8 - AMÉLIA

Amélia tentava prestar atenção na estrada à sua frente, mas os pensamentos de seus filhos entravam na sua cabeça sem permissão. Os pensamentos de Mason eram constrangedores, ele não parava de pensar em Andrea. Pelos pensamentos de seu filho, ele ainda era virgem, mas não demoraria muito até que ele e Andrea se unissem. Ele não parava de pensar nos lábios da garota que deixara para trás. Os pensamentos de Jason, por outro lado, eram mais sanguinolentos do que os do irmão mais novo. Ele pensava em guerra, quando tudo o que os Hunters queriam era paz.

Ela freou de repente, as rodas do carro derrapando na rua de cascalho.

- O que há com vocês? - perguntou ela, virando-se no banco para encarar ambos os filhos.

Mason parecia perdido olhando pela janela, mas quando sua mãe falou ele a olhou. Ela estava linda como sempre.

- Você estava fazendo aquilo de novo? - perguntou Jason bloqueando seus pensamentos.

- Eu já disse que não consigo evitar, por isso preciso da ajuda de vocês.

- O que você ouviu? - quis saber Mason.

- Nem queira saber. Mas você e eu teremos uma conversinha mais tarde, entendeu? - Amélia se virou para frente e voltou a dirigir, sem querer imaginar seu filho perdendo a virgindade aos vinte anos de idade.

Ser uma telepata nem sempre era fácil. Na verdade, nunca era fácil. Ela tinha que praticar todos os dias autocontrole, mas sem ajuda era ainda mais difícil de fazê-lo.

Os dois lados da rua de cascalho eram rodeados de arvores grandes de troncos grossos. Havia vários tipos de árvores ali, mas nenhuma que Amélia soubesse o nome. Depois de meia hora dirigindo com cautela, eles enfim chegaram na cidade. Mason cochilava no banco de trás e Jason passara a ler um livro. Ainda estava escuro, mas Amélia continuou a viagem em direção à Sacramento, na Califórnia.

Mason bocejou. Ele ainda estava cansado e o banco do carro não era o mais confortável de se dormir durante uma viagem que eles poderiam ter feito de avião.

Jason ligou o rádio e colocou em uma estação que ele considerou aceitável. Ele também não queria ter acordado cedo para fazer uma viagem que ele também não queria. Ele sentia saudade de seus avós, mas sair no meio de uma semana de aulas para ir vê-los era burrice. Sua mãe poderia ter esperado o fim de semana para que ele não tivesse que perder nenhuma aula. Mas ela insistira em que todos tinham que ir. Por isso ele estava carrancudo aquela manhã.

Já fazia umas três horas que sua mãe estava dirigindo, parando uma vez apenas para Jason fazer xixi no mato. Eles já haviam atravessado a cidade e agora já estavam fora dela, rodeados por um completo nada. Assim que escurecesse eles teriam que parar em algum lugar para dormir. Jason poderia aguentar uma noite no banco de trás do carro, mas seu irmão e sua mãe não.

Ao meio-dia eles almoçaram o que conseguiram comprar em um posto de gasolina. Mason passou as duas horas seguintes se queixando de dor de barriga por ter comido tanta besteira, dizendo que o corpo dele não estava acostumado com aquele tipo de comida empacotada e cancerígena.

Jason trocou de lugar com o irmão por volta das quatro da tarde, deitando-se no banco de trás para uma soneca, enquanto Mason lia um livro e conversava com a mãe, fazendo-lhe companhia. Era meia noite quando Amélia parou o carro na frente de uma hospedaria. Ela estava exausta, seus filhos também. Assim que ela conseguiu dois quartos, os únicos disponíveis no local, todos caíram na cama e adormeceram. Jason teve que dividir a cama com o irmão caçula, o qual ele não gostou muito, pois seu irmão tinha o péssimo hábito de dormir sem roupa.

Amélia ficou com um quarto só para ela, para ter a privacidade que ela tanto merecia. Ela olhou pela janela antes de fechar as cortinas e apagar a luz do abajur ao lado da cama. Ela tinha dirigido o dia todo, suas pernas doíam e ela estava com dor de cabeça de tanto ouvir Mason reclamar. Mas ela não o culpava, eles poderiam ter feito aquela viagem de avião, seria muito mais rápido. Mas não é permitido armas nos aviões. E seu carro estava cheio delas.

Amélia teria que contar aos seus filhos mais cedo ou mais tarde o verdadeiro motivo de eles estarem indo para a antiga casa da família Collins. Miranda Collins, sua mãe, nem sabia que eles estavam voltando para a cidade. Nem ela nem seu pai, Dominic Baker Collins.

A mulher de meia idade que não aparentava ter mais de vinte e cinco anos lembrou de quando sua mãe lhe explicara o por que seu pai havia ganhado o sobrenome da mãe ao invés do contrário. Sua família tinha vários Escolhidos na árvore genealógica. Sua mãe não fora uma, mas ansiava que Amélia fosse quando tivesse idade. E ela foi. Ou seja, a família de Miranda era mais importante do que a de Dominic.

Agora ela tinha uma responsabilidade nas mãos que ela achou que nunca teria que lidar. Não era tão ruim ser a Escolhida, nem difícil. Só que ela não gostava de todas aquelas mentes em volta dela. Como a telepata que era, ela ouvia tudo. E ela odiava. Todas as mentes de todo mundo, todas as pessoas pensando sem parar em assuntos que ela nem precisava saber, coisas que ela não queria saber. As vezes seu poder era útil, mas havia momentos que era perturbador demais.

As vozes a deixavam com dor de cabeça e as vezes ela não conseguia controlar e falava em voz alta o que ouvira da mente de alguém, deixando essa pessoa constrangida ou até mesmo com raiva. No início, Amélia arranjara muitos problemas, mas depois ela aprendera a controlar e só ouvir o essencial, apenas quando ela queria ouvir. Mesmo assim, às vezes, raramente, ela ainda entrava na mente de alguém sem querer, quando perdia a concentração.

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