— Por favor, me ajudem! — Eu tinha que sair dali, correr para bem longe, pedir ajuda ou me esconder, porém, meu corpo não me obedecia. Eu estava nervosa, apavorada, na verdade, e sem ter muito o que fazer, comecei a gritar. Despertei do meu estado de pânico, quando escutei o clique da trava de uma arma e encarei o homem branco e alto demais, e para minha sorte, o ônibus parou bem na minha lateral com suas portas abertas.
Com desespero na alma, vi um senhor se preparar para descer os degraus. Aquela era a minha única oportunidade de sobreviver, entretanto, não o esperei descer. Olhei para o mafioso, que havia escondido a arma na lateral do seu corpo e corri para dentro do coletivo e aos gritos, pedi para o motorista seguir em frente. Sentei-me no chão do veículo sem forças, assim que o ônibus entrou em movimento e alguns passageiros me ajudaram a me acomodar no bancoO que fazer quando você encontra uma pedra de tropeço em seu caminho?Você chuta, ou se desvia dela?Ou faz simplesmente vistas grossas e segue adiante?Não dá para se desviar de uma pedra em seu caminho. Você tem que eliminá-la, tirá-la de lá, ou tudo na sua vida desanda.Aprendi isso de uma forma muito, muito dolorosa.Quantas vezes enxerguei essa pedra no meu caminho?Só uma vez e isso só aconteceu vinte e oito anos, depois que me fez cair de cara no chão, e me arrebentei inteiro.Mas, a verdade, é que mesmo que você venha a cair, ela continuará ali, no meio do seu caminho, esperando se levante e tropece outra vez.É aí que você desperta para enxergá-la de verdade, porque você não quer cair de novo e de novo. Você, querlevantar e seguir em frente, curar as feridas e esquecer as do
Alemanha 2018A vida é como uma roda gigante. Ela gira e gira e sempre para sempre no mesmo lugar. É atraente, é convidativa, mas também é muito traiçoeira também. Aprendi de uma forma amarga, o quanto ela machuca e brinca conosco. Meu nome é Edgar Fassani. Sou descendente de italianos imigrantes que vieram para o Brasil e aqui se estabeleceram. Meu pai Enrico Fassini, abriu aqui as indústrias de laticínios Fassini e cresceu em solo brasileiro e se tornou um homem muito rico e poderoso na região de Goiás. Minha mãe, Giovanna Fassini é uma mulher exemplar. Boa esposa, boa mãe, boa dona de casa. Eu cresci tendo de tudo. Boas escolas, melhores roupas, frequentei as melhores festas sociais e como todo garoto bem-sucedido, tinha qualquer garota aos meus pés e isso era motivo de orgulho para o meu velho. Mas o que Enrico não sabia, é que apenas uma
— Certo — falo como sempre seco e ando para o portão de embarque. Ao meu lado, dois seguranças me acompanham de perto. Sou um homem poderoso, muito visado e tenho muitos inimigos no meio social e comercial. Por isso ando sempre prevenido. No jatinho me acomodo nas primeiras poltronas, aperto o cinto de segurança e a comissária de bordo se aproxima com o meu melhor uísque. Tomo um gole da bebida e puxo o meu MacBook de dentro de uma pasta de couro preto. Abro a tela e começo a trabalhar. É um voo longo e eu não posso parar, porque tempo é dinheiro. Durante todo o voo não durmo. Me dedico ao máximo ao meu trabalho e bebo para que quando chegar ao Brasil, esteja ao menos anestesiado. Chegou a hora de encarar o meu passado. Me pergunto se ela se casou? Se teve filhos? Se me esqueceu? Se é que um dia me amou de verdade. O som ecoa no auto falante da aeronave avisando que vamos pousar em solo brasileiro em alguns minutos e imediatamente eu sinto o meu coração pular no peito. Eu sempre pla
Em algum lugar do Rio de Janeiro. Luís Renato Alcântara. — Tem certeza que quer fazer essa compra Luís? Não sei. O hotel está falido. — Meu sócio pergunta encarando o empreendimento praticamente em ruínas. — Mas esse é o mérito Marcos. Pegamos o hotel falido. Fazemos uma boa reforma nele e fazemos ele produzir — falo com entusiasmo na voz. Marcos dá de ombros e me encara especulativo. — Qual é, Luís, nunca fizemos isso antes. Como sabe se vai dá certo? — inquire receoso. Dou de ombros. — É só olhar as plantas, meu caro. O hotel tem potencial, olha essa área e esse espaço, o lugar onde ele está posicionado, ele é perfeito! A Ana pode fazer os projetos de melhoria nele e ele vai ficar igual aos nossos padrões. — Marcos começa a observar atentamente a planta. Meu celular começa a vibrar em cima da mesa de reuniões. Deixo Marcos olhando a planta e atendo a chamada. — Luís Alcântara falando. — Doutor Luís, é o Max.
Ana Júlia. Olho para o papel contendo as informações sobre o meu pai pela décima vez. Pelo relatório, é um homem de posses e muito rico. Mas isso é o de menos. Vejo logo abaixo no dossiê um número de telefone. Sentindo a minha tremular, eu pego o meu celular no bolso traseiro do meu jeans e ligo para o número. O telefone chama incansavelmente e a cada toque, sinto o meu coração bater violentamente. Penso em desistir, mas a minha teimosia não me permite. Ou seria a minha curiosidade? O telefone volta a chamar e o meu coração quase sai pela boca, quando alguém atende na segunda chamada. — Residência dos Fassini, quem é? — A voz masculina inquire do outro lado. — O senhor Fassini se encontra? — Procuro manter a minha voz o mais firme possível — Deseja falar com o pai ou o filho? — pergunta. Eu hesito por alguns instantes. — E... eu acho que o filho... — gaguejo e sinto a minha garganta ficar cada vez mais seca. — Só um mo
O confronto Horas antes do encontro com a Ana. Passei a noite em um bar e entre um copo e outro, eu via a imagem da Rose projetada na minha frente. Ela era tão pequena, tão meiga. Resolvo que não é hora de sentir pena de mim e sim, é hora de correr atrás do tempo perdido. Faço sinal para o garçom e deixo uma nota de cem largada sobre a mesa. Saio do bar me sentindo meio tonto, mas bem capaz de voltar para casa. Subo na moto e acelero ganhando o asfalto quase sem movimento. Minutos depois, deixo a moto na garagem e vou para dentro do meu antigo quarto, onde passei a minha infância, mas que agora já não me sinto em meu lugar. Essas paredes guardam muitas mentiras. Como eles puderam? Na sala, encontro o meu pai sentado em um dos sofás lendo o jornal."Esse confronto seria algo inevitável."Penso. Ele percebe a minha presença e deixa o jornal de lado. Os olhos claros e frios me encaram duramente e neles não um pingo de arrependimento.
— Doug, peça que arrume a minha mala — peço ao garoto quando o encontro do lado de fora da casa. — Vai viajar, senhor Fassini? — indaga com uma curiosidade quase infantil. — Acho que isso não lhe diz respeito! — O repreendo fazendo-o engolir o seu sorriso. — Viu o meu pai? — questiono ríspido. — No escritório, senhor. — O garoto me responde com seriedade e eu assinto entrando na casa. Entro no escritório calado, com as mãos no bolso e um olhar altivo. Encontro Enrico sentado em sua cadeira e a sua frente há um copo cheio de uísque. Uma dose tripla, pura e sem gelo. Seu olhar está perdido, desfocado. Ele parece abalado. Finalmente o vejo vulnerável, confirmando que ele é um ser humano e não uma máquina, como sempre se mostrou ser. — Veio aqui dar o tiro de misericórdia? — inquire bebendo uma quantidade generosa da sua bebida. Calado, eu acendo um cigarro e dou uma boa tragada, soltando uma fumaça espeça que se espalha pelo ambiente. — Está fumando agor
Espero impaciente que o elevador chegue logo ao térreo e quando as portas duplas finalmente se abrem, eu saio como um raio para o lado de fora do hotel. No carro, ensaio algumas palavras para dizer a minha filha. Porra! O que dizer para uma filha que você nunca conheceu? Que você se quer sabia da sua existência? De qualquer forma, o que tenho para lhe dizer será impactante, tanto para mim quanto para ela. O carro para no estacionamento do shopping e eu saio do veículo movido pela ansiedade, o medo e o nervosismo. São os sentimentos que me assolam agora. Sigo para a escada rolante que me levará ao segundo andar do imenso e movimentado prédio, na grande maioria crianças acompanhadas de suas famílias. Respiro fundo. A porra do tempo não anda. Parece que estou dando um passo para frente e dois para trás. Ponho os meus pés na segunda escada rolante com o coração galopando freneticamente. Porra, não posso enfartar sem conhecê-la. Pego o lenço no bolso lateral e enxugo o suor que começa a