As horas passam e nada de notícias. Apenas vemos as enfermeiras de um lado para o outro e nada, absolutamente nada de notícias. Depois de uma longa espera, vemos o médico se aproximar.
— Doutor, como está a minha amiga? Ela melhorou? Essas dores de cabeça são muito constantes e, segundo ela, de uns três anos para cá, têm se intensificado muito...
— Já medicamos a sua amiga, e ela, neste momento, se encontra dormindo. Aparentemente, está melhor, mas só posso ter certeza após ela acordar. Também fizemos alguns exames para descobrir o porquê das dores... E a família dela, conseguiram contatar eles?
— Não, doutor. A minha amiga é órfã, ela não tem ninguém, apenas nós e o patrão dela…
— Eu sinto muito... Faremos o nosso melhor...
— Faça o que for preciso e não se preocupe, assumimos toda a responsabilidade...
— Ok, mas vocês não precisam ficar aqui. Ela não vai acordar por algumas horas...
— Tudo bem, voltaremos mais tarde...
Irmão, vamos passar no seu Ari para avisar que a Ayla não vai trabalhar hoje e precisamos ver o que podemos fazer para ajudá-la...
À tarde, voltamos mais uma vez ao hospital e ela já estava acordada.
— Ayla, minha querida, como você está? Ficamos tão preocupados quando a vimos naquele estado em sua casa. Ainda bem que você me ligou...
— Está tudo bem, Sarah, eu já estou melhor.
Olho para a porta e vejo Benjamim, o irmão de Sarah. Ele é lindo, chama a atenção de qualquer mulher e sei que gosta de mim, mas não acho que estou preparada para me envolver com alguém sentimentalmente... Eu nem ao menos sei quem eu realmente sou... Sorrio para ele e ele entra.
— Olá, Ayla! Vejo que está melhor, nos assustou hoje.
— Desculpe por ter incomodado vocês ao vir comigo até aqui. Muito obrigado. Realmente não tinha para quem ligar e pedir que me acompanhasse.
— Não tem por que agradecer, Ayla. Estaremos sempre juntos com você e te ajudaremos no que você precisar. Já falamos com o seu Ary e ele disse que hoje à noite virá aqui no hospital lhe visitar... Você tem bons amigos, menina.
— Obrigado, meu amigo.
As horas passaram e finalmente vejo que anoiteceu e meu patrão entrou no quarto.
—Como você está, minha linda menina? Fiquei preocupado quando me disseram que trouxeram você para o hospital. O que realmente aconteceu? — pergunta visivelmente preocupado o senhor Ary.
—Então, seu Ary, tive muita dor de cabeça, acho que até desmaiei, e quando acordei, estava com muita dor. Daí liguei para a Sarah e ela me ajudou, mas obrigado por ter vindo; não precisava ter se preocupado comigo.
—Eu sempre falei para você ter cuidado com sua rotina, menina. Você trabalha demais. Vou diminuir a sua carga de trabalho e contratar mais uma moça para ajudar... e não aceito que discorde, ok?
—Está tudo bem, seu Ary. O senhor é um bom homem, eu sei que está preocupado comigo, mas eu estou e vou ficar bem.
Ficamos ali conversando por mais um tempo, e seu Ary foi embora. Apenas me virei, adormeci e consegui ter uma noite de sono tranquila. Acordei no meio da noite com a enfermeira aplicando medicação, mas logo depois dormi novamente e consegui descansar tranquilamente, como há muito tempo não fazia, sem pesadelos, sem sonhos estranhos e sem a sensação de estar sendo observada.
Dormi bastante e, ao acordar, sinto meu corpo bem relaxado. Isso é ótimo! Vejo o médico chegando; ele vem sorrindo em minha direção.
— Olá, senhorita Ayla. Vejo que se encontra bem melhor hoje... Podemos conversar um pouco? Preciso entender essas dores de cabeça. Fiz alguns exames e não constataram nada. Tem algo que queira me falar?
— Doutor, eu sinto essa dor na cabeça já faz bastante tempo e, como o senhor já deve saber, eu sou órfã. Há bastante tempo, tenho tido alguns pesadelos e acordo muito mal, com a cabeça sempre doendo. E ontem eu tive um sonho bem estranho e, quando acordei, a dor estava insuportável. Não sei se isso tem algo relacionado com os sonhos, mas, de uns três anos para cá, eles estão cada vez mais frequentes...
— Bom, pode ser que as duas coisas estejam relacionadas. Vou falar com uma colega e veremos o que podemos fazer para ajudar você da melhor forma.
— Obrigado, doutor. Eu gostaria muito de me livrar de uma vez por todas destas dores de cabeça, que são realmente muito ruins...
— Farei o meu melhor — afirma educadamente e sai em seguida.
Quando o médico sai, fico refletindo sobre o que ele falou. Será que realmente tem algo a ver com essas dores? Será que meu passado está me dando alguma dica de quem realmente sou? Eu sei que há um vazio em minha vida; sempre soube desse meu "defeito de fábrica". Será que meus pesadelos podem não ser pesadelos? Estando ali deitada em meu leito, fico refletindo sobre tudo isso e, pouco tempo depois, vejo quando o médico retorna com uma moça muito bonita que me olha e sorri gentilmente. Retribuo o sorriso e ela se apresenta.
— Olá, Ayla, sou a doutora Shirley, sou psicóloga e vim aqui a pedido do doutor Eduardo para conversar um pouco sobre você. Você se importaria?
— Imagina, será um prazer conversar com a senhora.
— Eduardo, meu amigo, se importaria de nos deixar a sós por uns instantes? Eu gostaria de entender o que realmente está acontecendo...
— Claro que sim, Shirley. Volto em 30 minutos...
— Obrigada.
— Assim que o médico sai, olho bem nos olhos da Ayla e tento deixá-la o mais tranquila possível.
— Então, Ayla, agora somos só você e eu. Eu gostaria que você me falasse sobre a sua vida, os seus medos. Gostaria de poder te ajudar, como psicóloga, e gostaria muito que você pudesse se abrir para mim, para que eu possa entender se há algo que está te bloqueando mentalmente, se algo poderia estar desencadeando essas dores tão intensas em sua cabeça. Compreende?
— Sim, doutora, eu entendo. Por onde você quer que eu comece?
— Me conte tudo que você lembrar, e se há alguma coisa que você já percebeu que a faz sentir as dores, é importante que me conte tudo, sem exceções... Sinta-se à vontade para começar quando achar melhor.
Ayla
Fecho os olhos e respiro profundamente, deixando emergir as memórias que tanto me machucam…
Eu cresci em um orfanato e sempre fui muito maltratada. Sempre desejei ser adotada e nunca consegui. Sempre que uma família ia ver as crianças, eu era orientada a ficar o mais escondida possível. Eles me diziam que nenhuma família iria querer uma garota como eu, sem passado, feia, essas coisas. Então, desde criança, eu senti na pele o desprezo dos órfãos que moravam lá e também das freiras que, muitas das vezes, me batiam e me deixavam com fome. Quantas vezes eu chorava escondida para não incomodar ninguém, porque se eu incomodasse, o castigo viria, e eu já estava cansada de tanto apanhar lá dentro. — Me perco em pensamentos por um longo tempo.
— Este comportamento é anormal para um orfanato. Você notava algo a mais? Desconfiava de alguma coisa, mesmo sendo ainda uma criança? A mesma pergunta, mas sinto um tom de indignação em sua voz.
— No início, não. Mas, conforme eu fui crescendo, vi algumas vezes um homem ir conversar com as freiras. Ele não ia com muita frequência, mas notava que, sempre que ele saía sem motivo algum, eu era castigada. Me trancavam no quarto escuro, me deixavam com fome; era sempre um sofrimento. Então, conforme eu fui crescendo, me adaptei. Nunca foi fácil; ninguém se aproximava de mim, e quando uma criança se aproximava, do nada ela se afastava. Eu sentia muito a falta de companhia. Isso dói, doutora; até hoje isso dói demais.
Sempre quis saber o que eu tenho de errado para que fosse sempre tão maltratada desde a minha infância, mas nunca consegui respostas. Queria saber por que meus pais me abandonaram, para que eu tivesse uma vida tão triste, tão miserável... Mas eu cresci. Apesar de toda a minha dor, eu cresci, e quando finalmente fiz dezoito anos, consegui sair daquele inferno.
—Ayla, e o tal homem que você diz que sempre que ele aparecia os castigos chegavam sem motivos, você ainda o viu durante a sua adolescência?
—Sim, doutora, eu sempre o via. Eu prestava bastante atenção porque sabia que iria sofrer, então já ficava esperando. Ele vinha uma ou duas vezes por mês, ficava lá por uns 40 minutos e depois ia embora. Nunca consegui ouvir qualquer tipo de conversa que ele pudesse ter com alguém daquele lugar infernal, mas sabia que o castigo viria, independente de eu fazer algo errado ou não. Mas, depois que eu consegui sair daquele lugar, nunca mais eu o vi.
—Há quanto tempo conhece seus amigos que lhe trouxeram aqui para o hospital?
—Eu os conheço há aproximadamente dois anos, pouco tempo depois que saí do orfanato, e eles me aceitaram de uma forma aberta, sem reservas, por isso me deixei aproximar deles.
Mas, doutora, sobre a sua outra pergunta, eu, desde o início da minha adolescência, tenho uns sonhos estranhos, sabe? São imagens distorcidas. É estranho, porque, apesar de no início não ver nada além dessas imagens estranhas, eu sinto medo. Não é medo de que algo me aconteça; é diferente. Este sonho me persegue já há algum tempo. Eu não faço ideia do que possa ser, mas, de uns três anos para cá, as coisas começaram a clarear. Eu escuto a voz de uma menina dizendo:
— Papai, eu tô com medo…
— Só fica calma, meu bebê, vai ficar tudo bem... vai ficar tudo bem… (mais tiros)...
— Amor, você está acelerando muito…
— Se não for assim, não teremos nenhuma chance…
— Amor, curva mais à frente…
Mais tiros, muitos tiros, luzes, carros correndo muito; depois, um barulho como de um acidente. Sempre acordo suada, me tremendo muito, mas não passa disso esse pesadelo. Ele vem se apresentando cada vez mais frequente e isso tem me deixado bastante perturbada. Sempre vem acompanhado de muita dor de cabeça. Aiiii, doutora, eu até tomo analgésicos para aliviar, mas nem sempre passa.
— E você teve este sonho antes de ligar para sua amiga?
— Não, eu trabalhei o dia inteiro com a cabeça doendo bastante, mas fui para casa e, quando dormi, tive outro sonho bastante estranho...
Sonhei que estava brincando com uma menina loirinha e linda em um parque. Depois, apareceu um rapaz, e a menina o chamou de papai. Acordei com a cabeça doendo; ainda era madrugada, e não consegui mais adormecer. Quando a dor já estava se tornando insuportável, liguei para ela pedindo ajuda, mas não lembro de ter visto ela chegar. Apenas senti mãos me pegando e acordei aqui.
— Ok, Ayla, por hoje é só. Vou conversar com o doutor Eduardo. Precisamos analisar tudo o que você me disse com muito cuidado e vamos tentar entender a sua dor. Mas quero pedir que você volte a falar comigo; é importante para que eu me aprofunde mais e possa te ajudar. Você vai precisar. Ayla, só mais uma pergunta: você consegue lembrar de mais alguma coisa de quando era pequenina? Por exemplo, se lembra de sua chegada ao orfanato?
— Não, doutora, não lembro de nada. Eles disseram que me encontraram na porta do orfanato, ainda um bebê, e eu não sei se é verdade ou não, porque sinto como se uma parte de mim faltasse e não sei o que seja.
— Tudo bem, Ayla, não pense muito. Tudo vai ficar bem e, com certeza, logo você vai melhorar. Vamos fazer o nosso melhor. — falo e saio dali.
Eu já tenho uma leve impressão do que realmente aconteceu a essa garota; resta saber por que mentiram para ela sobre ter chegado lá ainda um bebê.
Shirley
Volto ao consultório do Eduardo e logo ele me pergunta: — O que você achou do que ela te falou, minha amiga?
— Eduardo, é muito cedo para falar ainda, mas, honestamente, eu acredito que essa menina não faz a mínima ideia do que aconteceu com a família dela e nem ao menos sabe de verdade a própria idade. Pelo que ela me contou, ela, junto com a família, foi vítima de um acidente e apenas ela sobreviveu. Se mais alguém sobreviveu, deve estar procurando por ela há anos.
As dores de cabeça podem estar relacionadas a lembranças. Ela pode ter perdido a memória neste acidente e está começando a lembrar; as lembranças estão vindo em forma de pesadelos e, consequentemente, dores de cabeça. E tem mais: pelo que ela me contou, não foi um acidente normal; foram assassinatos. Nos pesadelos dela, há tiros. Meu amigo, estamos diante de um problema e dos grandes...
— Faremos o melhor por ela. Repetirei os exames e farei alguns mais aprofundados; de repente, eu encontro alguma coisa...
— Faça isso, meu amigo. Tenho certeza de que encontraremos alguma coisa…
O dia finalmente terminou e, logo depois que fui deixada sozinha, adormeci. Mais uma vez, tive uma noite tranquila; acredito que seja por conta das medicações. Ao acordar, deparei-me com o doutor Eduardo me observando. Olho para ele sem entender. Ele apenas diz que preciso fazer novos exames. Pergunto o porquê e ele responde que só vai me liberar do hospital quando tiver certeza de que realmente não corro nenhum risco. Afinal, ele presenciou as minhas dores e tem certeza de que elas têm algum fundamento. Não sei por que tive a impressão de ver em seus olhos, por alguns segundos, algo como "pena, preocupação". Só posso estar vendo coisas; isso é impossível.Minutos depois, chega um enfermeiro com uma cadeira de rodas, onde logo eu me sento, e seguimos para a área de exames. De início, fiz uma tomografia e, depois, fiz mais alguns exames. Logo voltamos para o quarto, e o doutor Eduardo saiu. Meus amigos chegaram e ficaram comigo por mais um tempo até o médico voltar com os resultados, q
Não é possível que tudo isso que está acontecendo comigo tenha algo a ver com estas bijuterias, Benjamin. Isso não deve valer nada; não passam de bugigangas.— Não, Ayla, tem algo de muito errado nessa história. Deixa eu ver esse colar e esse anel. — Benjamin fala, me olhando, e por um momento vejo um lampejo em seus olhos que some tão rápido quanto apareceu.Entrego a ele e ele começa a olhar cuidadosamente o colar que, segundo a única freira que ainda tentava me ajudar, me entregou escondido e pediu que eu guardasse aquilo da melhor forma possível, e que ninguém nunca soubesse que estava comigo. Ela ainda me aconselhou a não acreditar em nada do que me falaram enquanto eu estava naquele inferno que chamam de orfanato. Benjamin continua olhando para o colar e vejo que ele foca em algo muito discreto, mas ele me chama e me mostra: tem as mini letras CGM em pedrinhas próximas ao feixe. Aquilo também me chama a atenção, então ele passa a olhar o anel pequenino com as mesmas letras…— Ay
BenjaminEntão, essa é a confirmação que eu precisava: finalmente, a certeza de que a encontramos… Fico alguns segundos perdido em pensamentos quando escuto a voz de Ivan…— Não pode ser, cara, não, não pode ser... É muita coincidência... Cara, onde você conseguiu isso? Essa joia está desaparecida há anos… — sinto um tom de satisfação em sua voz, o que me deixa um tanto desconfortável, mas deixo essa sensação de lado. — Você sabe qual a origem, então me fala logo, é importante, cara… — pergunto, tentando disfarçar minha alegria. — Seja lá onde você a encontrou ou com quem, mantenha-a o mais escondida possível. Vou te contar o que eu realmente sei sobre isso. Senta aí e cala a porra da tua boca, porque o negócio é muito sério. — Sentei e olhei nos olhos de Ivan, pronto. E agora vai me falar do que se trata essa joia? Sei que é importante, agora desembucha logo, que o que eu menos tenho é paciência, e você sabe muito bem disso. — falo impaciente.— Eu sei, escuta isso: esse cola
BenjaminDepois de sair do hospital, notei o quanto a Ayla estava ansiosa para ver o velhote, que ela diz tratar muito bem. E eu não nego que ele realmente o faz, mas tem algo nele que me deixa desconfiado demais. Então, fomos para o estacionamento e depois seguimos até a lanchonete dele. Claro que notei alguns carros por perto e, ao ver a lanchonete fechada, tive certeza de que algo muito errado estava acontecendo. Esse velhote nunca fecha essa espelunca. Olhei para a Ayla e a vi bastante apreensiva. Certifiquei-me discretamente de que estava equipado e, junto com as meninas, descemos do carro.Ayla foi diretamente para as portas dos fundos e a vi perder a cor ao ouvir alguém perguntando supostamente por ela. A puxei para trás, colocando-a entre mim e a minha irmã, e olhei diretamente nos olhos da Sarah, que imediatamente entendeu o meu olhar e retirou a Ayla dali. Sabemos exatamente o que está acontecendo. Esperei alguns segundos, respirei fundo e decidi entrar. Sei muito bem que el
Sou Tyler Campbell, melhor dizendo, Dominic Grecco Montanaro. Quando eu tinha 4 anos, fui enviado por meus pais para um colégio interno com um nome falso, segundo eles, para a minha segurança. Eu só poderia sair de lá com a autorização deles ou de alguém da minha família. Desde então, eu nunca mais os vi. Aos 12 anos, entrou um professor de luta, especificamente para me treinar, e desde então aprendi Muay Thai, Krav Maga, Kung Fu e Karatê, além de aprender a lutar com armas brancas. Nunca entendi o porquê de toda essa preparação até completar 20 anos e ser retirado daquele colégio.Sei que tenho duas irmãs. Quando fui enviado para o colégio, minha mãe, Kara, estava grávida. Tenho essa lembrança: a minha linda mãe com a barriga enorme. Pouco depois de ter sido enviado ao internato, recebi a visita dos meus pais e, com eles, dois bebês lindos. Elas tinham acabado de nascer, e eu as vi e as peguei pela primeira e última vez em meu colo. Fiquei encantado com tanta beleza, tão pequenas e t
Meu nome é Andrew Montanaro e sou filho do Don da Khazar. O meu pai nunca foi um homem que tivesse pena de ninguém e nunca permitiu um traidor em sua casa. Desde adolescente, vi homens clamarem por piedade, e ele apenas olhava nos olhos deles enquanto cortava suas gargantas, e isso por pouca coisa. Não foi à toa que ele construiu o que chamamos de império Khazar.Fui treinado desde muito novo, primeiro a lutar, lutar muito, depois a atirar, sempre treinando todos os dias. Meu pai dizia que eu não deveria errar um único tiro e não devia desperdiçar nenhuma bala; cada uma delas tinha um destino certo. Meu pai me preparou para o substituir, mas não ainda. Depois que eu estava pronto, ele me mandou conhecer o mundo e fazer associações, e assim eu fiz.Quando eu fiz vinte anos, retornei à minha cidade natal, a bela Calábria, e trouxe comigo uma linda mulher que, claro, não sabia do meu envolvimento com a máfia. No início, meu pai ficou furioso comigo, pois esse seria o meu ponto fraco, e m
Papai, papai, que barulho é esse, papai? —Fica calma, filha, e fica abaixada… (tiros, tiros) Papai, eu tô com medo… —Só fica calma, meu bebê, vai ficar tudo bem... vai ficar tudo bem… (mais tiros)... Amor, você está acelerando muito… —Se não for assim, não teremos nenhuma chance… Amor, curva mais à frente… Mais tiros, muitos tiros, luzes, carros em alta velocidade, frenagem brusca, capotagem…Acordo toda suada e assustada. Olho para o relógio na pequena mesinha de cabeceira ao lado da cama; são exatamente 4:00 da manhã. Respiro fundo, meu corpo inteiro está tremendo e tento me acalmar. Levanto da cama e vou até o meu minúsculo banheiro. Olho-me no espelho por alguns minutos e depois jogo água no rosto. Fico ali em pé, me olhando, tentando me lembrar. Forço, mas nada. Minha cabeça começa a latejar, desisto, tiro o meu micro pijama de algodão velho e vou para o chuveiro. Ligo a água fria e deixo-a cair sobre o meu corpo, que ainda treme por conta do sonho. Enquanto estou
Apesar de estar super cansada, fico virando de um lado para o outro na cama. Tento, mas, infelizmente, o sono não vem. Ao contrário, aqueles pensamentos de angústia, por ter sido abandonada, vêm à minha mente como um raio, e sinto as lágrimas começarem a pinicar os olhos. Por mais que eu tente, aos poucos elas transbordam e escorrem pelo meu rosto. Minhas noites nunca foram fáceis, mas, desde que os sonhos — ou melhor, os pesadelos — começaram, a tristeza me invade constantemente.Percebo que meus dias têm se tornado ainda piores e, por mais que eu me esforce, sinto um vazio enorme no peito. Não aguento mais. Levanto e vou tomar uma ducha fria. Eu preciso reagir. Sei que minha mente é totalmente fodida, mas não posso e não vou me deixar abater por esses pensamentos. Tiro meu pijama e entro embaixo do chuveiro frio, deixando a água cair sobre a minha cabeça. Fico ali por vários minutos e, aos poucos, sinto a tensão que se instalou sobre o meu corpo indo embora. Depois de estar um pouco