Espero impaciente que o elevador chegue logo ao térreo e quando as portas duplas finalmente se abrem, eu saio como um raio para o lado de fora do hotel. No carro, ensaio algumas palavras para dizer a minha filha. Porra! O que dizer para uma filha que você nunca conheceu? Que você se quer sabia da sua existência? De qualquer forma, o que tenho para lhe dizer será impactante, tanto para mim quanto para ela. O carro para no estacionamento do shopping e eu saio do veículo movido pela ansiedade, o medo e o nervosismo. São os sentimentos que me assolam agora. Sigo para a escada rolante que me levará ao segundo andar do imenso e movimentado prédio, na grande maioria crianças acompanhadas de suas famílias. Respiro fundo. A porra do tempo não anda. Parece que estou dando um passo para frente e dois para trás. Ponho os meus pés na segunda escada rolante com o coração galopando freneticamente. Porra, não posso enfartar sem conhecê-la. Pego o lenço no bolso lateral e enxugo o suor que começa a borbulhar na minha testa. A minha boca fica seca de repente. Um passo... Estou a um passo de distância dela. Observo de longe a Ana encostada ao seu marido, ambos sentados em um banco de madeira, pintado de branco. Luís Renato Alcântara, um conhecido CEO das indústrias de hoteleira e construtora. A emoção me abate quando vejo os meus netos brincando felizes a uma distância considerável dos seus pais. Porra eles são lindos demais! Em algum momento uma das crianças corre para uma das escadas rolantes e movido por um instinto protetor, eu corro em seu socorro, mas não consigo alcançá-lo a tempo, pois recebo um impacto violento e inesperado contra o meu corpo. Eu seguro a garota antes que ela vá ao chão e... Por Deus, é ela! Procuro conter as minhas emoções e seguro as minhas lágrimas, sentindo o meu corpo gelar imediatamente. Porra, tão parecida com a mãe! Minha pequena pérola negra. Linda e jovial. O tempo parece parar ao nosso redor. Ruídos, sons de conversas e risadas, nada existe mais, mas tudo parece escapar das minhas mãos quando ela se afasta e se recompõe me encarando com preocupação.
— O senhor está bem? — Me pergunta com voz suave. Caralho, sua voz é igual a de sua mãe. Tão parecidas, não tenho palavras. Essas simplesmente fugiram da minha boca. Eu tinha tanto para lhe dizer e agora eu simplesmente não digo nada.
— Eu... eu... — balbucio, mas não digo nada. Isso é simplesmente patético, ridículo. — Me desculpe! — Consigo dizer e tento me afastar, mas ela segura em meu braço e no minuto seguinte estou sentado a uma mesa, de frente para minha filha e com a sua família ao meu redor.
— Como se chama? — indaga com o seu calmo. Aproveito para revelar quem eu sou de verdade.
— Edgar. — Ana me encara atônita. — Me chamo Edgar Fassini. — O pouco do seu sorriso se vai e Ana fica séria, pálida. Seus olhos escuros lacrimejam e a sua reação me deixa perdido. Ela sabe de mim? De repente me sinto sufocar.
— Você é...
— Sou seu pai, Ana. — Completo sua frase.
— Oh, meu Deus! — Ana sussurra levando a mão a boca, enquanto as suas lágrimas ganham proporções e escorrem pelo rostinho afilado. — Você sabe de mim? — indaga emocionada. Sua voz soa tão baixa e embargada que tenho vontade de abraçá-la e de acalmá-la, mas em tom baixo. Não tenho tempo de se quer responder a sua pergunta, porque o seu marido parte para cima de mim como se fosse um trator desgovernado. Contenho-me para não esmurrar a sua cara, a final ele está protegendo a minha única preciosidade. — Luís para! — Ela pede exasperada e entra em nosso meio. — Ele é... o meu pai — diz com um fio de voz. Luís para a agressão e parece impactado com a revelação.
— Mas como? — Ele pergunta e olha de mim para a esposa. Ela dá de ombros.
— Não faço ideia — sibila. Após nos acalmarmos, votamos a sentar a mesa e para a minha surpresa, marcamos um almoço em sua casa para o dia seguinte. Não tive coragem de perguntar por sua mãe. Talvez ainda não seja o momento para isso ou talvez eu apenas quisesse usufruir da sua presença, não sei... só sei que não me reconheci essa noite. Lágrimas, ansiedade e medo é tudo o que eu consegui sentir por esses dias e são sentimentos que mantive afastados de mim por todos esses anos. Nos despedimos por fim, mas não sem antes eu abraçá-la e de sentir o meu bebê em meus braços pela segunda vez hoje. Aproveito para apertá-la em meus braços e sentir o cheiro familiar de morangos. O mesmo que a sua mãe usava. Por Deus, será que terei mais uma noite em claro?
Descobertas dolorosas. Me sinto como um animal enjaulado andando de um lado para o outro dentro desse apartamento. Já fiz tudo o que pude para ocupar o meu tempo e a minha mente enquanto aguardo o horário combinado para esse encontro. Mas confesso que estou acordado desde as cinco da manhã. Fiz uma corrida matinal, malhei quase duas horas na academia do hotel, tomei um banho demorado e mergulhei no trabalho, mas parece que a porra do relógio não está colaborando comigo. A noite já não foi tranquila como eu esperava que seria. Simplesmente tive que secar uma garrafa de uísque para poder apagar literalmente e aqui estou eu, andando no meio do amplo quarto de hotel, com uma garrafa de sauvignon em uma mão e um buquê de rosas vermelhas na outra. As suas preferidas.Penso movido pelo amor adolescente que um dia senti por ela. Volto a olhar o meu relógio de pulso e bufo irritado quando vejo que ainda são dez da manhã. Começo a repassar na minha mente as perg
— Ela faleceu a oito anos, um câncer no colo do útero a matou. Não foi fácil tudo o que passamos. — Eu imagino —falo, soltando uma respiração audível — confesso que tinha esperança de vê-la. Nós passamos por tanta coisa juntos ou melhor dizendo, separados. Eu não entendo porque nunca me procurou. Todos esses anos eu nunca soube de você. — Eu só descobri a sua existência no dia de sua morte. Depois eu passei por tantas coisas que... — Ana sorri sem vontade. Linda! Minha filha é linda! Queria ter assistido a sua infância, ter escutado as suas primeiras palavras. Deus, eu perdi tudo. Não me restou nada! — A pouco tempo pensei nela de uma forma mais intensa e me lembrei das suas palavras no leito de morte. Não deu tempo ela me falar muita coisa então... — Minha bebê seca as lágrimas que escapam dos seus olhos. —Contei para o meu marido o que ela me disse. Luís resolveu investigar por conta própria e meu Deus..! —Ela sussurra as últimas palavras. —Quando eu descobri o seu
Quando tudo começou. Acordo me sentindo especialmente mais leve esta manhã. Lá fora os pássaros cantam sobre as copas das árvores frutíferas, que se balançam ao vento ao pé da janela do meu quarto. O sol brilha radiante e seus raios chegam a invadir o cômodo através das paredes de vidro livres das cortinas blecaute. Me mexo na cama espaçosa e sinto o volume da caixa que ficou esquecida em cima do colchão e percebo que adormeci agarrado ao álbum que ganhei de presente da minha filha e agora ele está caído ao meu lado, largado de todo jeito. Com uma respiração profunda me sento no colchão macio, sentindo uma expectativa diferente cair sobre mim. Pela primeira vez em anos não sinto o rancor, a amargura e nem toda aquela raiva que comandava a minha vida fria e solitária. Eu estou particularmente feliz e isso me faz sorrir. É uma felicidade diferente. Eu tenho um novo motivo para sorrir e pensando assim, saio da cama exultante e tomo um banho demorado. No espaçoso closet
Na sequência da brincadeira tomo três shotes, o que me deixa um pouco zonzo e mais leve também. A bebida arde dentro de mim e, ao mesmo tempo me deixa animado. Às onze não sou de ninguém ou devo dizer, sou de todas. Rio. Estou no meio da agitação da música eletrônica e com cinco meninas que estão totalmente na minha. Pena que não posso levá-las para casa, meu coroa me mataria se soubesse. Meus olhos param em cima da menina simples, sentada em um dos banquinhos do bar, olhando com curiosidade tudo o que acontece ao seu redor. Ela está maravilhada, apenas observando o movimento, quando um cara se aproxima. Ai eu paro tudo. A dança, o chamego e minha atenção esta toda em cima nela. Saio da pista de dança deixando as meninas para trás e caminho para perto do casal desproporcional. "A pirralha e o cara maduro." Não mesmo! Onde está Morgana nessas horas? Me perguntei aborrecido. — Eu já disse que não! — A escuto dizer quando me aproximo do balcão. — Q
Cheguei em casa um pouco mais da meia noite e como sempre, subi pela árvore, caminhei pelo telhado e cheguei a minha janela. Me desfiz das roupas e tomei uma ducha rápida. Por fim, vesti um short folgado e espalhei alguns livros e folhas pela cama. Uma maneira de enganar os meus pais e de fazê-los pensar que eu passei a noite com a cara nos livros. Me deitei no meio dos materiais e encarei para o teto do quarto. Me peguei pensando em uma certa morena, pequena e de olhos graciosos. A dança, o toque, nossos lábios se tocando. Porra! A maciez, o calor, o beijo. Ouço ao longe as vozes femininas sussurrando pelo corredor da casa e fecho os olhos, fingindo dormir. — Vocês deviam pegar mais leve com o menino. Os rapazes da idade dele gostam de sair e de se divertir. — Mariaju diz entrando no quarto. — Você sabe como é o pai dele Mariajú. Irredutível quando o assunto é a educação do filho. —Minha mãe retruca. Abro uma brechinha de olho e as vejo retirar
Um beijo roubado. — Meu Deus, pai! Estou encantada com a história de vocês! Isso daria um belo livro de romances. — Ana disse sorrindo, enquanto enxugava suas lágrimas. — Não sei se daria um bom livro, mas eu sempre terei boas lembranças dela, guardadas bem aqui, em meu coração. — Apontei para o meu peito. — O amor de vocês era muito forte e lindo também. Não consigo entender porque não venceram.— Ela lamenta. Suspiro de modo audível. — Nem eu, querida, nem eu. — E então, o que aconteceu depois?— Ela perguntou curiosa. — Depois... ...Quando cheguei em frente a sua casa, ainda nos olhamos nos olhos. Eu com uma vontade arrebatadora de beijá-la novamente. Ela... bom, ela eu não sei. — Tenha uma boa noite, pérola negra! — sussurrei bem próximo do seu rosto. — Porque me c
Os dias foram se passando e nós fomos ficando cada vez mais apegados e mais ousados também. E confesso que estava ficando cada vez mais apaixonado, mais viciado nela. O que me aflige é que no próximo ano terei que ir para uma faculdade fora do Brasil e ainda não sei se serei capaz ficar longe dela por cinco longos anos. Cinco malditos anos! Lamento. Meu pai jamais concordaria que eu fizesse o curso aqui no Brasil. Estou cada dia mais ansioso por estar com ela e hoje a noite, quando todos estiverem dormindo, irei para o seu quarto. Audacioso? Sim. Perigoso? Com certeza. Mas simplesmente quero um pouco mais dela e ela também quer mais de mim. São desejos profundos demais, que não dá mais para segurar. Horas depois, saí de casa pelo caminho da fuga, na calada da noite como havia planejado e ansioso demais corri o curto caminho entre os arbusto, mas parei bruscamente quando encontrei Morgana parada na frente da casa de Rose, e com cara de poucos amigos.
A Fulga O som insistente do meu celular me desperta. Atendo o telefone, sem sequer olhar a tela.—Alô?— Ed? — A voz feminina ecoa do outro lado da linha. Sento-me rapidamente na cama e puxo a respiração. Droga, havia me esquecido dela!— Andréa? — Preciso te ver. — Ela diz baixinho, parece receosa.—Onde você está?— Aqui no aeroporto do Rio. — Puta merda!—O que disse?—Ed, eu não conheço nada aqui, não sei pra onde ir. Você pode vir me buscar? _ Saio da cama exasperado e corro direto para o closet, pego a primeira roupa que vejo na minha frente e visto em seguida.— Posso saber o que veio fazer aqui, Andréa? — pergunto rígido.Ela faz silêncio por alguns segundos.—Você sumiu, não me ligou mais, não me procurou. Então um dia eu vou até o seu escritório e descubro qu