— Manda ela calar a boca, Francis, senão eu arrebento com ela.
Minha tia veio até mim.
— Calma, Edilene, calma. Ele pode machucar você. Por favor, minha filha. Não vai enfrentando ele assim, porque dessa forma você não vai conseguir nada, a não ser ganhar o ódio dele. Vai ser muito pior tê-lo como inimigo, ele é muito perigoso. Fica calma, Deixa-me passar uma pomada no seu rosto. Aquele maldito! Bater daquele jeito em uma criança? Covarde.
Eu não vou ficar aqui chorando feito um bebezinho, não vou mostrar fraqueza pra ele. Vou mostrar que não tenho medo dele e que sou capaz de me defender.
Só que não era assim tão simples como eu imaginava. Meu pesadelo estava apenas começando. Ouvi uma conversa dele com um dos viciados, com quem ele andava dizendo que ia judiar de mim, queria ver se eu ia aguentar manter aquele topete por muito tempo, nem que para isso teria que me bater todos os dias. Então prometi para mim mesma que, por mais que doessem os socos que ele m
— Eu não tenho medo dele. Deixa a menina aí, Francis. Deixa o Velho vir. Um dia a gente tem que acertar as contas mesmo. Que seja agora, então. Ele foi até o quarto, pegou um revólver e colocou na calça.— Não, Alemão. Se for pra vocês se matarem, não vai se por minha causa. Vou embora.— Você não vai sair daqui. Deixa que ele venha. Estou preparado para ele.Tia Francis me chamou.— Vem, minha filha. Sente-se aqui. Vou pegar alguma coisa para você comer.Por um minuto eu me senti no céu, porque eu vivia no inferno todo dia.De repente o Velho chegou com seus capangas e chamou a tia Francis.— Entrega a menina, Francis, senão eu atiro.O Alemão revoltado gritou:— Você não é dono dela, seu canalha. Ela não é nada sua, é sobrinha da Francis. E não vai sair daqui.Ele então ordenou que os capangas atirassem. Foi uma troca de tiros terrível. A tia não parava de chorar, dizendo que todos nós iríamos morrer. O alemão tomou um ti
— Quem é esse primo?— Ele chama Junior.— Junior? É o Juninho da Maria?— É sim.— Caramba, você é parente do Juninho?— Solta ela, cara – um disse para o outro – o Juninho é sangue bom, ele é dos nossos.— Eu vou te soltar, mas se você abrir essa boca te mando para o lado dos pés juntos. Cai fora.Eu saí correndo para casa. A Maria já estava preocupada comigo, eu não disse nada pra ela. Falei que estava na casa de uma colega para não preocupá-la. Mais tarde o Junior me chamou pra conversar e disse.— Você não tem nada pra me dizer, Edilene? Esses caras são da pesada, ficar longe daqueles homens. Eu prometi pra eles que você iria ficar de boca calada.Era domingo, a Maria me alertou que o Velho já deveria estar chegando para me buscar
INFÂNCIA PERDIDANo interior de Minas Gerais, na zona rural, bem distante da cidade, morava uma família muito simples e humilde. Seu Joaquim e dona França lutavam com bravura na lavoura para criar seus doze filhos.Apesar de ser um bom homem, seu Joaquim era muito severo com seus filhos. Eram três mulheres, Lourença, Conceição e Efigênia, a caçula, e nove homens. Assim como dona França, seu Joaquim sonhava em ver as três filhas casadas. Ele não aceitava que elas namorassem ninguém, não deixava elas saírem pra nenhum lugar, deixando-as presas. Loura, sua filha do meio, não aceitava a ideia do pai tratá-las como animais presos na gaiola e sempre apelava para sua mãe. Que sempre dizia.— Eu não posso fazer nada, Loura.— Olha mãe, eu estou gostando de uma pessoa. Vou sair com ele hoje, custe o que custar.— Mas você conhece seu pai, minha filha. Se ele te pegar, vai te machucar muito.Mas loura sempre teve um temperamento difícil.— Me ajuda mãe, por
— Tudo bem, mãe.Respondeu ela, finalizando a conversa.Assim acontecia todas as vezes. Dona França a ajudava a fugir para que ela fosse encontrar com o seu grande amor. Mas o que ela não sabia é que esse amor a traria muitos sofrimentos e decepções.— Loura, vem cá – disse dona França. – Eu sempre te ajudei a fugir para encontrar com esse rapaz e você nunca me falou dele. Agora eu quero saber quem é ele e de onde ele é.— Mãe, depois eu te conto.— Ou você me conta agora ou não conta mais comigo para te ajudar.— Tudo bem, eu conto. Ele é filho do senhor José Augusto e dona Maria.— Meu Deus! O filho do seu Augusto fazendeiro?— Isso, mãe.— Meu Deus, minha filha. Cai fora desse homem, ele tem fama de que não presta. Ele já abusou de várias mocinhas inocentes daqui das redondezas. Se seu pai o descobre, ele te mata. Ele jamais vai permitir esse namoro. Esse homem não ama ninguém, é um egoísta que só pensa em nele mesmo.—
trabalhador e sempre fez o que pôde pra não deixar faltar o pão na mesa.— Perdoa-me. Não quis ofende a senhora. Eu sonho em casar, mas com um homem que eu ame.— Só que a vida não é um conto de fadas, Loura. Nunca é do jeito que a gente quer.— Pra mim vai do meu jeito e pronto. Querendo o papai ou não.— Pois então não conte mais comigo para te ajudar.Minha mãe retrucou de imediato e continuou:— Eu não gosto desse homem e sei que ele vai destruir sua vida. Não vou fazer parte disso.— Mesmo que a senhora não queira me ajudar eu vou vê-lo assim mesmo. Ninguém vai me afastar dele só por causa de algumas fofocas.Passaram-se uns dias.— França, – disse Seu Joaquim – eu estou achando a Loura muito estranha. O que está acontecendo co
— Isso é invenção, homem. Minha filha nem sai de casa, nem namorado ela tem.— Olha, Joaquim, eu vou ter que te contar porque você é meu amigo e acho uma covardia o que sua filha está fazendo com você.— Fala logo, homem. O que você sabe que eu não sei?— Ontem no forró do Nei Cabecinha eu vi a Loura com Carlão, filho do Augusto, no maior love. Ela me disse que estava namorando ele. Eu achei que você sabia.Assustado com a cara do Joaquim continuou.— Tudo bem homem? Você está pálido. Fala comigo!— Eu agradeço por me avisar, Paulo. Acho que não estou sentindo bem, vou voltar pra casa – disse ele, catatônico, e se despediu.Joaquim voltou pra casa furioso gritando.—França! França!— O que foi, Joaquim?— Você está sabendo desse namoro da Loura com o filho do Augusto? Responda-me mulher.Ela abaixou a cabeça e disse.—Já faz algum tempo que eles estão se encontrando escondidos. Eu avisei, mas ela está muito apaixonada por esse ho
hoje em casa – disse dona França murmurando. E saiu às pressas para encontrá-la no caminho da lagoa onde ela estava com sua prima.De longe Loura avistou sua mãe e a chamou eufórica.— Mãe, o que está fazendo aqui? Porque a senhora está tão nervosa?— O seu pai, minha filha, já sabe de tudo e não vai dormir enquanto não te pegar. É melhor você dormir na casa da sua prima hoje. Amanhã talvez ele esteja melhor.— Ai, meu Deus! E agora, o que eu vou fazer? – disse Loura chorosa – Como ele soube?— Eu não sei filha, mas contaram pra ele, Eu disse a você que isso não iria dar certo!— Quando ele souber, vai me matar mãe.— Souber o quê? Do que você está falando, minha filha?— Eu não tenho certeza, mãe, mas minhas regras estão atrasadas e sinto muito enjoo. Eu estou com muito medo.— Valei-me, minha Nossa Senhora. Será que você está prenha? Depois de tanto falar, você ainda teve coragem de deitar com esse homem, Loura? Pois o maior me
disso. Você as trata como suas prisioneiras – disse França, nervosa.— Eu faço isso para o próprio bem delas. Não quero que elas fiquem faladas e com fama ruim por aí.E assim o assunto se deu por encerrado. Depois de três dias Loura ainda não havia aparecido em casa.— França, até quando você pretende esconder essa menina de mim? Traga ela agora ou eu mesmo vou atrás dela.Então ele saiu à procura dela em todas as casas vizinhas. Quando descobriu que ela estava na casa do seu irmão, deu meia hora para ela voltar para casa. Ela chegou de mansinho e entrou no quarto chorando. Dona França tentou consolá-la.— Não fica assim, minha filha. Vai dar tudo certo.Logo em seguida seu Joaquim entrou, pegou Loura pelos cabelos e a jogou no chão, chamando-a de vagabunda. E começou a espancá-la.Dona França gritou apavorada e pediu para não bater mais nela, porque ela estava esperando um filho. Ele, fora de controle e cego de raiva, expulsou-a de casa e