A chuva caía incessantemente naquela noite, uma cortina de água fria que lavava as ruas e o desespero que envolvia minha alma. Com Kallista, ainda um bebê, nos meus braços, me movia rapidamente, minhas habilidades vampíricas permitindo que meus pés mal tocassem o solo. A escuridão me rodeava, mas nada era mais opressivo do que a dor que sentia pela perda de Damon, o homem que amava e que havia dado a vida para nos proteger.
As lágrimas escorriam pelos meus olhos azuis, misturando-se com a chuva. Não me permitia pensar na morte de Damon, não agora. Ele havia se sacrificado para que pudéssemos ter uma chance, e eu não podia deixar que sua coragem fosse em vão. Cada passo que dava era uma promessa silenciosa de que Kallista teria um futuro, longe das garras dos sobrenaturais que nos perseguiam.
Finalmente, após o que pareceram horas de corrida, parei em frente à casa dos Walter. Era um lugar que o rei feérico Thalion havia indicado como seguro, e me agarrei a essa esperança como uma tábua de salvação. O cheiro dos humanos emanava da casa, e eu sabia que, pelo menos por um tempo, Kallista estaria a salvo ali. Com o coração pesado, bati na porta, o som ecoando na escuridão da noite.
Após alguns momentos que pareceram uma eternidade, a porta se abriu, revelando uma figura baixa com cabelos castanhos. Era Amelia Walter, a humana que eu havia conhecido no mundo feérico pouco tempo atrás. A expressão de surpresa no rosto de Amelia rapidamente se transformou em preocupação ao ver minha figura encharcada e a pequena Kallista em meus braços.
"O que você está fazendo aqui, na chuva?" Amelia perguntou, seus olhos se fixando na criança.
Senti um aperto no coração. Sabia que precisava ser breve. "Eu não tenho muito tempo," comecei, a voz tremendo. "Estão vindo atrás de mim. Eles já... já encontraram Damon. Eu preciso que você cuide da Kallista, com todo o amor que puder oferecer. Ela... ela é tudo o que me resta."
Amelia olhou para a menina, a preocupação se misturando à empatia. "Katherine, eu..."
"Por favor," interrompi, minha voz agora um sussurro. "Se não for por mim, faça isso por Damon. Quando chegar a hora certa, fale sobre ela e sobre ele. Ela precisa saber de sua história, de sua origem."
Hesitei por um momento, então, com um gesto rápido, retirei um colar com o brasão da família. Era uma águia bípede, um símbolo de força e proteção. "Entregue isso a ela quando for a hora," pedi, a voz embargada. "Ela precisa saber quem ela é."
Antes de entregar Kallista, inclinei-me, depositando um beijo suave na testa da menina. "Seja forte, Hungria," murmurei, a dor e o amor entrelaçados em minhas palavras. "Eu sempre estarei com você."
Com um último olhar para minha filha, entreguei Kallista a Amelia, o peso da decisão quase insuportável em meus braços. Sabia que estava fazendo o que era melhor, mas a dor da separação me cortava como uma lâmina. A chuva continuava a cair, mas dentro de mim uma chama de esperança ainda ardia. Kallista teria uma chance, e talvez, um dia, nos reencontraríamos.
"Cuide dela," foram minhas últimas palavras antes de me afastar, meu coração pesado ao deixar a segurança do lar dos Walter para trás. Sabia que o caminho à frente seria perigoso e incerto, mas não havia outra escolha. O amor por minha filha me impulsionava, e eu correria o mais rápido que pudesse para manter Kallista a salvo, mesmo que isso significasse sacrificar tudo.
Enquanto desaparecia na noite, a única coisa que podia fazer era confiar que o amor e a coragem que havia passado para Kallista seriam suficientes para guiá-la em seu caminho.
Eu estava parada em frente à mala aberta, meu coração pesado enquanto encarava a realidade que me cercava. Em uma única noite, minha vida havia mudado radicalmente; agora, eu estava prestes a deixar tudo o que conhecia para trás e me aventurar em um mundo desconhecido. Um mundo onde era vista como uma estranha, onde os sobrenaturais me olhavam com desconfiança e desprezo. O medo do que estava por vir se mesclava à ansiedade, e eu me sentia como se estivesse prestes a saltar de um penhasco sem saber o que encontraria lá embaixo.Alaric, encostado na porta, observava em silêncio. Ele sempre fora meu apoio, mas agora me deixaria seguir sozinha. Virei-me para ele, a frustração começando a brotar. "Por que você não pode me acompanhar para essa escola?" Perguntei, a voz trêmula. "Eu não quero ir sozinha."Ele suspirou, seu olhar sério. "Kallista, no reino dos lobos e dos vampiros, eu sou visto como um bastardo, um filho fora do casamento. Não sou bem-vindo lá. Assim que você estiver segura,
O vilarejo à minha frente era simples, mas encantador. Pessoas com traços semelhantes a Alaric e Fenrys circulavam por ali: homens e mulheres de porte atlético, altos e levemente bronzeados, com cabelos em tons claros que brilhavam sob a luz do sol. Eu fiquei fascinada e um pouco intimidada."Bem-vinda à alcateia de lobos," Fenrys explicou, observando minha reação. "Essa é uma característica forte dos lobos. E assim como todos os vampiros são altos, esguios e pálidos, com cabelos que vão do preto ao ruivo, você começará a entender como funciona o mundo ao qual agora pertence."Olhei em volta, absorvendo cada detalhe. Havia uma energia vibrante no ar, e, apesar de todo o desconhecido, uma parte de mim se sentia em casa. O medo ainda estava presente, mas era acompanhado por uma curiosidade ardente. O mundo sobrenatural era real, e agora eu fazia parte dele.Com um suspiro profundo, me preparei para dar o próximo passo em minha nova vida, determinada a descobrir quem eu era e onde me enca
A professora Ursula caminhava de um lado para o outro na sala de aula, o som de seus saltos batendo no chão ecoando como um metrônomo. Sua voz era firme e clara enquanto falava sobre a maturidade sobrenatural. "Quando os lobos atingem seu pico de maturidade, seus ossos são todos quebrados para que o novo corpo possa se adaptar," ela disse, com uma expressão séria. "Dias antes, eles apresentam picos de febres e dores de cabeça constantes. Após a primeira transformação, tendem a ganhar músculos e peso, e claro, habilidades noturnas."Eu me encolhi ao ouvir que os ossos eram quebrados. A ideia de passar por algo tão doloroso e traumático parecia surreal e, ao mesmo tempo, normal para todos os outros alunos. Me perguntei se também teria que passar por aquilo. A sala estava em silêncio, mas a expressão de todos mostrava que estavam acostumados com essa realidade.A professora continuou. "Para os vampiros, o processo é diferente. Costumam apresentar dores de cabeça frequentes, aversão à clar
Depois da conversa na diretoria, saí da sala com uma mistura de indignação e confusão. A diretora Sullivan havia me avisado sobre a necessidade de controlar meu gênio, mas eu me sentia como um alvo, injustamente marcada por ser diferente. Enquanto caminhava pelo corredor, Adrian me seguiu, mantendo-se próximo para garantir que eu estivesse segura."Ei, Kallista," ele chamou, seu tom de voz suave, mas percebi que ele estava tenso. "Como você está se sentindo?""Como você acha que eu estou? É tão injusto! Sou um alvo só por ser diferente. Meu melhor amigo, Alaric, não está aqui porque esse bando de 'perfeitos' o julga por ser bastardo. É tão vulgar usar um termo tão arcaico para alguém!" Desabafei, sentindo a frustração transbordar.Adrian parou ao meu lado, colocando as mãos nos bolsos, a expressão dele carregada de preocupação. "Eu entendo como você se sente," ele começou, hesitando por um momento antes de continuar. "Passei pela mesma situação muitos anos atrás."Eu o encarei, surpres
A madrugada me envolvia em um manto de desconforto e delírios, enquanto me contorcia na cama. O suor escorria pelo meu rosto e a sensação de mal-estar me dominava, levando-me a um estado entre a consciência e o sonho. Em meio a essa névoa, lembranças de minha infância começaram a emergir, vívidas e cheias de emoção.Vi-me em um dia chuvoso, envolta pela proteção calorosa de minha mãe. O som da chuva batendo contra as janelas preenchia o ar. Enquanto minha mãe me segurava, sentia a segurança em seus braços.A imagem mudava, e agora era meu pai, com um sorriso largo, brincando comigo. Ele me levantava no ar, e eu sentia a leveza e a felicidade daquele momento."Você é a nossa garotinha especial!" ele exclamava, rindo, enquanto eu balançava os pés, deslumbrada com a atenção.Os flashes de alegria continuavam, mostrando minha mãe e meu pai juntos, brincando e rindo ao meu redor. As vozes deles formavam um coro de amor e proteção, enquanto o mundo exterior parecia distante e inofensivo."Ol
A madrugada me envolvia em um manto de desconforto e delírios, enquanto me contorcia na cama. O suor escorria pelo meu rosto e a sensação de mal-estar me dominava, levando-me a um estado entre a consciência e o sonho. Em meio a essa névoa, lembranças de minha infância começaram a emergir, vívidas e cheias de emoção.Vi-me em um dia chuvoso, envolta pela proteção calorosa de minha mãe. O som da chuva batendo contra as janelas preenchia o ar. Enquanto minha mãe me segurava, sentia a segurança em seus braços.A imagem mudava, e agora era meu pai, com um sorriso largo, brincando comigo. Ele me levantava no ar, e eu sentia a leveza e a felicidade daquele momento."Você é a nossa garotinha especial!" ele exclamava, rindo, enquanto eu balançava os pés, deslumbrada com a atenção.Os flashes de alegria continuavam, mostrando minha mãe e meu pai juntos, brincando e rindo ao meu redor. As vozes deles formavam um coro de amor e proteção, enquanto o mundo exterior parecia distante e inofensivo."Ol
O sol se punha lentamente no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados e lilases, enquanto eu estava em meu quarto, imersa na leitura do livro sobre o mundo feérico. As páginas viravam-se com facilidade sob meus dedos, e cada nova descoberta me deixava mais fascinada. Estava prestes a aprender sobre as antigas tradições feéricas, quando uma sensação inexplicável me atingiu.Uma presença magnética e poderosa parecia chamar por mim, como se o próprio universo estivesse sussurrando meu nome. Levantei-me delicadamente, movendo-me em direção à janela, meu coração batendo mais rápido a cada passo. Assim que cheguei à borda da janela, um lobo enorme e cinza apareceu em meu campo de visão, como uma sombra da noite que emergia da penumbra.Fiquei imóvel, a respiração suspensa, enquanto o lobo me encarava. Seus olhos brilhavam intensamente, refletindo a luz do crepúsculo e transmitindo uma sabedoria antiga. No entanto, algo no olhar do lobo parecia assustado, quase como se ele estivesse em c
Entrei em meu quarto, ainda atordoada com tudo o que havia acontecido. Meu coração batia acelerado enquanto avistava Vivianne e Ravenna, que estavam sentadas na cama, conversando em sussurros. Ambas levantaram os olhos para mim, e a expressão de expectativa em seus rostos era clara.“Kallista! Onde você esteve?” Vivianne perguntou, a preocupação evidente em sua voz. “O que aconteceu?”Deixei-me cair na cadeira próxima à mesa, sentindo-me um turbilhão de emoções. “Vocês não vão acreditar no que aconteceu!” Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos. “Eu conheci meus avós. Eles são o Rei e a Rainha, e… e o clã de lobos estava lá também.”Ravenna arregalou os olhos, claramente intrigada. “O clã de lobos? E como foi isso?”“Foi um pouco… intenso,” admiti, lembrando-me dos olhares avaliadores que havia recebido. “Mas o que realmente me deixou em choque foi que Lucien estava lá! Ele é o filho do Alpha e… ele é meu parceiro.”As duas amigas trocaram olhares de incredulidade. “O futuro