KALL..Eu vi a Ana se afastar e os meus pés travaram, eu fui incapaz de correr atrás dela e segurá-la, eu estava me sentindo perdido no meio de tanta movimentação, além de sentir a tristeza me consumindo por dentro.— Kall, eu preciso que você me acompanhe.Um agente falou e me segurou pelo braço, e eu fui como se eu não tivesse mais forças pra lutar ou debater.— Entre no carro, tem alguém querendo conversar com você.Eu abri a porta e me deparei com o Lion, eu fiquei uns trinta segundos encarando ele, pensando em tudo o que eu gostaria de falar.— Entra Kall, nós temos assuntos pendentes.— Nós temos assuntos pendentes há anos, e só agora você quer conversar sobre eles? Vai se foder Lion.Falei ao fechar a porta do carro com força e saí andando em direção ao meu carro, mas antes que eu pudesse entrar nele, o carro em que o Lion estava, parou do meu lado e baixou os vidros.— Entra nessa porra agora, ou amanhã mesmo você vai estar fazendo companhia ao Daylon na prisão.Eu o encarei
ANA..Eu acordei com o meu pai batendo na porta, e quando eu abri, a minha mãe e a Sam invadiram o meu quarto.— O que vocês estão fazendo aqui? Perguntei surpresa.— Vamos juntas dar nossos depoimentos, o Lion foi buscar a gente na casa do Kall bem cedinho.A minha mãe respondeu.— E vocês dois já fizeram as pazes? Eu perguntei enquanto olhava pro meu pai que foi logo dando as costas e saindo de mansinho.— Eu também não quero fazer as pazes com você seu velho insuportável.A minha mãe falou alto enquanto eu e a Sam começamos a rir.— Essa é a primeira vez que recebo visitas.Falei enchendo os meus olhos de lágrimas.— Se você está chorando agora, imagina depois de ouvir o que temos pra falar.A Sam disse com entusiasmo.— Ah meu Deus, eu tenho até medo de perguntar.— O seu pai falou pra gente te ajudar a escolher o país que você vai querer estudar, a Sam e eu vamos com você.— Vocês estão falando sério?— Claro meu amor, você passou por muita coisa, vai precisar ter uma parte da
KALL..Cinco meses se passaram desde a última vez que eu vi a Ana, os dias foram difíceis e sombrios, e não houve nenhum dia que eu não pensasse nela.Antes do depoimento, o Lion e o Valente foram buscar a Alice e a Sam, e o Valente prometeu que entregaria o celular pra Ana, eles saíram, e uma hora depois eu liguei pro número dela na esperança de marcar de conversar com ela após o depoimento, mas ela não atendeu.Quando cheguei no local do depoimento, eles já estavam indo embora.A Aysha estava comigo, pois ela também precisava depor e me ligou pra que eu fosse buscá-la no hotel, eu fui, mas nada aconteceu entre eu e ela, nem mesmo uma conversa, e embora ela tenha tentado conversar comigo o caminho inteiro, eu me mantive calado pensando no que eu falaria pra Ana.Quando a Ana me viu com a Aysha, o semblante dela endurecido deixou claro que não haveria nenhum acordo ou entendimento entre nós, e a última frase que eu disse pra ela era que eu não iria desistir dela.A Ana foi embora le
ANA..Quando coloquei os meus pés em solo espanhol, eu parei e pensei: Esse lugar tem a minha cara.Mas era só uma forma de eu convencer a mim mesma que eu estava feliz, afinal eu precisava acreditar nisso.Quando saí da Itália, tentei me apegar ao fato de que aquela decisão estava inteiramente ligada a realidade de ter sido trocada por outra mulher, e que o amor que o Kall sentia por mim era apenas fruto da minha imaginação, foi exatamente isso que me manteve em pé por longos meses.Mas o Kall não tornou esse período nada fácil pra mim, por alguma razão o meu pai não trocou o número do meu celular, e ele sempre mudava de assunto nas vezes que questionei o motivo, mas no fundo eu sabia que era só mais uma forma de fazer eu me entender com o Kall.Meu pai gostava dele, ele idealizou um relacionamento entre a gente, e embora ele dissesse que estava do meu lado, eu sabia realmente o que ele queria, ele não sabia mentir pra mim.O meu celular já acumulava centenas de mensagens do Kall,
KALL..Faltando 5 minutos pras 20:00 horas, eu fui pra parte externa do hotel e olhei pra imensa praça que havia em frente, eu atravessei a pista e fui até lá, e sentei nos bancos.Nesse mesmo momento, um táxi parou, e eu vi a Ana descer e me procurar em volta, eu me levantei e ela me viu.Ela estava linda como sempre, tudo naquela garota me fazia suspirar.O meu coração estava agitado, a minha garganta estava seca, era como se eu esperasse o pior daquela conversa.Quando ela se aproximou de mim, não pude decifrar o olhar dela, parecia que ela havia aprendido a não demonstrar o que ela realmente estava sentindo.— Eu tive medo que não viesse.— Eu pensei em não vir.— Porque marcou aqui?— Eu costumo vir aqui quando quero pensar, o lugar é calmo, bonito e rodeado pela natureza, totalmente o oposto do que acontece dentro de mim a meses.Ela falou com o olhar fixo nos meus.— O lugar é lindo, mas gostaria de conversar com você em um lugar mais reservado.— Que lugar seria esse?— No h
ANA..Eu nunca me achei uma pessoa manipulável, embora durante a minha vida eu tenha passado por um processo de manipulação.Quando eu vi o Kall totalmente despido do ego, com a voz calma, totalmente diferente de quando eu o vi mais cedo, eu senti a imensa necessidade de devolver para ele a mesma calma.No fundo eu sabia onde aquela conversa daria, mas vê-lo me ouvir atentamente, levando em consideração tudo o que eu sentia, me fez ter um pouco de esperança, eu não consegui conter as minhas lágrimas porque eu segurei elas dentro de mim por muito tempo, eu tentei ficar bem e reprimi tudo que eu tava sentindo, pra não demonstrar pras pessoas a minha volta o quanto eu estava sofrendo, mas naquele momento na frente dele, eu não vi mais necessidade de esconder, ele precisava entender o que tudo aquilo estava causando em mim e finalmente ele compreendeu.Ter as mãos dele em volta do meu corpo fez eu reviver sentimentos que estavam adormecidos, mas foi a melhor sensação do mundo, era como
KALL..Eu pensei que nada poderia me tirar daquela bolha em que eu me encontrava com a Ana, mas quando o meu celular tocou, eu senti um leve arrepio na espinha, afinal ninguém tinha aquele número.Eu me levantei pra atender e me assustei ao ouvir a voz do Lion do outro lado da linha...— Kall, a Aysha passou mal e foi levada às presas pro hospital.— Mas ela está bem? E o bebê?— Parece ser sério Kall.— Certo, chego em algumas horas.Eu sabia que a minha atitude desesperada poderia passar uma visão distorcida dos fatos pra Ana, mas eu não tinha como explicar o que nem mesmo eu tinha conhecimento.Eu vi ela chorando, e parecia cruel eu sair daquela forma depois de ter feito sexo com ela, mas eu sabia que depois ela entenderia tudo.Eu tive a sorte de chegar no aeroporto e ter vôo uma hora depois, mal eu sabia o que me esperava.Quando eu cheguei na Itália, peguei o carro no estacionamento e fui pro hospital, chegando lá encontrei a tia Carmem aos prantos nos braços do marido dela, e
ANA..Depois da morte da Aysha, eu passei uma semana com o Kall, eu tentei ser pra ele tudo que eu não fui enquanto ele tentava ser o pai do filho dela.Talvez fosse um pouquinho tarde pra eu ser a parceira que ele precisava, mas eu dei o meu melhor dentro daquela nova realidade.Depois eu tive que voltar pra Espanha, mas antes de ir, eu disse que ele precisava ficar bem para que finalmente a gente pudesse decidir o que seria de nós dois, eu tentei dar pra ele o espaço que eu achava que ele precisava, mas me surpreendi quando ele não me procurou.Os dias foram passando, as semanas foram correndo sem nenhum vestígio dele, e ficou cada vez mais difícil entender o que estava acontecendo.Eu poderia ter ligado pra ele, mas tive medo de estar invadindo o espaço que ele precisava.Eu sempre soube que algumas pessoas levavam um pouco mais de tempo até se recuperar do luto, mas a espera estava me maltratando de uma forma quase insuportável, eu tive noites de insônia, a ansiedade me atacou,