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Legado Oculto
Legado Oculto
Por: Catherine Campell
Destinos entrelaçados

POV IVY

Ivy Delacroix passou a vida aprendendo a lutar. Não com os punhos, mas com a resistência de quem enfrenta o mundo sozinha desde sempre. Órfã desde os seis anos, cresceu saltando de um lar temporário para outro, acumulando memórias amargas de rejeição e negligência. A cada mudança, ela construía paredes mais altas ao seu redor, aprendendo que depender de alguém só trazia dor.

Agora, aos 25 anos, Ivy tinha poucas coisas que chamava de suas. Seu pequeno apartamento com paredes finas e móveis usados. Um emprego como garçonete em um restaurante simples durante a semana e, ocasionalmente, extras em festas luxuosas para pagar o aluguel atrasado. E, claro, os pesadelos que a acompanhavam desde a infância, lembranças fragmentadas de uma noite que roubou seus pais e a deixou sozinha no mundo.

Fisicamente, Ivy era uma combinação de suavidade e força. Cabelos castanho-escuros ondulados que chegavam à altura dos ombros, quase sempre presos em um coque bagunçado, olhos cinzentos que carregavam uma melancolia constante e pele marcada por pequenos arranhões e cicatrizes que pareciam contar histórias. Seu corpo era magro, mas forte, reflexo de anos de trabalho duro e sobrevivência em um mundo implacável.

Naquela noite, Ivy estava exausta. Ela tinha aceitado um turno extra para servir em um evento luxuoso em uma mansão no alto de uma colina, um lugar tão afastado que parecia tirado de um filme. O salão era grandioso, decorado com lustres cintilantes e tapetes persas, lotado de pessoas bem-vestidas e de aparência intimidante.

POV KAEL

Kael Ryan era o exemplo perfeito de poder e autoridade. Alto, com mais de 1,90m, seu corpo parecia esculpido para a batalha, cada músculo carregando a promessa de força bruta. Seu cabelo negro, sempre levemente bagunçado, conferia a ele um ar selvagem, mas era nos olhos verdes acinzentados que residia o verdadeiro perigo. Olhos que pareciam carregar uma tempestade, frios e calculistas, sempre analisando o ambiente com precisão letal.

A sala de eventos, iluminada por lustres de cristal e cheia de risadas superficiais e jogos de poder, era um contraste absoluto com a essência de Kael. Ele odiava esses encontros sociais, mas era necessário manter as aparências. Como alfa da maior alcateia do continente, suas alianças políticas eram tão importantes quanto sua força no campo de batalha.

Enquanto bebia um uísque caro – mais para ocupar as mãos do que pelo sabor – Kael sentiu um aroma. Não era qualquer aroma. Era doce e floral, com uma nota sutil de algo desconhecido, algo que o fez congelar no lugar. Seus olhos percorreram o salão, a mandíbula tensa, enquanto tentava localizar a fonte daquela fragrância que agora dominava todos os seus sentidos.

Foi quando a viu.

Ela estava ali, movendo-se entre os convidados com uma graça despretensiosa, segurando uma bandeja com taças de champanhe. O uniforme de garçonete que ela usava era simples, mas havia algo que fazia o mundo ao seu redor desaparecer. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque bagunçado, deixando à mostra a delicada curva do pescoço. Sua pele tinha um brilho natural, e os olhos – grandes e profundos, de um castanho quente – carregavam uma mistura de cansaço e determinação que o fez se sentir vulnerável, um sentimento que ele desprezava.

“Não… Não pode ser”, pensou Kael, sentindo a garganta secar.

Dentro dele, Orion rugiu, praticamente empurrando Kael para reivindicá-la ali mesmo.

“ Companheira “ a voz de Orion ecoou em sua mente, forte e inabalável. ‘Sinta isso. É o vínculo.”

Kael apertou a mandíbula, tentando ignorar a presença dominante de seu lobo.

“Porra, a Deusa da Lua deve estar de brincadeira, uma HUMANA, fraca, frágil.

Orion, no entanto, não recuava.

“A Deusa da Lua não comete erros. Vamos reivindica-la logo.”

Kael sentiu um misto de raiva e desespero crescer em seu peito. A ideia de que sua companheira destinada – aquela que deveria fortalecer seu legado e sua posição como alfa – fosse humana era inaceitável. Humanos eram frágeis, efêmeros, alheios às complexidades do mundo sobrenatural. Como ele poderia proteger a alcateia e, ao mesmo tempo, proteger alguém tão… vulnerável? Como iria comandar a maior alcateia do continente com um ser tão desprezível e fraco. Ela não seria a nossa Luna.

Ele deu um passo à frente, os olhos fixos nela como se fosse um predador à espreita. Mas a cada passo, o cheiro dela se tornava mais forte, e com ele, a necessidade primitiva de tocá-la, de reivindicá-la como sua. Orion alimentava essa urgência, rugindo em sua mente com uma intensidade que fazia o corpo de Kael tremer.

Pare com isso, Orion! Eu não a aceitarei.”

“ Você não tem escolha “ respondeu Orion com um tom de certeza implacável. “Sua resistência é inútil. Não pode rejeita-la, olhe para ela, Kael. O jeito que ela respira, o jeito que o coração dela b**e... ela já é parte de nós.”

Kael respirou fundo, tentando ignorar o calor que subia por seu corpo, o desejo irracional que ameaçava consumir sua lógica. Ele cerrou os punhos, suas garras ameaçando surgir enquanto lutava para controlar o lobo dentro de si.

De repente, os olhos de Ivy se ergueram, encontrando os dele por um breve momento. Aquela troca de olhares durou segundos, mas pareceu uma eternidade. Ela franziu a testa, como se sentisse algo estranho, antes de desviar o olhar rapidamente e continuar com seu trabalho.

Kael sentiu uma onda de frustração e algo que ele não queria reconhecer: uma pontada de dor por ela não tê-lo reconhecido como sua alma gêmea.

Ela não sabe “disse Orion, mais calmo agora, mas ainda com um tom possessivo. “Mas vai saber. E quando souber, será tarde demais para você fugir.”

Kael girou o copo de uísque em sua mão, sua mente em caos absoluto. Ele sabia que a Deusa da Lua não fazia nada por acaso, mas isso? Isso parecia uma crueldade deliberada. Ele precisava se afastar. Precisava se concentrar em seus deveres, não em uma humana que nem sequer sabia da existência dos lobisomens.

Mas, enquanto observava Ivy desaparecer entre os convidados, Kael sabia que estava mentindo para si mesmo. Algo havia mudado, e não importava o quanto tentasse negar, ele nunca mais seria o mesmo.

“Você pode tentar fugir, Kael”, pensou Orion, com uma risada sombria. “Mas ela é nossa, quer você queira ou não.”

Kael virou o restante do uísque em um único gole, sentindo o calor da bebida queimar sua garganta. Ele precisava se afastar, agora. Não iria deixar que esse castigo da Deusa da Lua atrapalhasse seus negócios. .

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