Capítulo 6: A Maturidade Sobrenatural

A professora Ursula caminhava de um lado para o outro na sala de aula, o som de seus saltos batendo no chão ecoando como um metrônomo. Sua voz era firme e clara enquanto falava sobre a maturidade sobrenatural. "Quando os lobos atingem seu pico de maturidade, seus ossos são todos quebrados para que o novo corpo possa se adaptar," ela disse, com uma expressão séria. "Dias antes, eles apresentam picos de febres e dores de cabeça constantes. Após a primeira transformação, tendem a ganhar músculos e peso, e claro, habilidades noturnas."

Kallista se encolheu ao ouvir que os ossos eram quebrados. A ideia de passar por algo tão doloroso e traumático parecia surreal e, ao mesmo tempo, normal para todos os outros alunos. Ela se perguntou se também teria que passar por aquilo. A sala estava em silêncio, mas a expressão de todos mostrava que estavam acostumados com essa realidade.

A professora continuou. "Para os vampiros, o processo é diferente. Costumam apresentar dores de cabeça frequentes, aversão à claridade e, claro, há a perda da coloração da pele. As presas costumam se manifestar somente quando há necessidade de sangue, mas o sangue não é uma necessidade constante. É uma dieta intercalada com alimentos comuns."

Kallista sorriu discretamente ao lembrar de todos os contos que havia lido sobre vampiros, imaginando como a literatura tinha distorcido algumas verdades. Enquanto a professora falava, Dorian se inclinou discretamente na direção dela e sussurrou: "Esse é o livro que eu mencionei na última vez. Ainda acho bizarro."

Kallista soltou uma risadinha baixa, mas ao voltar seu olhar para a professora, notou algo estranho. No canto do olho, viu uma menina loira de olhos verdes super claros, observando-a. A garota estava vestida com o uniforme da escola de uma maneira que a tornava estilosa, mastigando um chiclete de forma que deixava seus lábios lindos e perigosos. Suas unhas estavam pintadas de um rosa vibrante, e a confiança que exalava era palpável.

Antes que Kallista pudesse desviar o olhar, a garota enviou uma mensagem telepática: "O que foi, sua coisinha de sangue ruim?" Kallista ficou extremamente ofendida e nervosa com aquilo. Ela se conteve ao máximo para não responder, preferindo voltar sua atenção para a frente. "É assim que eu gosto," a garota finalizou, e Kallista suspirou, tentando ignorar a provocação.

Raelan, que estava ao lado dela, percebeu a mudança na expressão de Kallista e virou-se. "Ignore Lupi. Ela gosta de ser maldosa com todos," ele disse, tentando confortá-la. Mas Kallista sabia que não conseguiria suportar ser insultada sem ter feito nada para merecer. A raiva fervia dentro dela, e a ideia de discutir aquilo com Lupi a deixava ainda mais irritada.

Com certeza, naquela noite, ela conversaria com seu diário mágico, buscando conselhos do amigo oculto que sempre a ajudava a lidar com esses problemas. Enquanto a aula prosseguia, Kallista se perdeu em pensamentos, ponderando sobre a amizade, a maturidade e como poderia enfrentar os desafios que a esperavam neste novo mundo. Ela sabia que, com o apoio de seus amigos, conseguiria enfrentar qualquer coisa, mesmo que isso incluísse uma garota como Lupi.

A madrugada envolvia Kallista em um silêncio profundo e confortável, mas ela não conseguia dormir. O que aconteceu com Lupi ainda martelava em sua mente, e a inquietação a impedia de relaxar. Em vez de se perder em pensamentos, decidiu que precisava colocar tudo para fora. Levantou-se da cama, vestiu um casaco leve e caminhou até sua escrivaninha, que ficava de frente para a janela.

A luz da lua filtrava-se pelo vidro, iluminando o ambiente suavemente. Kallista abriu seu diário, a capa desgastada lembrando-a que ali era o seu refúgio. Com a caneta em mãos, começou a escrever sobre a última interação com Lupi, descrevendo cada palavra maldosa que a garota havia lançado.

Após alguns minutos, Kallista aguardou uma resposta, mas o diário permaneceu em silêncio. De repente, letras formosas e firmes começaram a aparecer na página, formando uma frase que a fez parar. "Se quer paz, prepare-se para guerra." Kallista ponderou sobre aquelas palavras, sentindo o peso delas.

"Devo enfrentar Lupi na próxima vez?" ela escreveu, ansiosa. O diário levou alguns momentos para responder, e quando as palavras apareceram, Kallista leu com atenção.

"Não aja com emoção. Nunca abaixe a guarda, pois você é a princesa herdeira. Abaixar a guarda para qualquer um é sinal de fraqueza e impudência. Mostre que, mesmo sendo uma híbrida, você é da realeza e merece respeito."

Kallista sorriu ao ler aquilo. A perspectiva de se afirmar como parte da realeza a encorajava. Com um suspiro, decidiu compartilhar um desejo mais profundo. "Gostaria que você fosse alguém com quem eu pudesse conversar pessoalmente."

Alguns minutos se passaram até que o diário respondeu, surpreendendo-a. "Eu sou alguém, de muito longe, que se comunica com você por este diário."

A animação tomou conta dela. "Quem é você? E um dia nós nos conheceremos?" Kallista perguntou, a curiosidade transbordando.

Após uma breve espera, o diário respondeu novamente. "Sou alguém que você precisa neste momento. Na hora e no tempo certo, nos conheceremos. Por enquanto, a magia está em nos ajudarmos sem nos conhecermos."

Kallista percebeu que o diário se referia a ele como "ele", e isso a fez supor que era um homem. Reclinado em sua cadeira, olhou para o céu estrelado e brilhante que se estendia além da janela. Com um suspiro, escreveu: "De onde eu venho, o céu não é tão iluminado assim. É a coisa mais linda e limpa que já vi. Como é o céu para você?"

Minutos se passaram até que algo incrível e lindo apareceu no diário. Um céu estrelado azul, com um toque lilás manchando o horizonte, se revelava. As estrelas eram amarelas e vibrantes, parecendo dançar. Kallista jurava que poderia ouvir uma canção antiga ressoar ao fundo daquela imagem. Era como se estivesse olhando por uma janela mágica, e a beleza era tão real que ela quis tocar.

As lágrimas se formaram em seus olhos, transbordando de emoção ao ver aquela linda imagem. Uma gota silenciosa caiu sobre o diário, e ela ficou maravilhada. A imagem começou a desaparecer, mas novas letras apareceram: "Esse é o céu da minha casa."

Kallista sorriu ao ler isso, sentindo-se conectada de alguma forma. "Obrigada por me mostrar isso, foi a coisa mais linda que eu já vi," ela respondeu, e não estava mentindo. "Por favor, me mostre de novo."

E, como se atendendo ao seu pedido, o diário respondeu mais uma vez, revelando novamente aquele céu encantador. Kallista percebeu que, mesmo na solidão da madrugada, ela havia encontrado uma conexão mágica que a fazia sentir-se menos sozinha. Aquele diário não era apenas um objeto; era uma ponte para alguém que, de alguma forma, compreendia sua luta e a inspirava a ser mais forte.

Kallista caminhava pelos corredores da escola, acompanhada por Vivi e Ravenna. O som de suas vozes ecoava nas paredes antigas enquanto elas se dirigiam para mais uma aula. As semanas haviam se passado desde que Kallista adentrara no mundo sobrenatural, e, para sua surpresa, ela estava se adaptando melhor do que esperava.

"Você realmente está se saindo bem, Kallista!" Vivi disse, sorrindo. "Ninguém diria que você é nova aqui. Parece que sempre pertenceu a este lugar."

"É verdade!" Ravenna concordou, animada. "Você já conhece todos os atalhos e até se enturmou com a galera. Estamos tão orgulhosas de você!"

Kallista sorriu, sentindo-se aquecida com o apoio das amigas. "Obrigada, meninas. É mais fácil quando tenho vocês ao meu lado."

Assim que chegaram ao refeitório, no entanto, o clima mudou. Lupi, com seu olhar desdenhoso, apareceu diante delas. "Ah, olha quem está se adaptando tão bem," disse ela, com um sorriso sarcástico. "Estava esperando o momento certo para confrontar você, Kallista. Esperava mais de uma híbrida."

Kallista franziu a testa, sentindo a raiva começar a borbulhar dentro dela. "O que você quer, Lupi?" ela respondeu, tentando manter a calma.

"Quero que você saiba que não é bem-vinda aqui. Você pode ser uma princesa, mas isso não muda o fato de que é apenas uma híbrida," Lupi provocou, seus olhos brilhando de malícia.

"Você não sabe nada sobre mim," Kallista retrucou, a voz tremendo de indignação.

"Parece que você não entende seu lugar," Lupi continuou, avançando um passo. "Deveria saber que não pertence a este mundo."

A raiva de Kallista começou a crescer de forma inexplicável, como se algo dentro dela estivesse ansioso para sair. As amigas perceberam a mudança em seu comportamento e rapidamente intervieram. "Kallista, vamos sair daqui. Ignora essa garota e suas amigas," Vivi sugeriu, puxando-a pelo braço.

Mas Lupi não se deixou intimidar. "Olha só, suas amigas estão tentando te proteger, mas você não vale a pena," ela disparou, lançando ofensas direcionadas a Vivi e Ravenna.

Aquilo foi o suficiente para que a raiva de Kallista explodisse. Sem pensar, ela lançou-se para cima de Lupi, suas habilidades sobrenaturais tomando conta. A força a impulsionou com tanta velocidade que as duas atravessaram paredes de concreto, Kallista em cima de Lupi, parecendo um felino pronto para atacar.

Os professores Adrian e Fenris apareceram bem na hora, intercedendo antes que Kallista pudesse causar mais danos. "Kallista, pare!" Adrian gritou, puxando-a para longe de Lupi.

Lupi, ainda no chão, começou a gritar. "Meus pais saberão disso! Eles são pessoas influentes!"

Kallista não pôde evitar uma risada sarcástica. "Mais influentes que eu, a própria e única princesa herdeira dos dois tronos?" Ela desafiou, seus olhos brilhando com uma mistura de diversão e desdém.

Lupi revidou, furiosa. "Você é uma híbrida imunda! Nunca será uma verdadeira princesa!"

Kallista riu alto, um riso mortal e tenebroso. "Você pode me chamar do que quiser, mas saiba que, mesmo sendo uma híbrida imunda, ainda sou mais importante do que você."

A tensão no ar era palpável, e parecia que outra briga estava prestes a estourar. Foi então que Adrian decidiu intervir novamente, puxando Kallista para longe antes que a situação se tornasse incontrolável. "Vamos para a diretoria, agora!" ele ordenou, enquanto Ravenna e Vivi o seguiam, preocupadas com a amiga.

Kallista podia sentir ainda a adrenalina pulsando em suas veias, mas a raiva começou a se dissipar. O que havia acontecido entre ela e Lupi era apenas o começo de um conflito que ela sabia que teria que enfrentar. E, de alguma forma, isso a fazia sentir-se viva.

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