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Querido diário.
Acabo de ter mais um pesadelo. Ultimamente eles andam mais frequentes. Quase toda noite eu perco o sono, as vezes é apenas insônia, mas as vezes são os pesadelos que não me deixam dormir. Quero muito falar com alguém sobre isso, mas eu não tenho muitas opções. Sei que se eu contar à tia Stella ela vai querer que eu volte a fazer terapia, mas eu não quero falar com uma estranha sobre meus sonhos, isso é particular. Eu só quero alguém para desabafar, alguém que realmente possa me ajudar. Sarah é minha melhor amiga há cinco anos, mesmo assim ela não entende quando eu falo dos meus sonhos pra ela. Sarah não é formada em psicologia, então não pode me ajudar (não que eu queira um especialista na área).
Eu achei que já tinha superado a morte dela. Mas eu não consigo parar de sonhar com Melanie, e ultimamente os sonhos estão se tornando mais frequentes. Às vezes eu só ouço vozes gritando, outras eu vejo mamãe e papai na cozinha segundos antes de queimarem. Os sonhos são sempre ruins e eu nunca consigo impedir que alguém se machuque, nunca consigo chegar a tempo para salvá-los. Na maioria dos sonhos eu sou apenas uma telespectadora, nunca consigo mexer em nada e ninguém me ouve.
Eu preferia mil vezes ter morrido com eles naquele maldito incêndio.
_Megan Halloran.
Outubro, 26.
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Depois de ler o que eu havia escrito duas vezes e assinar meu nome em baixo como eu já estava acostumada a fazer, guardei o diário em seu devido lugar e voltei para a cama. Ainda eram cinco horas da manhã e eu não teria que levantar antes das seis e meia. Com relutância, fechei os meus olhos e peguei no sono, graças a Deus, sem pesadelos.
Eram quatro e meia da tarde quando Sarah e eu chegamos em casa depois de passar na biblioteca. Fomos direto para a casa dela e tomamos café com seu pai na cozinha junto com seu irmão caçula Daniel, de treze anos, que cismava que ainda casaria comigo. Eu ria sempre que ele falava isso, pois eu nunca pegaria o irmão de uma amiga, muito menos um que tivesse quatro anos a menos que eu.
O senhor Davis trabalhava em casa desde que sofrera um acidente de carro dois anos antes. Ele usava uma bengala na maior parte do tempo, mas eu sabia que quando não tinha ninguém por perto ele a deixava de lado e andava por conta própria, mancando.
Perto das seis da tarde me despedi do senhor Davis e de Daniel. Sarah me levou até o carro e me deu um abraço que eu retribuí com gosto. Não era todo mundo que eu deixava se aproximar de mim daquela forma. Sarah demorou quase um ano até eu permitir que ela me abraçasse. Apenas ela e tia Stella tinham a minha permissão para ultrapassar meu espaço pessoal.
Não sei o que me levou a ter esse medo de que as pessoas me toquem, acho que isso começou um pouco depois do acidente, quando eu estava me despedindo das enfermeiras que cuidaram de mim e uma delas tentou me abraçar. Na ocasião eu comecei a chorar e tia Stella pediu que a enfermeira me soltasse, pois achou que talvez ela tivesse me machucado ou algo do tipo, mas depois que eu comecei a evitar todo tipo de contato humano por quase um ano, tia Stella pediu que eu fizesse terapia, pois achou que aquilo poderia me prejudicar no futuro.
Quando Sarah me soltou de seu abraço ela estava com um sorriso no rosto. Me desejou melhoras, mesmo que eu não tivesse doente nem nada e me permitiu voltar para minha casa.
Entrei no carro e percorri o curto caminho da casa dela até a minha. O sol já estava se pondo, as pessoas já começavam a recolher as roupas do varal e a chamar as crianças para jantar. Havia alguns grupos de adolescentes sentados no gramado em frente suas casas e conversavam animadamente entre si. Algumas pessoas corriam na calçada, usando fones de ouvido e regatas apertadas, o suor escorrendo por seus corpos.
Parei em um posto de gasolina no meio do caminho para abastecer o carro e comprar alguma coisa para comer. Enquanto um homem de meia idade cuidava do carro, entrei na loja de conveniência e fui até a sessão dos doces e peguei um pacotinho de M&M’S, a oitava maravilha do mundo.
Além de mim haviam mais duas pessoas na loja, mas apenas um carro do lado de fora, o meu. Paguei o M&M’S e me dirigi a saída, coloquei um pedaço do pacote entre os dentes, mordi e puxei com força para abri-lo, na mesma hora em que eu abria a porta e um cara, trinta centímetros mais alto que eu, entrava na loja. Alguns M&M’S caíram no chão, outros caíram dentro da minha blusa. Olhei para cima e o encarei. Pareciam um vampiro de filme de terror.
Ele ficou olhando dentro dos meus olhos enquanto eu encarava seus olhos vermelhos. Provavelmente o maluco estava usando lentes de contato. De onde ele saíra?
- Bela fantasia, camarada. Sabia que inda falta cinco dias para o Halloween? - murmurei dando espaço para ele passar. O dono da loja de conveniência deu uma risadinha, o que chamou atenção das duas outras pessoas que estavam se decidindo que bebidas levar e que salgadinhos. Os dois olharam para o sujeito, o cara também riu, mas a garota ficou séria, como se tivesse levado um susto.
O sujeito estava vestido de preto dos pés à cabeça, tinha a pele pálida, meio natural. No início eu achei que ele estava usando maquiagem, mas quando ele deu um passo para dentro da loja pude ver, pela pele exposta de seu pescoço e suas mãos, que ele realmente era pálido. Parecia alguém com câncer, perto da morte. Tinha a cabeça raspada e uma tatuagem na nuca.
Ele ficou ali parado, encarando as pessoas que não conseguiam tirar os olhos dele. Ele respirou fundo e começou a andar até os fundos da loja.
Voltei para o carro sem olhar pra trás. O cara que tinha cuidado do meu carro não estava mais ali quando me aproximei e um silêncio estranho havia caído sobre o posto de gasolina.
Fui embora enquanto comia o que restara dos meus M&M’S.
Dominic comia o jantar em silêncio, ele não era muito de falar, nem mesmo com a filha. A única pessoa com quem ele falava estava tomando banho no segundo andar, e iria demorar pelo menos mais meia hora até descer novamente, deixando a cozinha num silêncio estranho. Por sorte Dominic não quebrara a perna, mas estava mancando desde que acordara naquela manhã e estava usando uma bengala para conseguir se equilibrar. Seu rosto já estava melhor apesar da aparência cansada, mas ele ainda gemia de dor do ferimento da bala em sua barriga. Amélia se remexeu na cadeira e continuou comendo, sentada de frente para o seu pai, seus filhos estavam a sua direita e o lugar vago ao lado de seu pai pertencia à sua mãe, mas ela não estava com fome. Jason pigarreou. - Então, vovô… Como o senhor está? - Bem - respondeu Dominic. Curto e grosso. - Sabe que Mason pode ajudar. A ferida se cicatrizaria e não doeria mais… - Não, obrigado. Mason ch
Dominic estava calmo, ou pelo menos aparentava. Ver seu neto de joelhos à sua frente fez lembranças ruins voltarem a atormentá-lo. Ele não queria se lembrar de Michael. Ou mesmo de Mary. Mas ele tinha que fazer isso. Estava assustando Jason, claro. Seu neto nunca o tinha visto usar seu poder, e agora estava vendo-o usar contra ele. Mas seu poder iria fazê-lo esquecer daquela conversa toda, como se nada tivesse acontecido. Normalmente Dominic só usava seu poder em humanos que o pegava no flagra matando vampiros, ele nunca usara seu poder contra outro Hunter. Muito menos em alguém da família. O poder de Dominic era uma variação da telepatia, mas ao invés de ler pensamentos, ele conseguia acessar memórias, apaga-las, embaçá-las ou muda-las como bem queria. Ele tinha muitos anos de treinamento para conseguir controlar o seu poder. E tudo o que ele queria era acessar as memórias de Jason para saber o que o trouxera ali. “Mãe!” Gritou Jason mentalm
※※※※Querido diário.Os pesadelos têm piorado. A cada noite que se passa eu acho que estou ficando louca. Não sei o que está acontecendo comigo. Tenho medo. Sinto saudades. As lembranças de alguém que já viveu me atormentam. Por que ela não pode me deixar em paz para viver minha vida? O que ela quer de mim?Preciso de ajuda. Não alguém com quem conversar, mas sim, alguém que acabe de uma vez por todas com esses sonhos. É impossível, eu sei. Mas eu não quero ter que recorrer à ajuda psicológica novamente. Da primeira vez já foi um pesadelo ter que falar para uma estranha sobre o acidente e o que aconteceu comigo depois disso. A verdade é que eu nunca superei. Acho que nunca vou superar. É doloroso demais. Só de pensar nas coisas que Melanie e eu poderíamos ter f
Miranda puxou Amélia pelo braço até uma saleta, deixando Dominic sozinho no quarto com os meninos. Amélia só foi com sua mãe pois sabia que seu pai não tentaria mais machucar seu filho, nenhum deles. Nem tentar apagar ou vasculhar nenhuma memória. - Por que você não nos contou sobre Jason? - disparou Miranda depois de trancar a porta. - Ele me pediu que não contasse a ninguém da família. Alguns dos amigos dele da Academia sabem, mas eles não comentam com ninguém pois sabem do problema de Jason. - Que “problema”? Amélia respirou fundo, desviou os olhos por um segundo e voltou a olhar para sua mãe. - Ele não sabe usar o poder dele. O semblante de Miranda se contorceu de medo e ressentimentos. Fragmentos de pensamentos escorregaram para dentro da cabeça de Amélia e ela viu e pode entender o motivo do medo de sua mãe. - Ele ainda tem tempo para aprender a controlar - adiantou-se Amélia dando um passo para frente. Sua mãe a
※※※※31 de outubro.※※※※ Passei a noite de Halloween em casa, trancada em meu quarto. Tia Stella ficou de entregar os doces a todas as crianças que batessem em nossa porta. A noite foi tranquila, apenas alguns adolescentes idiotas gritando nas ruas feito loucos enquanto eu tentava ler um bom livro no conforto do meu quarto. No fim da noite, não resisti e fui até a cozinha comer o que restara dos doces. Para minha sorte, Stella não havia enfeitado a casa com abóboras, teias de aranhas, esqueletos e outras coisas, como as outras casas, senão eu sabia que a tarefa de limpar tudo depois iria ficar toda para mim. Sarah havia me convidado para ir à uma festa, mas eu disse a ela que preferia ficar trancada no meu quarto o resto da semana a me encontrar em um lugar com várias pessoas desconhecidas, das quais eu tinha certeza de que não iria gostar. Ela, como sendo minha melhor e única amiga, me entendeu, mas ficou me mandando fotos a noite toda, para tentar, e
Encontrei Sarah no refeitório comendo uma maçã na nossa mesa de sempre. Sentei-me do seu lado e peguei meu sanduíche na bolsa. - Adivinha quem está na aula de Inglês comigo - pediu ela antes de dar uma mordida na maçã. Eu já sabia de quem ela estava falando, nem precisava adivinhar para saber que ela se referia a Mason. - Demi Lovato? - Ergui uma sobrancelha, ela franziu o cenho e deu risada. - Não, sua boba. Mason… Alguma Coisa. - Collins. - Isso. Como sabe? - quis saber ela. - Ele está na minha aula de Química, estamos dividindo a mesa essa semana até Alene voltar. - Ahh… - Sarah bateu as unhas no tampo da mesa ritmicamente enquanto mordia o lábio inferior. - Você o achou bonito? - Achei. Mas ele não faz o meu tipo, pode ficar tranquila. Sarah parou de bater as unhas e deu risada. - Desde quando você não gosta de homens? - Haha, engraçadinha. - O que? Eu preciso saber. Vai que eu te con
“Ela é completamente diferente de como eu imaginei que seria”, pensou Mason. “O jeito como ela me olhou no refeitório, como se entendesse minha dor.... Sei que ela também sofreu. Perdeu os pais e a irmã em um incêndio, ninguém deveria sentir a dor de perder toda a família desse jeito.” Depois de comer ele foi para a próxima aula que estava marcada em seu novo horário de aulas. Física. Ele detestava essa matéria. Pelo menos podia dormir durante a aula como fez na maioria das outras. Aquele dia parecia não acabar nunca. Pelo menos já estava quase acabando. Dentro de algumas horas Jason estaria no estacionamento esperando para levá-lo para casa, para um descanso merecido. “Como se minha mãe fosse mesmo me deixar descansar. Com certeza assim que eu entrar dentro da casa ela já vai começar com as perguntas. Ainda não entendo o porquê ela queria que eu encontrasse essa garota. Não sei o que Megan pode ter de especial, para mim ela pareceu uma garota c
No fim da aula, Sarah e eu fomos para o estacionamento, jogamos nossas coisas no banco de trás do carro, entramos e começamos a sair do estacionamento. Havia muitos carros saindo ao mesmo tempo e acabamos demorando mais do que o normal. Quando enfim saímos do estacionamento da escola fomos envolvidas pelo trânsito de fim de tarde de quarta-feira. Quando paramos em um sinaleiro, Sarah apoiou o braço na janela do carro e apontou para fora. - Aquele é Mason? - perguntou ela. Segui a direção que seu dedo apontava e vi Mason atravessando a rua na faixa de pedestres. - Ele não tem carro? - Acho que não, se não ele não estaria indo a pé para casa. - Vamos dar uma carona a ele. Olhei minha amiga como se ela estivesse louca. Nem conhecíamos esse Mason Collins e ela já queria dar carona a ele. - Não. - Por que não? – quis saber ela. - Porque o carro é meu e eu não quero dar carona a ele. - Você é má. - Esse e meu nome do