CAPÍTULO 3

Ele arqueou a sobrancelha, segurou o cordão que estava no pescoço e o enrolou no dedo indicador, eu fiquei sem voz e analisei cada movimento dele como se ele estivesse prestes a me devorar, ele deu dois passos em minha direção, e eu dei dois pra trás.

— Você não parece tão corajosa quanto foi na ligação.

A ficha finalmente caiu sobre quem era ele, então os meus pés se solidificaram no mesmo lugar se recusando a continuar demonstrando medo, mas ele continou andando em minha direção até ficar a um passo de distância de mim.

— Então além de intrometido você é invasor? Quem deu permissão pra você entrar na minha casa?

— Quem disse pra você que eu preciso de permissão para fazer algo?

— Você pode ter poder e autoridade sobre o meu pai, mas não tem poder sobre mim, aqui é o meu lar, e eu não vou deixar você se sentir dono do meu espaço, você me entendeu?

Ele soltou um sorriso como se estivesse se divertindo com toda a situação, mas eu me mantive séria pra ele entender que eu não estava brincando.

Ele enfiou a mão dentro do bolso da calça e tirou de dentro um canivete.

— Coloca a língua pra fora mocinha.

O meu coração começou a bater forte diante da ameaça escancarada dele, e eu passei a pensar que ele realmente era capaz de cumprir o que ele havia falado na ligação, eu fiquei encarando aquele canivete afiado, e me senti incapaz de engolir a saliva.

— Você está surda?

Eu tentei não demonstrar o quanto estava me sentindo ameaçada e o confrontei.

— Eu não recebo ordens de ninguém, eu estou na minha casa, e a única autoridade aqui na ausência do meu pai sou eu, então eu convido você a se retirar, antes que eu use o mesmo modus operandis que você usa.

Em um movimento rápido ele segurou o meu pescoço e o apertou, mas eu sendo filha de um homem envolvido com a máfia tive que aprender todos os tipos de luta, então aquele mafioso precisava fazer bem mais do que só apertar o meu pescoço.

Eu consegui me livrar do enforcamento em dois segundos e com um único movimento eu fiz ele soltar o canivete que acabou indo parar longe.

— Agora você foi longe demais, e o seu pai irá pagar por essa sua desobediência e depois eu volto pra cuidar de você.

— Eu vou ficar aqui esperando então.

A raiva estampada no olhar dele fez eu novamente sentir calafrios, mas existia algo que me dava segurança, eu sabia que ele jamais seria capaz de fazer mal ao meu pai, pois o meu pai era o único homem de confiança dele.

Ele atravessou a porta e deixou o canivete para trás, quando eu escutei a porta da frente bater eu respirei aliviada.

— Que cara maluco!

Eu caminhei até a porta do meu quarto e o tranquei, mesmo sabendo que se ele quisesse entrar novamente nada o impediria.

Eu liguei o som como se nada tivesse acontecido e caminhei novamente pro banheiro pra tomar o banho que foi interrompido, mas enquanto eu estava dentro da água, pensamentos estranhos invadiram a minha mente, eu não fazia ideia que o mafioso mais temido da Itália era jovem e lindo, muito menos que ele fosse recuar diante de uma mulher como eu, mas o que mais me impressionou foi o fato de eu estar pensando nele, mesmo ele tendo tentado arrancar a minha língua.

Eu terminei o banho, desliguei o som e comecei a me vestir, mas escutei o meu celular tocando na bolsa e corri pra atender, eu olhei pra tela e vi que era o meu pai.

— Vejo que você continua vivo pai.

— O que você pensa que está fazendo Ana? Você ficou maluca? Como você ousa se colocar em risco desse jeito?

— Eu não entendo o motivo do senhor está chamando a minha atenção pai, afinal você não estava aqui quando esse seu chefe irritante e metido a

meliante invadiu a minha privacidade.

— Ana, você precisa entender que não pode agir dessa forma com ele, você quer acabar com a nossa vida?

— Que vida? Você chama isso de vida? Essa é a sua vida, não me inclua nas suas escolhas, não me obrigue a baixar a minha cabeça pra esse cara que tem idade pra ser seu filho e que usa o senhor de escudo.

— Você não sabe o que está falando.

— E o senhor não sabe o que está fazendo.

— Em casa a gente vai continuar essa conversa.

— Trás seu chefe pra gente ter essa conversa a três.

Ele encerrou a ligação, e eu joguei o meu celular na parede, mas o barulho foi o suficiente para três cães de guarda invadirem a casa.

— Que inferno, pra quê servem essas portas já que vocês entram aqui como se fossem a casa de vocês?

Eles olharam em volta sem me responder e verificaram se existia outra pessoa além de mim na casa.

— O barulho que vocês ouviram foi do meu celular que eu acabei de jogar na parede, agora podem sair e me deixar em paz?

Eles saíram e eu fui pro meu quarto chorar.

Por mais forte que eu tentava ser, às vezes era impossível segurar as lágrimas, e por mais amor que eu sintisse pelo o meu pai, a vontade de entregá-lo era imensa, mas se eu fizesse isso, eu acabaria com a vida dele e com a minha, então eu tentava me prender ao pensamento de que eu ainda tinha uma chance de viver uma vida diferente algum dia, quando ele finalmente decidisse me libertar, quando ele finalmente percebesse que aquela não era a vida que eu havia escolhido pra mim.

Eu peguei no sono, e acabei acordando com batidas na minha porta, eram seis batidas, com pausas de três em três, era o nosso código.

Eu me levantei, abri a porta e esperei ele me dar lições de moral que com toda certeza ele não tinha.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo