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NÃO PODE SER, NÃO PODE SER

Não é possível que tudo isso que está acontecendo comigo tenha algo a ver com estas bijuterias, Benjamin. Isso não deve valer nada; não passam de bugigangas.

— Não, Ayla, tem algo de muito errado nessa história. Deixa eu ver esse colar e esse anel. — Benjamin fala, me olhando, e por um momento vejo um lampejo em seus olhos que some tão rápido quanto apareceu.

Entrego a ele e ele começa a olhar cuidadosamente o colar que, segundo a única freira que ainda tentava me ajudar, me entregou escondido e pediu que eu guardasse aquilo da melhor forma possível, e que ninguém nunca soubesse que estava comigo. Ela ainda me aconselhou a não acreditar em nada do que me falaram enquanto eu estava naquele inferno que chamam de orfanato. Benjamin continua olhando para o colar e vejo que ele foca em algo muito discreto, mas ele me chama e me mostra: tem as mini letras CGM em pedrinhas próximas ao feixe. Aquilo também me chama a atenção, então ele passa a olhar o anel pequenino com as mesmas letras…

— Ayla, minha querida, essas joias não são simples bijuterias; são joias de verdade, joias de família. Mas me pergunto como elas vieram parar em suas mãos.

Fico pensativa por alguns minutos e decido contar a verdade sobre as joias e o que aquela freira disse...

— Benjamin, eu ganhei essas joias de uma freira, a única que ainda me tratava melhor entre todas elas. Essa, ao menos, não me batia e tentava discretamente me dar um pouco de carinho, mesmo que escondido. No dia em que fiz 18 anos e saí daquele lugar, ela veio até mim e me deu um pouco de dinheiro; acredito que retirou do próprio bolso. Vi quando ela propositalmente derrubou algo no chão próximo do portão e, assim que me abaixei para ajudá-la, ela também o fez e me entregou essas joias, dizendo que me pertenciam. Fez tudo muito discretamente e pediu que eu as mantivesse o mais escondidas possível, para que ninguém nunca as visse e que eu não acreditasse em nada do que me falaram durante a minha vida naquele lugar, e que nada é o que parece... Ben, ainda me pergunto por que será?

— Ayla, minha amiga, eu sinto muito te dizer isso, mas estou começando a achar que a sua vida é uma mentira desde o seu nascimento. Tem algo em sua história, minha amiga. Olha só o que está acontecendo à sua volta de uns tempos pra cá. Você precisa conversar mais com a psicóloga; talvez ela possa te ajudar de alguma forma. Ao menos, é isso que ela tem tentado fazer, certo?  

— Amiga, escuta o que o Ben está falando. Olha a situação que estava o seu apartamento! É claro que tem algo errado. Tem alguém atrás de você ou de algo que está com você... Precisamos tomar cuidado a partir de agora quando sairmos, irmão. Já não é tão seguro. — Sarah deixa claro seus pensamentos na tentativa de me fazer refletir.  

— Eu sei, maninha, mas não se preocupem. Vamos dar um jeito nisso. A propósito, Ayla, você se importa se eu levar essa joia para um amigo meu de confiança verificar a origem dela?  

— Fique à vontade, Ben. Eu só quero saber o porquê disso tudo acontecer justamente comigo.

Eu sempre fui tão desprezada por meus amigos. Vocês conhecem bem a minha história; isso não era para estar acontecendo. Do nada, minha vida começou a virar de cabeça para baixo…

— Eu acredito que esconderam de você as suas origens, minha amiga. Agora precisamos saber o porquê. Lembra que você me disse que se lembra de um homem ir ao orfanato e que, sempre que ele ia embora, a coisa ficava feia para o seu lado? Pode estar ligado a tudo isso... Meu amigo deve saber de algo; talvez ajude — afirma Benjamin de forma categórica.  

— Obrigado de verdade por serem tão bons comigo. Se não se importarem, eu queria descansar, mas amanhã eu vou trabalhar. Preciso tirar essas coisas da minha cabeça e, no dia da consulta, eu vou me abrir mais com a psicóloga. Talvez ela me ajude a recuperar algo perdido na cabeça...

— Eu sinto muito, minha amiga, mas amanhã você não vai trabalhar, não. Ficará mais uns dois dias em casa. O seu Ary sabe que você está doente e tenho certeza de que ele não vai se importar com a sua ausência. — Sarah enfatiza enquanto olha em meus olhos.  

— Pode ser, mas fico preocupada. Sempre fomos nós dois; ele já é um senhor idoso, Sarah…  

— Sem chances, minha amiga. Apenas vá descansar. Se você quiser, depois que o Ben voltar, nós passamos lá no velho e você conversa um pouco com ele, ok? Mas, por enquanto, ficará aqui.

—Fui até o quarto que eles deixaram separado para mim; afinal, ficarei aqui por uns dias. Assim que me deitei, fiquei pensando em tudo que eles me disseram, e realmente faz todo sentido. Eu sei que sou meio boba e medrosa, mas não é normal as coisas que têm acontecido ultimamente. Lembrando das palavras daquela freira, começo a imaginar o que pode ter acontecido de verdade na minha vida, com a minha família, e se realmente eu não fui abandonada como me disseram. Aquela joia que eu achava ser uma bijuteria, na verdade, não é; é algo lindo. Lembrei da sensação de estar sendo observada o tempo todo, do vulto no meu quarto... E agora as coisas começam finalmente a fazer sentido...

Deitada ali naquela cama gostosa e com esses pensamentos, acabei adormecendo e, aos poucos, entrei no mundo dos sonhos.

—Mamã, mamã, bincar mamã.  

—Oh, minha doce Chloè, vamos sim, vou chamar o papai...  

—Amor, vamos sair um pouco com nossa bebê, aqui perto mesmo, na pracinha...  

—Amor, você sabe que não é seguro, não podemos arriscar.  

—Papá, papá, cabalinho papá.  

—Vem aqui, meu amor, por que não brincamos de cavalinho aqui mesmo…  

—Não, papá, bincar mamã, rua...

Acordo mais uma vez assustada e suada, mas, dessa vez, não há medo, apenas uma paz, uma alegria. Vi o rosto do casal e da menina, e, mais uma vez, sou eu com uma filha...

Levanto e vou até o banheiro, entro embaixo do chuveiro com roupa e tudo. O que são esses sonhos? A menina estava com o colar, o mesmo colar que a freira me entregou...

— Balanço a cabeça em negação. Não podem ser só sonhos; isso são lembranças, lembranças da minha vida. É a única explicação.

Depois de terminar o banho, me enxugo e vou até a cozinha, bebo um copo de água e vou até a janela da sala, que tem uma cortina. Abro só um pouco e noto um carro preto distante. Sinto um arrepio, fecho a cortina e volto para o meu quarto. Faço uma nota mental de que não posso deixar o Benjamin sair sem avisar que tem um carro suspeito estacionado aqui próximo do prédio...

E, mais uma vez, sinto uma paz gostosa depois desse sonho. É como se algo estivesse começando a preencher este vazio que sinto na alma. Volto para a cama e, aos poucos, volto a dormir com a lembrança dos rostos sorridentes e da brincadeira na pracinha...

Acordei com o dia clareando e, após escovar os dentes rapidinho, fui para a cozinha fazer um café antes que os outros acordassem. Assim que terminei, vi o Benjamin saindo do quarto sem camisa e de samba-canção. Sorri com a visão; sei que ele é lindo, tem um abdômen sarado, e me pergunto como pode ele ser tão perfeito. Ele se aproxima de mim e me dá um beijo na cabeça.

—Bom dia! Vejo que acordou inspirada hoje, hein? Nossa, minha princesa, um batalhão virá comer aqui? — pergunta e começa a gargalhar, com aquela voz rouca e deliciosa de ouvir.  

—Bom dia, Benjamim! Você acordou cedo, rsrs... Eu perdi o sono, então aproveitei e vim fazer o café...  

—O cheiro está ótimo, Ayla, mas não precisava se incomodar, ok? Aqui nós nos viramos bem...  

—Sei que sim, mas não é nada fazer um café da manhã sem pressa. E como eu não posso ir trabalhar, né, senhor Benjamim...  

E falando em trabalhar... nunca soube no que você trabalha. Na verdade, nunca te vi sair para trabalhar... mas vejo que vocês vivem muito bem. Até fico feliz em ter amigos assim, já que sempre fui tão sozinha... dou um sorriso amarelo.

Vejo o sorriso amarelo que Ayla esboça e percebo que a tristeza tentou bater à porta. Não aguento ver minha doce menina assim, então vou rapidamente até ela e a puxo para um abraço forte e caloroso.

— Escute bem, minha Ayla: você nunca mais se sentirá sozinha, ok? Você tem a mim, Benjamin, e a minha irmã. Estaremos sempre com você, nunca se esqueça disso... Agora vamos comer, que o cheiro desse café está maravilhoso. Assim, você vai me pegar pelo estômago — falo, dou uma gargalhada e ela me acompanha. Ficamos ali por mais um tempo e vejo a Sarah se aproximando, ainda bocejando...

— Bom dia, meus amores! Uau, vim preparar o café da manhã e me deparo com essa mesa maravilhosa. Com certeza foi a Ayla quem fez. Todos rimos e juntos tomamos nosso café da manhã.

— Benjamin, posso pedir um favor? Não vá procurar seu amigo hoje. Eu acordei bem cedo e vi um carro em situação suspeita lá embaixo; não quero que você se machuque. — Ayla fala e percebo a preocupação em sua voz.  

— Relaxa, Ayla. Ele também notou, vai sair de moto; ninguém vai saber que é ele, acredite. — Sarah fala de forma descontraída.  

— Olho para Sarah sem acreditar e fico desconfiada da situação. Espero que eu não esteja errada sobre esses dois.  

— Que horas as minhas meninas irão ao hospital hoje? É dia de consulta, certo? — Benjamin pergunta, sem dar muita importância ao que falei alguns minutos atrás.  

— É sim, Ben. Será à tarde, mas eu gostaria de ir ver o seu Ary. Sabe, fico preocupada com ele; ele é tão sozinho, nunca fala da família.  

— Podemos ir lá depois da consulta, sem problemas. Aproveitamos e passamos no seu apartamento para você pegar mais algumas roupas e o que você achar necessário.

— O que seria de mim sem vocês? — falo enquanto caminho até ele e dou um beijo em seu rosto. Perfeito! Então, depois da consulta, passamos na lanchonete.

Terminamos o café e vi o Benjamin entrar no quarto, segundo a Sarah, para se arrumar. Enquanto estávamos conversando, o vejo sair do quarto. Ele está todo coberto: calça de couro, coturno, jaqueta, luvas, uma touca ninja e um capacete na mão. Olho para aquela visão à minha frente e olho para a Sarah, sem acreditar no que estou vendo, e ela apenas sorri.

— Relaxa, amiga, ele só está se mantendo escondido; assim, quem está lá fora não vai desconfiar que seja ele. Ele quase não usa a moto. — Respiro aliviada e escuto a risada gutural por trás da touca. 

— Calma, Ayla, não precisa ficar assustada. Eu só vou ver o meu amigo, ver se ele sabe a origem das joias. Espero que, assim que eu voltar, já tenha uma resposta. E, por favor, esperem que eu volte; é importante. Não quero ver vocês por aí correndo riscos, ok, meninas?

Benjamin

Saio da sala e sigo para o elevador. Detesto ter que sair assim; não gosto muito de andar de moto, apesar de saber usá-la muito bem. Mas, infelizmente, por causa de quem quer que esteja seguindo a Ayla, não posso me deixar ser notado. Assim que o elevador chega ao estacionamento, vou até a minha Kawasaki Ninja H2 SX SE, coloco o capacete, ligo a moto e vou até o portão de saída. Assim que ele abre, acelero e faço questão de passar ao lado do carro estacionado, olhando para dentro dele, mas, infelizmente, não consigo ver o seu interior. Sigo até a Avenida Paulista e chego ao prédio onde o meu amigo trabalha. Estaciono, retiro o capacete e a touca, bagunço meus cabelos, abro a jaqueta e sigo para o prédio. Ao chegar, apenas peço para que eu seja anunciado e, em poucos minutos, estou de frente ao Ivan.

— Ora, ora, o que traz o meu amigo Benjamin até aqui?  

— Sem encheção de saco, porra! Preciso que você olhe algo pra mim e, se souber a origem, me avise. Se não souber, preciso que pesquise, mas só saio daqui com a resposta, entendeu? É importante.  

— Falando assim tão delicadamente, é claro que eu faço. Me dá um minuto.  

Ligo para a minha secretária e aviso que não posso ser interrompido por nenhum motivo. Sei muito bem quem é Benjamin.

— Então, vamos parar de enrolação, que eu não tenho tempo a perder? — falo enquanto abro um bolso interno que é imperceptível em minha jaqueta, retiro um saquinho, coloco-o em cima da mesa e bato com a ponta dos dedos, impaciente.  

— Fica calmo, cara. Sabe que vou fazer o que está me pedindo. Olho para aquele saquinho, pego-o e, quando o abro, vejo apenas um colar de criança adaptado de forma grosseira para um adulto e um anel.  

— O que é isso, Benjamin? Tudo isso apenas por causa disso aqui? — Ivan pergunta de forma desdenhosa.  

— Olha direito, porra! Dá uma olhada no feixe do colar... Não é algo qualquer. Por acaso você já viu isso antes? Conhece a origem?  

É importante, e eu preciso confirmar. Você é o melhor que eu conheço para fazer isso, então não enrola e descobre logo.  

— Me pedindo com esse jeitinho delicado, é claro que eu vou fazer. Me dá um minuto, rsrs. Deixa eu pegar meu material.

Vejo Ivan ir até um armário e abrir o cofre embutido, pegando os seus brinquedos. Assim que volta para sua mesa, senta e começa a analisar. Vejo o seu corpo começar a tremer, e a sua voz apenas confirma o que eu já sabia: NÃO PODE SER, NÃO PODE SER, NÃO PODE SER.

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