Capítulo 3.3

Espero impaciente que o elevador chegue logo ao térreo e quando as portas duplas finalmente se abrem, eu saio como um raio para o lado de fora do hotel. No carro, ensaio algumas palavras para dizer a minha filha. Porra! O que dizer para uma filha que você nunca conheceu? Que você se quer sabia da sua existência? De qualquer forma, o que tenho para lhe dizer será impactante, tanto para mim quanto para ela. O carro para no estacionamento do shopping e eu saio do veículo movido pela ansiedade, o medo e o nervosismo. São os sentimentos que me assolam agora. Sigo para a escada rolante que me levará ao segundo andar do imenso e movimentado prédio, na grande maioria crianças acompanhadas de suas famílias. Respiro fundo. A porra do tempo não anda. Parece que estou dando um passo para frente e dois para trás. Ponho os meus pés na segunda escada rolante com o coração galopando freneticamente. Porra, não posso enfartar sem conhecê-la. Pego o lenço no bolso lateral e enxugo o suor que começa a borbulhar na minha testa. A minha boca fica seca de repente. Um passo... Estou a um passo de distância dela. Observo de longe a Ana encostada ao seu marido, ambos sentados em um banco de madeira, pintado de branco. Luís Renato Alcântara, um conhecido CEO das indústrias de hoteleira e construtora. A emoção me abate quando vejo os meus netos brincando felizes a uma distância considerável dos seus pais. Porra eles são lindos demais! Em algum momento uma das crianças corre para uma das escadas rolantes e movido por um instinto protetor, eu corro em seu socorro, mas não consigo alcançá-lo a tempo, pois recebo um impacto violento e inesperado contra o meu corpo. Eu seguro a garota antes que ela vá ao chão e... Por Deus, é ela! Procuro conter as minhas emoções e seguro as minhas lágrimas, sentindo o meu corpo gelar imediatamente. Porra, tão parecida com a mãe! Minha pequena pérola negra. Linda e jovial. O tempo parece parar ao nosso redor. Ruídos, sons de conversas e risadas, nada existe mais, mas tudo parece escapar das minhas mãos quando ela se afasta e se recompõe me encarando com preocupação.

— O senhor está bem? — Me pergunta com voz suave. Caralho, sua voz é igual a de sua mãe. Tão parecidas, não tenho palavras. Essas simplesmente fugiram da minha boca. Eu tinha tanto para lhe dizer e agora eu simplesmente não digo nada.

— Eu... eu... — balbucio, mas não digo nada. Isso é simplesmente patético, ridículo. — Me desculpe! — Consigo dizer e tento me afastar, mas ela segura em meu braço e no minuto seguinte estou sentado a uma mesa, de frente para minha filha e com a sua família ao meu redor.

— Como se chama? —  indaga com o seu calmo. Aproveito para revelar quem eu sou de verdade.

— Edgar. — Ana me encara atônita. — Me chamo Edgar Fassini. — O pouco do seu sorriso se vai e Ana fica séria, pálida. Seus olhos escuros lacrimejam e a sua reação me deixa perdido. Ela sabe de mim? De repente me sinto sufocar.

— Você é...

— Sou seu pai, Ana. — Completo sua frase.

— Oh, meu Deus! — Ana sussurra levando a mão a boca, enquanto as suas lágrimas ganham proporções e escorrem pelo rostinho afilado. — Você sabe de mim? — indaga emocionada. Sua voz soa tão baixa e embargada que tenho vontade de abraçá-la e de acalmá-la, mas em tom baixo. Não tenho tempo de se quer responder a sua pergunta, porque o seu marido parte para cima de mim como se fosse um trator desgovernado. Contenho-me para não esmurrar a sua cara, a final ele está protegendo a minha única preciosidade. — Luís para! — Ela pede exasperada e entra em nosso meio. — Ele é... o meu pai — diz com um fio de voz. Luís para a agressão e parece impactado com a revelação.

— Mas como? — Ele pergunta e olha de mim para a esposa. Ela dá de ombros.

— Não faço ideia — sibila. Após nos acalmarmos, votamos a sentar a mesa e para a minha surpresa, marcamos um almoço em sua casa para o dia seguinte. Não tive coragem de perguntar por sua mãe. Talvez ainda não seja o momento para isso ou talvez eu apenas quisesse usufruir da sua presença, não sei... só sei que não me reconheci essa noite. Lágrimas, ansiedade e medo é tudo o que eu consegui sentir por esses dias e são sentimentos que mantive afastados de mim por todos esses anos. Nos despedimos por fim, mas não sem antes eu abraçá-la e de sentir o meu bebê em meus braços pela segunda vez hoje. Aproveito para apertá-la em meus braços e sentir o cheiro familiar de morangos. O mesmo que a sua mãe usava. Por Deus, será que terei mais uma noite em claro?

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