DanielÉ difícil ter força de vontade e lembrar por que não quero me envolver com Kate quando ela me beija desse jeito. Sinto meu corpo todo reagir; meus lábios, que deveriam afastá-la, acabam cedendo. Liberto minha boca dela por um segundo, tentando colocar algum espaço entre nós, mas antes que eu consiga expressar meu arrependimento, ela me puxa de volta, colando nossos corpos outra vez. Suas mãos firmes me envolvem, e eu sinto meu desejo crescer, latejando de uma maneira que chega a doer.Seus lábios são quentes, úmidos, e se movem sobre os meus com uma necessidade que me desarma. Mesmo louco de desejo, luto contra isso. Tento reunir argumentos para afastá-la, mas minha mente está um caos. Droga! Ela é jovem, recém-saída da adolescência, ingênua demais para entender no que está se metendo. Mesmo que eu tenha apenas dois anos a mais, já vivi o suficiente para saber que essa vida é uma selva. Eu não posso me iludir com ela, nem deixá-la se iludir comigo.Seguro seus braços e a afasto
Quando ele me manda embora, o chão simplesmente desaparece sob os meus pés. O meu coração não está acelerado pelo desejo, mas pela dor que dilacera, uma dor que vem das palavras cruéis dele. Ele está ali, parado, com o olhar fechado, quase gélido, e eu vejo os ombros tensos, a respiração entrecortada, como se estivesse se contendo para não explodir em algo que pudesse destruir ainda mais o que restou.A minha voz sai trêmula, mas faço questão de que ela soe firme, tentando disfarçar a ferida que sangra dentro de mim.— Você é um covarde, Daniel — eu atiro, sem esconder a dor e a raiva que queimam por dentro. — É isso o que você é. Está se escondendo atrás de desculpas, me afastando porque é mais fácil do que admitir que você tem medo. Medo de se entregar, medo de sentir, medo de que eu veja quem você realmente é. — as minhas palavras são lâminas afiadas, e eu sei que estou ferindo, porque é a única defesa que me resta contra a dor que ele me causou.Ele fecha os olhos, respirando fund
DanielMe deito cedo hoje. São dez da noite, e já estou na cama, exausto. Mas exausto de verdade! Sempre ouvi dizer que o que está ruim pode piorar, e é exatamente isso que tenho vivido. Por sorte — e muita luta — consegui pagar o aluguel este mês. Foi uma batalha, literalmente. Meu rosto, que por semanas pareceu o de um monstro, começa a se recuperar. Antes eu estava mais parecido com o filho do Frankenstein. Agora, os hematomas estão mais claros, num tom esverdeado feio, mas pelo menos melhorando.O dono do restaurante onde trabalho começou a implicar comigo. Ele me julga um arruaceiro por causa das marcas no rosto. Precisei explicar que luto em ringues improvisados para ganhar um extra e conseguir pagar as contas. Francisco Valverde, o chefe, é um homem grosso. Me mandou ficar escondido na cozinha e sair pelos fundos quando terminasse o serviço, para não assustar os clientes.Fecho os olhos, e o pensamento inevitavelmente vai para Kate. Ela tem estado nos meus pensamentos o tempo t
Dançamos até nossas pernas cederem. O som alto, as luzes piscando, tudo parece perfeito para fugir um pouco da realidade. Karen, por outro lado, está ocupada se deixando levar pelo charme de Jake. Eles logo se afastam para um canto, conversando animadamente. Preciso avisá-la sobre ele, mas sinto que ela não vai querer me ouvir agora. Jake troca de mulheres como troca de roupa, e eu não quero vê-la magoada.Ela acena para mim, chamando. Vou até lá, tentando disfarçar a preocupação.— Eu já estou indo embora — digo.— Já? — Karen pergunta, surpresa.— Está cedo ainda — Jake sorri para mim, aquele sorriso casual que ele sempre usa. — Como dizem, a noite é uma criança.— Então é uma criança levada — respondo, forçando um sorriso.Karen franze a testa e comenta:— Você está sem carro, esqueceu? Eu que te trouxe.Droga. Esqueci completamente disso. Sinto o olhar de Jake passando de mim para Karen, como se avaliasse a situação.— Por que não empresta o carro para Kate e eu te levo para casa?
Jason nos conta sobre a sua fazenda, chamada Caminho do Céu. Achei hilário, porque a primeira coisa que me vem à mente é um cemitério, mas consigo disfarçar e apenas dou uma risadinha.— Todo mundo tem essa reação — ele comenta, percebendo o meu sorriso contido. — As pessoas sempre acham que parece nome de cemitério.— E não é para menos — admito, rindo.Olho ao redor e percebo que Karen não voltou ainda. Parece que ela gostou de estar na companhia de Jake.— Então, Jake e Jason, o que vocês fazem? — Karen pergunta, assim que retorna à mesa.Jake toma um gole de sua vodca e responde:— Sou advogado.— Hum, linda profissão — Karen comenta, sorrindo. Ela se vira para Jason. — E você, Jason? Pelo visto, é capataz.Jake gargalha, surpreso com a ingenuidade dela.— Na verdade, ele é o dono da fazenda, ele administra tudo por lá — explica Jake, rindo e tomando mais um gole.Jason dá um sorriso modesto.— Mas sou capataz também, faço de tudo um pouco por lá. Quando você tem uma fazenda, prec
Abro os meus olhos, ainda sonolenta. A claridade da manhã invade o meu quarto, mas não me apresso a levantar. Hoje é sábado, o dia da tão comentada festa na casa de Jake. Meu pai, empolgado como nunca, quase flutua pela casa com a ideia de que talvez haja algo entre eu e Jake. Mal sabe ele que Jake provavelmente estará com Karen hoje à noite.Decido não esclarecer nada para ele. Para quê? Para ele me atormentar com perguntas e comentários? E, sinceramente, nem sei se Jake estará mesmo com Karen. É bem capaz de ele aparecer com outra acompanhante. Karen me ligou ontem de novo para confirmar se vamos juntas. Na verdade, passamos a semana inteira conversando sobre a festa. Ou melhor, ela passou a semana inteira falando. Especulou sobre como seria a casa de Jake, os pais dele, e tudo mais. Ela está tão animada... Bem diferente de mim.Não que eu esteja desanimada, mas me sinto em um meio termo. Talvez por ainda carregar aquele gosto amargo de quando não deu certo com Daniel. Meu coração p
Provo o ponche e sou surpreendida pelo sabor intenso de abacaxi, com pequenos pedaços da fruta que se misturam delicadamente ao frescor da hortelã. O açúcar está na medida certa, doce sem ser enjoativo.— Hum, aprovado! Está realmente muito bom! — digo, lambendo os lábios.Jason abre um sorriso satisfeito.— Que bom que gostou. Fui eu que fiz.— Sério? — Olho para ele com surpresa e admiração.Karen, que até então estava ao nosso lado, parece perceber o clima entre nós e decide se afastar.— Vou dar uma circulada — ela diz, tentando sorrir.Assinto, entendendo que ela precisa de um momento sozinha.Jason me observa, intrigado.— O que há com ela? Não parece muito animada.— Ah, impressão sua — respondo, não querendo entrar em detalhes. Sei que ela ainda está processando a cena de Jake com outra garota.Jason se aproxima um pouco mais, os olhos cor de mel fixos em mim.— Você está linda — diz ele, analisando meu visual. — Adorei esse estilo roqueira.— Verdade? Mesmo quando estamos rod
A hesitação toma conta de mim por um instante, meus pensamentos voam imediatamente para Daniel. Até quando vou me deixar ser assombrada por lembranças do que não deu certo? Jason percebe minha dúvida e franze o cenho, preocupado.— O que foi? — ele pergunta suavemente, tentando entender.Fecho os olhos por um segundo, tomada por uma decisão. Dou uma pequena sacudida na cabeça, afastando os fantasmas do passado.— Nada, está tudo bem. Pode ligar — respondo finalmente, forçando um sorriso.Os olhos de Jason se iluminam, e ele sorri largo, visivelmente aliviado.— Ótimo! — Ele diz, com uma expressão de alívio que se transforma em algo mais intenso.Por um momento, sinto a tensão no ar. Ele olha para a minha boca, claramente querendo me beijar. Meu coração acelera, mas, instintivamente, viro o rosto, oferecendo a bochecha. Jason hesita por uma fração de segundo antes de depositar um beijo suave ali. Quando se afasta, vejo em seus olhos uma mistura de compreensão e desapontamento, como se