O que fazer quando você encontra uma pedra de tropeço em seu caminho?
Você chuta, ou se desvia dela? Ou faz simplesmente vistas grossas e segue adiante? Não dá para se desviar de uma pedra em seu caminho. Você tem que eliminá-la, tirá-la de lá, ou tudo na sua vida desanda. Aprendi isso de uma forma muito, muito dolorosa. Quantas vezes enxerguei essa pedra no meu caminho?Alemanha 2018A vida é como uma roda gigante. Ela gira e gira e sempre para sempre no mesmo lugar. É atraente, é convidativa, mas também é muito traiçoeira também. Aprendi de uma forma amarga, o quanto ela machuca e brinca conosco. Meu nome é Edgar Fassani. Sou descendente de italianos imigrantes que vieram para o Brasil e aqui se estabeleceram. Meu pai Enrico Fassini, abriu aqui as indústrias de laticínios Fassini e cresceu em solo brasileiro e se tornou um homem muito rico e poderoso na região de Goiás. Minha mãe, Giovanna Fassini é uma mulher exemplar. Boa esposa, boa mãe, boa dona de casa. Eu cresci tendo de tudo. Boas escolas, melhores roupas, frequentei as melhores festas sociais e como todo garoto bem-sucedido, tinha qualquer garota aos meus pés e isso era motivo de orgulho para o meu velho. Mas o que Enrico não sabia, é que apenas uma
— Certo — falo como sempre seco e ando para o portão de embarque. Ao meu lado, dois seguranças me acompanham de perto. Sou um homem poderoso, muito visado e tenho muitos inimigos no meio social e comercial. Por isso ando sempre prevenido. No jatinho me acomodo nas primeiras poltronas, aperto o cinto de segurança e a comissária de bordo se aproxima com o meu melhor uísque. Tomo um gole da bebida e puxo o meu MacBook de dentro de uma pasta de couro preto. Abro a tela e começo a trabalhar. É um voo longo e eu não posso parar, porque tempo é dinheiro. Durante todo o voo não durmo. Me dedico ao máximo ao meu trabalho e bebo para que quando chegar ao Brasil, esteja ao menos anestesiado. Chegou a hora de encarar o meu passado. Me pergunto se ela se casou? Se teve filhos? Se me esqueceu? Se é que um dia me amou de verdade. O som ecoa no auto falante da aeronave avisando que vamos pousar em solo brasileiro em alguns minutos e imediatamente eu sinto o meu coração pular no peito. Eu sempre pla
Em algum lugar do Rio de Janeiro. Luís Renato Alcântara. — Tem certeza que quer fazer essa compra Luís? Não sei. O hotel está falido. — Meu sócio pergunta encarando o empreendimento praticamente em ruínas. — Mas esse é o mérito Marcos. Pegamos o hotel falido. Fazemos uma boa reforma nele e fazemos ele produzir — falo com entusiasmo na voz. Marcos dá de ombros e me encara especulativo. — Qual é, Luís, nunca fizemos isso antes. Como sabe se vai dá certo? — inquire receoso. Dou de ombros. — É só olhar as plantas, meu caro. O hotel tem potencial, olha essa área e esse espaço, o lugar onde ele está posicionado, ele é perfeito! A Ana pode fazer os projetos de melhoria nele e ele vai ficar igual aos nossos padrões. — Marcos começa a observar atentamente a planta. Meu celular começa a vibrar em cima da mesa de reuniões. Deixo Marcos olhando a planta e atendo a chamada. — Luís Alcântara falando. — Doutor Luís, é o Max.
Ana Júlia. Olho para o papel contendo as informações sobre o meu pai pela décima vez. Pelo relatório, é um homem de posses e muito rico. Mas isso é o de menos. Vejo logo abaixo no dossiê um número de telefone. Sentindo a minha tremular, eu pego o meu celular no bolso traseiro do meu jeans e ligo para o número. O telefone chama incansavelmente e a cada toque, sinto o meu coração bater violentamente. Penso em desistir, mas a minha teimosia não me permite. Ou seria a minha curiosidade? O telefone volta a chamar e o meu coração quase sai pela boca, quando alguém atende na segunda chamada. — Residência dos Fassini, quem é? — A voz masculina inquire do outro lado. — O senhor Fassini se encontra? — Procuro manter a minha voz o mais firme possível — Deseja falar com o pai ou o filho? — pergunta. Eu hesito por alguns instantes. — E... eu acho que o filho... — gaguejo e sinto a minha garganta ficar cada vez mais seca. — Só um mo
O confronto Horas antes do encontro com a Ana. Passei a noite em um bar e entre um copo e outro, eu via a imagem da Rose projetada na minha frente. Ela era tão pequena, tão meiga. Resolvo que não é hora de sentir pena de mim e sim, é hora de correr atrás do tempo perdido. Faço sinal para o garçom e deixo uma nota de cem largada sobre a mesa. Saio do bar me sentindo meio tonto, mas bem capaz de voltar para casa. Subo na moto e acelero ganhando o asfalto quase sem movimento. Minutos depois, deixo a moto na garagem e vou para dentro do meu antigo quarto, onde passei a minha infância, mas que agora já não me sinto em meu lugar. Essas paredes guardam muitas mentiras. Como eles puderam? Na sala, encontro o meu pai sentado em um dos sofás lendo o jornal."Esse confronto seria algo inevitável."Penso. Ele percebe a minha presença e deixa o jornal de lado. Os olhos claros e frios me encaram duramente e neles não um pingo de arrependimento.
— Doug, peça que arrume a minha mala — peço ao garoto quando o encontro do lado de fora da casa. — Vai viajar, senhor Fassini? — indaga com uma curiosidade quase infantil. — Acho que isso não lhe diz respeito! — O repreendo fazendo-o engolir o seu sorriso. — Viu o meu pai? — questiono ríspido. — No escritório, senhor. — O garoto me responde com seriedade e eu assinto entrando na casa. Entro no escritório calado, com as mãos no bolso e um olhar altivo. Encontro Enrico sentado em sua cadeira e a sua frente há um copo cheio de uísque. Uma dose tripla, pura e sem gelo. Seu olhar está perdido, desfocado. Ele parece abalado. Finalmente o vejo vulnerável, confirmando que ele é um ser humano e não uma máquina, como sempre se mostrou ser. — Veio aqui dar o tiro de misericórdia? — inquire bebendo uma quantidade generosa da sua bebida. Calado, eu acendo um cigarro e dou uma boa tragada, soltando uma fumaça espeça que se espalha pelo ambiente. — Está fumando agor
Espero impaciente que o elevador chegue logo ao térreo e quando as portas duplas finalmente se abrem, eu saio como um raio para o lado de fora do hotel. No carro, ensaio algumas palavras para dizer a minha filha. Porra! O que dizer para uma filha que você nunca conheceu? Que você se quer sabia da sua existência? De qualquer forma, o que tenho para lhe dizer será impactante, tanto para mim quanto para ela. O carro para no estacionamento do shopping e eu saio do veículo movido pela ansiedade, o medo e o nervosismo. São os sentimentos que me assolam agora. Sigo para a escada rolante que me levará ao segundo andar do imenso e movimentado prédio, na grande maioria crianças acompanhadas de suas famílias. Respiro fundo. A porra do tempo não anda. Parece que estou dando um passo para frente e dois para trás. Ponho os meus pés na segunda escada rolante com o coração galopando freneticamente. Porra, não posso enfartar sem conhecê-la. Pego o lenço no bolso lateral e enxugo o suor que começa a
Descobertas dolorosas. Me sinto como um animal enjaulado andando de um lado para o outro dentro desse apartamento. Já fiz tudo o que pude para ocupar o meu tempo e a minha mente enquanto aguardo o horário combinado para esse encontro. Mas confesso que estou acordado desde as cinco da manhã. Fiz uma corrida matinal, malhei quase duas horas na academia do hotel, tomei um banho demorado e mergulhei no trabalho, mas parece que a porra do relógio não está colaborando comigo. A noite já não foi tranquila como eu esperava que seria. Simplesmente tive que secar uma garrafa de uísque para poder apagar literalmente e aqui estou eu, andando no meio do amplo quarto de hotel, com uma garrafa de sauvignon em uma mão e um buquê de rosas vermelhas na outra. As suas preferidas.Penso movido pelo amor adolescente que um dia senti por ela. Volto a olhar o meu relógio de pulso e bufo irritado quando vejo que ainda são dez da manhã. Começo a repassar na minha mente as perg