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Capítulo 6: A Maturidade Sobrenatural

A professora Ursula caminhava de um lado para o outro na sala de aula, o som de seus saltos batendo no chão ecoando como um metrônomo. Sua voz era firme e clara enquanto falava sobre a maturidade sobrenatural. "Quando os lobos atingem seu pico de maturidade, seus ossos são todos quebrados para que o novo corpo possa se adaptar," ela disse, com uma expressão séria. "Dias antes, eles apresentam picos de febres e dores de cabeça constantes. Após a primeira transformação, tendem a ganhar músculos e peso, e claro, habilidades noturnas."

Eu me encolhi ao ouvir que os ossos eram quebrados. A ideia de passar por algo tão doloroso e traumático parecia surreal e, ao mesmo tempo, normal para todos os outros alunos. Me perguntei se também teria que passar por aquilo. A sala estava em silêncio, mas a expressão de todos mostrava que estavam acostumados com essa realidade.

A professora continuou. "Para os vampiros, o processo é diferente. Costumam apresentar dores de cabeça frequentes, aversão à claridade e, claro, há a perda da coloração da pele. As presas costumam se manifestar somente quando há necessidade de sangue, mas o sangue não é uma necessidade constante. É uma dieta intercalada com alimentos comuns."

Sorri discretamente ao lembrar de todos os contos que havia lido sobre vampiros, imaginando como a literatura tinha distorcido algumas verdades. Enquanto a professora falava, Dorian se inclinou discretamente na minha direção e sussurrou: "Esse é o livro que eu mencionei na última vez. Ainda acho bizarro."

Soltei uma risadinha baixa, mas ao voltar meu olhar para a professora, notei algo estranho. No canto do olho, vi uma menina loira de olhos verdes super claros, observando-me. A garota estava vestida com o uniforme da escola de uma maneira que a tornava estilosa, mastigando um chiclete de forma que deixava seus lábios lindos e perigosos. Suas unhas estavam pintadas de um rosa vibrante, e a confiança que exalava era palpável.

Antes que eu pudesse desviar o olhar, a garota enviou uma mensagem telepática: "O que foi, sua coisinha de sangue ruim?" Fiquei extremamente ofendida e nervosa com aquilo. Me contive ao máximo para não responder, preferindo voltar minha atenção para a frente. "É assim que eu gosto," a garota finalizou, e eu suspirei, tentando ignorar a provocação.

Raelan, que estava ao meu lado, percebeu a mudança na minha expressão e virou-se. "Ignore Lupi. Ela gosta de ser maldosa com todos," ele disse, tentando me confortar. Mas eu sabia que não conseguiria suportar ser insultada sem ter feito nada para merecer. A raiva fervia dentro de mim, e a ideia de discutir aquilo com Lupi me deixava ainda mais irritada.

Com certeza, naquela noite, eu conversaria com meu diário mágico, buscando conselhos do amigo oculto que sempre me ajudava a lidar com esses problemas. Enquanto a aula prosseguia, me perdi em pensamentos, ponderando sobre a amizade, a maturidade e como poderia enfrentar os desafios que me esperavam neste novo mundo. Sabia que, com o apoio de meus amigos, conseguiria enfrentar qualquer coisa, mesmo que isso incluísse uma garota como Lupi.

A madrugada me envolvia em um silêncio profundo e confortável, mas eu não conseguia dormir. O que aconteceu com Lupi ainda martelava em minha mente, e a inquietação me impedia de relaxar. Em vez de me perder em pensamentos, decidi que precisava colocar tudo para fora. Levantei-me da cama, vesti um casaco leve e caminhei até minha escrivaninha, que ficava de frente para a janela.

A luz da lua filtrava-se pelo vidro, iluminando o ambiente suavemente. Abri meu diário, a capa desgastada lembrando-me que ali era o meu refúgio. Com a caneta em mãos, comecei a escrever sobre a última interação com Lupi, descrevendo cada palavra maldosa que a garota havia lançado.

Após alguns minutos, aguardei uma resposta, mas o diário permaneceu em silêncio. De repente, letras formosas e firmes começaram a aparecer na página, formando uma frase que me fez parar. "Se quer paz, prepare-se para guerra." Ponderei sobre aquelas palavras, sentindo o peso delas.

"Devo enfrentar Lupi na próxima vez?" escrevi, ansiosa. O diário levou alguns momentos para responder, e quando as palavras apareceram, li com atenção.

"Não aja com emoção. Nunca abaixe a guarda, pois você é a princesa herdeira. Abaixar a guarda para qualquer um é sinal de fraqueza e impudência. Mostre que, mesmo sendo uma híbrida, você é da realeza e merece respeito."

Sorri ao ler aquilo. A perspectiva de me afirmar como parte da realeza me encorajava. Com um suspiro, decidi compartilhar um desejo mais profundo. "Gostaria que você fosse alguém com quem eu pudesse conversar pessoalmente."

Alguns minutos se passaram até que o diário respondeu, surpreendendo-me. "Eu sou alguém, de muito longe, que se comunica com você por este diário."

A animação tomou conta de mim. "Quem é você? E um dia nós nos conheceremos?" perguntei, a curiosidade transbordando.

Após uma breve espera, o diário respondeu novamente. "Sou alguém que você precisa neste momento. Na hora e no tempo certo, nos conheceremos. Por enquanto, a magia está em nos ajudarmos sem nos conhecermos."

Percebi que o diário se referia a ele como "ele", e isso me fez supor que era um homem. Reclinei na cadeira, olhei para o céu estrelado e brilhante que se estendia além da janela. Com um suspiro, escrevi: "De onde eu venho, o céu não é tão iluminado assim. É a coisa mais linda e limpa que já vi. Como é o céu para você?"

Minutos se passaram até que algo incrível e lindo apareceu no diário. Um céu estrelado azul, com um toque lilás manchando o horizonte, se revelava. As estrelas eram amarelas e vibrantes, parecendo dançar. Eu jurava que poderia ouvir uma canção antiga ressoar ao fundo daquela imagem. Era como se estivesse olhando por uma janela mágica, e a beleza era tão real que quis tocar.

As lágrimas se formaram em meus olhos, transbordando de emoção ao ver aquela linda imagem. Uma gota silenciosa caiu sobre o diário, e fiquei maravilhada. A imagem começou a desaparecer, mas novas letras apareceram: "Esse é o céu da minha casa."

Sorri ao ler isso, sentindo-me conectada de alguma forma. "Obrigada por me mostrar isso, foi a coisa mais linda que eu já vi," respondi, e não estava mentindo. "Por favor, me mostre de novo."

E, como se atendendo ao meu pedido, o diário respondeu mais uma vez, revelando novamente aquele céu encantador. Percebi que, mesmo na solidão da madrugada, havia encontrado uma conexão mágica que me fazia sentir-se menos sozinha. Aquele diário não era apenas um objeto; era uma ponte para alguém que, de alguma forma, compreendia minha luta e me inspirava a ser mais forte.

Caminhava pelos corredores da escola, acompanhada por Vivi e Ravenna. O som de nossas vozes ecoava nas paredes antigas enquanto nos dirigíamos para mais uma aula. As semanas haviam se passado desde que eu adentrara no mundo sobrenatural, e, para minha surpresa, estava me adaptando melhor do que esperava.

"Você realmente está se saindo bem, Kallista!" Vivi disse, sorrindo. "Ninguém diria que você é nova aqui. Parece que sempre pertenceu a este lugar."

"É verdade!" Ravenna concordou, animada. "Você já conhece todos os atalhos e até se enturmou com a galera. Estamos tão orgulhosas de você!"

Sorri, sentindo-me aquecida com o apoio das amigas. "Obrigada, meninas. É mais fácil quando tenho vocês ao meu lado."

Assim que chegamos ao refeitório, no entanto, o clima mudou. Lupi, com seu olhar desdenhoso, apareceu diante de nós. "Ah, olha quem está se adaptando tão bem," disse ela, com um sorriso sarcástico. "Estava esperando o momento certo para confrontar você, Kallista. Esperava mais de uma híbrida."

Franzi a testa, sentindo a raiva começar a borbulhar dentro de mim. "O que você quer, Lupi?" respondi, tentando manter a calma.

"Quero que você saiba que não é bem-vinda aqui. Você pode ser uma princesa, mas isso não muda o fato de que é apenas uma híbrida," Lupi provocou, seus olhos brilhando de malícia.

"Você não sabe nada sobre mim," retruquei, a voz tremendo de indignação.

"Parece que você não entende seu lugar," Lupi continuou, avançando um passo. "Deveria saber que não pertence a este mundo."

Minha raiva começou a crescer de forma inexplicável, como se algo dentro de mim estivesse ansioso para sair. Minhas amigas perceberam a mudança no meu comportamento e rapidamente intervieram. "Kallista, vamos sair daqui. Ignora essa garota e suas amigas," Vivi sugeriu, puxando-me pelo braço.

Mas Lupi não se deixou intimidar. "Olha só, suas amigas estão tentando te proteger, mas você não vale a pena," ela disparou, lançando ofensas direcionadas a Vivi e Ravenna.

Aquilo foi o suficiente para que minha raiva explodisse. Sem pensar, lancei-me para cima de Lupi, minhas habilidades sobrenaturais tomando conta. A força me impulsionou com tanta velocidade que atravessamos paredes de concreto, eu em cima de Lupi, parecendo um felino pronto para atacar.

Os professores Adrian e Fenris apareceram bem na hora, intercedendo antes que eu pudesse causar mais danos. "Kallista, pare!" Adrian gritou, puxando-me para longe de Lupi.

Lupi, ainda no chão, começou a gritar. "Meus pais saberão disso! Eles são pessoas influentes!"

Não pude evitar uma risada sarcástica. "Mais influentes que eu, a própria e única princesa herdeira dos dois tronos?" Desafiei, meus olhos brilhando com uma mistura de diversão e desdém.

Lupi revidou, furiosa. "Você é uma híbrida imunda! Nunca será uma verdadeira princesa!"

Ri alto, um riso mortal e tenebroso. "Você pode me chamar do que quiser, mas saiba que, mesmo sendo uma híbrida imunda, ainda sou mais importante do que você."

A tensão no ar era palpável, e parecia que outra briga estava prestes a estourar. Foi então que Adrian decidiu intervir novamente, puxando-me para longe antes que a situação se tornasse incontrolável. "Vamos para a diretoria, agora!" ele ordenou, enquanto Ravenna e Vivi me seguiam, preocupadas.

Eu podia sentir a adrenalina ainda pulsando em minhas veias, mas a raiva começou a se dissipar. O que havia acontecido entre mim e Lupi era apenas o começo de um conflito que eu sabia que teria que enfrentar. E, de alguma forma, isso me fazia sentir viva.

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