A luz suave da manhã se filtra pelas cortinas da minha janela, iluminando o espaço com um brilho dourado. Hoje é um dia especial; eu completo 17 anos. A expectativa dança no ar, misturada à ansiedade. Amigos e familiares estão a caminho para a festa, mas uma sensação inquietante me acompanha, como se algo estivesse prestes a mudar. Eu me sento em frente ao espelho, observando meu reflexo. Meus cabelos castanho-claros caem em ondas suaves sobre meus ombros, e sempre achei que tinham um brilho especial sob a luz do sol. Mas são meus olhos que mais me intrigam: grandes e expressivos, refletem uma profundidade que me faz sentir que, em algum lugar dentro de mim, há um segredo escondido, esperando para ser descoberto.
Às vezes, me pergunto se meus olhos revelam mais do que apenas minha aparência. Há algo neles que parece carregar uma história, um mistério que desafia a superfície da minha vida cotidiana. Costumo me perder em pensamentos sobre o que poderia estar oculto em minha essência, mas sempre acabo voltando à realidade, onde sou apenas uma adolescente comum.
Hoje, no entanto, é um dia especial. É meu aniversário de 17 anos, e a festa está prestes a começar. Levanto-me, ajusto o vestido azul e decido que, independentemente do que sinto por dentro, vou aproveitar a celebração. Com um último olhar para o espelho, saio do quarto, determinada a deixar minhas incertezas de lado, mesmo que por um momento.
Ao chegar à festa, sou recebida por risadas e música animada. Meus amigos dançam e se divertem, e me sinto um pouco mais leve. Mas, enquanto caminho pelo ambiente festivo, meus olhos são atraídos para Alaric. Ele está em um canto, conversando com alguns amigos, e sua imagem me deixa intrigada.
Alaric sempre foi especial para mim, mas hoje, algo parece diferente. Ele está muito mais alto do que eu me lembrava, seus músculos definidos e sua postura confiante revelam uma maturidade que parece deslocada em alguém de apenas 17 anos. Seus cabelos loiros brilham sob as luzes da festa, e a forma como ele interage com os outros deixa claro que ele tem uma presença magnética.
Sinto-me um pouco insegura ao observar Alaric. Como ele pode parecer tão maduro e protetor ao mesmo tempo? Lembro-me das conversas que tivemos, das promessas que ele fez de me proteger. Mas, neste momento, não consigo deixar de pensar em como ele parece ser mais do que um amigo. Há uma força nele, algo que me faz sentir segura e ao mesmo tempo confusa.
“Você está bem?” A voz de Alaric interrompe meus pensamentos. Ele se aproxima, a expressão preocupada no rosto. “Você parecia distante.”
“Estou, sim. Apenas… pensando.” Sorrio, tentando esconder a intensidade de minhas emoções. “A festa está incrível.”
Enquanto a festa acontece, percebo que Alaric está mais distante do que o normal. Ele me observa com um olhar sério, como se estivesse ponderando um segredo que pesa em seu coração. No momento em que a festa atinge seu auge, decido que preciso conversar com ele.
“Alaric, podemos dar uma volta?” pergunto, puxando-o para o jardim. Ele hesita, mas acaba concordando, seu olhar grave não passa despercebido por mim.
Assim que chegamos a um canto tranquilo, longe dos risos e da música, Alaric se vira para mim, seu rosto sério iluminado pela luz suave do entardecer. “Kallista, há algo que preciso te contar. Algo que pode mudar tudo.”
Sinto meu coração acelerar. “O que está acontecendo? Você está me assustando.”
Ele respira fundo, como se estivesse reunindo coragem. “Eu não sou quem você pensa que sou. Eu sou um lobisomem guardião, enviado das terras feéricas para te proteger. E você… você não é apenas humana.”
As palavras de Alaric ecoam na minha mente como um trovão. “O que você quer dizer com isso?” Tento processar a revelação, mas a incredulidade toma conta de mim.
“Você é híbrida, Kallista. Metade vampira e metade lobisomem. Seus verdadeiros pais morreram tentando te proteger do mundo sobrenatural. Eles sabiam que você corria perigo.” A voz de Alaric está carregada de emoção, e vejo uma preocupação genuína em seus olhos.
“Mas… como isso pode ser verdade?” O pânico começa a subir. “Por que você nunca me contou antes?”
“Eu estava te protegendo. Havia forças sombrias que queriam te encontrar, e eu não podia arriscar sua segurança. Eu prometi aos seus pais que cuidaria de você.” Ele faz uma pausa, como se as palavras pesassem sobre ele. “Agora que você faz 17 anos, o mundo sobrenatural está mais perto de você do que nunca. É hora de você saber a verdade.”
A música está alta, e a festa aos poucos vai se esvaziando. Alaric e eu nos afastamos do tumulto, buscando um canto mais tranquilo na varanda da casa. O ar fresco da noite nos envolve enquanto a luz da lua ilumina nossos rostos. Ainda estou tentando processar tudo o que Alaric revelou, e a incredulidade me mantém em um estado de confusão.
“Alaric, você realmente acha que vou acreditar que é tudo verdade? Que você é um lobisomem guardião e que eu sou uma híbrida?” Cruzo os braços, tentando ocultar a insegurança que sinto. “Isso parece uma grande pegadinha de aniversário.”
“Não é uma piada, Kallista!” Alaric responde, sua voz mais intensa do que antes. “Eu sei que parece inacreditável, mas é a verdade. Eu não posso te deixar desconsiderar isso. Sua vida está em perigo!”
Reviro os olhos, meu coração acelerando com a intensidade da conversa. “Por que você não me disse isso antes? Por que esperar até agora? Parece que você só está tentando me assustar, e isso não tem graça alguma!”
“Eu não queria te envolver nesse mundo. Eu prometi aos seus pais que te protegeria, e até hoje fiz tudo para que você tivesse uma vida normal.” A frustração na voz de Alaric é palpável, e sinto uma pontada de culpa. “Mas agora, você precisa entender que não é apenas uma questão de escolha. É uma questão de sobrevivência.”
O silêncio paira entre nós, e começo a perceber que Alaric está falando sério. Seus olhos azuis estão ardentes, cheios de preocupação, e a tensão na atmosfera parece espessa. Enquanto a música diminui e o ambiente se torna mais tranquilo, percebo que a maioria das pessoas já foi embora, deixando-nos sozinhos com nossos pensamentos. Sinto o chão sob meus pés desmoronar. As peças do quebra-cabeça da minha vida estão se juntando, mas a imagem é aterrorizante. Sempre me senti diferente, mas nunca havia imaginado que minha verdadeira identidade era tão complexa e perigosa.
“E agora? O que eu faço com isso?” pergunto, minha voz quase um sussurro.
“Agora, você precisa aprender a se proteger. Você não está sozinha. Eu estarei ao seu lado, mas você deve entender o que significa ser quem você é.” Alaric se aproxima, segurando minhas mãos. “Não tenha medo, Kallista. Juntos, nós podemos enfrentar o que vier.”
“Alaric…” começo, mas ele me interrompe.
“Você precisa entrar, Kallista. Agora!” A urgência em sua voz faz meu coração acelerar ainda mais.
“Por que eu deveria?” respondo, desafiadora. “Diga-me um bom motivo para eu entrar e deixar essa conversa inacabada.”
Nesse momento, um vento forte sopra pela varanda, fazendo meus cabelos dançarem ao redor do meu rosto. Estou prestes a retrucar quando, de repente, um som profundo e poderoso ecoa na noite, e um grande lobo cinza surge na frente de nós, seus olhos amarelos brilhando como lanternas na escuridão.
Recuo instantaneamente, o medo tomando conta do meu corpo. “Alaric!” Grito, olhando para o amigo, que parece alarmado, mas não surpreso. O lobo, imponente e majestoso, nos encara com uma intensidade que faz meu coração disparar.
“Vá para dentro, Kalli!” Alaric ordena, sua voz agora firme e decidida. “Eu não posso deixar que você fique aqui.”
“Mas… o que é isso?” Mal consigo articular as palavras, a realidade do que está acontecendo começando a se infiltrar em minha mente.
“É uma das criaturas que eu estava te falando. Você não está segura aqui. Entre agora!” Ele gesticula para a porta, mas estou paralisada, a visão do lobo cinza me prendendo no lugar.
“Alaric, o que vamos fazer?” O pânico cresce em minha voz, e sinto que o chão sob meus pés está prestes a desaparecer.
“Confie em mim. Eu vou lidar com isso. Mas você precisa se proteger!” Ele dá um passo à frente, confrontando o lobo, um instinto protetor emanando dele. Ainda em choque, finalmente dou um passo em direção à porta, mas não consigo tirar os olhos do lobo que agora está mais perto, seu olhar fixo em nós dois.
O lobo , imponente e majestoso, permaneceu parado na varanda, seus olhos amarelos fixos em mim e Alaric. O silêncio que se seguiu parecia quase pesado, como se o ar estivesse carregado de expectativa. Eu estava paralisada, o coração batendo descontroladamente enquanto o instinto de luta ou fuga me dominava. Não sabia se corria ou se ficava ali, mas a presença do lobo me fazia sentir extremamente vulnerável.Então, algo extraordinário aconteceu. Ouvi uma voz ressoar em minha mente, profunda e poderosa, como um eco distante. “Kallista. Eu não sou seu inimigo.”Virei para Alaric, meus olhos arregalados de medo. “Ele está falando comigo… na minha cabeça!”Alaric, ainda em sua postura protetora, olhou para o lobo com uma mistura de respeito e preocupação. “Fenris, o que você está fazendo aqui?” “Vim trazer uma mensagem urgente.”Agarrei-me a Alaric, buscando conforto na presença familiar dele. “O que você quer dizer com isso? O que está acontecendo?” Minha voz tremia, e a realidade do mome
A chuva caía incessantemente naquela noite, uma cortina de água fria que lavava as ruas e o desespero que envolvia minha alma. Com Kallista, ainda um bebê, nos meus braços, me movia rapidamente, minhas habilidades vampíricas permitindo que meus pés mal tocassem o solo. A escuridão me rodeava, mas nada era mais opressivo do que a dor que sentia pela perda de Damon, o homem que amava e que havia dado a vida para nos proteger.As lágrimas escorriam pelos meus olhos azuis, misturando-se com a chuva. Não me permitia pensar na morte de Damon, não agora. Ele havia se sacrificado para que pudéssemos ter uma chance, e eu não podia deixar que sua coragem fosse em vão. Cada passo que dava era uma promessa silenciosa de que Kallista teria um futuro, longe das garras dos sobrenaturais que nos perseguiam.Finalmente, após o que pareceram horas de corrida, parei em frente à casa dos Walter. Era um lugar que o rei feérico Thalion havia indicado como seguro, e me agarrei a essa esperança como uma tábua
Eu estava parada em frente à mala aberta, meu coração pesado enquanto encarava a realidade que me cercava. Em uma única noite, minha vida havia mudado radicalmente; agora, eu estava prestes a deixar tudo o que conhecia para trás e me aventurar em um mundo desconhecido. Um mundo onde era vista como uma estranha, onde os sobrenaturais me olhavam com desconfiança e desprezo. O medo do que estava por vir se mesclava à ansiedade, e eu me sentia como se estivesse prestes a saltar de um penhasco sem saber o que encontraria lá embaixo.Alaric, encostado na porta, observava em silêncio. Ele sempre fora meu apoio, mas agora me deixaria seguir sozinha. Virei-me para ele, a frustração começando a brotar. "Por que você não pode me acompanhar para essa escola?" Perguntei, a voz trêmula. "Eu não quero ir sozinha."Ele suspirou, seu olhar sério. "Kallista, no reino dos lobos e dos vampiros, eu sou visto como um bastardo, um filho fora do casamento. Não sou bem-vindo lá. Assim que você estiver segura,
O vilarejo à minha frente era simples, mas encantador. Pessoas com traços semelhantes a Alaric e Fenrys circulavam por ali: homens e mulheres de porte atlético, altos e levemente bronzeados, com cabelos em tons claros que brilhavam sob a luz do sol. Eu fiquei fascinada e um pouco intimidada."Bem-vinda à alcateia de lobos," Fenrys explicou, observando minha reação. "Essa é uma característica forte dos lobos. E assim como todos os vampiros são altos, esguios e pálidos, com cabelos que vão do preto ao ruivo, você começará a entender como funciona o mundo ao qual agora pertence."Olhei em volta, absorvendo cada detalhe. Havia uma energia vibrante no ar, e, apesar de todo o desconhecido, uma parte de mim se sentia em casa. O medo ainda estava presente, mas era acompanhado por uma curiosidade ardente. O mundo sobrenatural era real, e agora eu fazia parte dele.Com um suspiro profundo, me preparei para dar o próximo passo em minha nova vida, determinada a descobrir quem eu era e onde me enca
A professora Ursula caminhava de um lado para o outro na sala de aula, o som de seus saltos batendo no chão ecoando como um metrônomo. Sua voz era firme e clara enquanto falava sobre a maturidade sobrenatural. "Quando os lobos atingem seu pico de maturidade, seus ossos são todos quebrados para que o novo corpo possa se adaptar," ela disse, com uma expressão séria. "Dias antes, eles apresentam picos de febres e dores de cabeça constantes. Após a primeira transformação, tendem a ganhar músculos e peso, e claro, habilidades noturnas."Eu me encolhi ao ouvir que os ossos eram quebrados. A ideia de passar por algo tão doloroso e traumático parecia surreal e, ao mesmo tempo, normal para todos os outros alunos. Me perguntei se também teria que passar por aquilo. A sala estava em silêncio, mas a expressão de todos mostrava que estavam acostumados com essa realidade.A professora continuou. "Para os vampiros, o processo é diferente. Costumam apresentar dores de cabeça frequentes, aversão à clar
Depois da conversa na diretoria, saí da sala com uma mistura de indignação e confusão. A diretora Sullivan havia me avisado sobre a necessidade de controlar meu gênio, mas eu me sentia como um alvo, injustamente marcada por ser diferente. Enquanto caminhava pelo corredor, Adrian me seguiu, mantendo-se próximo para garantir que eu estivesse segura."Ei, Kallista," ele chamou, seu tom de voz suave, mas percebi que ele estava tenso. "Como você está se sentindo?""Como você acha que eu estou? É tão injusto! Sou um alvo só por ser diferente. Meu melhor amigo, Alaric, não está aqui porque esse bando de 'perfeitos' o julga por ser bastardo. É tão vulgar usar um termo tão arcaico para alguém!" Desabafei, sentindo a frustração transbordar.Adrian parou ao meu lado, colocando as mãos nos bolsos, a expressão dele carregada de preocupação. "Eu entendo como você se sente," ele começou, hesitando por um momento antes de continuar. "Passei pela mesma situação muitos anos atrás."Eu o encarei, surpres
A madrugada me envolvia em um manto de desconforto e delírios, enquanto me contorcia na cama. O suor escorria pelo meu rosto e a sensação de mal-estar me dominava, levando-me a um estado entre a consciência e o sonho. Em meio a essa névoa, lembranças de minha infância começaram a emergir, vívidas e cheias de emoção.Vi-me em um dia chuvoso, envolta pela proteção calorosa de minha mãe. O som da chuva batendo contra as janelas preenchia o ar. Enquanto minha mãe me segurava, sentia a segurança em seus braços.A imagem mudava, e agora era meu pai, com um sorriso largo, brincando comigo. Ele me levantava no ar, e eu sentia a leveza e a felicidade daquele momento."Você é a nossa garotinha especial!" ele exclamava, rindo, enquanto eu balançava os pés, deslumbrada com a atenção.Os flashes de alegria continuavam, mostrando minha mãe e meu pai juntos, brincando e rindo ao meu redor. As vozes deles formavam um coro de amor e proteção, enquanto o mundo exterior parecia distante e inofensivo."Ol
A madrugada me envolvia em um manto de desconforto e delírios, enquanto me contorcia na cama. O suor escorria pelo meu rosto e a sensação de mal-estar me dominava, levando-me a um estado entre a consciência e o sonho. Em meio a essa névoa, lembranças de minha infância começaram a emergir, vívidas e cheias de emoção.Vi-me em um dia chuvoso, envolta pela proteção calorosa de minha mãe. O som da chuva batendo contra as janelas preenchia o ar. Enquanto minha mãe me segurava, sentia a segurança em seus braços.A imagem mudava, e agora era meu pai, com um sorriso largo, brincando comigo. Ele me levantava no ar, e eu sentia a leveza e a felicidade daquele momento."Você é a nossa garotinha especial!" ele exclamava, rindo, enquanto eu balançava os pés, deslumbrada com a atenção.Os flashes de alegria continuavam, mostrando minha mãe e meu pai juntos, brincando e rindo ao meu redor. As vozes deles formavam um coro de amor e proteção, enquanto o mundo exterior parecia distante e inofensivo."Ol