Kate
Depois de uma noite mal dormida, sem conseguir afastar os pensamentos sobre Daniel, aproveito as férias da faculdade para descansar. Estou sentada na espreguiçadeira em frente ao jardim, lendo Crepúsculo. Embora o livro seja maravilhoso, minha mente está distante, perdida em lembranças daquela noite. A decisão de ir atrás de Daniel ainda ressoa dentro de mim, me deixando inquieta.
À tarde, meu pai chega do trabalho. Dou-lhe um sorriso e um beijo carinhoso no rosto, e ele me abraça, beijando minha testa. Ele sempre foi assim, afetuoso, mas ao mesmo tempo distante, preso à sua própria tristeza. Mesmo com a agitação que sinto por causa de Daniel, eu disfarço. Aprendi com meu pai a esconder meus verdadeiros sentimentos, a mostrar serenidade em qualquer situação. Ele busca meus olhos, e mesmo com a ansiedade me consumindo, dou-lhe um sorriso tranquilo.
Olho para ele, naquele terno negro, parecendo mais um CEO poderoso do que um simples vendedor de carros. Mas há algo em sua postura que me chama atenção: ele está cansado. Algo está pesando sobre ele.
— Vai sair hoje? — Ele pergunta, tentando disfarçar a preocupação em sua voz.
— Não sei. Karen talvez me chame para ir à casa dela. E o senhor? — Respondo, tentando manter a conversa leve, mas minha mente ainda está focada em Daniel.
Ele se j**a no sofá, com aquele ar cansado que nunca me engana. Observo-o, com seus sessenta anos, e a dor da solidão que ele carrega desde a morte de minha mãe, há seis anos. A mulher com quem ele estava saindo recentemente não deu certo, e eu sei por que. Pergunto, só para ouvir de sua boca o que já sei.
— Pai, por que não deu certo com Eleonora? — Minha voz sai suave, mas há uma preocupação em meu tom.
Ele dá de ombros, com aquele olhar distante.
— Ela começou a implicar com meus amigos. — Ele diz com desdém.
Sim, é isso. Ele trocou a mulher pela vida boêmia. Isso me incomoda. Estou preocupada com ele. Ele já vendeu nosso carro bom, comprou um inferior e disse que os negócios andam péssimos. Mas estamos em Miami, não em Las Vegas. Sei que ele tem frequentado lugares de jogatina, e me pergunto se ele tem perdido dinheiro com isso.
— Ele está perdendo dinheiro no jogo? — Essa dúvida me consome, mas não faço a pergunta em voz alta. Só respiro fundo, tentando me acalmar.
— Bem, vou tomar banho. Estou morto de cansado. Sábado poderemos sair juntos. O que acha de irmos ao cinema? — Ele tenta mudar de assunto, sorrindo de maneira afetuosa.
— Acho ótimo! — Respondo, tentando passar uma animação que não sinto de verdade.
Ele acena com a cabeça, satisfeito. E então, como se a conversa sobre Eleonora tivesse desaparecido, ele me dá uma nova "sugestão".
— Ah, domingo iremos na casa de John.
Ah, não! O sonho do meu pai é que eu me case com a almofadinha do filho dele, só porque ele tem dinheiro. Ele não entende que Jake Cash tem todas as mulheres que quiser. Ele nunca olharia para mim, filha de um vendedor de carros.
— Tudo bem. — Digo, tentando não demonstrar o quanto essa ideia me incomoda.
— Já percebi que você não gosta muito de ir lá... — Ele diz, como se me acusasse de algo.
— Pai, não é questão de não gostar. Apenas me é indiferente. — Respondo, mas a palavra "indiferente" soa mais dura do que eu gostaria.
— Você quer dizer que Jake Cash é indiferente para você. — Ele insiste, e eu balanço a cabeça, cansada da conversa.
— Pai, acorda. O cara pode ter qualquer mulher que quiser. Você acha que ele está interessado em uma garota normal como eu? — Eu não consigo mais me segurar, a frustração transparecendo na minha voz.
Ele me encara, surpreso, como se fosse impossível para ele entender que eu não me sinto atraída por Jake.
— Filha, você já se olhou no espelho? Você é linda. Sabe qual é o seu problema? Você passa uma imagem desinteressante.
Eu respiro fundo, tentando manter a calma, mas sua observação me irrita profundamente.
— Como assim? — Pergunto, tentando entender a lógica por trás de suas palavras.
— Preciso explicar? Você não usa seus lindos vestidos. Vai comigo vestida de velha. Poderia pôr algo mais atraente. Um que condiz com a sua idade. Você tem 18, não 60.
A risada me escapa antes que eu possa me conter. Não consigo segurar a gargalhada como uma colegial.
— Pai, o senhor já me perguntou se eu gosto dele? Pois eu não gosto. Essa é a verdade.
Ele me olha, incrédulo.
— Por que você não gosta? O rapaz é um brilhante advogado e herdeiro da Branily. Uma das maiores indústrias têxteis do país.
— Eu sei de tudo isso, pai. Não precisa repetir. — Digo, tentando não deixar transparecer o quanto estou cansada desse assunto.
— Querida, ele é um partidão. Conheça-o, sem compromisso. Ele está solteiro no momento.
Solteiro no momento? Meu pai quer que eu seja o quê? A nova namoradinha descartável do Jake? Não, obrigado.
— Está certo, papai. — Respondo, sem mais forças para discutir.
— Bem, vou tomar banho. Você ficará bem? — Ele pergunta, com aquele olhar culpado, como se a responsabilidade do que aconteceu entre nós fosse minha.
— Sim. — Respondo, embora não goste de vê-lo sair. Mas, hoje, não me importo. Na verdade, quero que ele saia e chegue bem tarde. Quero ficar sozinha. Quero estar em casa quando Daniel aparecer.
E, de alguma forma, sei que ele vai aparecer.
Vestindo apenas um short de corrida e tênis surrados, corro pela calçada, mas o crepúsculo à minha frente passa despercebido. O céu vai escurecendo, mas nem mesmo o brilho laranja do sol se põe consegue desviar minha atenção do turbilhão que toma conta de mim. Hoje é um daqueles dias em que a inquietação me consome, como se todo o peso do mundo estivesse sobre meus ombros. Então, corro. Corro para afastar os pensamentos que não param de se amontoar, corro para afogar minhas mágoas, para exorcizar essa raiva e essa solidão que me cercam. Corro até meus músculos doerem, até os pulmões gritarem por ar.Pauso, ofegante, e apoio as mãos nas pernas, puxando o ar com força, tentando recuperar o fôlego. O calor me envolve, a camisa grudada nas costas, o suor escorrendo pelo rosto. Olho para a rua e ela parece tão vazia quanto minha alma. Não há ninguém por perto. Só o som da minha respiração pesada quebrando o silêncio da noite que começa a cair.Depois de um tempo, sigo novamente. Continuo c
Eu já esperava uma reação como a dele, mas isso não significa que não me afete. Ao vê-lo parado, estático, o seu olhar fixo em mim com aquela expressão de conflito, eu fico corada. Meus lábios se entreabrem e uma respiração ofegante escapa sem querer. Ele não se move, como se as palavras que estou prestes a dizer pesassem mais que qualquer gesto.— Você sabe o que eu quero. Você! — Minha voz sai mais suave do que eu gostaria, mas a intensidade que sinto dentro de mim me faz parecer mais vulnerável do que o normal.Daniel continua parado, com os olhos em mim, sem conseguir desviar o olhar. Ele parece tão... distante, como se estivesse em guerra consigo mesmo, tentando entender o que está acontecendo. E então, ele fala, e suas palavras me cortam.— Eu? — Ele solta, sua voz carregada de incredulidade. — Dê uma olhada em tudo. É isso que eu sou e tenho a oferecer.Eu respiro fundo, como se aquelas palavras não me tocassem, mas elas me fazem questionar. Quando olho ao redor, vejo o que ele
— Eu sei. — Minha voz sai calma, quase como uma resposta que não precisa de mais palavras.Eu sei o que ele está dizendo, e, de algum modo, isso só me faz querer mais. Quero entrar no seu mundo, quero entender. Mesmo que ele ache que não tem nada a oferecer, eu sei que há mais nele do que qualquer lugar ou condição poderia mostrar.— Sabe? O que faz aqui então? Sexo? É isso que quer de mim? É esse tipo de emoção que veio procurar? — Ele questiona, os olhos se fixando nos meus, procurando alguma resposta que ele provavelmente teme encontrar.Suas palavras me ferem, me desafiam, mas não me afastam. Pelo contrário. Elas só me fazem mais determinada.— Não. Eu gosto de você e te levo a sério, apesar de toda essa feiura ao seu redor. — Digo, a intensidade da minha voz revelando a verdade que eu mesma mal consigo acreditar.Eu vejo a surpresa no rosto dele, o modo como ele parece atordoado, como se não soubesse o que fazer com as palavras que saem da minha boca. Ele balança a cabeça em nega
DanielÉ difícil ter força de vontade e lembrar por que não quero me envolver com Kate quando ela me beija desse jeito. Sinto meu corpo todo reagir; meus lábios, que deveriam afastá-la, acabam cedendo. Liberto minha boca dela por um segundo, tentando colocar algum espaço entre nós, mas antes que eu consiga expressar meu arrependimento, ela me puxa de volta, colando nossos corpos outra vez. Suas mãos firmes me envolvem, e eu sinto meu desejo crescer, latejando de uma maneira que chega a doer.Seus lábios são quentes, úmidos, e se movem sobre os meus com uma necessidade que me desarma. Mesmo louco de desejo, luto contra isso. Tento reunir argumentos para afastá-la, mas minha mente está um caos. Droga! Ela é jovem, recém-saída da adolescência, ingênua demais para entender no que está se metendo. Mesmo que eu tenha apenas dois anos a mais, já vivi o suficiente para saber que essa vida é uma selva. Eu não posso me iludir com ela, nem deixá-la se iludir comigo.Seguro seus braços e a afasto
Quando ele me manda embora, o chão simplesmente desaparece sob os meus pés. O meu coração não está acelerado pelo desejo, mas pela dor que dilacera, uma dor que vem das palavras cruéis dele. Ele está ali, parado, com o olhar fechado, quase gélido, e eu vejo os ombros tensos, a respiração entrecortada, como se estivesse se contendo para não explodir em algo que pudesse destruir ainda mais o que restou.A minha voz sai trêmula, mas faço questão de que ela soe firme, tentando disfarçar a ferida que sangra dentro de mim.— Você é um covarde, Daniel — eu atiro, sem esconder a dor e a raiva que queimam por dentro. — É isso o que você é. Está se escondendo atrás de desculpas, me afastando porque é mais fácil do que admitir que você tem medo. Medo de se entregar, medo de sentir, medo de que eu veja quem você realmente é. — as minhas palavras são lâminas afiadas, e eu sei que estou ferindo, porque é a única defesa que me resta contra a dor que ele me causou.Ele fecha os olhos, respirando fund
DanielMe deito cedo hoje. São dez da noite, e já estou na cama, exausto. Mas exausto de verdade! Sempre ouvi dizer que o que está ruim pode piorar, e é exatamente isso que tenho vivido. Por sorte — e muita luta — consegui pagar o aluguel este mês. Foi uma batalha, literalmente. Meu rosto, que por semanas pareceu o de um monstro, começa a se recuperar. Antes eu estava mais parecido com o filho do Frankenstein. Agora, os hematomas estão mais claros, num tom esverdeado feio, mas pelo menos melhorando.O dono do restaurante onde trabalho começou a implicar comigo. Ele me julga um arruaceiro por causa das marcas no rosto. Precisei explicar que luto em ringues improvisados para ganhar um extra e conseguir pagar as contas. Francisco Valverde, o chefe, é um homem grosso. Me mandou ficar escondido na cozinha e sair pelos fundos quando terminasse o serviço, para não assustar os clientes.Fecho os olhos, e o pensamento inevitavelmente vai para Kate. Ela tem estado nos meus pensamentos o tempo t
Dançamos até nossas pernas cederem. O som alto, as luzes piscando, tudo parece perfeito para fugir um pouco da realidade. Karen, por outro lado, está ocupada se deixando levar pelo charme de Jake. Eles logo se afastam para um canto, conversando animadamente. Preciso avisá-la sobre ele, mas sinto que ela não vai querer me ouvir agora. Jake troca de mulheres como troca de roupa, e eu não quero vê-la magoada.Ela acena para mim, chamando. Vou até lá, tentando disfarçar a preocupação.— Eu já estou indo embora — digo.— Já? — Karen pergunta, surpresa.— Está cedo ainda — Jake sorri para mim, aquele sorriso casual que ele sempre usa. — Como dizem, a noite é uma criança.— Então é uma criança levada — respondo, forçando um sorriso.Karen franze a testa e comenta:— Você está sem carro, esqueceu? Eu que te trouxe.Droga. Esqueci completamente disso. Sinto o olhar de Jake passando de mim para Karen, como se avaliasse a situação.— Por que não empresta o carro para Kate e eu te levo para casa?
Jason nos conta sobre a sua fazenda, chamada Caminho do Céu. Achei hilário, porque a primeira coisa que me vem à mente é um cemitério, mas consigo disfarçar e apenas dou uma risadinha.— Todo mundo tem essa reação — ele comenta, percebendo o meu sorriso contido. — As pessoas sempre acham que parece nome de cemitério.— E não é para menos — admito, rindo.Olho ao redor e percebo que Karen não voltou ainda. Parece que ela gostou de estar na companhia de Jake.— Então, Jake e Jason, o que vocês fazem? — Karen pergunta, assim que retorna à mesa.Jake toma um gole de sua vodca e responde:— Sou advogado.— Hum, linda profissão — Karen comenta, sorrindo. Ela se vira para Jason. — E você, Jason? Pelo visto, é capataz.Jake gargalha, surpreso com a ingenuidade dela.— Na verdade, ele é o dono da fazenda, ele administra tudo por lá — explica Jake, rindo e tomando mais um gole.Jason dá um sorriso modesto.— Mas sou capataz também, faço de tudo um pouco por lá. Quando você tem uma fazenda, prec