trabalhador e sempre fez o que pôde pra não deixar faltar o pão na mesa.
— Perdoa-me. Não quis ofende a senhora. Eu sonho em casar, mas com um homem que eu ame.
— Só que a vida não é um conto de fadas, Loura. Nunca é do jeito que a gente quer.
— Pra mim vai do meu jeito e pronto. Querendo o papai ou não.
— Pois então não conte mais comigo para te ajudar.
Minha mãe retrucou de imediato e continuou:
— Eu não gosto desse homem e sei que ele vai destruir sua vida. Não vou fazer parte disso.
— Mesmo que a senhora não queira me ajudar eu vou vê-lo assim mesmo. Ninguém vai me afastar dele só por causa de algumas fofocas.
Passaram-se uns dias.
— França, – disse Seu Joaquim – eu estou achando a Loura muito estranha. O que está acontecendo com essa menina? Alguma coisa ela está aprontando por aí.
— Eu é que vou saber, Joaquim? – Respondeu ela, nervosa.
— Eu tenho que ficar de olho nessa menina antes que ela me arrume pra cabeça.
De manhã, como sempre, ele pegou sua enxada e foi para a lavoura. No caminho encontrou seu amigo Paulo que morava numa fazendinha ali perto.
— Como vai, meu amigo? – disse Paulo – Logo vamos ter casamento, né?
— De quem? Quem vai se casar, homem?
— Sua filha, ora! Você que é o pai não está sabendo? Então porque o pessoal está comentando?
— Isso é invenção, homem. Minha filha nem sai de casa, nem namorado ela tem.— Olha, Joaquim, eu vou ter que te contar porque você é meu amigo e acho uma covardia o que sua filha está fazendo com você.— Fala logo, homem. O que você sabe que eu não sei?— Ontem no forró do Nei Cabecinha eu vi a Loura com Carlão, filho do Augusto, no maior love. Ela me disse que estava namorando ele. Eu achei que você sabia.Assustado com a cara do Joaquim continuou.— Tudo bem homem? Você está pálido. Fala comigo!— Eu agradeço por me avisar, Paulo. Acho que não estou sentindo bem, vou voltar pra casa – disse ele, catatônico, e se despediu.Joaquim voltou pra casa furioso gritando.—França! França!— O que foi, Joaquim?— Você está sabendo desse namoro da Loura com o filho do Augusto? Responda-me mulher.Ela abaixou a cabeça e disse.—Já faz algum tempo que eles estão se encontrando escondidos. Eu avisei, mas ela está muito apaixonada por esse ho
hoje em casa – disse dona França murmurando. E saiu às pressas para encontrá-la no caminho da lagoa onde ela estava com sua prima.De longe Loura avistou sua mãe e a chamou eufórica.— Mãe, o que está fazendo aqui? Porque a senhora está tão nervosa?— O seu pai, minha filha, já sabe de tudo e não vai dormir enquanto não te pegar. É melhor você dormir na casa da sua prima hoje. Amanhã talvez ele esteja melhor.— Ai, meu Deus! E agora, o que eu vou fazer? – disse Loura chorosa – Como ele soube?— Eu não sei filha, mas contaram pra ele, Eu disse a você que isso não iria dar certo!— Quando ele souber, vai me matar mãe.— Souber o quê? Do que você está falando, minha filha?— Eu não tenho certeza, mãe, mas minhas regras estão atrasadas e sinto muito enjoo. Eu estou com muito medo.— Valei-me, minha Nossa Senhora. Será que você está prenha? Depois de tanto falar, você ainda teve coragem de deitar com esse homem, Loura? Pois o maior me
disso. Você as trata como suas prisioneiras – disse França, nervosa.— Eu faço isso para o próprio bem delas. Não quero que elas fiquem faladas e com fama ruim por aí.E assim o assunto se deu por encerrado. Depois de três dias Loura ainda não havia aparecido em casa.— França, até quando você pretende esconder essa menina de mim? Traga ela agora ou eu mesmo vou atrás dela.Então ele saiu à procura dela em todas as casas vizinhas. Quando descobriu que ela estava na casa do seu irmão, deu meia hora para ela voltar para casa. Ela chegou de mansinho e entrou no quarto chorando. Dona França tentou consolá-la.— Não fica assim, minha filha. Vai dar tudo certo.Logo em seguida seu Joaquim entrou, pegou Loura pelos cabelos e a jogou no chão, chamando-a de vagabunda. E começou a espancá-la.Dona França gritou apavorada e pediu para não bater mais nela, porque ela estava esperando um filho. Ele, fora de controle e cego de raiva, expulsou-a de casa e
Dona Maria, mãe do Carlão, chegou, a viu chorando e perguntou o que estava acontecendo. Loura contou tudo e disse que estava grávida, mas o Carlão não queria assumir o filho que esperava em seu ventre.— Entra para cá, minha filha. Vamos conversar – disse dona Maria um pouco surpresa. – O seu pai pode até ter te expulsado de casa, mas você não vai ficar na rua. Pode ficar aqui em casa. Mesmo que o Carlão não assuma essa criança, não vai faltar nada para vocês. Pode contar comigo.Chorando muito Loura a abraçou e agradeceu.Loura ficou morando na casa do seu namorado, mesmo sendo tratada por ele como se não existisse naquela casa. Saía todas as noites e chegava de madrugada. Ela sofria muito com seu desprezo, pois o amava muito. Inconformada com aquela situação, ela procurou uma velha senhora que se chamava Dona Santa, curandeira que fazia remédios caseiros para todos os tipos de doenças. Loura chegou chorando a pedindo para ajudá-la.— Do que precisa, fil
tentar tirar o nenê. Mas tudo isso era inútil, o máximo que causava era uma cólica e muita dor na barriga.Loura saiu à procura do remédio, até que encontrou a maldita erva. Chegando em casa, preparou erva no copo e foi surpreendida por dona Maria, que questionou pra que servia o remédio. Ela logo deu um jeito de disfarçar.— É pra dor de barriga, dona Maria. Então Loura foi para trás da casa e tomou um gole com nojo, devido ao muito amargo do remédio e, antes de virar o resto do copo na boca, dona Maria chegou, bateu a mão no copo e o jogou no chão, gritando:— Você está doida, Loura? Essa erva pode matar não só essa criança, mas você também.Ela desesperada gritou.— Eu não me importo! Pra que viver assim? Minha família não me quer, o pai dessa criança também não. Seria melhor pra eu e essa criança desaparecer mesmo.Passados alguns minutos, Loura se ajoelhou no chão, sentindo muita dor, e começou a vomitar sangue. Dona Maria chamou o encarregad
uma filha, mãe solteira, aqui com a gente do que as pessoas por aí te chamando de carrasco sem coração. Pros outros você é um bom homem, mas você tem que ser melhor ainda pra sua família. Ela ainda é uma menina, que está pagando pelos seus erros. E somos as únicas pessoas que não podiam abandoná-la. Pensa bem, porque sei que você vai se arrepender de ter feito isso com ela.Seu Joaquim no fundo também sofria no calado. Ele pegou seu chapéu e saiu sem dizer nada.Loura já estava no oitavo mês de gestação e chorava todos os dias com saudade da mãe e dos irmãos. De repente alguém bateu palma. Ela saiu para atender e era seu pai. Apreensiva ela abaixou a cabeça. Ele, com lágrimas nos olhos, abraçou a filha pedindo perdão.— Volta para casa, filha. Eu sei que fui muito cruel te batendo daquele jeito e te expulsando de casa. Sua mãe está sofrendo muito. Todos nós queremos que você volte para casa.Ela olhou para dona Maria e disse:— Eu vou voltar para casa e não sei
tomou e das pancadas que dava contra a parede.Ao completar nove meses, Loura deu luz a uma menina. Preocupada perguntou para o médico como estava a menina. O médico olhou para ela, sorrindo, e disse.— Sei que está preocupada com os remédios que tomou, pois fui eu mesmo quem te atendeu. Mas não se preocupe, é uma menina linda enorme. Pesou quase cinco quilos e por sinal ela é perfeita. Vou trazê-la para que você possa ver.Quando o médico trouxe aquela menina e colocou nos braços de Loura, ela começou a chorar e pedir perdão à filha e a apertava em seu peito.Depois de deixar o hospital, ela foi para casa. Seu Joaquim se aproximou da neta e se emocionou ao vê-la. Pegou a menina no colo e pediu perdão por tê-la expulsado de casa junto com a mãe. E prometeu criá-la com amor de um pai que ela não teria.As coisas foram ficando mais difíceis. Seu Joaquim teve que trabalhar dobrado, apesar de não ter uma saúde boa, para não deixar faltar nada para sua neta.Um dia Lour
lugar onde não sei se vou dar certo. Vou deixá-la aí com vocês, porque eu sei que aqui ela vai ter todo o amor que eu não vou poder dar, pois tenho que trabalhar. Mas antes vou ter que dar um nome a ela. Não sei nem como vou chamá-la. Já pensei em vários nomes, mas ainda não decidi. Bom, depois eu penso nisso. Vou levar a menina na casa da dona Maria para ela conhecer a neta.— Toma cuidado, minha filha, com aquele homem.— Não se preocupe, mãe. Não quero saber mais dele. A dona Maria me ajudou muito e ela não pode pagar pelos erros do filho. É mais do que justo ela conhecer a neta.E assim Loura fez. Levou a menina até a casa de dona Maria, que a partir daí não parou de mimar a neta com roupinhas e pagãzinhas que ela mesma fazia. E então perguntou:— Loura, a menina já tem nome?— Ainda est