Capítulo 02

Cristina

— O crime perfeito existe? — perguntei para Jeremy. 

— Claro. Pílulas de cafeína sintetizada. Quinze gramas e ele terá um ataque cardíaco que parecerá ter sido causado por cocaína. 

— Jeremy… Quero saber como sabe disso? — 

Ele riu outra vez. 

— Séries de investigação ensinam mais do que você pode imaginar. 

— Eu devia assistir à alguma? 

— Comece por CSI. 

— Qual deles? 

— Qualquer um. — Afastou-se novamente, quando outro homem se aproximou do balcão.  

— Uma Red Beer — pediu ele, sentando-se no banco ao meu lado. — Boa noite — cumprimentou-me, curvando o canto da boca em um sorriso mal-intencionado.  

Dei-o um pequeno sorriso e virei o corpo um pouco para a esquerda, tentando ignorá-lo. Sabia que em segundos ele começaria a puxar uma conversa a qual não estava nem um pouco interessada. 

— Sou Logan.  

Não o respondi. Somente o ignorei, tomando um gole da cerveja que já estava pela metade.  

— Está sozinha aqui? — Puxou o seu banco para mais perto do meu. 

— Não é da sua conta — disse firmemente, sem olhá-lo. 

— Se acha boa demais para mim? — perguntou usando um tom áspero. Acho que ele se sentiu insultado.  

Respirei fundo, contendo o desejo de mandá-lo para o inferno. 

— Acho que a moça não está a fim de ser incomodada essa noite — falou Jeremy. — Talvez você fique mais à vontade em uma das mesas lá atrás. Que tal aquela perto da TV? Está passando o jogo de hoje — sugeriu, percebendo que ele estava sendo um grande inconveniente e que me perturbava. 

— Valeu, mas estou melhor aqui.  

Ele esticou a sua mão e tocou a minha coxa. Saltei para fora do banco, tomando um pouco de distância dele. 

— Qual é o seu problema? Não me toca, porra! — falei alto, irada. 

— Qual é o seu problema, vadia? — perguntou alto, colocando-se de pé e dando um passo para mais perto de mim.  

— Já chega! A cerveja é por conta da casa. Fora daqui! — Exigiu Jeremy.  

— Não, eu só saio daqui acompanhado. Vem comigo, docinho. 

— Aí! — Alguém chamou a sua atenção, fazendo-o virar-se. E, então, pegando até mesmo eu de surpresa, um soco foi desferido contra o rosto dele, fazendo-o cair sentado no chão.  

Rapidamente ele levantou-se pronto para uma briga, mas Jeremy já havia saído detrás do balcão, segurando um taco de beisebol na mão. 

— Policiais frequentam esse bar. Ou vai embora por vontade própria, ou na companhia deles! — falou alto. 

O homem sentiu-se intimidado, é claro. Pegou a sua jaqueta sobre o encosto do banco e cuspiu no chão, próximo dos pés do Jeremy, antes de sair xingando o bar e a todos nós. 

— Você está bem? — Jeremy perguntou. 

— Por que Nova Iorque é tão cheia de gente maluca? 

Ele riu. 

— É assim desde sempre. Acho que é a água desse lugar. — Voltou para junto das bebidas.  

O homem solitário ainda estava parado perto de mim. O seu olhar agora estudava-me com astúcia e os ombros não estavam mais caídos. 

— A sua mão está bem? — perguntei-lhe e ele assentiu. — Foi um belo soco. — Sorri. 

— Ele merecia até mais de um. 

— O que você está bebendo? 

— Uísque.  

— Posso te pagar uma dose em agradecimento? 

— Eu já estava de saída. 

Ele retirou a carteira do bolso traseiro da calça e colocou uma nota de vinte dólares sobre o balcão. 

— Fique com o troco — disse para Jeremy. 

— Obrigada. Muitas das vezes as pessoas só ficam olhando — eu disse. 

— Muita das vezes sou o cara que soca. — Sorriu. Um sorriso lindo que transmitia certa inocência e divertimento, fazendo-me sorrir de volta. 

— Tem certeza de que precisa ir? 

Ele influo os ombros e inalou fundo o ar, prendendo-o no peito. Encarou a saída e depois o relógio na parede atrás do balcão. Já passava das dez. Então ele olhou para mim outra vez e soltou o ar devagar. 

— Mais uma dose, Jeremy — disse ele, sentando-se onde antes estava o cara babaca. 

Sentei-me de volta no banco, com as pernas viradas para ele. Jeremy colocou a dose à frente e piscou para mim, afastando-se.  

— Sou Cristina. — Estendi a minha mão. 

— Cillian.  

Ele apertou a minha palma, permitindo-me sentir o seu calor e a maciez da sua pele. Demoramos alguns segundos a mais para soltar as mãos. 

— Você está aqui há muito tempo? Geralmente, as pessoas que conheço nunca são daqui. 

— Não. Estive fora nos últimos dez anos. Desembarquei na cidade há três dias. 

— E onde você estava? 

— Londres. 

— Nunca estive lá. Está na minha lista de roteiros.  

— Lista de roteiros? — perguntou um tanto curioso. 

— Tenho uma viagem programa. Ainda não tem data, porque não tenho grana — ri —, mas o roteiro já está prontinho na minha cabeça e eu listei as cidades por prioridade.  

— Por quê? 

— Quero que a viagem dure três meses. É muito tempo, eu sei, e muita coisa pode acontecer. Por isso listei as cidades por ordem de prioridade. Caso algo aconteça e eu precise voltar mais cedo para casa, ao menos terei visitado os melhores lugares.  

Ele riu. 

— Uau! Isso é inteligente. Falta muito para conseguir realizar a viagem? 

— Não. Só preciso conseguir um emprego melhor e quitar o meu crédito estudantil. 

Cillian riu mais alto. A sua risada era um tanto grave e parecia tão macia quanto a sua pele. Os seus lábios eram bem desenhados, carnudos e rosados. A sua pele clara contrastava bem com os cabelos castanhos escuros e os olhos amendoados. A face não tinha a mandíbula tão marcada, o que tornava a sua aparência sedutora como as esculturas de Michelangelo.   

— Adoro pessoas otimistas — disse ele. 

— Você é muito bonito. — As palavras ecoaram da minha mente, saindo sorrateiramente pela minha boca, fazendo-o perder o sorriso e encarar-me sério.  

O seu olhar desviou-se do meu e os ombros ficaram tensos outra vez. Claramente causei-o desconforto.  

— Me desculpe. Eu só… Desculpe. — Senti-me sem graça.  

— Mais uma cerveja, Cris? 

— Não, Jeremy. Valeu.  

Ele assentiu e retirou a minha caneca vazia.  

— Vou ao banheiro. Com licença. — Levantei-me de pressa, sumindo pelo corredor. Parei em frente a porta do sanitária feminino e escorei na parede. — Eu não devia ter dito aquilo. — Sentia-me mal por tê-lo feito perder o sorriso. Sentia que havia acabado de estragar qualquer possibilidade de conseguir o telefone dele. Talvez ele não goste de garotas atiradas, ou de mulheres. — Fui atirada? — perguntei-me, entrando no banheiro.

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