Dona Maria, mãe do Carlão, chegou, a viu chorando e perguntou o que estava acontecendo. Loura contou tudo e disse que estava grávida, mas o Carlão não queria assumir o filho que esperava em seu ventre.
— Entra para cá, minha filha. Vamos conversar – disse dona Maria um pouco surpresa. – O seu pai pode até ter te expulsado de casa, mas você não vai ficar na rua. Pode ficar aqui em casa. Mesmo que o Carlão não assuma essa criança, não vai faltar nada para vocês. Pode contar comigo.
Chorando muito Loura a abraçou e agradeceu.
Loura ficou morando na casa do seu namorado, mesmo sendo tratada por ele como se não existisse naquela casa. Saía todas as noites e chegava de madrugada. Ela sofria muito com seu desprezo, pois o amava muito. Inconformada com aquela situação, ela procurou uma velha senhora que se chamava Dona Santa, curandeira que fazia remédios caseiros para todos os tipos de doenças. Loura chegou chorando a pedindo para ajudá-la.
— Do que precisa, filha? – disse Dona Santa.
— Quero que me ajude a tirar essa criança que eu estou esperando. Meu pai me expulsou de casa e meu namorado não quer saber de mim. Não sei mais o que fazer, eu não quero esse filho. Por favor, me ajude.
— Olha, menina, é muito perigoso fazer um aborto, principalmente no terceiro mês de gestação. Eu não costumo fazer esse tipo de coisa. E se acontecer algo com você, vou ter problemas. A única coisa que posso fazer é te indicar um remédio você toma se quiser, mas bem longe mim. E terminou a conversa dizendo onde ela poderia achar a erva. Ela, inconformada com aquela barriga, corria e batia a barriga na parede e rolava no chão de barriga pra baixo pra
tentar tirar o nenê. Mas tudo isso era inútil, o máximo que causava era uma cólica e muita dor na barriga.Loura saiu à procura do remédio, até que encontrou a maldita erva. Chegando em casa, preparou erva no copo e foi surpreendida por dona Maria, que questionou pra que servia o remédio. Ela logo deu um jeito de disfarçar.— É pra dor de barriga, dona Maria. Então Loura foi para trás da casa e tomou um gole com nojo, devido ao muito amargo do remédio e, antes de virar o resto do copo na boca, dona Maria chegou, bateu a mão no copo e o jogou no chão, gritando:— Você está doida, Loura? Essa erva pode matar não só essa criança, mas você também.Ela desesperada gritou.— Eu não me importo! Pra que viver assim? Minha família não me quer, o pai dessa criança também não. Seria melhor pra eu e essa criança desaparecer mesmo.Passados alguns minutos, Loura se ajoelhou no chão, sentindo muita dor, e começou a vomitar sangue. Dona Maria chamou o encarregad
uma filha, mãe solteira, aqui com a gente do que as pessoas por aí te chamando de carrasco sem coração. Pros outros você é um bom homem, mas você tem que ser melhor ainda pra sua família. Ela ainda é uma menina, que está pagando pelos seus erros. E somos as únicas pessoas que não podiam abandoná-la. Pensa bem, porque sei que você vai se arrepender de ter feito isso com ela.Seu Joaquim no fundo também sofria no calado. Ele pegou seu chapéu e saiu sem dizer nada.Loura já estava no oitavo mês de gestação e chorava todos os dias com saudade da mãe e dos irmãos. De repente alguém bateu palma. Ela saiu para atender e era seu pai. Apreensiva ela abaixou a cabeça. Ele, com lágrimas nos olhos, abraçou a filha pedindo perdão.— Volta para casa, filha. Eu sei que fui muito cruel te batendo daquele jeito e te expulsando de casa. Sua mãe está sofrendo muito. Todos nós queremos que você volte para casa.Ela olhou para dona Maria e disse:— Eu vou voltar para casa e não sei
tomou e das pancadas que dava contra a parede.Ao completar nove meses, Loura deu luz a uma menina. Preocupada perguntou para o médico como estava a menina. O médico olhou para ela, sorrindo, e disse.— Sei que está preocupada com os remédios que tomou, pois fui eu mesmo quem te atendeu. Mas não se preocupe, é uma menina linda enorme. Pesou quase cinco quilos e por sinal ela é perfeita. Vou trazê-la para que você possa ver.Quando o médico trouxe aquela menina e colocou nos braços de Loura, ela começou a chorar e pedir perdão à filha e a apertava em seu peito.Depois de deixar o hospital, ela foi para casa. Seu Joaquim se aproximou da neta e se emocionou ao vê-la. Pegou a menina no colo e pediu perdão por tê-la expulsado de casa junto com a mãe. E prometeu criá-la com amor de um pai que ela não teria.As coisas foram ficando mais difíceis. Seu Joaquim teve que trabalhar dobrado, apesar de não ter uma saúde boa, para não deixar faltar nada para sua neta.Um dia Lour
lugar onde não sei se vou dar certo. Vou deixá-la aí com vocês, porque eu sei que aqui ela vai ter todo o amor que eu não vou poder dar, pois tenho que trabalhar. Mas antes vou ter que dar um nome a ela. Não sei nem como vou chamá-la. Já pensei em vários nomes, mas ainda não decidi. Bom, depois eu penso nisso. Vou levar a menina na casa da dona Maria para ela conhecer a neta.— Toma cuidado, minha filha, com aquele homem.— Não se preocupe, mãe. Não quero saber mais dele. A dona Maria me ajudou muito e ela não pode pagar pelos erros do filho. É mais do que justo ela conhecer a neta.E assim Loura fez. Levou a menina até a casa de dona Maria, que a partir daí não parou de mimar a neta com roupinhas e pagãzinhas que ela mesma fazia. E então perguntou:— Loura, a menina já tem nome?— Ainda est
— Eu não sei, Cidinha. Ultimamente eu ando sentido nojo de tudo e ando tendo umas tonteiras estranhas.Cidinha arregala os olhos e diz.— Você está grávida, mulher!— Lógico que não, Cidinha. Como posso estar grávida se eu não fiquei com ninguém?— Tem certeza, Loura. Nem por uma noite?Loura se lembrou da noite que acordou no matagal do lado Carlão e começou a chorar.— O que aconteceu, Loura? Fala pra mim.Loura contou sua história para Cidinha, que ficou revoltada.— Bando de miseráveis. Como eles puderam fazer isso com você? Olha, amiga, se eu fosse você falava a verdade para Rosana, porque de qualquer jeito ela vai saber. A sua barriga vai aparecer.— O que eu vou fazer, Cidinha? Ela vai me despedir. Preciso desse trabalho para ajudar minha família. Mas eu não
— Manda ela calar a boca, Francis, senão eu arrebento com ela.Minha tia veio até mim.— Calma, Edilene, calma. Ele pode machucar você. Por favor, minha filha. Não vai enfrentando ele assim, porque dessa forma você não vai conseguir nada, a não ser ganhar o ódio dele. Vai ser muito pior tê-lo como inimigo, ele é muito perigoso. Fica calma, Deixa-me passar uma pomada no seu rosto. Aquele maldito! Bater daquele jeito em uma criança? Covarde.Eu não vou ficar aqui chorando feito um bebezinho, não vou mostrar fraqueza pra ele. Vou mostrar que não tenho medo dele e que sou capaz de me defender.Só que não era assim tão simples como eu imaginava. Meu pesadelo estava apenas começando. Ouvi uma conversa dele com um dos viciados, com quem ele andava dizendo que ia judiar de mim, queria ver se eu ia aguentar manter aquele topete por muito tempo, nem que para isso teria que me bater todos os dias. Então prometi para mim mesma que, por mais que doessem os socos que ele m
— Eu não tenho medo dele. Deixa a menina aí, Francis. Deixa o Velho vir. Um dia a gente tem que acertar as contas mesmo. Que seja agora, então. Ele foi até o quarto, pegou um revólver e colocou na calça.— Não, Alemão. Se for pra vocês se matarem, não vai se por minha causa. Vou embora.— Você não vai sair daqui. Deixa que ele venha. Estou preparado para ele.Tia Francis me chamou.— Vem, minha filha. Sente-se aqui. Vou pegar alguma coisa para você comer.Por um minuto eu me senti no céu, porque eu vivia no inferno todo dia.De repente o Velho chegou com seus capangas e chamou a tia Francis.— Entrega a menina, Francis, senão eu atiro.O Alemão revoltado gritou:— Você não é dono dela, seu canalha. Ela não é nada sua, é sobrinha da Francis. E não vai sair daqui.Ele então ordenou que os capangas atirassem. Foi uma troca de tiros terrível. A tia não parava de chorar, dizendo que todos nós iríamos morrer. O alemão tomou um ti
— Quem é esse primo?— Ele chama Junior.— Junior? É o Juninho da Maria?— É sim.— Caramba, você é parente do Juninho?— Solta ela, cara – um disse para o outro – o Juninho é sangue bom, ele é dos nossos.— Eu vou te soltar, mas se você abrir essa boca te mando para o lado dos pés juntos. Cai fora.Eu saí correndo para casa. A Maria já estava preocupada comigo, eu não disse nada pra ela. Falei que estava na casa de uma colega para não preocupá-la. Mais tarde o Junior me chamou pra conversar e disse.— Você não tem nada pra me dizer, Edilene? Esses caras são da pesada, ficar longe daqueles homens. Eu prometi pra eles que você iria ficar de boca calada.Era domingo, a Maria me alertou que o Velho já deveria estar chegando para me buscar