Amélia acordou de repente, com o corpo coberto de suor. Seus pesadelos estavam cada vez piores. Eles sempre a levavam para aquele terrível dia que sua irmã morrera. Mesmo sem querer admitir, Amélia amava sua meia-irmã. E sentia muita falta dela. Mary fazia falta na família. Seus pais nunca mais foram os mesmos depois da morte dela e do marido. Mesmo Mary não sendo filha legítima de seus pais, ela estava na família desde muito pequena. Mary era só um bebê quando se juntou aos Collins. Amélia nasceu um ano depois disso, as duas cresceram e se tornaram mulheres lindas, Mary com seus cabelos castanhos e Amélia com seus gloriosos cachos negros. As duas não eram apenas irmãs, eram melhores amigas, mas a vida as separou. Como tudo que começa tem que acabar.
Um barulho no elevador chamou a atenção de Amélia. Ela se levantou, colocou o hobby de seda preto e saiu do quarto.
A porta do elevador, que dava para o interior de seu apartamento, se abriu. Kiyamet estava com suas tradicionais roupas pretas, como a maioria dos instrutores e alunos usavam na Academia Nephilim.
- Eu estava dormindo. Fale logo o que veio fazer aqui - disse Amélia, como sempre que falava com Kiyamet sua voz saia forte, sem mostrar o quanto estava cansada, ela tentava não ser ríspida com Kiyamet, mas não dava para evitar. Kiyamet era uma feiticeira. Não como nos livros, mas muito parecida com as bruxas de filmes antigos, as bruxas de Salem.
Existiam poucas feiticeiras e uma delas trabalhava na Academia Nephilim como se fosse mais uma professora. Amélia a odiava, mas tentava não demostrar em suas palavras.
Kiyamet levantou a mão direita onde ela segurava um envelope de papel pardo. Amélia teve que deixa-la entrar.
- Encontrei algumas informações sobre a garota que você está procurando, como me pediu - começou Kiyamet. A porta do elevador se fechou, deixando as duas na escuridão até que Amélia acendesse a luz da sala. - Ela está morando em Sacramento, com a tia.
Kiyamet entregou os papéis à Amélia.
- Você tem o endereço?
- Está aí - respondeu a feiticeira apontando para as folhas cheias de informações nas mãos de Amélia. - Também tem o número do telefone da casa, e o número do celular dela e da tia. Tem o nome da escola onde ela estuda, o nome dos vizinhos, da melhor amiga... e eu até consegui uma cópia do horário de aulas dela e do boletim escolar.
- Tudo bem.
- Sabe, foi difícil conseguir essas informações sem usar magia. Se você quiser eu posso ir até ela para você.
- Eu mesma vou até lá. Obrigada.
Amélia apertou o botão do elevador, que se abriu segundos depois, esperando que a feiticeira saísse para ela poder ler o relatório da garota que ela estava procurando há meses, mas Kiyamet não saiu do lugar, em vez disso perguntou:
- O que ela é para você?
Amélia ergueu os olhos e a encarou.
- Não é da sua conta - dessa vez ela não tentou esconder a raiva da sua voz. Kiyamet não tinha que ficar se metendo na sua vida pessoal e ponto final. Mas todos sabiam como eram as feiticeiras, não podiam confiar e, mesmo assim, Amélia confiou um segredo a ela, um assunto que ninguém poderia ficar sabendo pois poderiam fazer algo para atacá-la e usar a garota como arma ou um meio de atingir Amélia.
- Só para saber. Caso alguém me torture no futuro querendo saber dos detalhes.
E lá estava ela. A feiticeira mostrando a cara sem se esconder por debaixo do tapete como geralmente fazia. Era assim que elas eram, traiçoeiras, mentirosas, manipuladoras, vigaristas e faziam tudo por dinheiro e Poder. Mesmo assim uma feiticeira conseguira um emprego na Academia Nephilim, como se fosse apenas mais uma professora lecionando. Os outros instrutores pareciam acreditar na história de que Kiyamet tinha mudado e queria recomeçar, que não praticava mais a Magia Negra. Mas Amélia sabia da verdade. Sabia o porquê Kiyamet estava ali: para ganhar mais Poder - como se já não tivesse o suficiente com seus sacrifícios de sangue.
- Volte para seus aposentos - ordenou Amélia.
Kiyamet balançou a cabeça e se aproximou do elevador, parando no batente para olhar nos olhos de Amélia.
- Como quiser Sra. Collins… - entrando no elevador Kiyamet acrescentou: - Eu descubro por mim mesma.
Amélia esperou até não conseguir mais ouvir o som do elevador descendo antes de voltar para o quarto.
Se Kiyamet pesquisasse mais a fundo sobre a vida da garota talvez ela descobrisse a verdade. Mas o que faria depois? Contar a garota? Estaria fazendo apenas um favor à Amélia. A não ser que ela distorcesse a história e fizesse Amélia parecer a vilã.
Como um instinto a dominando, Amélia sentiu a vontade de proteger os seus. A garota fazia parte da sua família, tinha que ser protegida, ficar em um lugar seguro até que tudo acabasse. Ainda faltava um mês para acontecer, mas Amélia sabia que os sonhos já deveriam estar atormentando-a, como aconteceu com ela e seus dois filhos. A garota precisaria de ajuda. Terapeuta, psicólogos ou mesmo a tia dela não dariam conta das mudanças que estavam para acontecer na vida dela, ninguém a entenderia, ninguém acreditaria nela depois que as alucinações começassem.
Amélia deveria estar lá para ajudá-la. E deveria levar seus filhos juntos. Talvez precisasse da ajuda deles.
Mason dormia profundamente em sua cama no dormitório masculino. Ele dormia no quarto ao lado de seu irmão, Jason. Os dois eram muito parecidos fisicamente, mas completamente o oposto um do outro em se tratando de personalidade. Jason, por exemplo era sempre quieto e gostava de ficar na dele, andava com os amigos, mas dificilmente puxava assunto, era inteligente e muito bonito. Jason havia puxado vários traços de seu pai, mas os olhos e cabelos escuros eram da mãe. Mason também tinha os cabelos escuros, mas seus olhos eram castanhos claros com um leve toque de dourado e não pretos como os da mãe. Os dois irmãos eram grandes e fortes, devido aos treinamentos na Arena da Academia. Eram quatro horas da manhã ainda. Mason puxou os cobertores até o queixo e se virou de lado. Em seu sonho ele viu a garota por quem estava apaixonado desde que a conhecera aos quinze anos quando a mãe dela a levou até a casa onde ele morava com a mãe. Os cabelos louros de Andrea
Amélia tentava prestar atenção na estrada à sua frente, mas os pensamentos de seus filhos entravam na sua cabeça sem permissão. Os pensamentos de Mason eram constrangedores, ele não parava de pensar em Andrea. Pelos pensamentos de seu filho, ele ainda era virgem, mas não demoraria muito até que ele e Andrea se unissem. Ele não parava de pensar nos lábios da garota que deixara para trás. Os pensamentos de Jason, por outro lado, eram mais sanguinolentos do que os do irmão mais novo. Ele pensava em guerra, quando tudo o que os Hunters queriam era paz. Ela freou de repente, as rodas do carro derrapando na rua de cascalho. - O que há com vocês? - perguntou ela, virando-se no banco para encarar ambos os filhos. Mason parecia perdido olhando pela janela, mas quando sua mãe falou ele a olhou. Ela estava linda como sempre. - Você estava fazendo aquilo de novo? - perguntou Jason bloqueando seus pensamentos. - Eu já disse que não consigo evitar, por isso
- Mãe... está acordada? - a voz de Mason vinha do corredor. Amélia vestiu-se rapidamente e atendeu a porta. Seu filho estava com o cabelo bagunçado, usava uma regata branca e uma calça de moletom cinza.- Tudo bem? - perguntou ela ao filho.Ela percebeu que ele hesitou, mas enfim falou com a voz rouca.- Não consegui dormir.- Teve um pesadelo?Mason assentiu com um gesto de cabeça.- Quer dormir aqui? - perguntou ela.- Se eu não for incomodar. - Ele entrou e se sentou na beira da cama. Amélia se sentou do seu lado e pegou na sua mão.- Se importa se eu ver? - perguntou ela. Ele balançou a cabeça. Amélia se concentrou e entrou na cabeça do seu filho, sondando, vendo o que ele sonhara que o deixara tão abalado.O que Amélia viu a fez chorar. Era uma falsa lembrança. Mason havia sonhado com seu pai. Mas o
※※※※25 de outubro.※※※※ Na quarta-feira, tia Stella me encontrou no meu quarto ardendo em febre e não me permitiu ir à escola. Eu havia dito que não era nada, mas ela não me deixou nem mesmo falar. Me deu alguns remédios e me deixou dormir quase o dia todo. Eu não sabia o que causara o mal-estar, mas depois do meio-dia eu acabei pondo todo o almoço para fora. Tenho certeza de que não era intoxicação alimentar, mesmo assim tia Stella insistiu em me levar ao médico naquele dia. O médico disse que não encontrou nada de errado comigo e, portanto, eu estava bem. Ele me deixou ir dizendo que eu não precisava faltar a aula no dia seguinte, mas que se me sentisse ruim novamente era para procurá-lo de novo. Tia Stella ligou para Sarah depois que voltamos do médico. Eu já estava melhor, bem o bastante para pôr todo o assunto em dia das matérias que eu havia perdido. Sarah havia dito que as aulas haviam sido o mesmo de sempre, nada de importante havia ac
※※※※ Querido diário. Acabo de ter mais um pesadelo. Ultimamente eles andam mais frequentes. Quase toda noite eu perco o sono, as vezes é apenas insônia, mas as vezes são os pesadelos que não me deixam dormir. Quero muito falar com alguém sobre isso, mas eu não tenho muitas opções. Sei que se eu contar à tia Stella ela vai querer que eu volte a fazer terapia, mas eu não quero falar com uma estranha sobre meus sonhos, isso é particular. Eu só quero alguém para desabafar, alguém que realmente possa me ajudar. Sarah é minha melhor amiga há cinco anos, mesmo assim ela não entende quando eu falo dos meus sonhos pra ela. Sarah não é formada em psicologia, então não pode me ajudar (não que eu queira um especialista na área). Eu achei que já tinha superado a morte dela. Mas eu não consigo parar de sonhar com Melanie, e ultimamente os sonhos estão se tornando mais frequentes. À
Dominic comia o jantar em silêncio, ele não era muito de falar, nem mesmo com a filha. A única pessoa com quem ele falava estava tomando banho no segundo andar, e iria demorar pelo menos mais meia hora até descer novamente, deixando a cozinha num silêncio estranho. Por sorte Dominic não quebrara a perna, mas estava mancando desde que acordara naquela manhã e estava usando uma bengala para conseguir se equilibrar. Seu rosto já estava melhor apesar da aparência cansada, mas ele ainda gemia de dor do ferimento da bala em sua barriga. Amélia se remexeu na cadeira e continuou comendo, sentada de frente para o seu pai, seus filhos estavam a sua direita e o lugar vago ao lado de seu pai pertencia à sua mãe, mas ela não estava com fome. Jason pigarreou. - Então, vovô… Como o senhor está? - Bem - respondeu Dominic. Curto e grosso. - Sabe que Mason pode ajudar. A ferida se cicatrizaria e não doeria mais… - Não, obrigado. Mason ch
Dominic estava calmo, ou pelo menos aparentava. Ver seu neto de joelhos à sua frente fez lembranças ruins voltarem a atormentá-lo. Ele não queria se lembrar de Michael. Ou mesmo de Mary. Mas ele tinha que fazer isso. Estava assustando Jason, claro. Seu neto nunca o tinha visto usar seu poder, e agora estava vendo-o usar contra ele. Mas seu poder iria fazê-lo esquecer daquela conversa toda, como se nada tivesse acontecido. Normalmente Dominic só usava seu poder em humanos que o pegava no flagra matando vampiros, ele nunca usara seu poder contra outro Hunter. Muito menos em alguém da família. O poder de Dominic era uma variação da telepatia, mas ao invés de ler pensamentos, ele conseguia acessar memórias, apaga-las, embaçá-las ou muda-las como bem queria. Ele tinha muitos anos de treinamento para conseguir controlar o seu poder. E tudo o que ele queria era acessar as memórias de Jason para saber o que o trouxera ali. “Mãe!” Gritou Jason mentalm
※※※※Querido diário.Os pesadelos têm piorado. A cada noite que se passa eu acho que estou ficando louca. Não sei o que está acontecendo comigo. Tenho medo. Sinto saudades. As lembranças de alguém que já viveu me atormentam. Por que ela não pode me deixar em paz para viver minha vida? O que ela quer de mim?Preciso de ajuda. Não alguém com quem conversar, mas sim, alguém que acabe de uma vez por todas com esses sonhos. É impossível, eu sei. Mas eu não quero ter que recorrer à ajuda psicológica novamente. Da primeira vez já foi um pesadelo ter que falar para uma estranha sobre o acidente e o que aconteceu comigo depois disso. A verdade é que eu nunca superei. Acho que nunca vou superar. É doloroso demais. Só de pensar nas coisas que Melanie e eu poderíamos ter f