Capítulo 03

Cristina

Parei diante do espelho e ajeitei a blusa. Passei as mãos delicadamente pelos cabelos presos em um coque alinhadinho e respirei fundo. Eu iria voltar lá, pedir desculpas, agradecer novamente pelo soco bem dado, pagar a conta e ir para casa. 

Ao sair do banheiro, Cillian estava ali, parado de frente a porta. Até me assustei um pouco ao vê-lo. 

— Me desculpe se fui atirada ou… — Não pude terminar a frase. Ele beijou-me, fazendo-me prender o ar nos pulmões com a surpresa. 

A sua mão esquerda laçou a minha cintura, enquanto a outra segurou a minha nuca com firmeza. A sua língua era quente e os lábios faziam um trabalho suave sobre os meus. Abracei-o tentando impedir que os segundos se acabassem. Parecia que tudo havia se encaixado tão bem. Nossos corpos… as línguas… Até a maneira sincronizada que respirávamos. 

Ele girou-me no espaço do corredor e prensou-me contra a parede. O beijo ficou mais feroz e um gemido escapou da minha boca. Cillian mordeu o meu lábio inferior e apertou a sua mão na minha cintura. Os seus beijos desceram pelo meu pescoço, deixando-me excitada. 

— Quer ir para outro lugar? — perguntei. 

Ele parou um instante, ofegante, e passeou com os olhos pela minha face antes de encarar os meus. 

— Eu adoraria. 

Sorri satisfeita. 

— Vou pagar a conta e pegar as minhas coisas. Te encontro na saída. 

Selei os seus lábios e ele soltou-me, me permitindo ir. 

— Jeremy… Quanto deu a conta? 

— Hoje foi por conta da casa. 

— Tem certeza? 

— Tenho. 

— Obrigada.  

Vesti o casaco e apanhei a minha bolsa. Mas quando olhei para trás, Cillian não estava na saída. Caminhei até o corredor e ele não estava ali também. 

— Cadê o defensor dos pobres? — perguntei para Jeremy. 

— Ele saiu enquanto você vestia o casaco. 

Olhei novamente para a porta de vidro e ele nem mesmo parecia estar me esperando lá fora. Ele foi embora? Estava sem acreditar que havia feito isso.  

Despedi-me do Jeremy e deixei o bar. Na calçada, olhei para um lado e depois para o outro. Observei o movimento do outro lado da rua, mas ele não estava ali também. Por um segundo, questionei a minha sanidade se aquele beijo havia mesmo acontecido. Mas, sim. Era real. O cheiro dele ainda estava na minha roupa e a sensação do seu aperto ainda era presente na minha cintura. Eu havia apenas ganhado um bolo. O pior da vida.  

Negando a situação com a cabeça, segui o caminho de casa pela calçada, ainda sem crer no que aconteceu. 

***

Ao passar pela porta de casa, Anna ainda estava acordada, sentada à mesa da copa, estudando. 

— Está tudo bem? — perguntou. 

— Fui até o Jeremy tomar uma cerveja e... uma coisa estranha aconteceu. 

— O quê? 

— Tinha um cara lá. Ele estava sozinho. Depois apareceu outro e começou a encher o meu saco, sendo um escroto do caralho. Então o cara solitário se levantou e socou o machista de merda. 

— Uau! Que aventura para uma quarta à noite. 

— E não acaba aí. O cara que me defendeu, se sentou comigo, bebemos um pouco juntos, conversamos e então falei que ele é bonito. Porque de fato é gato, mas aí ele pareceu desconfortável com isso.  

— Sério? Geralmente os caras gostam disso. 

— É. Pois é. Então fui ao banheiro e quando saí, ele estava na porta esperando por mim. A gente se beijou. Não um beijo, apenas. Um beijo que me fez gemer e molhar a calcinha. 

Anna olhou para mim com uma feição empolgada. Ela largou os livros e afastou-se do laptop, me dando a sua total atenção. 

— Vocês transaram no banheiro? — perguntou com olhos vibrantes.  

— Não. Eu o chamei para dar o fora dali e ele aceitou. Então pedi que me esperasse na saída, mas ele simplesmente deu no pé enquanto eu estava distraída pegando as minhas coisas e despedindo-me do Jeremy. 

— O quê? Que frustrante! 

— Sim. Muito! 

Caminhei até a geladeira, apanhando o resto da comida chinesa da noite anterior. 

— Sinto muito. 

— Por um segundo até questionei a minha sanidade.  

— Ele com certeza é real, amiga. Te fez molhar a calcinha. 

— Vou tomar um banho e depois dormirei para não ficar pensando tanto nesse bolo terrível. Boa noite! 

— Vê se não vai passar a noite em claro, temos avaliação amanhã — disse ela enquanto me dirigia para o meu quarto no fim do corredor. 

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