CASA INVADIDA

O dia finalmente terminou e, logo depois que fui deixada sozinha, adormeci. Mais uma vez, tive uma noite tranquila; acredito que seja por conta das medicações. Ao acordar, deparei-me com o doutor Eduardo me observando. Olho para ele sem entender. Ele apenas diz que preciso fazer novos exames. Pergunto o porquê e ele responde que só vai me liberar do hospital quando tiver certeza de que realmente não corro nenhum risco. Afinal, ele presenciou as minhas dores e tem certeza de que elas têm algum fundamento. Não sei por que tive a impressão de ver em seus olhos, por alguns segundos, algo como "pena, preocupação". Só posso estar vendo coisas; isso é impossível.

Minutos depois, chega um enfermeiro com uma cadeira de rodas, onde logo eu me sento, e seguimos para a área de exames. De início, fiz uma tomografia e, depois, fiz mais alguns exames. Logo voltamos para o quarto, e o doutor Eduardo saiu. Meus amigos chegaram e ficaram comigo por mais um tempo até o médico voltar com os resultados, que não demonstraram nada de significativo, apenas algo como uma cicatriz, o que chamou a atenção do doutor Eduardo. Ele não quis me falar muita coisa, apenas que eu estava bem e que, depois que eu falasse novamente com a doutora Shirley, ele me daria alta, algo que realmente agradeci, afinal, detesto hospital.

À tarde, finalmente, depois de conversar com a psicóloga e aceitar fazer mais algumas consultas com ela, segundo suas palavras, para tentar amenizar minhas dores, o doutor Ricardo entrou no quarto e me deu alta. Logo, meus amigos me levaram de volta para o meu apartamento. Ao entrarem comigo, levamos o maior susto que eu poderia imaginar. Apesar de a porta estar trancada, a casa havia sido invadida e estava totalmente revirada. Então, percebi o perigo que eu estava correndo morando aqui sozinha. Todas as sensações que eu vinha sentindo nos últimos dias vieram à tona de uma vez. Comecei a tremer, suar frio e uma vertigem me pegou. Senti que fui colocada no meu pequeno sofá e escutei o Benjamin falando com a irmã para ficar comigo, que ele iria dar uma olhada pelo apartamento. Depois, não vi nem escutei mais nada.

Benjamin

Não vou negar que tenho sentimentos pela Ayla. Tenho o desejo de protegê-la, de cuidar, dar carinho. Sei que ela não me vê como um homem, apenas como um amigo e irmão da Sarah. Isso me deixa um pouco triste; quero mais dela, mas sempre vou respeitá-la. Quando minha irmã me acordou para irmos à casa dela tão cedo, meu coração só faltou pular pela boca. Sabia que havia algo de errado, mas ao chegar e encontrá-la naquelas condições, eu quis me colocar em seu lugar. Desejei sentir o que ela sentia. Nos conhecemos há dois anos; é uma amizade muito sincera e bonita. Sei o quanto ela sofreu naquele orfanato, que mais parecia um inferno, e desejo de todo o meu coração que ela seja muito feliz. Desejaria que fosse comigo, mas isso só o tempo dirá. Corri até ela, a peguei nos braços e a levamos ao hospital. Ela ficou por longos dois dias e, depois de uma bateria de exames e de falar com uma psicóloga, finalmente estamos a levando de volta para casa.

Assim que estacionei o carro, seguimos até aquele mini apartamento onde ela mora. No entanto, assim que abrimos a porta, da qual temos certeza de que a deixamos trancada, levamos o maior susto com a bagunça que estava naquele ambiente; a casa estava simplesmente uma zona.

Percebi que a Ayla mudou o semblante, ficou pálida como se se lembrasse de algo ou alguém, e, aos poucos, vi-a desmoronando. A segurei e a ajudei a se acomodar no sofá. Falei para minha irmã ficar com ela e, logo em seguida, fui dar uma olhada em todo o apartamento. Parecia que um vendaval tinha passado por ali: guarda-roupas revirado, roupas jogadas, tudo muito espalhado. Era como se alguém estivesse procurando por algo, mas o que poderia ser? O mais estranho é que tudo permanecia fechado. Voltei para a pequena sala e confirmei que tudo estava na mais perfeita ordem. Pedi que a Ayla passasse uns dias em minha casa; sei que lá ela estará mais segura.

Ayla insiste em ficar no apartamento, mesmo eu vendo que ela está um pouco amedrontada. Junto com a minha irmã, aos poucos conseguimos convencê-la a passar uns dias conosco. Ela foi até o quarto, pegou algumas peças de roupa e, logo em seguida, fomos para casa. Queria chamar a polícia, mas desistimos. Seja lá o que queriam, devem ter encontrado e, se não encontraram, vão tentar mais uma vez...

Chegamos em nossa casa depois de trinta minutos. Dirigi um pouco devagar, mas sou um homem de experiência e notei um carro preto nos seguindo a uma certa distância. Isso não está me cheirando nada bem. Seja quem for, com certeza está atrás da minha amiga, e eu farei o que for preciso para que eles não consigam o que querem. Depois de dar algumas voltas, entro no condomínio em que moro com minha irmã. Sei que aqui é mais seguro para Ayla ficar. Espero de verdade que ela se sinta bem aqui e queira ficar por mais tempo.

—Onde será que ela guarda o colar e o anel?  

—Como eu vou saber? Reviramos tudo na casa e não encontramos nada...  

—Ela não pode saber a origem dela; isso seria um grande perigo para a organização.  

—Eu sei, mas não podemos fazer muito. Estou a observando há muito tempo; nunca a vi com eles. Talvez ela os tenha perdido...  

—Não acredito, são joias valiosas. Não acredito que ela as tenha perdido...  

—Será que não ficou no orfanato? Vocês transformaram a vida dela em um inferno lá. Talvez ela não quisesse ter nenhuma lembrança daquele lugar; afinal, ele não teve infância, não é? Vocês fizeram questão de arruinar a garota desde cedo.  

—Estou sentindo um certo tipo de deboche em suas palavras. Você sabe muito bem de onde vieram as ordens; sabe muito bem o que aconteceria conosco se não as cumprisse.  

—É claro que eu sei, mas você já imaginou se descobrem sobre a garota?

—E como fariam isso? Para todos os efeitos, ela é a única filha que foi abandonada; nem a idade é verdadeira...  

—Eu sei de tudo isso, mas não esqueça quem é o avô dela... Ele ainda pode estar buscando pela neta, e ele pode vir a descobrir, ela não acha?  

—Claro que sim. Por isso, precisamos encontrar as joias; é a única coisa que a liga a eles...  

—Não tenha tanta certeza...  

—Por que diz isso?  

—E a família da mãe? Você acha que não existe ninguém?  

—Nosso chefe destruiu a todos; até onde sabemos, não existe nenhum Grecco vivo.  

—Ok, e o que faremos para conseguir entrar nesse condomínio? A segurança é reforçada, e ela não está sozinha...  

—Problemas, mas vamos resolver; daremos um jeito... E se ela voltar para o trabalho, ficará ainda mais fácil.  

—Tem razão, vamos esperar e ver o que acontece, ok?

Ficamos ali no carro, em um canto mais afastado, para que não pudéssemos ser vistos. As horas passaram e, ao anoitecer, notei que o carro do rapaz saiu do condomínio. No entanto, o carro estava com os vidros escuros e não consegui ver quem estava dentro; portanto, a única coisa a fazer seria seguir, e foi o que fizemos. Logo depois, os vi saindo do carro e entrando em um barzinho que ainda não estava tão cheio. Olhei para o meu irmão e ele já se preparou e saiu do carro. Ele sabe que precisa se aproximar da garota; essa é a missão dele.

Caminhei até o barzinho e me sentei em uma mesa próxima a eles. Assim que o garçom se aproximou, pedi uma bebida. Fiquei ali por mais um tempo e vi meu irmão também se aproximar devagar.

—Oi, amigo, quanto tempo não te vejo! O que tem feito de bom?  

—Cara, estou numa furada. Me apaixonei por uma garota, mas está difícil me aproximar dela.  

—Por quê? Vai me dizer que a garota é casada?  

—Acredito que não. Inclusive, ela está aqui hoje. Espero que o rapaz não seja namorado... Falo olhando em direção a ela. Estávamos muito perto da mesa deles e tenho certeza de que ela ouviu a nossa conversa; essa era a intenção.  

—Uau, a mina realmente é bonita, cara! Dá uma investida, não custa tentar... Falo cutucando o meu irmão com um sorriso sacana. E, neste momento, noto que ela finalmente olhou pra nós...

Ayla

Estava quieta, sentada no sofá, e Benjamin insiste em irmos ao bar que ele costuma frequentar. Acabei cedendo, então fomos. Assim que entramos, nos sentamos a uma mesa próxima à saída e, pouco tempo depois, vejo um rapaz se aproximando. Não acredito no que estou vendo; simplesmente é o mesmo rapaz do supermercado, da lanchonete. Suspiro com a visão que tenho, e Benjamin percebe. 

Discretamente, ele vê o rapaz e me olha com uma cara de interrogação. Apenas balanço a cabeça em negativa e, sorrindo, não demora muito para que outro rapaz também se aproxime e sente junto com ele. Eles estão muito próximos e dá para ouvir claramente a conversa dos dois, mas algo me diz que este rapaz tão bonito é também perigoso. Claro que escuto tudo o que eles falam. Finalmente, dou uma olhada e ele sorri, aceno com a cabeça, sem dar muita atenção, e discretamente peço para Benjamim irmos embora. Dou a desculpa de que não estou me sentindo muito bem e que foi uma péssima ideia ter vindo até ali. Ficamos apenas mais alguns minutos e meu amigo finalmente paga a conta, e voltamos para o apartamento dele.

— Ok, Ayla, agora você pode me falar o que realmente aconteceu no barzinho? — Benjamin pergunta, claramente preocupado.  

— Aquele rapaz que sentou perto de nós, eu tenho a impressão de que ele está me seguindo e já tem alguns dias...  

— E por que você acha isso? Tem algum motivo? Notou algo?  

— Eu sinto há muito tempo que sou observada por algo ou alguém... Paro um pouco e respiro fundo. Outro dia, trombei com ele no mercado e, depois desse dia, tenho visto ele com muita frequência. E tem mais...  

— Isso é preocupante, minha amiga. Deveria ter nos contado isso há muito mais tempo. E o que tem mais?

— Lembra que, quando chegamos do hospital, a casa estava uma bagunça, tudo revirado? Outro dia, tranquei a casa inteira e fui dormir. No meio da noite, tive a impressão de estar sendo observada, abri os olhos e vi um vulto perto da minha cama. Assim que me levantei, no susto, o vulto saiu pela janela do meu quarto... Tem algo acontecendo, meu amigo, e eu não sei o que realmente é.  

Amigo, estou com medo de voltar para casa.  

— Você não voltará, ficará aqui com a gente, ok?  

— Ben, eu também notei a forma como eles olhavam pra Ayla. Tem algo errado com esses caras, e não acho que seja bom. Precisamos ter bastante cuidado. Minha amiga, você se importaria de sair da lanchonete do seu Ary? — Sarah pergunta enquanto olha entre Benjamin e eu.  

— E por que eu faria isso, Sarah?

— Você não acha suspeito? A casa estava trancada e tudo revirado dentro... Minha amiga, não sabemos quem realmente é você, e nem você sabe. Precisamos ter cuidado…  

— Eu entendo, Sarah, mas seu Ary sempre me ajudou desde que eu saí do orfanato. Ele me deu trabalho, pago quase nada de aluguel para ele, tenho meu cantinho. Tudo bem que agora a segurança de lá se tornou um problema, mas pode simplesmente ter sido um ladrão...  

— Não, Ayla, um ladrão teria arrombado a porta. Lá não é seguro para você. Mas fico me perguntando o que procuravam no seu apartamento. Você deve ter algo especial. Você não se lembra de nada?  

— Não, eu nunca tive nada de especial. E como eu poderia ter? Esqueceu que eu não passo de uma garota simples de orfanato, meu amigo?  

— Não é isso, Ayla. Quando você saiu do orfanato, te deram alguma coisa além de suas roupas e documentos?

— Sim, carrego sempre comigo um colar e um anel. Achei até estranho as freiras me entregarem isso... Apenas retiro o cordão com o anel pendurado e mostro a eles as bijuterias…

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