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1 - CALLIE - CINCO ANOS ANTES

Aquela sexta-feira à noite estava calma demais. Os únicos sons que se podia ouvir era o ronco de George em uma das celas próximas da sala da policial Callie, que fora preso por ter sido pego dirigindo embriagado, e o tic-tac do relógio. Callie começou a cochilar depois das onze horas da noite, ela estava cansada, mas prometera ao xerife que passaria a noite toda na delegacia. O sono a venceu depois de duas horas sem ter o que fazer. Sentada em uma cadeira de frente para sua mesa super organizada, ela deitou a cabeça sobre os braços cruzados e adormeceu.

O telefone ao seu lado começou a tocar e ela levantou a cabeça, assustada. Esfregando o rosto, Callie pegou o telefone.

- Policial Johnson. Em que posso ajudar? - perguntou ela. O telefone chiou por uns segundos antes de uma voz feminina falar:

- Oi Callie, aqui é Vanessa Franklin.

- Oi Vanessa. Tudo bem? - perguntou Callie apoiando o rosto em uma das mãos e bocejando.

- Creio que não. Sabe aquela sua amiga, Mary Halloran, minha vizinha?

- O que tem ela?

- Estava tudo quieto na casa dela até uns minutos atrás e... - Um som horrível soou do outro lado do telefone, como uma explosão. Callie teve que afastar o telefone da orelha até o zumbido em sua cabeça parar. Alguns gritos foram ouvidos, parecia que Vanessa estava histérica, berrando ainda com o telefone na mão.

- O que foi isso? - gritou Callie.

- A casa... Ai meu Deus do céu! Está pegando fogo! - Vanessa chorava histericamente. Callie desligou o telefone na cara da amiga e se levantou.

Saindo da sua sala, Callie foi procurar os outros policiais que estavam de plantão com ela. Larry, Luke e Jhonny estavam na recepção tomando café em volta da mesa da nova secretária. Os três a paparicavam dizendo o quanto ela era bonita e que a recepção não era lugar pra ela, mas que eles estavam felizes de ter pelo menos um rosto bonito para olhar em suas horas de plantão.

O telefone na mesa da nova contratada começou a tocar e ela o atendeu no mesmo instante em que Callie chamava atenção de Jhonny.

- Jhonny! - gritou ela, fazendo seu parceiro de patrulha se virar. - Pegue o carro e me encontre na porta em cinco minutos - mandou ela.

- Assalto de novo? - quis saber ele.

- Incêndio na casa dos Halloran - respondeu a nova contratada, em seguida ela passou o endereço para Larry e Luke e ligou para os bombeiros para o caso de ainda não terem sido contatados.

Os policiais tentavam acalmar a vizinhança enquanto os interrogavam. O fogo já havia sido contido, mas ainda havia mulheres histéricas que choravam pela perda de seus vizinhos e amigos de longa data. Um acidente horrível tinha tirado suas vidas há apenas algumas horas.

Mais viaturas chegaram, pararam perto da calçada e dois policias saíram de cada carro.

- Sobreviventes? - perguntou a policial Callie, seu parceiro a seguiu até a ambulância onde havia uma jovem sendo atendida pelos paramédicos. Ela estava inconsciente.

- O nome dela é Megan Halloran, a única que conseguiu se salvar - disse um policial havia chegado ali pouco antes dela. - Ela vai passar um bom tempo no hospital, até se recuperar fisicamente. Mas a dor que ela vai sentir ao saber que perdeu a família toda vai acabar com ela. Já contatamos a tia dela.

- Quantos mortos? - quis saber Callie, ela tentava não chorar pela perda da sua amiga de infância, mas era difícil estando tão perto da menina órfã dentro da ambulância.

- Três. Os pais já foram identificados, mas o terceiro corpo está completamente queimado. Ainda não sabemos se é a irmã de Megan, mas tem a mesma altura dela. O cabelo, os dentes, os ossos e todo o resto viraram cinzas. O estranho é que ela não estava na cozinha nem perto da lareira na sala. Achamos o corpo em um dos quartos lá em cima. A casa explodiu antes que ela pudesse chegar à janela.

O oficial tinha uma expressão confusa, como se fosse impossível aquilo acontecer. Callie colocou uma mecha de cabelo castanho atrás da orelha e fungou, se alguém perguntasse ela poderia dizer que a fumaça dos destroços na calçada estava fazendo seu nariz arder. Como policial ela não podia ficar chorando na frente dos civis.

- Policial Callie? - chamou uma voz atrás dela, fazendo-a se virar. Era Stella Halloran, irmã mais velha de Garyson, tia de Megan.

Stella estava chorando, ela não precisava esconder suas lágrimas de quem estivesse ali para ver. Ela acabara de perder o irmão, a cunhada e a sobrinha, Callie podia sentir seu desespero, seu medo, sua tristeza. Ela lembrou de quando outro acidente, também envolvendo fogo, matou sua única filha alguns anos antes. Ainda segurando as lágrimas, Callie abraçou Stella e deixou que ela chorasse pelas duas.

- Você precisa ser forte. Megan vai precisar de você - disse Callie depois de uns minutos.

- Eu não posso fazer isso. Ela precisa de alguém que a ajude a superar a perda e não alguém que piore tudo. - Stella fungou e secou as lágrimas com a manga da blusa. - Eu não sou a melhor pessoa pra cuidar dela agora…

- Você é a única pessoa que ela tem.

- E a irmã de Mary? Megan é responsabilidade de Amélia agora.

- Ela desapareceu há anos, você sabe. E ela não é nem de longe a melhor pessoa para cuidar da sua sobrinha - enfatizou Callie, quase podia se ouvir o medo e a tristeza em sua voz, mas mesmo que Callie tivesse gritado, Stella não saberia, ela nem perceberia pois estava ocupada com sua própria dor. Ela ainda não havia superado a perda do seu outro irmão que morrera dois anos antes e a morte precoce dos seus pais um ano antes. Agora ela se sentia sozinha, e tinha que cuidar de sua sobrinha de doze anos que perdera os pais e a irmã gêmea. A adolescente choraria tanto quanto ela nas próximas semanas.

Stella fungou e foi até a ambulância, entrando e deixando que um dos bombeiros fechasse a porta pra ela, então ela e a sobrinha foram levadas para o hospital.

Callie tinha que terminar seu turno aquela noite, mas prometeu a si mesma que passaria no hospital para ver como a menina estava, até lá ela já deveria estar acordada.

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