CristinaNós nos sentamos e Cillian pegou imediatamente a minha mão sob a mesa. Caroline jogou o seu cabelo para trás dos ombros e ergueu a mão, chamando o garçom, que prontamente se pôs a caminhar na nossa direção.— Qual é a dos óculos? — Cillian perguntou, curioso.Ela virou o rosto para ele, forçando mais um sorriso. Falar dos óculos que cobriam quase metade da sua face a incomodava.— Meus olhos estão um pouco irritados.Cillian apertou um pouco a minha mão. Olhei-a para ele e o vi encará-la com olhos estreitos.— O que aconteceu?— Não sei. Acho que talvez uma reação alérgica.— Então eu devia levá-la ao hospital. — O tom dele soou mais duro.— Não precisa. Não é grave. — Ela continuava a sorrir.— Deixe-me ver! — Desencostou-se da cadeira, ficando mais tenso.Caroline perdeu o sorriso.— Eu disse que está tudo bem! — A voz já não soou mais tão suave e delicada.— Tire. Os óculos — falou ele, pausadamente.Ela engoliu em seco e abriu a carta de vinhos.— Qual vinho prefere, Cris
CristinaEu nunca tinha contado para Cillian sobre as minhas relações passadas. Eu podia sentir a sua surpresa em me ouvir e os eu olhar queimar em cima de mim.— Não! — disse alto. — Gerard me ama! Ele diz isso todas as manhãs. Me pediu em casamento! Isso é prova de amor! — Tenteou ser convincente. Caroline fez uma careta para a sua última frase, mostrando que ela duvidava das próprias palavras.— Você está errada. Amor não dói.Rapidamente a fúria tomou conta da face dela. A respiração ficou ofegante e os ombros inflaram.— Quem você pensa que é para dizer que estou errada a respeito do meu casamento? — gritou, colocando-se de pé.— Caroline! — Cillian a repreendeu.— Você não me conhece, não sabe nada sobre mim! — Olhou para o seu irmão. — Não devia ter trazido alguém tão intrometida! Você não devia ter vindo!— Senhoras... senhor. — disse outro garçom, parado ao nosso lado. Ele não estava com uma cara nada feliz. — Vou ter que pedir que deixem do restaurante! Estão perturbando a p
CillianVesti-me rapidamente e me despedi dela com um beijo rápido. Na rua, estava tudo congelando com tamanho o frio. Não levaria muito mais tempo para a neve cair.Dirigi até a casa da Caroline, uma pequena mansão do outro lado da cidade. Ao chegar, abaixei o vidro e apertei o interfone que ficava ao lado dos enormes portões. Ela atendeu e logo abriu quando ouviu o meu singelo oi. Parei o carro em frente à entrada da casa. Assim que meus pisaram o primeiro degrau da escada que levava até a porta, ela foi aberta e a figura devastada de Caroline surgiu.Aos prantos, ela se jogou nos meus braços. O seu corpo baixinho e magro se balançava e tremia enquanto se debulhava em lágrimas. Ela estava descalça e as pedras dos degraus devia estar congelando os seus pés. Peguei-a nos braços e levei-a para dentro de casa, fechando a porta com o calcanhar.Carreguei-a até o sofá na sala de estar e acomodei-a lá, sentando-me ao seu lado. Ela continuou agarrada ao meu casaco, com o rosto afundado no m
CillianOs olhos amendoados de Caroline estavam arregalados e encarava-me atentamente. Seus lábios trêmulos se moveram para dizer algo, mas ela nada disse, porque uma voz alta e áspera a calou, causando-a tamanho espanto.Ela se colou de pé em um pulo. Eu me levantei e permaneci ao seu lado. Gerard estava perto da porta, nos encarando com olhos e face repleta de desgosto e um pouco de raiva.— Querido. Você chegou — disse, secando o rosto com as mãos e sorrindo.Gerard desviou por alguns segundos os olhos de mim para ela, antes de voltar a me encarar rudemente.— Meio tarde para visitas, não acha, Caroline?Retirou o seu casaco, aproximando-se de nós.— Ele já estava de saída.— E porque olhos tão vermelhos, meu amor? Estava chorando? — perguntou fingindo inocência, como se não soubesse exatamente o porquê ela estava naquele estado.Ela ficou em silêncio.— Foi bom te ver... Cillian. — Pronunciou o meu nome em um tom mais baixo. — Mas acho que está na hora de você ir.Toquei o braço d
Parte UmUma Garota Apaixonada Cristina Já percebeu como as nossas expectativas da juventude são frustradas logo após os vinte dois anos? É como se ao soprar as velas, atravessássemos um portal que nos leva do Vale dos Sonhos direto para a Terra das Desilusões. Até os vinte e dois eu estava certa de que a minha vida seria um sucesso absoluto, que após a graduação trabalharia no melhor centro de avaliações psicológicas de Nova Iorque. Mas estava enganada. Quer dizer, ao menos eu havia conseguido trabalhar na sonhada instituição, mas não exercendo a minha profissão. Eu era a escrava… Opa! Não. Eu era a secretária de um chefe narcisista, cujo robe era fazer os seus funcionários chorarem no banheiro. Era exatamente nove da noite. Eu estava com fome, muita fome. E estressar-me quando estou faminta não é uma ideia inteligente. Então, estava torcendo para o meu chefe sair daquela sala sem nem sequer olhar para mim. — Continua aqui? — perguntou Carter, ao entrar na recepção com algumas
Cristina— O crime perfeito existe? — perguntei para Jeremy. — Claro. Pílulas de cafeína sintetizada. Quinze gramas e ele terá um ataque cardíaco que parecerá ter sido causado por cocaína. — Jeremy… Quero saber como sabe disso? — Ele riu outra vez. — Séries de investigação ensinam mais do que você pode imaginar. — Eu devia assistir à alguma? — Comece por CSI. — Qual deles? — Qualquer um. — Afastou-se novamente, quando outro homem se aproximou do balcão. — Uma Red Beer — pediu ele, sentando-se no banco ao meu lado. — Boa noite — cumprimentou-me, curvando o canto da boca em um sorriso mal-intencionado. Dei-o um pequeno sorriso e virei o corpo um pouco para a esquerda, tentando ignorá-lo. Sabia que em segundos ele começaria a puxar uma conversa a qual não estava nem um pouco interessada. — Sou Logan. Não o respondi. Somente o ignorei, tomando um gole da cerveja que já estava pela metade. — Está sozinha aqui? — Puxou o seu banco para mais perto do meu. — Não é da sua con
CristinaParei diante do espelho e ajeitei a blusa. Passei as mãos delicadamente pelos cabelos presos em um coque alinhadinho e respirei fundo. Eu iria voltar lá, pedir desculpas, agradecer novamente pelo soco bem dado, pagar a conta e ir para casa. Ao sair do banheiro, Cillian estava ali, parado de frente a porta. Até me assustei um pouco ao vê-lo. — Me desculpe se fui atirada ou… — Não pude terminar a frase. Ele beijou-me, fazendo-me prender o ar nos pulmões com a surpresa. A sua mão esquerda laçou a minha cintura, enquanto a outra segurou a minha nuca com firmeza. A sua língua era quente e os lábios faziam um trabalho suave sobre os meus. Abracei-o tentando impedir que os segundos se acabassem. Parecia que tudo havia se encaixado tão bem. Nossos corpos… as línguas… Até a maneira sincronizada que respirávamos. Ele girou-me no espaço do corredor e prensou-me contra a parede. O beijo ficou mais feroz e um gemido escapou da minha boca. Cillian mordeu o meu lábio inferior e apertou
CristinaOs meus olhos abriram-se preguiçosos ao ser acordada pelo barulho alto que fazia a prensa do caminhão do lixo, parado em frente ao nosso prédio. Piscando lentamente algumas vezes, encarei o teto percebendo como o dia já estava claro. Gradualmente, fui tomando consciência do ambiente ao meu redor. O caminhou apitou lá fora e eu olhei para janela, confusa. Já era sábado? Sábado era o único dia que eu ouvia a coleta do lixo passar. Olhei para o relógio sobre a mesa de cabeceira e forcei as vistas sonolentas para enxergar o dia escrito logo abaixo das horas. — Quinta? Quinta-feira? — perguntei em um grito, saltando da cama, assustada e muito atrasada. Abri a porta do quarto e corri até a lavanderia. Na secadora, peguei uma calça jeans qualquer. Não tinha nem certeza se era mesmo minha. — Anna! Já são sete e meia, acorda! — gritei ao passar pelo corredor. — Merda! Merda! Merda! Eu estava completamente apavorada. Tinha exatamente meia hora para chegar à faculdade ou perderi