Mason dormia profundamente em sua cama no dormitório masculino. Ele dormia no quarto ao lado de seu irmão, Jason. Os dois eram muito parecidos fisicamente, mas completamente o oposto um do outro em se tratando de personalidade. Jason, por exemplo era sempre quieto e gostava de ficar na dele, andava com os amigos, mas dificilmente puxava assunto, era inteligente e muito bonito. Jason havia puxado vários traços de seu pai, mas os olhos e cabelos escuros eram da mãe.
Mason também tinha os cabelos escuros, mas seus olhos eram castanhos claros com um leve toque de dourado e não pretos como os da mãe. Os dois irmãos eram grandes e fortes, devido aos treinamentos na Arena da Academia.
Eram quatro horas da manhã ainda. Mason puxou os cobertores até o queixo e se virou de lado. Em seu sonho ele viu a garota por quem estava apaixonado desde que a conhecera aos quinze anos quando a mãe dela a levou até a casa onde ele morava com a mãe.
Os cabelos louros de Andrea estavam soltos como no dia em que ele a viu pela primeira vez, seus olhos azuis brilhavam e ela sorria. Os dois estavam no quarto dela, no dormitório feminino, na ala Leste. Sentados na cama, Mason a beijou delicadamente nos lábios, colocando uma das mãos em seu pescoço e a outra na perna de Andrea, ele a empurrou para que ela deitasse e ele ficasse por cima dela...
- Mason, acorda…
Mason se remexeu na cama, ainda sonhando com sua amada.
- Acorda, precisamos ir.
O sonho se dissipou e ele abriu os olhos. Aquela voz não era de Andrea. Jason estava vestido com suas tradicionais roupas pretas, dentes escovados e segurando duas malas de viagem pelas alças, parado ao lado da cama de Mason. Ele encarou o irmão esperando uma reação, mas tudo o que Mason fez foi bocejar e se virar para o outro lado. Jason soltou as malas no chão ao lado de seus pés e puxou o cobertor de cima do irmão que se encolheu com o frio matinal antes de se levantar para pegar o cobertor novamente.
- Acorda, droga. Mamãe está no carro esperando já tem meia hora. Agradeça que eu já tenha arrumado suas roupas, seu idiota. Agora levante daí - ralhou Jason ao irmão. As poucas vezes que ele falava com o irmão caçula era para brigar ou passar um sermão, na maioria das vezes só brigar mesmo.
Mason esfregou os olhos e se sentou na cama, coçou a cabeça e encarou o irmão mais velho.
- Onde estamos indo?
- Isso você vai ter que perguntar direto para a mamãe. Ela não me disse e creio que não vai te dizer também - respondeu Jason se virando e andando até a porta. - Se apresse.
Jason saiu do quarto levando as malas de viagem consigo. Mason se espreguiçou e se levantou da cama, foi até o banheiro no fim do corredor e tomou um banho rápido. Colocou roupas limpas, calças pretas, camisa e jaqueta preta e um coturno cinza escuro. Ele se olhou no espelho sobre a pia do banheiro e arrumou o cabelo antes de sair dando só uma bagunçada com os dedos e jogando tudo para o lado como ele fazia diariamente.
Saindo do dormitório masculino, Mason se dirigiu para a Arena, o lugar onde os alunos e instrutores treinavam artes marciais, tiro ao alvo com flechas e armas de fogo, além de facas, adagas, estrelas ninjas e outro objetos pontiagudos e cortantes. Também tinha a área de lutas corporais, não as artes marciais, mas sim lutas livres que valiam de tudo, desde golpes tradicionais entre as pernas a quebrar o braço do oponente, coisa que Mason fizera apenas uma vez durante uma aula com o instrutor Jackson, o instrutor mais novo da Academia Nephilim. E o mais letal. O homem responsável por ensinar tudo o que os irmãos Collins sabiam sobre a arte de matar.
Mason prometera não quebrar mais o braço de um amigo, mas a regra não valia à Jason caso os dois tivessem de lutar. Mason não quebraria apenas o braço do irmão, quebraria cada osso do corpo dele, apenas para descontar das brigas que Jason iniciara quando os dois eram mais jovens.
A Arena era como um galpão, como os outros prédios, a Arena estava ali há anos. As paredes altas de tijolos cinzas tinha janelas grandes e era dividida em três andares. O primeiro andar era como um salão de festas que, quando não tinha nenhuma festa, era usada como mais uma sala de treino corpo a corpo, mas o mesmo andar era dividido, tendo de um lado, uma piscina imensa que era usada para treinos e resistência debaixo da água. O segundo andar era onde ficava os estandes de tiro ao alvo. E o terceiro era onde ficavam as salas de treino de lutas e uma academia bem equipada para os alunos e instrutores.
Mason entrou na Arena pela porta principal e virou à direita onde havia uma escada que levava aos andares acima e um elevador que levava direto para a garagem subterrânea. Mason digitou sua senha no painel ao lado do elevador e a porta se abriu revelando o interior de aço. Ele desceu e encontrou sua mãe e seu irmão ao lado do carro de Amélia.
Havia vários carros ali, dezenas, tanto de instrutores quanto dos alunos, uns mais caros que outros, na maioria pretos, mas também tinha carros vermelhos, azuis, verdes, um Porsche branco… Mason sorriu ao ver o Porsche. Era o carro de Andrea. Enquanto ele andava até o BMW da sua mãe, seus pensamentos o levaram até Andrea e ele se perdeu neles.
- Até que enfim você chegou - reclamou Jason. - Achei que eu teria que voltar para te buscar.
Mason fingiu que o irmão não existia.
- Onde estamos indo? - perguntou Mason à mãe.
- Estamos indo para a casa da vovó.
- Por que? Temos aula, esqueceu?
- Eu já falei com os outros instrutores, eles acham que vocês estão avançados o suficiente para perder algumas aulas - argumentou Amélia. - E faz tempo que não vemos a vovó, ela está com saudades de vocês.
- Não pode deixar para ir no fim de semana?
- Não!
Mason havia perdido, não dava para argumentar com sua mãe, no final, era Amélia quem ganhava.
Mason ajudou a mãe a colocar as malas no carro em seguida se instalou no banco de trás do carro, seu irmão no banco do passageiro e Amélia atrás do volante. Sua mãe tirou o carro da vaga e começou a dirigir pelo túnel que levava à saída. As paredes de concreto do túnel eram iluminadas por lâmpadas fluorescentes a cada três metros, com três metros de altura e quatro de largura. Ela percorreu todo o túnel devagar, cuidando com as curvas largas até o fim do túnel.
Amélia apertou um botão no painel do carro e o portão que os separava do lado de fora começou a deslizar para cima. Mason se remexeu no banco de trás, fazia muito tempo desde a última vez que ele saíra. Ele não lembrava como era estar lá fora, rodeado de pessoas normais que não sabiam nada sobre o mundo estranho no qual ele vivia. Ele não sabia como devia estar se sentindo naquele momento, mas parte dele sentia como se estivesse abandonando o lar, mesmo que temporariamente. A outra parte queria conhecer pessoas novas, saber como era ter uma vida normal, comum… completamente diferente da dele e de sua família.
Jason por outro lado não via nada demais no mundo do lado de fora dos muros da Academia. Ele se lembrava bem de como era a vida fora daqueles muros e, pra ele, era como o inferno: mentiras, traições, medo, assaltos, estupros, mortes, prostituição…
Jason tentava não pensar muito em como era o mundo humano, o trabalho dele era libertar os humanos de qualquer ser sobrenatural que se voltasse contra eles, com ou sem motivo. Era esse o trabalho dos Hunters. Eles podiam sentir antes mesmo de ver as criaturas se esgueirando na escuridão. Era como um sexto sentido, com todos os outros mais aguçados do que os dos humanos. Os Hunters podiam ouvir melhor, ver melhor até mesmo à noite, até seu tato era melhor. Admitindo ou não, os Hunters eram superiores aos humanos. E os vampiros superiores aos Hunters.
Como em uma pirâmide, sempre havia alguém acima de quem achava que já estava no topo. Por um tempo até mesmo os Hunters acharam que reinavam sobre todas as espécies, mas a realidade não era como eles pensavam. Eles estavam acima dos lobisomens, mas abaixo dos vampiros. Abaixo dos anjos, mas acima dos demônios. E os feiticeiras ficavam ainda mais abaixo nessa pirâmide.
O futuro que Jason via para si era percorrendo o mundo caçando vampiros, lobisomens, feiticeiras, demônios e quaisquer outros seres que se virassem contra ele. Jason era completamente diferente de Mason. O que o irmão caçula queria para o seu futuro era estar nos braços da sua amada Andrea. Ele nem mesmo pensava nos perigos que se escondiam em cada viela.
Amélia tentava prestar atenção na estrada à sua frente, mas os pensamentos de seus filhos entravam na sua cabeça sem permissão. Os pensamentos de Mason eram constrangedores, ele não parava de pensar em Andrea. Pelos pensamentos de seu filho, ele ainda era virgem, mas não demoraria muito até que ele e Andrea se unissem. Ele não parava de pensar nos lábios da garota que deixara para trás. Os pensamentos de Jason, por outro lado, eram mais sanguinolentos do que os do irmão mais novo. Ele pensava em guerra, quando tudo o que os Hunters queriam era paz. Ela freou de repente, as rodas do carro derrapando na rua de cascalho. - O que há com vocês? - perguntou ela, virando-se no banco para encarar ambos os filhos. Mason parecia perdido olhando pela janela, mas quando sua mãe falou ele a olhou. Ela estava linda como sempre. - Você estava fazendo aquilo de novo? - perguntou Jason bloqueando seus pensamentos. - Eu já disse que não consigo evitar, por isso
- Mãe... está acordada? - a voz de Mason vinha do corredor. Amélia vestiu-se rapidamente e atendeu a porta. Seu filho estava com o cabelo bagunçado, usava uma regata branca e uma calça de moletom cinza.- Tudo bem? - perguntou ela ao filho.Ela percebeu que ele hesitou, mas enfim falou com a voz rouca.- Não consegui dormir.- Teve um pesadelo?Mason assentiu com um gesto de cabeça.- Quer dormir aqui? - perguntou ela.- Se eu não for incomodar. - Ele entrou e se sentou na beira da cama. Amélia se sentou do seu lado e pegou na sua mão.- Se importa se eu ver? - perguntou ela. Ele balançou a cabeça. Amélia se concentrou e entrou na cabeça do seu filho, sondando, vendo o que ele sonhara que o deixara tão abalado.O que Amélia viu a fez chorar. Era uma falsa lembrança. Mason havia sonhado com seu pai. Mas o
※※※※25 de outubro.※※※※ Na quarta-feira, tia Stella me encontrou no meu quarto ardendo em febre e não me permitiu ir à escola. Eu havia dito que não era nada, mas ela não me deixou nem mesmo falar. Me deu alguns remédios e me deixou dormir quase o dia todo. Eu não sabia o que causara o mal-estar, mas depois do meio-dia eu acabei pondo todo o almoço para fora. Tenho certeza de que não era intoxicação alimentar, mesmo assim tia Stella insistiu em me levar ao médico naquele dia. O médico disse que não encontrou nada de errado comigo e, portanto, eu estava bem. Ele me deixou ir dizendo que eu não precisava faltar a aula no dia seguinte, mas que se me sentisse ruim novamente era para procurá-lo de novo. Tia Stella ligou para Sarah depois que voltamos do médico. Eu já estava melhor, bem o bastante para pôr todo o assunto em dia das matérias que eu havia perdido. Sarah havia dito que as aulas haviam sido o mesmo de sempre, nada de importante havia ac
※※※※ Querido diário. Acabo de ter mais um pesadelo. Ultimamente eles andam mais frequentes. Quase toda noite eu perco o sono, as vezes é apenas insônia, mas as vezes são os pesadelos que não me deixam dormir. Quero muito falar com alguém sobre isso, mas eu não tenho muitas opções. Sei que se eu contar à tia Stella ela vai querer que eu volte a fazer terapia, mas eu não quero falar com uma estranha sobre meus sonhos, isso é particular. Eu só quero alguém para desabafar, alguém que realmente possa me ajudar. Sarah é minha melhor amiga há cinco anos, mesmo assim ela não entende quando eu falo dos meus sonhos pra ela. Sarah não é formada em psicologia, então não pode me ajudar (não que eu queira um especialista na área). Eu achei que já tinha superado a morte dela. Mas eu não consigo parar de sonhar com Melanie, e ultimamente os sonhos estão se tornando mais frequentes. À
Dominic comia o jantar em silêncio, ele não era muito de falar, nem mesmo com a filha. A única pessoa com quem ele falava estava tomando banho no segundo andar, e iria demorar pelo menos mais meia hora até descer novamente, deixando a cozinha num silêncio estranho. Por sorte Dominic não quebrara a perna, mas estava mancando desde que acordara naquela manhã e estava usando uma bengala para conseguir se equilibrar. Seu rosto já estava melhor apesar da aparência cansada, mas ele ainda gemia de dor do ferimento da bala em sua barriga. Amélia se remexeu na cadeira e continuou comendo, sentada de frente para o seu pai, seus filhos estavam a sua direita e o lugar vago ao lado de seu pai pertencia à sua mãe, mas ela não estava com fome. Jason pigarreou. - Então, vovô… Como o senhor está? - Bem - respondeu Dominic. Curto e grosso. - Sabe que Mason pode ajudar. A ferida se cicatrizaria e não doeria mais… - Não, obrigado. Mason ch
Dominic estava calmo, ou pelo menos aparentava. Ver seu neto de joelhos à sua frente fez lembranças ruins voltarem a atormentá-lo. Ele não queria se lembrar de Michael. Ou mesmo de Mary. Mas ele tinha que fazer isso. Estava assustando Jason, claro. Seu neto nunca o tinha visto usar seu poder, e agora estava vendo-o usar contra ele. Mas seu poder iria fazê-lo esquecer daquela conversa toda, como se nada tivesse acontecido. Normalmente Dominic só usava seu poder em humanos que o pegava no flagra matando vampiros, ele nunca usara seu poder contra outro Hunter. Muito menos em alguém da família. O poder de Dominic era uma variação da telepatia, mas ao invés de ler pensamentos, ele conseguia acessar memórias, apaga-las, embaçá-las ou muda-las como bem queria. Ele tinha muitos anos de treinamento para conseguir controlar o seu poder. E tudo o que ele queria era acessar as memórias de Jason para saber o que o trouxera ali. “Mãe!” Gritou Jason mentalm
※※※※Querido diário.Os pesadelos têm piorado. A cada noite que se passa eu acho que estou ficando louca. Não sei o que está acontecendo comigo. Tenho medo. Sinto saudades. As lembranças de alguém que já viveu me atormentam. Por que ela não pode me deixar em paz para viver minha vida? O que ela quer de mim?Preciso de ajuda. Não alguém com quem conversar, mas sim, alguém que acabe de uma vez por todas com esses sonhos. É impossível, eu sei. Mas eu não quero ter que recorrer à ajuda psicológica novamente. Da primeira vez já foi um pesadelo ter que falar para uma estranha sobre o acidente e o que aconteceu comigo depois disso. A verdade é que eu nunca superei. Acho que nunca vou superar. É doloroso demais. Só de pensar nas coisas que Melanie e eu poderíamos ter f
Miranda puxou Amélia pelo braço até uma saleta, deixando Dominic sozinho no quarto com os meninos. Amélia só foi com sua mãe pois sabia que seu pai não tentaria mais machucar seu filho, nenhum deles. Nem tentar apagar ou vasculhar nenhuma memória. - Por que você não nos contou sobre Jason? - disparou Miranda depois de trancar a porta. - Ele me pediu que não contasse a ninguém da família. Alguns dos amigos dele da Academia sabem, mas eles não comentam com ninguém pois sabem do problema de Jason. - Que “problema”? Amélia respirou fundo, desviou os olhos por um segundo e voltou a olhar para sua mãe. - Ele não sabe usar o poder dele. O semblante de Miranda se contorceu de medo e ressentimentos. Fragmentos de pensamentos escorregaram para dentro da cabeça de Amélia e ela viu e pode entender o motivo do medo de sua mãe. - Ele ainda tem tempo para aprender a controlar - adiantou-se Amélia dando um passo para frente. Sua mãe a