7 - MASON

Mason dormia profundamente em sua cama no dormitório masculino. Ele dormia no quarto ao lado de seu irmão, Jason. Os dois eram muito parecidos fisicamente, mas completamente o oposto um do outro em se tratando de personalidade. Jason, por exemplo era sempre quieto e gostava de ficar na dele, andava com os amigos, mas dificilmente puxava assunto, era inteligente e muito bonito. Jason havia puxado vários traços de seu pai, mas os olhos e cabelos escuros eram da mãe.

 Mason também tinha os cabelos escuros, mas seus olhos eram castanhos claros com um leve toque de dourado e não pretos como os da mãe. Os dois irmãos eram grandes e fortes, devido aos treinamentos na Arena da Academia.

Eram quatro horas da manhã ainda. Mason puxou os cobertores até o queixo e se virou de lado. Em seu sonho ele viu a garota por quem estava apaixonado desde que a conhecera aos quinze anos quando a mãe dela a levou até a casa onde ele morava com a mãe.

Os cabelos louros de Andrea estavam soltos como no dia em que ele a viu pela primeira vez, seus olhos azuis brilhavam e ela sorria. Os dois estavam no quarto dela, no dormitório feminino, na ala Leste. Sentados na cama, Mason a beijou delicadamente nos lábios, colocando uma das mãos em seu pescoço e a outra na perna de Andrea, ele a empurrou para que ela deitasse e ele ficasse por cima dela...

- Mason, acorda…

Mason se remexeu na cama, ainda sonhando com sua amada.

- Acorda, precisamos ir.

O sonho se dissipou e ele abriu os olhos. Aquela voz não era de Andrea. Jason estava vestido com suas tradicionais roupas pretas, dentes escovados e segurando duas malas de viagem pelas alças, parado ao lado da cama de Mason. Ele encarou o irmão esperando uma reação, mas tudo o que Mason fez foi bocejar e se virar para o outro lado. Jason soltou as malas no chão ao lado de seus pés e puxou o cobertor de cima do irmão que se encolheu com o frio matinal antes de se levantar para pegar o cobertor novamente.

- Acorda, droga. Mamãe está no carro esperando já tem meia hora. Agradeça que eu já tenha arrumado suas roupas, seu idiota. Agora levante daí - ralhou Jason ao irmão. As poucas vezes que ele falava com o irmão caçula era para brigar ou passar um sermão, na maioria das vezes só brigar mesmo.

Mason esfregou os olhos e se sentou na cama, coçou a cabeça e encarou o irmão mais velho.

- Onde estamos indo?

- Isso você vai ter que perguntar direto para a mamãe. Ela não me disse e creio que não vai te dizer também - respondeu Jason se virando e andando até a porta. - Se apresse.

Jason saiu do quarto levando as malas de viagem consigo. Mason se espreguiçou e se levantou da cama, foi até o banheiro no fim do corredor e tomou um banho rápido. Colocou roupas limpas, calças pretas, camisa e jaqueta preta e um coturno cinza escuro. Ele se olhou no espelho sobre a pia do banheiro e arrumou o cabelo antes de sair dando só uma bagunçada com os dedos e jogando tudo para o lado como ele fazia diariamente.

Saindo do dormitório masculino, Mason se dirigiu para a Arena, o lugar onde os alunos e instrutores treinavam artes marciais, tiro ao alvo com flechas e armas de fogo, além de facas, adagas, estrelas ninjas e outro objetos pontiagudos e cortantes. Também tinha a área de lutas corporais, não as artes marciais, mas sim lutas livres que valiam de tudo, desde golpes tradicionais entre as pernas a quebrar o braço do oponente, coisa que Mason fizera apenas uma vez durante uma aula com o instrutor Jackson, o instrutor mais novo da Academia Nephilim. E o mais letal. O homem responsável por ensinar tudo o que os irmãos Collins sabiam sobre a arte de matar.

Mason prometera não quebrar mais o braço de um amigo, mas a regra não valia à Jason caso os dois tivessem de lutar. Mason não quebraria apenas o braço do irmão, quebraria cada osso do corpo dele, apenas para descontar das brigas que Jason iniciara quando os dois eram mais jovens.

A Arena era como um galpão, como os outros prédios, a Arena estava ali há anos. As paredes altas de tijolos cinzas tinha janelas grandes e era dividida em três andares. O primeiro andar era como um salão de festas que, quando não tinha nenhuma festa, era usada como mais uma sala de treino corpo a corpo, mas o mesmo andar era dividido, tendo de um lado, uma piscina imensa que era usada para treinos e resistência debaixo da água. O segundo andar era onde ficava os estandes de tiro ao alvo. E o terceiro era onde ficavam as salas de treino de lutas e uma academia bem equipada para os alunos e instrutores.

Mason entrou na Arena pela porta principal e virou à direita onde havia uma escada que levava aos andares acima e um elevador que levava direto para a garagem subterrânea. Mason digitou sua senha no painel ao lado do elevador e a porta se abriu revelando o interior de aço. Ele desceu e encontrou sua mãe e seu irmão ao lado do carro de Amélia.

Havia vários carros ali, dezenas, tanto de instrutores quanto dos alunos, uns mais caros que outros, na maioria pretos, mas também tinha carros vermelhos, azuis, verdes, um Porsche branco… Mason sorriu ao ver o Porsche. Era o carro de Andrea. Enquanto ele andava até o BMW da sua mãe, seus pensamentos o levaram até Andrea e ele se perdeu neles.

- Até que enfim você chegou - reclamou Jason. - Achei que eu teria que voltar para te buscar.

Mason fingiu que o irmão não existia.

- Onde estamos indo? - perguntou Mason à mãe.

- Estamos indo para a casa da vovó.

- Por que? Temos aula, esqueceu?

- Eu já falei com os outros instrutores, eles acham que vocês estão avançados o suficiente para perder algumas aulas - argumentou Amélia. - E faz tempo que não vemos a vovó, ela está com saudades de vocês.

- Não pode deixar para ir no fim de semana?

- Não!

Mason havia perdido, não dava para argumentar com sua mãe, no final, era Amélia quem ganhava.

 Mason ajudou a mãe a colocar as malas no carro em seguida se instalou no banco de trás do carro, seu irmão no banco do passageiro e Amélia atrás do volante. Sua mãe tirou o carro da vaga e começou a dirigir pelo túnel que levava à saída. As paredes de concreto do túnel eram iluminadas por lâmpadas fluorescentes a cada três metros, com três metros de altura e quatro de largura. Ela percorreu todo o túnel devagar, cuidando com as curvas largas até o fim do túnel. 

Amélia apertou um botão no painel do carro e o portão que os separava do lado de fora começou a deslizar para cima. Mason se remexeu no banco de trás, fazia muito tempo desde a última vez que ele saíra. Ele não lembrava como era estar lá fora, rodeado de pessoas normais que não sabiam nada sobre o mundo estranho no qual ele vivia. Ele não sabia como devia estar se sentindo naquele momento, mas parte dele sentia como se estivesse abandonando o lar, mesmo que temporariamente. A outra parte queria conhecer pessoas novas, saber como era ter uma vida normal, comum… completamente diferente da dele e de sua família.

Jason por outro lado não via nada demais no mundo do lado de fora dos muros da Academia. Ele se lembrava bem de como era a vida fora daqueles muros e, pra ele, era como o inferno: mentiras, traições, medo, assaltos, estupros, mortes, prostituição…

Jason tentava não pensar muito em como era o mundo humano, o trabalho dele era libertar os humanos de qualquer ser sobrenatural que se voltasse contra eles, com ou sem motivo. Era esse o trabalho dos Hunters. Eles podiam sentir antes mesmo de ver as criaturas se esgueirando na escuridão. Era como um sexto sentido, com todos os outros mais aguçados do que os dos humanos. Os Hunters podiam ouvir melhor, ver melhor até mesmo à noite, até seu tato era melhor. Admitindo ou não, os Hunters eram superiores aos humanos. E os vampiros superiores aos Hunters.

Como em uma pirâmide, sempre havia alguém acima de quem achava que já estava no topo. Por um tempo até mesmo os Hunters acharam que reinavam sobre todas as espécies, mas a realidade não era como eles pensavam. Eles estavam acima dos lobisomens, mas abaixo dos vampiros. Abaixo dos anjos, mas acima dos demônios. E os feiticeiras ficavam ainda mais abaixo nessa pirâmide.

O futuro que Jason via para si era percorrendo o mundo caçando vampiros, lobisomens, feiticeiras, demônios e quaisquer outros seres que se virassem contra ele. Jason era completamente diferente de Mason. O que o irmão caçula queria para o seu futuro era estar nos braços da sua amada Andrea. Ele nem mesmo pensava nos perigos que se escondiam em cada viela.

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