A imponente estrutura vibrava com euforia; uma cúpula colorida, repleta de vida e luzes cintilantes. No centro do picadeiro, o apresentador, um homem de energia contagiosa, anunciava entusiasmado a minha chegada. Eu podia ouvir a plateia, tomada por uma tempestade de emoção, explodindo em aplausos e exclamações, ansiosa pela próxima atração. Dentro de mim, a sensação de nervosismo crescia como um arranha-céu. O trapézio, a poucos passos de mim, era mais do que um mero equipamento de circo; era o meu refúgio.
Cada salto e pirueta não apenas marcava o limite entre a glória e a queda. Um simples erro poderia ser fatal. Os músculos das minhas mãos tremiam, mas eu tentava dominá-los com a respiração, procurando acalmar o coração acelerado à medida que a cortina do picadeiro se abria para o meu grandioso ato. A verdadeira força não estava nos músculos que segurariam o trapézio, mas na mente que se entregaria aos movimentos aéreos livres realizados pelo meu corpo.
Mas o que ocorre quando a sua mente está repleta de pensamentos?
Fiz uma curva à direita. A madrugada teria sido silenciosa, não fosse pelo meu constante agitar na cama. Virei-me para cima novamente. Enquanto estava ali, o vento trouxe o aroma da grama recém-cortada, que se infiltrava pela janela aberta. Rolei para a esquerda mais uma vez. Fechei os olhos na tentativa de adormecer, quando uma visão brilhante surgiu. Atrás da minha íris, o reflexo de um felino brilhava; um gato com olhos tão laranja quanto um campo de trigo. Novamente, me revirei na cama, voltando o olhar para o teto, mas me senti aprisionado, dominado por uma sensação de impotência. Gritei, tendo minha voz ecoando no vácuo, enquanto o olhar felino se aproximava, parecendo disposto a devorar minha alma.
Despertei rapidamente, transpirando e ofegante, com o coração pulsando forte em meu peito. O quarto estava escuro, iluminado apenas pela tênue luz do luar que se infiltrava pela cortina parcialmente aberta. Não havia passado muito tempo. Ao meu redor, os outros dois ocupantes do dormitório se despertavam de um sono embriagado, murmurando numa língua que eu não compreendia. O ambiente estava tenso e silencioso, rompido apenas pelo som das respirações pesadas.
— O que houve? — Indaguei, com dificuldade para pronunciar.
Malthem, um dos rapazes, mais alto e encorpado se aproxima de mim, cambaleando tonto até a minha cama, pegando-me pelo braço feito marionete e prensando meu corpo à parede com um movimento brusco.
— Sonhe quieto da próxima vez. — Ameaçou baforando o cheiro de álcool em minhas narinas.
Eu não respondi, apenas acenei, sentindo o frio da parede contra minhas costas. Fui liberado e o observei retornar à cama de forma desajeitada, desabando de imediato sobre o colchão. Presumivelmente, ele não se lembraria daquele episódio na manhã seguinte. Ashton, o outro roommate, não teve energia suficiente para descer do beliche, simplesmente voltou a dormir. Suspeito que eles passaram a noite em uma das festas clandestinas que aconteciam no internato.
Permaneci parado por um instante, esforçando-me para regular minha respiração, enquanto o aroma de suor e álcool permeava meu corpo. Retornei à cama, tentando não emitir um som, mas o colchão rígido protestou com um rangido sob meu peso. Felizmente, o ronco do outro lado era mais alto. Com delicadeza, afastei o travesseiro e alcancei um colar escondido sobre o cabeceira, seu pingente em forma de leão balançava suavemente.
Examinei o pingente, recordando-me do sonho. Não se tratava do mesmo felino; contudo, o olhar era idêntico. Um calafrio atravessou minha espinha dorsal, o medo ainda se fazia presente. Com os olhos fechados, segurava o objeto firmemente, lutando para afastar os pensamentos invasivos na procura por um pouco de descanso. As memórias invadiam minha mente.
Certamente, essa não era a vida que eu desejava. O odor pungente do desinfetante se mesclava ao cheiro de mofo, agredindo minhas narinas de forma mais intensa que o hálito do meu companheiro de quarto. Pulsando, meus braços calejavam com a tarefa constante de esfregar a escova no piso, e o esgotamento pesava como uma âncora em meus ombros. Aquele chão gélido fazia meus joelhos tremerem. As lágrimas, em meus olhos, desciam como a água turva que pingava no interior do balde.
A dor intensa nos músculos impedia que eu adormecesse. Observava os meus colegas de quarto descansando tranquilamente. Eles, nem sequer, se preocupavam em contribuir com as tarefas domésticas. Sendo mais fortes, sobrecarregavam-me com a tarefa exaustiva, ameaçando me bater caso eu recusasse cumprir sua parte. Dominado pelo medo, eu acatava. No entanto, agora eles estavam vulneráveis, dando-me a chance de vingança. Mas o que eu poderia fazer?
— Cato. — Sussurrava a voz por trás da porta. — Cato...
Despertei daquela falsa sensação de sono, porém sem receio de fazer barulho, levantei, pois já havia constatado que meus roommates não despertariam.
— O que você está fazendo aqui, Feli? — Com o olhar inquisitivo, busquei a presença de alguém no corredor.
— Ninguém percebeu. — Ela respondeu com seu sorriso sagaz.
O internato é estruturado em alas masculina e feminina, onde a interação entre ambos é proibida. Contudo, essa regra é geralmente quebrada, principalmente em dias festivos, como o daquela noite. Felicia, no entanto, não era do tipo que apreciava ficar acordada até tarde bebendo. Na verdade, ela preferia se concentrar nos estudos, mas por alguma razão, ela estava ali, batendo na minha porta.
— Eu estava preocupada, notei que você não apareceu na festa. — Ela me observou de cima a baixo, com seus olhos cinzentos.
— Estive ocupado com as tarefas. — Respondi, tentando evitar seu abraço. — Ah! — Inspirei ao sentir o seu toque, afastando-me.
— Cato? — Ela se distancia, percebendo a dor que provoca ao tocar as minhas costas.
— Estou muito cansado, Felicia.
— Tire a camisa, Cato. — Ela ordenou.
— Somos quase como irmãos, Felicia. Não acho que seria apropriado eu me despir em sua presença, muito menos transar. — Eu disse, em tom de brincadeira.
— Não se faça de bobo. Tire a sua camisa agora! — Sua voz firme era tão intensa que fazia sua clavícula se destacar, evidenciando a seriedade de suas palavras.
— Não vou, Felicia. Está frio. — Insisti na mentira.
Ela agiu rapidamente, arriscando-se a remover minha blusa, mas eu resisti, tentando impedi-la. No entanto, isso não foi suficiente para ocultar uma das cicatrizes em meu peito.
— Eles continuam a te bater, Cato. — Ela solta minha blusa e cruza os beiços, pessimista. — Até quando você vai deixar?
Eu não consigo dar-lhe uma resposta e apenas abaixo a cabeça.
— Preciso ir, Cato. No entanto, isso não vai ficar impune. Se você não fará nada, eu vou. Eles terão o que merecem. — Ela deposita um beijo suave em minha bochecha e, de maneira furtiva, percorre o corredor para não ser percebida.
— Cato? — A voz suave de Maya afasta as memórias. — Você não vai entrar?
O picadeiro, me lembro.
— O que aconteceu? — Pergunto, ainda tentando voltar a realidade.
— É a sua vez. Hero está enrolando o público há cinco minutos. Eu entendo que esta é a sua primeira apresentação, pois, também senti o mesmo na minha. — Ela apalpava meus ombros com carinho, tentando aliviar a tensão. — Mas só respire. Você treinou para isso. — Ela me aconselha, dando alguns tapinhas posteriormente.
Avanço em direção ao palco, não temendo a multidão que aclama meu nome, mas desviando do olhar crítico de Hero, que se retira com um sorriso aliviado. O trapézio desce um pouco abaixo da altura dos meus pulsos, mas antes, busco um olhar entre o público.
Todos parecem iguais.
Com os braços elevando-se em direção à barra de metal, o trapézio é gentilmente esticado. O corpo dança para frente e para trás, criando um ritmo de impulso. O tronco se enrola, contorcendo-se em uma dança aérea até que as pernas, em uma troca sutil, substituam os braços para se apoiarem na estrutura. Um segundo trapézio se aproxima, balançando pelo espaço, enquanto me encontro na posição de morcego. É nesse momento, de ponta-cabeça, que a vislumbro entre os milhares de rostos.
Seus cabelos curtos e encaracolados, tão negros quanto a noite, adquirem um tom opaco perto de seu sorriso radiante ao me ver no trapézio. Alys Ravenclaw acena para mim enquanto executo agilmente o salto de uma estrutura para outra. A jovem universitária compareceu, como havia prometido, exclusivamente para me assistir.
Executando um salto mortal para frente no ar, lancei-me em direção ao trapézio que surgia à minha direita. Posteriormente, dois outros trapézios se aproximaram, elevando o nível de perigo do ato. O salto mortal para trás exigiu um nível de habilidade mais delicado, já que cada ponta dos meus pés teria que encontrar equilíbrio em uma barra diferente, abertas. Meu coração pulsava no peito como um tambor em ritmo acelerado. Essa pulsação poderia ser atribuída à ansiedade, ou talvez à presença de Alys Ravenclaw. Ou, ainda, talvez fosse Alys Ravenclaw a fonte de meu nervosismo. Esta última opção parecia a mais provável.
Com um movimento rápido, a cabeça foi lançada para trás, impulsionando os membros inferiores, fazendo as pernas levitarem no espaço, semelhantes à rotação das hélices de um helicóptero. A perna direita se ajustou com precisão na estrutura do trapézio; porém, a esquerda falhou em encontrar sua posição. Um erro grave.
A plateia continuava a aplaudir, acreditando que a performance havia sido um sucesso. Na realidade, não tinha sido, mas ao menos eu não havia caído. Eu me encontrava pendurado por uma das minhas pernas, enquanto a outra forçava meu corpo para baixo, estendi-a para cima, alinhando meu corpo com o trapézio para concluir a apresentação, mantendo um sorriso forçado no rosto.
Balançava o corpo de um lado para o outro no trapézio, pois agora precisava improvisar. Assim, realizei movimentos básicos, saltando de um lado para o outro, sendo amparado pelas pernas, ao invés dos braços. Ainda na posição de morcego, saltava novamente em outra direção. Às vezes dava ma pirueta no ar durante a transição dos trapézios, mas nada daquilo me deixava feliz. A minha tentativa verdadeira já havia me frustrado o suficiente.
À medida que o trapézio descia, dei um salto ao notar que ele já se encontrava em uma altura consideravelmente perto do chão. Mas não me preocupei em levantar os braços ou inclinar o corpo para frente em agradecimento a plateia. Estava frustrado demais para isso.
Contudo, observei Hero retornar ao picadeiro com um sorriso que compensava por nós dois. Com um semblante inexpressivo, segui em direção aos bastidores, e a cabeça baixa, consciente do meu fracasso.
— Cato! — As vozes piedosas de meus colegas chamavam por mim. Eu as ignorava, esbarrando nos ombros de cada indivíduo que cruzava meu caminho no corredor apertado que tínhamos entre os quartos do circo.
— Deixa ele, gente. — Disse alguém, evitando que me perseguissem.
Deslizei silenciosamente para a saída traseira do circo, antecipando uma fuga para a quietude solitária entre as caçambas de lixo. Meu pressuposto, no entanto, estava equivocado.
Diante de mim, lá estava ele. O homem de cabelos ruivos, que fluíam como fios de fogo, enquadrando um rosto dominado por uma barba volumosa. Ele estava imóvel, a poucos passos de distância, e seu olhar era um reflexo vívido dos meus pesadelos no orfanato.
A íris alaranjada que tanto brilhava para mim, remetia ao fulgor do sol. O que vi em meus sonhos não era apenas um pesadelo ou fruto da minha imaginação. Aquela visão, aqueles olhos, eram, inquestionavelmente, reais.
— Você... — Lembrei de sua aparência, observando-o levar a garrafa de vodca aos lábios. — Qual o seu nome?
— Eu sou Leoni. — Ele declarou ao tomar um gole. — Estou aqui para te matar.
Me matar?Por quê ali, naquele instante? Não é o nosso primeiro encontro. Ele teve a oportunidade de me matar muito antes, lá, no internato. Por quê só agora?Enquanto a maioria dos jovens se divertia no pátio jogando basquete, eu preferia me exercitar nas arquibancadas, executando movimentos circulares com meu corpo. Esses alongamentos me permitiam explorar a tensão muscular, aliviando as dores dos ferimentos que sofria.Quando um movimento na quadra distanciou o percurso da bola de basquete a atingir minhas costas, Ashton mandou que eu a jogasse de volta, mas eu o ignorei.— O filhotinho de leão é medroso, não é? — Ele se aproximava, rindo com os outros, zombando do meu pingente, como sempre faziam. — Ou será que ele é só um gatinho?Eles começaram a me encurralar. Além de Ashon e Malthem, três jovens de um dormitório diferente colaboravam, me impulsionando de um lado para outro. Naquele momento, eu era a bola de basquete deles.— Se continuarem a me empurrar, terão que limpar a bos
Tabitha, ainda envolvendo seu corpo com as serpentes, se sentia desconfortável e temia pela segurança das cobras. Contudo, sua confusão não superava a da plateia, que iniciava um caos na arquibancada. O sussurro de pânico se intensificava em vozes de desespero.Os espectadores na arquibancada iniciavam uma confusão, buscando apressadamente a saída por todas as direções. As crianças, tomadas pelo pânico, choravam assustadas. Alguns tropeçavam e caíam, ferindo-se nas escadas da arquibancada. Eles deveriam estar surdos. Eu havia alertado que estavam seguros dentro do picadeiro, e agora, paradoxalmente, tentavam escapar na direção do perigo.— Tem uma onça ou n&atil
O aroma da chuva fresca que acompanhava o pingente com a figura de um leão; seguido pelas sardas no rosto de Felícia que apareciam quando ela, de forma tímida, inclinava a cabeça ao me ver; as pancadas e golpes que recebi na região das costelas dos garotos do orfanato; Leoni me observando com seus olhos de cor laranja no pátio; o momento em que Elliott me introduziu ao fascinante mundo do circo; as covinhas que ficavam ocultas pelos cabelos encaracolados de Alys na universidade; o sabor único do bolo de Maya que provocou vômito em todos naquele dia; a vez que permiti que a píton se enrolasse em meu pescoço; os treinos intensivos que Hero exigia no trapézio; o dia em que encarei a plateia pela primeira vez. Dizem que, ao morrer, sua vida passa diante de seus olhos como um filme. Foi o que aconteceu.Caminhava pelas vias sombrias, fugindo daquele pesadelo. Possivelmente, estava lidando com uma crise de exaustão, o famoso burnout. Corria ocasionalmente olhando para trás
Ouvi o movimento daquelas criaturas gelatinosas deslizando sobre minha pele, misturando os grãos de terra sobre meu corpo. A forma que se moviam chegava a gerar pequenas descargas elétricas ao tocar as extremidades de minha pele. Causavam desconforto, como espinhos penetrando minha derme. Senti a ponta dos meus dedos se contorcer lentamente. Primeiro, veio a audição; depois, o tato. No entanto, não havia nada para os meus olhos enxergarem quando a visão se fez presente. O pior não foi a sensação angustiante da total escuridão. Foi a incapacidade de respirar quando o olfato se ativou. Em um ato de desespero, meu corpo se levantou, espalhando terra por todos os lados.— Ele está vivo. — Leoni se agachou diante do meu túmulo, com Felicia de pé ao seu lado.Os pelos em meus braços, pernas e rosto começaram a crescer ao ritmo pulsante do meu coração, assim como as garras saltando de meus dedos. Meus olhos, antes cegos pela escuridão, agora brilhavam com um tom cintilante. Um vazio consumia
A força do meu antebraço pressionando a jugular do homem de cabelos ruivos interferia na sua respiração, mas ele permanecia resistente, mesmo com a passagem de ar por suas narinas se tornando mais restrita. Sua percepção visual parecia se intensificar à medida que o meu fôlego se tornava mais arfante, e o brilho em seus olhos voltava a assumir uma tonalidade alaranjada. Gradualmente, senti as pulsações das minhas veias diminuindo e a minha respiração voltando ao normal, momento em que o libertei do confinamento contra a parede.— Você precisa aprender a se controlar, garoto. — Ele empurrou meu peitoral com as palmas das mãos abertas. — E nunca mais mexa na minha coleção. — Disse, recolhendo a jaqueta que havia derrubado da arara.Havia algo singular na maneira como Leoni me olhava. Não se tratava apenas de um instinto de proteção familiar. Parecia que eu o fazia recordar alguém, que ele não via há um longo período. Uma reminiscência vívida, esquecida, mas ainda assim carinhosa ao mesm
O circo estava impecavelmente limpo. Qualquer resquício de sangue havia sido meticulosamente removido, embora ainda fosse visível os vestígios da batalha ocorrida nos bastidores. As cordas que antes prendiam meus colegas permaneciam no mesmo lugar, e a fechadura da porta continuava quebrada. Apesar disso, o local apresentava-se limpo.— Você está bem. — Maya se aproximou de mim para me dar um abraço.— Ai! — A pressão nas minhas costas causou dor.— Desculpe. — Seu irmão Petit, parado atrás, apenas esboçava um sorriso sem demonstrar muita simpatia por mim. — Estou contente em te ver.— O que aconteceu?— Elliott está aqui. — O palhaço afirmou. — As coisas não estão boas no camarim, eu acho.— Por quê? — Indaguei, desconfiado.— Hero não parecia contente quando entrou. — Maya afirmou.— Queria ser uma mosquinha para espiar a conversa lá dentro. — Ele afirmou, enquanto sua irmã lhe dava um tapa repreensível no ombro.— Você não consegue segurar a língua, não é? — Maya resmungou.De fato
Caminhava cuidadosamente, esforçando-me para não fazer muito barulho. Ansiava que meus passos fossem silenciosos como se pisassem em algodões, mas quanto mais tentava ser discreto, mais desajeitado me tornava. Acabei tropeçando, causando a queda de alguns livros, e atraindo olhares para mim. Através de um gesto com as mãos, pedi desculpas, mas ninguém ali pareceu aceitar, voltaram a virar suas caras para os livros sem falar qualquer coisa. Assim, agachei-me para recolher os exemplares do chão.— Não é tão bom com o silêncio, não é? — Alys perguntou, aparecendo de supetão e auxiliando-me.— Eu venho do circo, cê sabe. — Parece que o meu sorriso bobo conseguiu convencê-la da minha desculpa.— Vem para a parte da poesia. — Ela me puxava para o lugar mais reservado. — Ninguém fica aqui.— Por quê?— 2024, Cato. — Ela justifica, apontando para as cadeiras vazias e os livros empilhados nas prateleiras. — Ou estão lendo online, ou estão na ala de fantasia lendo sobre vampiros e lobisomens.A
Os sentimentos que nutro por Alys começaram a florescer recentemente. Desde o nosso primeiro encontro na Universidade de Beaston, temos fortalecido nossa conexão. Tenho a sensação de que as outras meninas não gostam muito da companhia dela. Nunca a observei compartilhando conversas com outras garotas durante os intervalos. Foi por essas semelhanças que nos aproximamos. Dois lobos solitários, perdidos em uma universidade um tanto caótica.Acredito que, naquela época, como recém-chegada, ter tantas pessoas era uma novidade para a garota, e a adaptação levou algum tempo. Hoje em dia, a vejo com algumas meninas ocasionalmente na quadra, mas sua verdadeira paixão parece residir nos livros. Ela está sempre com algum exemplar em mãos e, provavelmente, carrega outro na bolsa também.No entanto, Alys não foi a primeira pessoa por quem desenvolvi sentimentos. Ainda no orfanato, havia um rapaz de quem eu gostava muito. Embora tivéssemos a mesma idade, a separação de quartos e setores, se tornou