Os três dias se passaram voando, e eu ainda não tinha conseguido me preparar mentalmente para o casamento. Minha mente permanecia presa em Salma e meu pai, como se as palavras dela tivessem deixado um gosto amargo que eu não conseguia digerir. Cada frase se repassa na minha cabeça, me atormentando.A sensação de estar no meio de uma teia de mentiras e segredos só aumentava, como se cada detalhe me puxasse ainda mais para um abismo.Enquanto todos ao meu redor se moviam freneticamente para organizar os últimos detalhes do casamento, eu me sentia uma espectadora na minha própria vida. A ideia de caminhar até o altar não era um sonho; parecia uma sentença. E a verdade sobre meu pai e Salma era como correntes invisíveis que me sufocavam a cada respiração.No fundo, eu sabia que precisava focar no presente, mas como, se o passado ainda gritava tão alto?Eu também permiti me afastar de Otávio. Por mais que meu coração idiota ainda bata por ele, não posso simplesmente fingir que nada acontec
Assim que Giovanni se aproxima, ele estende a mão para Rodolfo, os dois trocando olhares que poderiam facilmente incendiar o ambiente. — Eu a levarei até o altar. Rodolfo estreita os olhos, a tensão evidente em sua postura. — Esse não foi o tratado. Giovanni dá de ombros, a arrogância em sua voz cortante: — Eu não sigo regras, Rodolfo. Meu olhar alterna entre os dois, percebendo o quanto Rodolfo está se esforçando para se controlar. Sua mão desliza discretamente até a cintura, e meu coração aperta ao lembrar que ele está armado. Giovanni, porém, mantém a postura firme, sem desviar o olhar, e essa ousadia me assusta profundamente. — Cuidado — Rodolfo avisa em tom baixo, mas ameaçador. — Você não está no seu território. Giovanni não recua. Sua confiança é perturbadora. Tento intervir antes que as coisas piorem, segurando o braço de Rodolfo com delicadeza para tentar acalmá-lo, enquanto flashes ainda explodem ao nosso redor. — Ele é da minha família — digo com esforço, tentando s
— Lembrem-se de que o amor é mais do que um sentimento; é uma escolha diária. É um compromisso de cuidar, apoiar e respeitar um ao outro, em momentos de alegria e também nas adversidades. — Ouço o padre, enquanto meus pensamentos se embaraçam.Dou uma rápida olhada para o homem ao meu lado. Otávio mantém a postura impecável, o olhar fixo no altar, mas não consigo ignorar o contraste entre suas mãos firmes e seu semblante fechado. "Escolha diária, apoiar, cuidar, respeitar..." As palavras ecoam, mas não parecem destinadas a mim.Como posso escolher algo que nunca quis? Como posso apoiar alguém que me arrastou para isso?O padre continua, sua voz calma preenchendo o espaço. — Vocês estão aqui hoje para firmar um laço sagrado, para se comprometerem um com o outro perante Deus e todos aqui presentes.Essas palavras me sufocam, pois não consigo acreditar nelas. Esse laço não foi escolhido, e o "sagrado" parece distante. Olho para Otávio mais uma vez. Ele se vira brevemente para mim, seus o
É estranho perceber o quão distante ela se tornou. A muralha que ela ergueu desde aquela manhã no galpão, como se eu fosse um nada diante dela, é algo que agora sinto com mais intensidade. Ela me pintou como o monstro, oculto, mas real, dentro do seu guarda-roupa pronto para arrastá-la para o abismo. Vejo seus olhos me julgando, e isso me corrói. Sinto como ela engole em seco, afundando palavras não ditas em sua garganta, como se o peso delas formasse uma bola de neve que derrete lentamente, enquanto o próprio orgulho dela vai se desintegrando, se apagando diante de mim. Enquanto ela sorri para os outros, algo vai crescendo dentro de mim. Não é apenas possessão; é algo mais profundo, mais sombrio. Preciso manter a calma, manter o controle, mas por dentro, tudo está se despedaçando. Cada pedaço de mim se contorce com a sensação de que algo está fora de lugar, algo que não posso consertar. Ela está mais bagunçada do que eu já consegui bagunçar. Não sei mais como reparar o que foi d
Ela finalmente se acalma depois de um tempo, mas mesmo assim continuo a embalar seu corpo, o cheiro doce do seu perfume contrastando com o calor da sua pele me fascinam. Sinto o alívio lentamente tomando conta dela, mas a dor ainda persiste em mim, em cada batida do meu coração.Levanto a cabeça e observo seus olhos, que antes estavam cheios de vulnerabilidade, mas agora, com um movimento quase imperceptível, a máscara de indiferença retorna. Ela se afasta lentamente de meus braços, e, em um gesto silencioso, levanta as mãos aos olhos, como se quisesse apagar o que sentiu.— Preciso de um banheiro. — Sua voz, agora fria e controlada, é como uma parede erguida entre nós.Aponto para a porta à esquerda, mas ela não diz mais nada. Apenas se afasta, a passos firmes, deixando-me sozinho na sala. Eu me sento no sofá, perto da janela, e olho para fora.A escuridão da noite é suavemente repelida pelas luzes da cidade, mas, mesmo com o brilho ao longe, sinto como se a escuridão tivesse tomado
Adentro o prédio residencial do hotel Central Park, e a grandiosidade do lugar grita riqueza, como se cada detalhe fosse cuidadosamente desenhado para ostentar algo que não faço questão de entender completamente. Uma sensação de desconforto me invade, como se eu fosse uma intrusa nesse mundo. O medo de tocar em algo, de quebrar alguma peça do luxo que me cerca, cresce dentro de mim. Solto um riso amargo, deixando que ele escape sem intenção, pensando em como minha vida era antes, em quem eu realmente sou e, mais importante ainda, quem é o homem com quem me casei.Cada passo dentro desse ambiente me lembra o quanto é distante do lugar de onde vim. Eu olho ao redor, tentando fazer sentido de tudo, mas, no fundo, sei que nada aqui me pertence, nem mesmo as coisas que me cercam. Tudo isso foi comprado com o dinheiro da organização, aqui está o meu passado sombrio que eu não posso ignorar, mas que, de alguma forma, me define.Me aproximo das largas janelas e olho para baixo, para a cidade
Depois que Otávio saiu do quarto ontem, ele não voltou mais. Eu simplesmente tomei banho e, depois de muito rolar na cama, consegui dormir um pouco.Hoje de manhã, ao acordar, o encontrei sentado à mesa do apartamento, mexendo em um notebook que nem sei como veio parar aqui. Talvez ele tenha mandado trazê-lo ou apenas saiu durante a noite.Sobre outra mesa redonda no canto já estava servido o café da manhã. Quando me aproximei, ele nem me olhou, continuando concentrado na tela.— Bom dia. — Pronunciei, me sentando na mesa ao canto, um pouco afastada da dele.— Conseguiu dormir? — Ele perguntou sem tirar os olhos do notebook.— Sim.— Bom.Só isso?O som do teclado sendo digitado é o único que se escuta na sala.Desanimador!— Queria ver Marcela antes de partirmos.— Ligue para William, ele te levará até ela.Ele ainda não me dirige um único olhar, e eu simplesmente desisto.Começo a tamborilar meu dedo sobre a mesa.O que eu esperava depois de ontem? Uma recepção calorosa? Na verdade,
Foram oito horas de viagem. Eu já estava exausta e com medo. Era minha primeira vez em um jato, e o pensamento de que ele poderia cair não saía da minha mente. Não consegui dormir durante o voo. Afinal, se fosse para morrer, queria estar acordada.Ao desembarcarmos, senti a mão de Otávio segurando firmemente a minha. Do lado de fora, havia cerca de oito carros pretos alinhados. Muito extravagantes para o meu gosto. De um deles saiu Giovanni. Sua postura altiva e olhar penetrante eram como o de uma águia prestes a atacar. Ele exalava uma aura de autoridade que rivalizava com a de Otávio, mas havia algo diferente nele. Giovanni parecia mais calculista, mais impiedoso.— Não saia de perto de mim e, se eu tiver que te deixar sozinha, não saia do quarto. — A voz de Otávio era firme, mas soava quase como um aviso.Segurei sua mão com mais força, meu coração acelerado enquanto minha mente gritava a pergunta que eu temia fazer: por que viemos sozinhos? Por que não trouxe ninguém conosco?— É