. Ivy respirou fundo, tentando ignorar o desconforto que crescia dentro dela. Tudo o que precisava fazer era terminar o turno, pegar seu pagamento e voltar para a sua vida simples e previsível.Mas então, ela o viu.Ele estava de pé próximo à lareira, segurando um copo de uísque com uma mão enquanto observava a sala com uma intensidade que parecia palpável. O homem exalava uma aura perigosa, como se pertencesse a outro mundo. Seu terno preto impecável moldava seu corpo poderoso, destacando ombros largos e uma postura que demandava respeito sem esforço.Ivy parou no meio do caminh
POV IVYIvy chegou em casa bem depois da meia-noite, exausta fisicamente, mas com a mente em um turbilhão. Ela jogou a bolsa em um canto do pequeno apartamento e foi direto para a cozinha, onde abriu a geladeira em busca de qualquer coisa que pudesse distraí-la. Tudo o que encontrou foi uma garrafa de água e algumas sobras de comida da noite anterior.Ela suspirou, fechando a geladeira com mais força do que o necessário. "Quem ele pensa que é?" A frase ecoava em sua mente como um disco arranhado. Aquele homem misterioso, com sua postura imponente e olhar ardente, parecia estar gravado em sua memória contra a sua vontade.De repente, o som de uma notificação no celular a tirou de seus devaneios. Era uma mensagem de Nina, sua melhor amiga.Nina: "Tá acordada? Quero saber tudo sobre esse trabalho extra que te fez cancelar nossa noite de pizza e filmes!"Ivy sorriu pela primeira vez em horas. Nina sempre conseguia arrancar uma reação positiva dela, mesmo nos piores dias.Flashback: Como I
Ivy andou pela sala do pequeno apartamento, os braços cruzados, como se tentasse se segurar. Seu coração ainda estava acelerado, e a sensação dos lábios dele nos seus continuava a assombrá-la. Era como se o beijo tivesse deixado uma marca invisível que queimava cada vez que ela pensava nisso – o que era constante."Isso é loucura," murmurou para si mesma, jogando-se no sofá. Tentou se concentrar em qualquer outra coisa: no som distante de buzinas na rua, na televisão desligada, até mesmo no estalo leve do cano do aquecedor. Mas nada abafava as lembranças daquela noite.Raiva e atração se misturavam de maneira desconfortável dentro dela. Ele a havia beijado sem permissão, a puxado para aquele momento de pura intensidade... e ela havia correspondido. "Por quê?" pensou, a irritação consigo mesma crescendo. Ela não era o tipo de pessoa que se deixava levar por impulsos, muito menos por estranhos que a perseguiam pelas ruas. Até mesmo seus antigos namorados ela não se permitia assim.Seu t
POV KAELKael andava de um lado para o outro no pequeno escritório improvisado em sua casa, cada passo ecoando a raiva contida que parecia prestes a explodir. Seus punhos estavam cerrados, os músculos tensionados, e sua mente era um campo de batalha. O cheiro dela ainda pairava no ar, doce e inebriante, como uma lembrança cruel que Orion se recusava a deixar ir. A sensação do doce do seu beijo, a força primitiva desesperada para reivindica-la, descendo direto para minha ereção apenas de lembrar."Você é fraco," ele rosnou para si mesmo, chutando uma cadeira no caminho. A madeira se arrastou pelo chão com um rangido, mas ele mal percebeu. O ódio fervia em suas veias – ódio por si mesmo, por Orion, por aquela mulher.Mas era mentira. Ele não a odiava. Não conseguia."Orion!" Kael gritou para dentro de si, tentando forçar o lobo a responder. "Você cedeu a ela! Me fez ceder!"A risada baixa e gutural do lobo reverberou em sua mente, carregada de um tom provocador."Eu não te fiz nada," re
POV IVY Ivy sentia como se sua vida tivesse sido subitamente virada de cabeça para baixo. Depois daquela noite – depois daquele beijo –, nada parecia normal. Ela tinha dificuldade em se concentrar, e até mesmo as coisas mais simples, como passar as páginas de um livro ou caminhar até o trabalho, pareciam tarefas impossíveis.Deitada na cama, encarando o teto, ela não conseguia evitar. O rosto daquele homem misterioso estava gravado em sua mente: os olhos verdes acinzentados, a força quase assustadora com que ele a segurou, e o toque avassalador que enviou ondas de calor e confusão por todo o seu corpo.E o mais frustrante? Ela nem sequer sabia o nome dele.Na manhã seguinte, Nina encontrou Ivy sentada no sofá, o laptop aberto e uma pilha de papéis e livros ao lado dela."Bom dia, Sherlock Holmes," Nina provocou, jogando-se ao lado da amiga e pegando uma xícara de café da mesa. "Me diga, quem é a nova obsessão?"Ivy revirou os olhos, mas o tom brincalhão de Nina conseguiu arrancar um
POV IVYIvy estava no sofá de seu apartamento, cercada por papéis espalhados. Tinha passado a última noite pesquisando a família Ryan. As informações que encontrou eram confusas, mas estranhamente intrigantes: artigos que mencionavam o nome em contextos históricos, lendas sobre linhagens poderosas e até rumores sobre sociedades secretas.Nina entrou no apartamento, carregando sacolas de compras, e parou ao ver a cena."Tá parecendo uma detetive obcecada," Nina comentou, levantando uma sobrancelha. "Isso é tudo por causa daquele cara?""Eu só quero entender," Ivy respondeu, sem tirar os olhos do computador. "Olha isso. A família dele tem registros em histórias que datam de séculos atrás. É como se eles sempre estivessem à margem de tudo, mas influenciando de alguma forma."Nina colocou as sacolas na mesa e se aproximou. "E o que exatamente você está procurando? Uma explicação mágica para o fato de ele ser um cretino que aparece e desaparece?"Ivy suspirou, exasperada. "Não é isso, Nina
Ivy cruzou os braços, tentando esconder o nervosismo. "Então, fale. Explique essa loucura. Lobisomens? Companheiros escolhidos? Você espera que eu simplesmente acredite nisso?"Kael passou a mão pelos cabelos, claramente irritado. "Eu não me importo se você acredita ou não. Isso não muda os fatos. Eu sou um lobisomem, e você foi escolhida pela Deusa da Lua para ser minha companheira. É assim que funciona na minha espécie. E, por mais que eu tenha tentado... eu não consigo romper esse vínculo sem o perigo de você morrer, não que eu me importe, mas Orion meu lobo interior se importa e não deixa eu concluir o ritual."Ivy balançou a cabeça, incrédula. "Isso é loucura. Eu não sou parte disso, Kael. Eu sou só... uma garota normal!"Kael deu um passo à frente, a proximidade dele fazendo o ar ao redor parecer mais denso. "Você acha que isso é normal? Acha que o que você sente quando estamos juntos é normal?"Ivy abriu a boca para responder, mas as palavras morreram em sua garganta. Porque el