— Cala a boca!Sua voz ressoa como um trovão pelo quarto, e um gemido débil escapa dos meus lábios, atingida pela força de suas palavras. Por um instante, sinto o impacto do seu tom cortante. Deveria estar chateada com a sua grosseria, mas não consigo. Em vez disso, reconheço a dor por trás da sua raiva, a mágoa de alguém que cresceu sem o amor de um pai e viveu toda a vida carregando esse vazio.— Fico me perguntando... Se eu não tivesse tomado uma atitude radical, tirado você do escritório e te levado à mansão à força, eu jamais saberia da existência do meu filho, não é mesmo?Seus olhos brilham com uma mistura de frustração e incredulidade, como se tentasse processar o peso da situação.Me aproximo dele, cada passo mais pesado, como se meu coração carregasse o peso de uma vida inteira de arrependimentos. Quando finalmente estou perto, envolvo-o em um abraço, tentando transmitir tudo o que não consigo dizer em palavras. Ele, porém, permanece imóvel. Os seus braços pendem ao lado do
Pessoas que nunca vi antes se amontoam na entrada. Jovens rapazes, mulheres e garotas formam um pequeno grupo, ansiosos por vê-lo. Entre elas, meus olhos são atraídos por uma garota de feições exóticas, com algo em sua aparência que me faz pensar em raízes espanholas ou cubanas. E, claro, Rose também está lá.Daniel, com aquele sorriso carismático que parece abrir portas e corações, é rapidamente cercado. Abraços, risos e cumprimentos o envolvem, criando uma energia quase palpável na sala. Mas é impossível não notar Rose, cujo sorriso é o mais radiante entre todos. É claro que ela sabe nossa história.A sala fervilha de curiosidade. Cada pessoa parece ávida por entender a transformação repentina na vida de Daniel. Perguntas são disparadas de todos os lados, enquanto ele responde com paciência e aquele charme natural.No canto da sala, meu pai permanece em silêncio, segurando Michael nos braços. Seus olhos estão fixos em Daniel, mas seu rosto entrega um turbilhão de pensamentos que ele
Deus! Eu o amo tanto...estou tão feliz...E pensar que quase acabei com tudo...Daniel começa a me beijar vagarosamente, enquanto me traz mais para perto de si. Ele tem uma forma suave de beijar, saborear.Cheia de desejo, ergo minha cabeça para ele e as nossas bocas se unem. De repente tudo entre nós vai ficando mais selvagem, ansioso, o beijo e as nossas mãos. Num gesto rápido, Daniel me pega no colo e me deposita na cama. Eu estremeço com a colcha gelada no meu corpo quente. Ele logo vem sobre mim e me aquece. Seus lábios correm o meu corpo, deixando um rastro de fogo e isso me excita com a força de um vulcão.Ele então olha para mim e confessa:—Quero que saiba que não tive mulher nenhuma antes de você e nem depois de você...Eu abro bem meus olhos e o encaro surpresa, a emoção toma conta de mim e sinto as lágrimas anuviando os meus olhos. Daniel paira sobre mim e a enxuga com os lábios e eu o abraço, o aperto, como se nunca mais fosse soltá-lo. Deus, eu não o mereço...Ele toma
DanielAndrew está visivelmente desconfortável, mas mantém a postura ereta, como se sua rigidez pudesse mascarar o incômodo. Aproveito o momento para iniciar a conversa que sei ser inevitável.— Senhor Andrew, hoje é um dos dias mais importantes da minha vida. Sempre amei sua filha, mas por muito tempo me senti indigno de estar ao lado dela. Quando o senhor me pediu para me afastar, respeitei sua decisão. Entendi que o senhor queria protegê-la, garantir o melhor para ela.Pauso, avaliando sua reação. Ele me observa, atento, mas não diz nada. Continuo, agora com mais emoção na voz.— Meses depois, quando Kate me procurou, confesso que até eu me perguntei o que ela viu em mim. Mas o que o senhor fez... vejo como um gesto de amor paterno. No fundo, admirei isso. Gostaria de ter tido alguém que me protegesse da mesma forma. Por isso, para mim, o que aconteceu entre nós já ficou para trás. Quero tê-lo como o pai que nunca tive. Isso só depende do senhor, porque o meu coração está aberto.A
Eu estive apaixonada por Daniel Stefano desde os meus quinze anos. Sentada na varanda da minha casa, eu observava ele cuidando do jardim. A primeira coisa que notei foi o quanto ele era alto. Eu sempre gostei de caras altos. E o cabelo... Negros, despenteados de uma forma que só aumentava o seu charme.Ele trabalhava duro, e dava pra ver o esforço em cada movimento. O sol batia em seu rosto, e o suor escorria pela sua testa enquanto ele aparava a grama ou podava as plantas. Daniel era um garoto de dezenove anos que nunca, nem por um segundo, parecia notar a minha existência. Quando seus olhos, sempre desinteressados, se cruzavam com os meus, eu sentia um arrepio me percorrer dos pés à cabeça. Ao contrário dele, eu não conseguia esconder o quanto ele mexia comigo.O tempo passou, mas lá estava eu, sempre atenta a ele, escondida atrás das cortinas, das árvores, do carro. Era um hábito, uma espécie de ritual, observá-lo de longe, enquanto ele se transformava de um garoto para um homem. V
De repente, me olho novamente no espelho. Vesti um traje comportado para evitar olhares curiosos, mas a verdade é que, mesmo assim, ainda me sinto sensual. Tento tirar essa sensação. Prendo um cacho rebelde para afastá-lo do rosto e solto um suspiro longo. Pronto. Está feito.Com as mãos trêmulas, mas decidida, paro de me encarar no espelho. Visto uma blusa de linha preta, pego minha bolsa e vou para a sala. Prefiro não arriscar sair com o meu carro — meu pai pode notar. Em vez disso, ligo para a central de táxis, aliviada quando o veículo chega em poucos minutos.O trajeto é longo. Parto da zona Norte, um bairro de classe média, para o extremo oposto na zona Sul, onde Daniel mora. É um lugar que só conheço de nome, nunca estive lá. Quando o táxi finalmente para, sinto o impacto imediato do cenário: ruas escuras, lixo espalhado, muros cobertos de pichações. O contraste me assusta, mas não o suficiente para me fazer voltar atrás.— Tem certeza de que é aqui? — pergunta o taxista, perce
Ele me encara como se tivesse levado um soco no estômago.— Atrás de mim? — Ele pergunta, ainda sem entender.Demoro um pouco para responder. Tomo fôlego, sinto meu coração bater acelerado.— Sim. Quando a Rose mencionou essa festa, achei que seria uma chance de falar com você, saber como você está.Os olhos de Daniel se estreitam e uma expressão angustiada toma conta do seu rosto.— Bem, já matou sua curiosidade. Como pode ver, estou bem — ele diz, com um sorriso forçado.— O que você tem feito? — insisto, ignorando seu tom distante.Ele sorri de canto, e seus olhos deslizam lentamente dos meus olhos para os meus lábios, como se estivesse tentando decifrar o que eu realmente quero. Então ele volta a olhar para mim, mais sério.— Sério isso, Kate? — Ele questiona, levantando uma sobrancelha. — Olha, seja lá qual tenha sido sua intenção ao vir aqui, nossos mundos são bem diferentes. Dá pra ver isso no seu jeito, na sua pele macia, no seu perfume delicado. Cada detalhe diz que você não
Eu me afasto, evitando seus olhos, porque sei que, se olhar para ela agora, vou ceder novamente. Sem pensar muito, pego o capacete da moto. Colocá-lo me dá uma desculpa para esconder meu rosto, para bloquear a intensidade do olhar dela.Ligo a moto e acelero antes que possa mudar de ideia, o rugido do motor preenchendo o silêncio que deixei para trás. A estrada à minha frente é apenas uma fuga, mas não consigo escapar da sensação dela, do gosto dela, da lembrança de como ela fez o mundo inteiro desaparecer por alguns segundos.Enquanto me afasto, algo dentro de mim me diz que essa batalha está longe de terminar.Não voltei para a festa. Peguei a estrada sem destino, sem saber exatamente onde ir, até que algo me impulsionou a seguir para o Larry and Penny Thompson. Estacionei minha moto na frente do parque, tirei o capacete e o de Kate do meu braço, colocando-os no banco da moto, como se fosse possível deixar toda a confusão ali. Mas, não. A noite cai e, no silêncio, eu caminho até a p