Capítulo 4: O Despedir e o Novo Começo

Kallista estava parada em frente à mala aberta, seu coração pesado enquanto encarava a realidade que a cercava. Em uma única noite, sua vida havia mudado radicalmente; agora, ela estava prestes a deixar tudo o que conhecia para trás e se aventurar em um mundo desconhecido. Um mundo onde era vista como uma estranha, onde os sobrenaturais a olhavam com desconfiança e desprezo. O medo do que estava por vir se mesclava à ansiedade, e ela se sentia como se estivesse prestes a saltar de um penhasco sem saber o que encontraria lá embaixo.

Alaric, encostado na porta, observava em silêncio. Ele sempre fora seu apoio, mas agora a deixaria seguir sozinha. Kallista virou-se para ele, a frustração começando a brotar. "Por que você não pode me acompanhar para essa escola?" Ela perguntou, a voz trêmula. "Eu não quero ir sozinha."

Ele suspirou, seu olhar sério. "Kallista, no reino dos lobos e dos vampiros, eu sou visto como um bastardo, um filho fora do casamento. Não sou bem-vindo lá. Assim que você estiver segura, eu voltarei para o reino feérico. Mas saiba que você jamais estará sozinha. Estarei sempre ao seu lado, mesmo que à distância."

As palavras dele ecoaram em sua mente, mas o desespero de estar sozinha em um lugar tão hostil ainda a consumia. Com um último olhar para a mala, Kallista terminou de arrumar suas coisas, sentindo-se cada vez mais nostálgica.

Logo, dois homens enormes estavam na porta de sua casa. Um deles era alto, levemente pálido, com cabelos negros e olhos escuros. Ele se apresentou como Adrian, um dos professores da escola e vampiro. O outro era Fenrys, o lobo que a visitara na noite passada. Ele era imponente, com cabelos curtos e loiros, e grandes olhos verdes que pareciam brilhar na luz. Ambos possuíam uma beleza quase assustadora.

"Você só pode levar roupas," Adrian explicou, seu tom sério. "Nada do mundo humano pode atravessar o portal, nem mesmo livros."

Kallista assentiu, seu coração apertando enquanto os dois inspecionavam suas malas, garantindo que não havia nada que pudesse comprometer sua segurança. Assim que terminaram, se afastaram, permitindo que ela se despedisse de seus pais.

Kallista estava sentada no banco de trás do carro, perdida em seus pensamentos, enquanto a paisagem passava rapidamente pela janela. Já fazia uma hora desde que haviam partido, e sua mente estava cheia de perguntas. O que exatamente a esperava no mundo sobrenatural? Ela imaginou que talvez houvesse um portal mágico, algo mais encantador e menos aterrorizante do que o que acabara de atravessar.

Fenrys, que dirigia, percebeu a inquietação dela. "A magia não é um meio alternativo para se atravessar para o mundo sobrenatural," ele disse, e Kallista ficou surpresa por ele ter falado exatamente o que ela havia se perguntado mentalmente. Como ele sabia?

"Como você é metade loba, eu consigo ler a sua mente," Fenrys explicou, sua voz tranquila. "E quando você tiver treinamento, poderá fazer o mesmo comigo." Ele sorriu levemente, quase divertido. "Por enquanto, ao invés de pensar, você acaba gritando suas perguntas. Isso é normal para aqueles que ainda não têm aprendizado."

Kallista não pôde evitar uma risada tímida. A ideia de estar gritando em sua mente era embaraçosa, mas ela apreciava a leveza que Fenrys trazia para a situação. Curiosa, ela se virou para Adrian. "E você? Também pode se comunicar por telepatia?"

Adrian balançou a cabeça, um sorriso no rosto. "Isso é algo exclusivo dos lobos. Os vampiros têm outras habilidades, mas a telepatia não é uma delas."

Apesar da seriedade da situação, Kallista se sentia incrivelmente confortável com os dois. Havia uma bondade neles, mesmo que fossem reservados. A conversa ajudava a acalmar o turbilhão de emoções dentro dela.

"Estamos perto do portal," Adrian anunciou, e Kallista sentiu seu coração acelerar. O que seria aquele lugar? Ela olhou pela janela e viu um enorme muro de pedra à frente. O desespero tomou conta dela. "Vocês estão vendo o muro, certo?!" Ela alertou, segurando-se no banco, mas os dois apenas trocaram olhares tranquilos.

"Esse é o portal para o mundo sobrenatural," Fenrys disse, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Kallista não queria imaginar o carro colidindo contra aquela parede sólida. O medo a consumia.

Antes que pudesse pensar em outra coisa, Kallista fechou os olhos e, em um instante, tudo mudou. Quando ela os abriu novamente, estava em um lugar completamente diferente. O muro parecia intacto atrás deles, e o carro ainda estava em movimento, mas agora ela estava oficialmente no mundo sobrenatural.

O vilarejo à sua frente era simples, mas encantador. Pessoas com traços semelhantes a Alaric e Fenrys circulavam por ali, homens e mulheres de porte atlético, alto e levemente bronzeados, com cabelos em tons claros que brilhavam sob a luz do sol. Kallista ficou fascinada e um pouco intimidada.

"Bem-vinda à alcateia de lobos," Fenrys explicou, observando a reação dela. "Essa é uma característica forte dos lobos. E assim como todos os vampiros são altos, esguios e pálidos, com cabelos que vão do preto ao ruivo, você começará a entender como funciona o mundo ao qual agora pertence."

Kallista olhou em volta, absorvendo cada detalhe. Havia uma energia vibrante no ar, e, apesar de todo o desconhecido, uma parte dela se sentia em casa. O medo ainda estava presente, mas era acompanhada por uma curiosidade ardente. O mundo sobrenatural era real, e agora ela fazia parte dele.

Com um suspiro profundo, Kallista se preparou para dar o próximo passo em sua nova vida, determinada a descobrir quem era e onde se encaixava nesse novo cenário.

A mãe, Amelia, se aproximou com um colar que Kallista reconheceu imediatamente. Era o brasão de sua família, uma águia bípede, um símbolo de força. Amelia também segurava uma carta, que Kallista sabia que era da sua mãe biológica. "Leia quando estiver menos confusa," disse seu pai, a voz cheia de amor e preocupação. "Quando puder compreender quem foram seus pais."

Com lágrimas nos olhos, Kallista olhou para os objetos como se tivessem vida própria. Ela se despediu de seus pais com um abraço apertado, sentindo o calor e o amor que sempre a cercaram. O mundo humano estava atrás dela, e o desconhecido à frente.

Antes de partir, Alaric se aproximou e entregou um presente. Era um diário de capa preta, com desenhos de estrelas e da lua. "Quando se sentir confusa ou perdida, escreva neste diário. Ele ajudará você," ele disse, o olhar sincero.

Kallista observou o presente, confusa, mas achando o gesto incrivelmente bonito. Ela sorriu, um sorriso triste, e então olhou profundamente para aquelas três pessoas que tanto amava. O amor e a saudade a envolviam, mas ela sabia que precisava seguir em frente.

Com um último olhar para o lar que deixava para trás, Kallista seguiu em direção ao mundo sobrenatural. O portal a aguardava, e com cada passo, seu coração pulsava com a mistura de medo e esperança. A jornada estava apenas começando, e ela estava determinada a encontrar seu lugar, mesmo em meio à incerteza.

Kallista parou em frente a um pequeno castelo, admirando as grandes estátuas de anjos caídos que guardavam a entrada. Ela fez uma careta, pensando em quão dramático aquilo parecia. Era como se cada figura estivesse ali para contar uma história de tragédia e desespero, e Kallista não pôde deixar de rir da situação.

Adrian parou ao seu lado, admirando os mesmos anjos. "Patético, não? Beirando ao drama?" ele perguntou, um sorriso de lado iluminando seu rosto. Kallista assentiu, a risada escapando de seus lábios. Havia algo reconfortante na presença dele, uma sensação familiar que ela não conseguia identificar. Os olhos azuis, cheios de expressividade, e o sorriso de lábios cheios pareciam ressoar com uma parte dela.

Percebendo que Kallista o observava com curiosidade, Adrian suspirou e disse: "Devemos entrar para conhecer a diretora." Ele fez questão de desviar dos alunos que circulavam, explicando que ela não precisava desse tipo de atenção no momento. Kallista sentiu-se grata por isso; a última coisa que queria era ser o centro das atenções em seu primeiro dia.

Ao entrar, Kallista se viu em um antigo palácio que agora servia como escola. O lugar era magnífico, e um sorriso se espalhou pelo seu rosto ao pensar em como aquilo lembrava Hogwarts. Havia uma sensação de magia no ar, embora os símbolos de águia e lobo estivessem por toda parte.

"Adrian, o que a águia e o lobo significam?" Kallista perguntou, olhando ao redor e tentando absorver cada detalhe. "Por que estão em todo lugar?"

Adrian sorriu ao ouvir a pergunta. "A águia é o brasão do Reino dos Hungrias," ele explicou. "E o lobo representa os reis Saint Luise. Juntos, eles simbolizam a união das nossas linhagens."

Kallista estava tão imersa na conversa que não percebeu a conexão imediata. Mas, de repente, um estalo percorreu seu corpo quando olhou para seu pescoço. Com um movimento rápido, pegou o colar que sua mãe lhe deixara, o brasão da águia bípede brilhando sob a luz suave do castelo.

Ela olhou assustada para Adrian, que, com um sorriso sem graça, confirmou sua suspeita. "Katherine Hungria era sua mãe, a princesa herdeira," ele disse com suavidade. "E Damon Saint Luise, seu pai, era o único herdeiro do trono dos lobos."

As peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar em sua mente. Kallista ficou em silêncio, o coração acelerado. "Isso faz de mim... a única sucessora viva?" A pergunta saiu em um sussurro, como se ela temesse que a resposta fosse negativa.

"Sim," Adrian confirmou, seu olhar sério. "É por isso que você não foi morta. Você é a última princesa dos dois tronos."

Kallista sentiu uma onda de emoções a invadir. Medo, confusão, mas também um senso crescente de identidade. Ela não era apenas uma adolescente perdida; era parte de algo maior, de um legado que a conectava ao passado e ao futuro. A responsabilidade pesava sobre seus ombros, mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela começou a se acender.

"Se eu sou a última princesa, o que isso significa para mim? O que eu faço agora?" Kallista perguntou, a incerteza evidente em sua voz.

Adrian olhou nos olhos dela, a seriedade de sua expressão refletindo a importância do que estavam discutindo. "Significa que você tem um papel a desempenhar, Kallista. Mas primeiro, você precisa se conhecer e entender suas habilidades. Essa escola é o primeiro passo."

Ela respirou fundo, sentindo a mistura de ansiedade e excitação. Havia muito a aprender e a descobrir. Com um último olhar para o colar, Kallista se preparou para enfrentar o que estava por vir, determinada a abraçar seu destino e entender verdadeiramente quem ela era.

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