ANA..Quando coloquei os meus pés em solo espanhol, eu parei e pensei: Esse lugar tem a minha cara.Mas era só uma forma de eu convencer a mim mesma que eu estava feliz, afinal eu precisava acreditar nisso.Quando saí da Itália, tentei me apegar ao fato de que aquela decisão estava inteiramente ligada a realidade de ter sido trocada por outra mulher, e que o amor que o Kall sentia por mim era apenas fruto da minha imaginação, foi exatamente isso que me manteve em pé por longos meses.Mas o Kall não tornou esse período nada fácil pra mim, por alguma razão o meu pai não trocou o número do meu celular, e ele sempre mudava de assunto nas vezes que questionei o motivo, mas no fundo eu sabia que era só mais uma forma de fazer eu me entender com o Kall.Meu pai gostava dele, ele idealizou um relacionamento entre a gente, e embora ele dissesse que estava do meu lado, eu sabia realmente o que ele queria, ele não sabia mentir pra mim.O meu celular já acumulava centenas de mensagens do Kall,
KALL..Faltando 5 minutos pras 20:00 horas, eu fui pra parte externa do hotel e olhei pra imensa praça que havia em frente, eu atravessei a pista e fui até lá, e sentei nos bancos.Nesse mesmo momento, um táxi parou, e eu vi a Ana descer e me procurar em volta, eu me levantei e ela me viu.Ela estava linda como sempre, tudo naquela garota me fazia suspirar.O meu coração estava agitado, a minha garganta estava seca, era como se eu esperasse o pior daquela conversa.Quando ela se aproximou de mim, não pude decifrar o olhar dela, parecia que ela havia aprendido a não demonstrar o que ela realmente estava sentindo.— Eu tive medo que não viesse.— Eu pensei em não vir.— Porque marcou aqui?— Eu costumo vir aqui quando quero pensar, o lugar é calmo, bonito e rodeado pela natureza, totalmente o oposto do que acontece dentro de mim a meses.Ela falou com o olhar fixo nos meus.— O lugar é lindo, mas gostaria de conversar com você em um lugar mais reservado.— Que lugar seria esse?— No h
ANA..Eu nunca me achei uma pessoa manipulável, embora durante a minha vida eu tenha passado por um processo de manipulação.Quando eu vi o Kall totalmente despido do ego, com a voz calma, totalmente diferente de quando eu o vi mais cedo, eu senti a imensa necessidade de devolver para ele a mesma calma.No fundo eu sabia onde aquela conversa daria, mas vê-lo me ouvir atentamente, levando em consideração tudo o que eu sentia, me fez ter um pouco de esperança, eu não consegui conter as minhas lágrimas porque eu segurei elas dentro de mim por muito tempo, eu tentei ficar bem e reprimi tudo que eu tava sentindo, pra não demonstrar pras pessoas a minha volta o quanto eu estava sofrendo, mas naquele momento na frente dele, eu não vi mais necessidade de esconder, ele precisava entender o que tudo aquilo estava causando em mim e finalmente ele compreendeu.Ter as mãos dele em volta do meu corpo fez eu reviver sentimentos que estavam adormecidos, mas foi a melhor sensação do mundo, era como
KALL..Eu pensei que nada poderia me tirar daquela bolha em que eu me encontrava com a Ana, mas quando o meu celular tocou, eu senti um leve arrepio na espinha, afinal ninguém tinha aquele número.Eu me levantei pra atender e me assustei ao ouvir a voz do Lion do outro lado da linha...— Kall, a Aysha passou mal e foi levada às presas pro hospital.— Mas ela está bem? E o bebê?— Parece ser sério Kall.— Certo, chego em algumas horas.Eu sabia que a minha atitude desesperada poderia passar uma visão distorcida dos fatos pra Ana, mas eu não tinha como explicar o que nem mesmo eu tinha conhecimento.Eu vi ela chorando, e parecia cruel eu sair daquela forma depois de ter feito sexo com ela, mas eu sabia que depois ela entenderia tudo.Eu tive a sorte de chegar no aeroporto e ter vôo uma hora depois, mal eu sabia o que me esperava.Quando eu cheguei na Itália, peguei o carro no estacionamento e fui pro hospital, chegando lá encontrei a tia Carmem aos prantos nos braços do marido dela, e
ANA..Depois da morte da Aysha, eu passei uma semana com o Kall, eu tentei ser pra ele tudo que eu não fui enquanto ele tentava ser o pai do filho dela.Talvez fosse um pouquinho tarde pra eu ser a parceira que ele precisava, mas eu dei o meu melhor dentro daquela nova realidade.Depois eu tive que voltar pra Espanha, mas antes de ir, eu disse que ele precisava ficar bem para que finalmente a gente pudesse decidir o que seria de nós dois, eu tentei dar pra ele o espaço que eu achava que ele precisava, mas me surpreendi quando ele não me procurou.Os dias foram passando, as semanas foram correndo sem nenhum vestígio dele, e ficou cada vez mais difícil entender o que estava acontecendo.Eu poderia ter ligado pra ele, mas tive medo de estar invadindo o espaço que ele precisava.Eu sempre soube que algumas pessoas levavam um pouco mais de tempo até se recuperar do luto, mas a espera estava me maltratando de uma forma quase insuportável, eu tive noites de insônia, a ansiedade me atacou,
ANA..Não é estranho? Ter nascido em uma família que você sabe que nunca será como as outras? Crescer sem mãe, sem irmãos e ainda ter o seu destino fora do seu próprio domínio?Eu tinha duas opções, ou eu me revoltava e fugia para um lugar longe de todo o drama que constantemente eu era submetida, ou eu aceitava a realidade dos fatos e me entregava ao acaso. E se por acaso eu morresse? Esse pensamento de morte era constante, afinal isso também poderia acontecer a qualquer momento.Seria muito bom se a gente pudesse escolher a família que iriamos nascer, se nós tivéssemos essa escolha muita gente optaria por não ter nascido, a minha escolha com toda certeza seria essa, afinal quem escolheria nascer tendo como família apenas um homem que era envolvido no mundo da máfia?A minha mãe morreu no meu parto, e às vezes eu me perguntava se ela teria aceitado a vida que o meu pai tinha pra dar pra nós duas, ou se ela teria fugido pra que eu pudesse ter uma vida normal, eu preferia acreditar q
A aula terminou e eu chamei a Sam para almoçarmos no refeitório da própria universidade, mas não demorou muito até o meu celular começar a tocar, eu olhei pra tela e decidi atender logo antes que os cães de guarda decidissem me procurar.— Onde você está? A aula já acabou.— Eu vou ficar mais um pouco aqui, eu estou no refeitório com uma amiga, vamos almoçar juntas.— O seu pai não nos passou essa informação.— Eu estou passando agora, até mais.Eu desliguei o celular para que nenhum deles voltasse a me perturbar.— Quem era?— Era o motorista.— As vezes eu tenho a impressão de que você esconde coisas de mim, eu praticamente não sei nada da sua vida.Eu abaixei a minha cabeça e tentei segurar a enorme vontade de falar a verdade.— Eu estou certa, não estou?— Você vai acreditar se eu disser que está errada?— Sinceramente? Não!— Então não adianta a gente conversar sobre isso.— Tudo bem Ana, eu não vou insistir nesse assunto, mas saiba que eu estou aqui pra qualquer coisa que você
Ele arqueou a sobrancelha, segurou o cordão que estava no pescoço e o enrolou no dedo indicador, eu fiquei sem voz e analisei cada movimento dele como se ele estivesse prestes a me devorar, ele deu dois passos em minha direção, e eu dei dois pra trás.— Você não parece tão corajosa quanto foi na ligação.A ficha finalmente caiu sobre quem era ele, então os meus pés se solidificaram no mesmo lugar se recusando a continuar demonstrando medo, mas ele continou andando em minha direção até ficar a um passo de distância de mim.— Então além de intrometido você é invasor? Quem deu permissão pra você entrar na minha casa?— Quem disse pra você que eu preciso de permissão para fazer algo?— Você pode ter poder e autoridade sobre o meu pai, mas não tem poder sobre mim, aqui é o meu lar, e eu não vou deixar você se sentir dono do meu espaço, você me entendeu?Ele soltou um sorriso como se estivesse se divertindo com toda a situação, mas eu me mantive séria pra ele entender que eu não estava brin