A aula terminou e eu chamei a Sam para almoçarmos no refeitório da própria universidade, mas não demorou muito até o meu celular começar a tocar, eu olhei pra tela e decidi atender logo antes que os cães de guarda decidissem me procurar.
— Onde você está? A aula já acabou.— Eu vou ficar mais um pouco aqui, eu estou no refeitório com uma amiga, vamos almoçar juntas.— O seu pai não nos passou essa informação.— Eu estou passando agora, até mais.Eu desliguei o celular para que nenhum deles voltasse a me perturbar.— Quem era?— Era o motorista.— As vezes eu tenho a impressão de que você esconde coisas de mim, eu praticamente não sei nada da sua vida.Eu abaixei a minha cabeça e tentei segurar a enorme vontade de falar a verdade.— Eu estou certa, não estou?— Você vai acreditar se eu disser que está errada?— Sinceramente? Não!— Então não adianta a gente conversar sobre isso.— Tudo bem Ana, eu não vou insistir nesse assunto, mas saiba que eu estou aqui pra qualquer coisa que você precisar.— A única coisa que eu desejo, Sam, é que você lembre dessas palavras quando todas as suas dúvidas forem esclarecidas.— Então o que você está escondendo é algo muito ruim?— Você disse que não iria insistir.— Me responde só uma única coisa, pode ser?— Eu preciso ouvir a sua pergunta pra eu saber se poderei responder.— Eu estou correndo risco de vida?Eu olhei em volta pra saber se existia alguém por perto ouvindo a nossa conversa, e notei que as poucas pessoas que estavam no refeitório não podiam ouvir nada por conta da distância.— Se você não tentar descobrir nada sobre a minha vida e sobre a minha família, você estará segura.— Ah meu Deus, então é mais sério do que eu pensei.— Você pode se afastar de mim, se achar que o risco é grande demais pra você.— Não, acho que aqui dentro nós estamos seguras, mas não me peça pra andar com você na rua.Eu achei divertido o nervosismo dela e comecei a rir pra quebrar o clima, e ela começou a rir também, não existia nada a ser feito além de deixar a vida nos levar.Enquanto comiamos, um dos seguranças apareceu e caminhou em nossa direção, eu me levantei assustada e a Sam olhou pra trás, eu olhei pra ela desconfiada com medo dela fazer mais perguntas, porém ela não perguntou nada.— Tudo bem Ana, acho que você precisa ir agora, não é mesmo?— Sim, eu preciso ir.Eu peguei as minhas coisas, me despedi dela e caminhei em direção ao capanga que parecia bem decidido a me levar embora.— Você não sabe respeitar o horário de almoço de ninguém?— Eu respeitaria se você não tivesse desligado o seu celular.— Um dia eu me livro desse inferno.— Enquanto isso não acontece, tente deixar o celular ligado.— Acho que se eu matar você o meu pai consegue aliviar a minha barra.— Se você me matar o seu pai irá colocar outro no meu lugar, talvez alguém com menos pacicência que eu.Eu tentei não parecer atingida com o que ele disse, embora eu soubesse que ele tinha razão.Eu caminhei rápido até a parte externa da universidade pra não levantar suspeitas de outros alunos e depois entrei no carro sentindo o sangue ferver nas minhas veias, na mesma hora eu peguei o meu celular e liguei pro meu pai, mas não foi ele quem atendeu, a voz grossa do outro lado da linha me fez sentir calafrios.— O seu pai está muito ocupado no momento mocinha, ele irá retornar pra você em outro horário.— Quem está falando?— Com certeza não é o seu pai.Eu tentei não deixar o meu gênio ruim falar por mim, mas a tentativa foi vão, afinal aquele cara estava sendo irônico e eu não aguentava a ironia de qualquer pessoa. — Você é um dos cães de guarda do meu pai, ou é o tal mafioso que ninguém nunca viu a cara e que costuma botar a vida de todos em risco?— Risco você vai correr se continuar falando comigo desse jeito.— Que interessante, eu feri o seu ego Senhor Kall Bellini?— Ferida vai ficar a sua língua quando eu arrancar ela da sua boca. — Eu estou morrendo de medo.Eu ouvi ele xingar e me dei por satisfeita, e sem nenhum medo do que ele podia fazer, eu desliguei a ligação.Eu olhei pro lado e os capangas estavam me encarando com perplexidade.— O que foi? Eu liguei pro meu pai, eu não tenho culpa se o chefe de vocês é intrometido, na próxima é só ele deixar o celular tocar e não atender uma ligação que ele sabe que não é pra ele.Eu virei o rosto pra não ter mais que encarar aqueles olhares julgadores e me mantive em silêncio até chegarmos em casa.Eu desci do carro, entrei em casa, fechei todas as portas e janelas e tentei aproveitar pelo menos a privacidade da minha própria casa.Eu liguei o som, coloquei no último volume e entrei no banheiro pra tomar um banho relaxante, mas quando entrei na água o som desligou, eu saí da banheira, enrolei a toalha no meu corpo e caminhei até o meu quarto, mas logo eu gritei de susto.Um cara alto, branco, com uma camisa de manga longa estava de costas pra mim e com a mão em cima do som.— Quem é você? Como foi que entrou aqui? A casa está cheia de seguranças, você não irá sair vivo daqui.Ele se virou e me encarou, e eu me vi diante do homem mais lindo e do olhar mais penetrante do mundo, a aparência dele era de uns 28 anos, e o corpo dele era algo fora do comum, os cabelos claros e o brinco em uma das orelhas passavam a impressão que ele era um mauricinho metido a besta.Ele arqueou a sobrancelha, segurou o cordão que estava no pescoço e o enrolou no dedo indicador, eu fiquei sem voz e analisei cada movimento dele como se ele estivesse prestes a me devorar, ele deu dois passos em minha direção, e eu dei dois pra trás.— Você não parece tão corajosa quanto foi na ligação.A ficha finalmente caiu sobre quem era ele, então os meus pés se solidificaram no mesmo lugar se recusando a continuar demonstrando medo, mas ele continou andando em minha direção até ficar a um passo de distância de mim.— Então além de intrometido você é invasor? Quem deu permissão pra você entrar na minha casa?— Quem disse pra você que eu preciso de permissão para fazer algo?— Você pode ter poder e autoridade sobre o meu pai, mas não tem poder sobre mim, aqui é o meu lar, e eu não vou deixar você se sentir dono do meu espaço, você me entendeu?Ele soltou um sorriso como se estivesse se divertindo com toda a situação, mas eu me mantive séria pra ele entender que eu não estava brin
Eu imaginei que o assunto da conversa fosse exclusivamente sobre a forma que eu havia tratado aquele bandido do chefe dele, eu não imaginava que as palavras do meu pai estavam carregadas de desgraça e dor.— Nós precisamos ter uma conversa séria, Ana.— Outra? O senhor não cansa de falar sempre a mesma coisa não?— Essa conversa é diferente, então sugiro que sente e me escute com atenção.Eu caminhei até a cama e me sentei, e ele sentou ao meu lado com uma tensão que eu nunca tinha visto antes.— Qual o problema pai?— Alguma vez na sua vida você já pensou que eu posso morrer a qualquer momento?— Eu penso nisso todos os dias.— E esse é o seu desejo?— É claro que não pai, se eu falo pro senhor abandonar essa vida obscura, é simplesmente por medo de perder você.— Mas acho que você vai precisar ir se preparando para essa realidade Ana.— Realidade? Que realidade? Você está falando que realmente irá morrer?— Recentemente eu descobri que eu tenho leucemia, e o quadro já está bastante
Eu tinha muitas perguntas que gostaria de tirar com o médico dele, por isso eu insisti pra ir junto, eu queria saber ao certo quanto tempo mais o meu pai tinha de vida, e se realmente não existia nada a ser feito.Entramos em um local bastante estranho, sem movimento nenhum de pessoas, na verdade aquilo nem parecia um hospital, parecia mais um prédio abandonado.— Onde estamos pai?— Estamos em um lugar seguro Ana, eu farei a quimio aqui.— Mas isso nem é um hospital.— Não é um hospital, mas os melhores médicos do país estarão me tratando aqui, entenda que eu não posso ficar de bobeira em qualquer lugar.— Que vida incrível, a pessoa não tem direito nem de ficar doente.— Por favor, não vamos começar de novo com isso.Eu desci do carro junto com ele e de longe eu vi outro carro se aproximando.— Por favor, Ana, seja uma boa menina.— Ah não, eu não acredito que a pessoa naquele carro é o seu chefe sem futuro.O meu pai me jogou um olhar fuzilante e eu tentei manter a minha língua den
KALL..Temor, era exatamente isso que eu provocava nas pessoas, eu caminhei bastante por aquela estrada pra chegar onde eu cheguei, mas confesso que antes de eu andar por aquele caminho, o meu pai já havia construído a estrada.Eu era de uma família de mafiosos, o meu pai fez história antes de ser assassinado covardemente por seu inimigo, o próprio irmão, um traidor que queria a todo custo o poder, no entanto, quando o meu pai partiu, eu assumi a vida dele, os negócios dele e me tornei tão notável e temido quanto ele e eu passei a buscar por justiça, eu botei na cabeça que eu iria honrar o sangue dele.O meu pai tinha um melhor amigo e esse amigo era o braço direito dele, Lion Benevides nunca o decepcionou e sempre esteve ao lado do meu pai em todas a batalhas, então eu não poderia ter outra pessoa ao meu lado pra depositar toda a minha confiança, então o Lion tornou-se o meu braço direito também, porém eu o tinha como um pai também, pois muitas vezes ele agiu como tal.A nossa famí
O Lion foi fazer outros exames, buscar uma segunda opinião sobre o caso dele, e eu fui até a casa dele, um lugar que eu nunca entrei, mas que sabia muito bem o endereço.Assim que os seguranças me viram descer do carro, eles olharam entre si como se estivessem preocupados, mas aqueles homens eram pagos por mim e não pelo Lion, então eles me deviam obediência.— Cadê a garota?— Está dentro da casa senhor.Disse um deles.Eu não podia negar que estava curioso para conhecer a garota que teve a ousadia de me enfrentar, eu queria ter a certeza que ela manteria aquela coragem na minha frente.Quando eu entrei na parte interna da casa eu ouvi o som alto vindo do fim do corredor, eu segui por ele até chegar na última porta, eu entrei lentamente e não vi ninguém, eu dei alguns passos e notei que ela estava no banheiro, então eu fui até o som e o desliguei.Eu sabia que era só uma questão de tempo até ela ir ver o que tinha acontecido com o som, e em menos de um minuto eu ouvi o grito dela.Qu
Eu fui resolver algumas questões importantes e depois fui pra casa, quando a noite chegou o Lion me avisou que precisava iniciar a quimio o mais rápido possível, então eu cuidei de tudo pra que ele pudesse fazê-la em segurança, no dia seguinte eu fui prestar o meu apoio a ele no local marcado, mas quando cheguei lá, eu vi que ele estava acompanhado da filha linguaruda dele que ficou revirando os olhos ao me ver.Apesar de eu perguntar se ela estava com problema nos olhos, eu imaginei ela revirando aqueles olhos enquanto cavalgava em cima de mim, eu sabia que o Lion estava confiante que eu iria cuidar da filha dele, e eu cuidaria, mas nada me impediria de sugar até a alma dela.Eu fui bem direto ao falar no ouvido dela que depois de um tempo ela ficaria completamente rendida a mim, e com toda certeza ela pensaria no que eu disse por dias, mas era essa a minha intenção, eu queria que ela fosse alimentada por pensamentos que talvez ela nunca tivesse tido.Depois que o Lion a levou para d
Ana..Pra alguém que já havia matado uma porção de pessoas era difícil acreditar que o Kall tinha um coração, mas o meu pai também havia matado, talvez mais do que o intocável Kall, então eu sabia que ele era um homem bom, ao menos pra mim, mas quando o Kall atendeu imediatamente ao pedido do meu pai e organizou tudo pra nos tirar do país eu fiquei levemente mexida, mas não o suficiente pra demonstrar aquilo que eu estava pensando ou sentindo, eu ainda acreditava que ele jamais seria capaz de se infiltrar nos meus pensamentos de uma forma que eu não pudesse controlar.Fomos levados pra costa africana, e existia seguranças em todos os cantos da propriedade, um helicóptero pra emergências e um hiate.O lugar era realmente um espetáculo de tão lindo, e me transmitia uma sensação de paz, embora eu soubesse que estava no meio de uma grande tempestade.No dia seguinte que chegamos ao local, o celular do meu pai tocou, mas ele não estava perto pra atender, eu olhei a tela do celular e vi q
kall..Um dos meus homens foi me avisar que a mulher que eu solicitei já havia chegado.— A traga até mim.— Sim senhor.Quando ela entrou no quarto eu notei uma certa semelhança entre ela e a filha do Lion, ela não era tão linda quanto a Ana, mas os cabelos castanhos quase loiros, o tamanho dos seios, e os lábios rosados eram bem parecidos.A venda nos olhos não me permitia ver mais detalhes do rosto dela, mas não importava, afinal eu nunca mais comeria aquela mulher outra vez.— Como você se chama?— Nathaly.— Você sabe onde está, Nathaly?— Não, mas me ofereceram um valor muito alto pra estar aqui.— E você não teve medo de ser levada pra um lugar que você não conhece pra encontrar um completo desconhecido?— Não é a primeira vez que passo por isso, eu já estou acostumada com essa vida.— Então você não vai se importar com isso aqui, não é?Eu a segurei pelo pescoço a encostando na porta e enfiei a outra mão por dentro da calcinha dela.O fato dela estar de saia facilitou muito