Foi Apenas um Erro
Foi Apenas um Erro
Por: Camille Barbosa
Prólogo

― Mãe, por que eu não posso namorar?

Catarina Moura julga viver sofridamente os dilemas de uma juventude avassaladora, onde tudo lhe é proibido, porém, o desejo de ter e fazer é maior e isso a angustiava. Aqui, ela via-se necessitada de um amor, de uma paixão, coberta de carências, ela buscava satisfazer a sua carne e não fazê-lo parecia-lhe cruel e doloroso.

O caso perturbante é que sua mãe proibia-lhe quaisquer ação e desejo da mocidade, consciente do resultado dos "desejos carnais" e tentando ao máximo proteger sua filha, para que a mesma não acabasse por vivenciar e repetir tudo que a mãe, Rita, consequentemente vivera. E Catarina, apelidada por Cat, caminhava pela praça movimentada de seu bairro, com as lembranças ávidas em sua mente, questionando-se quando ela poderia, finalmente, alcançar sua liberdade. 

Enquanto ela se distraía, chutando uma pequena pedra pelo caminho, a pessoa que seria a sua perdição, ou a sua liberdade, observava-a fazendo comentários indecentes aos amigos. Ele, denominado Vinícius, conhecera de vista Cat no colégio, ele no último ano e ela no primeiro do Ensino Médio. A diferença de idade entre os dois era de quatro anos, visando que ele perdera de ano e se esforçava para recuperar.  

Cat notou uma algazarra, pois os garotos estavam rindo alto defronte uma lanchonete, enquanto se despedia com "toques de mão" e piadas sem graça. Ela ignorou os olhares deles, interpretou de forma vazia e seguiu seu caminho. Para o garoto, aquele gesto fora inaceitável. Ele queria a atenção dela, o olhar, a fala, o sorriso, e faria o que lhe fosse necessário. Portanto, ela não sabia, mas estava sendo seguida.

Em determinado momento e em determinado ambiente, ele a parou com um "olá" e iniciou um "bate-papo" monótono.

Catarina questionou-o o motivo de o mesmo saber seu nome e recordou-se de admirar sua beleza ao longe pelos corredores, porém, não havia motivos aparentes para que ele mantivesse contato com ela.

― Quero manter contato contigo ― afirmou ele, divergindo dos pensamentos que ela acabara de ter. ― Aqui está meu número de telefone. Me mande uma mensagem e conversaremos ― ele sorriu.

Ela pegou da mão dele uma folha de papel dobrada e guardou no bolso de seu casaco. Balançou a cabeça de forma tímida, como quem quisesse apenas ir embora.

― Vou indo ― anunciou ele ―, nos veremos depois?

Ele não esperou resposta, era como se tivesse feito uma pergunta retórica, deu um sorriso prolongado e se foi. Cat suspirou e sentiu uma dor por não ter esperança de que algo entre os dois aconteceria. 

Ela o observou caminhar e se distanciar pouco a pouco para se dar conta de que já estava anoitecendo e prosseguiu para a sua casa.

Rita, sua mãe, se encontrava em seu típico lugar. Sentada em sua cadeira de balanço, com seus óculos quadrados posto à ponta do nariz, com suas linhas no colo e as agulhas nas mãos, fazendo seu tricô diário. Os cabelos loiros com fios já grisalhos, estavam presos em um coque frouxo e desajeitado, e ela trajava um vestido longo e tinha meias nos pés.

Notando a chegada de sua filha, recordou-se de imediato da briga que tiveram e levantou para ela ― ou para metade dela, pois não se deixou olhar para seu rosto ― um olhar severo e frio. ― Espero que não venha novamente com assuntos e conversinhas de namoro. Sabe muito bem o que pode acontecer se namorar nessa idade, não é? E quando eu te dar um sermão novamente, não vire as costas e saia de casa, entendeu?

― Tá! ― respondeu, asperamente. ― Não estou pensando em mais nada. 

― Ótimo ― ela abriu um sorriso amarelo. ― Arrume-se, pois vamos à igreja essa noite.

― Não poderei acompanhar a senhora essa noite. Tenho muitas atividades pra fazer ― mentiu.

O fato é que Cat ansiava-se para a tal mensagem para Vinícius e o que se sucederia de um "oi, aqui é a Cat". Mesmo sabendo de suas proibições, ela decidira ver no que resultava, encobertaria tudo e ficaria tudo bem. Para ela, seus atos não eram perigosos e nem coisa alguma semelhante. Mas sabemos muito bem a respeito de coisas feitas às escondidas.

Ela comeu um pouco e começou a assistir um seriado enquanto sua mãe não saía. Entretanto, antes de ir embora, Rita esperou que a filha pegasse seu material de estudo e desligasse a televisão, quando o fez, ela se despediu e foi embora.

Catarina começou a ficar nervosa, sentia uma dor em alguma parte do seu âmago, aquela sensação coberta de medo de ser descoberta e do que estava prestes a acontecer. Ela abriu se caderno e ficou folheando-o tentando encontrar alguma coragem.

Ela sacou seu celular, digitou o número dele, na caixa de mensagens e começou a digitar e apagar o que digitou, sentindo uma culpa tristonha apertar-lhe o estômago. Até que enfim, enviou só um "Oi!" e fechou os olhos. Abrindo-os novamente cinco segundos depois, com o celular vibrando em sua mão.

"Docinho! Estava mesmo esperando sua mensagem" disse ele assim que ela o atendeu, com um riso sarcástico. Eles conversaram por curto período, assuntos vacilantes e desprendidos, ambos não sabiam o que conversar de fato. Ele soltava cantadas e ela ficava envergonhada e tentava falhadamente entrar em outro assunto. 

Ao desligar o telefone, ela sorriu enquanto apagava os vestígios de seu "crime". O sorriso quase não se esvaiu quando a mãe chegou, e isso deixou-a a suspeitar o motivo daquele sorriso. Não bastando "suspeitar", Rita perguntou-lhe  que era tão engraçado.

― Ah! É que eu consegui fazer a atividade que eu estava com dificuldade ― soltou uma mentira deslavada e tentou ignorar os pensamentos para agir normalmente.

― Sério? ― a mãe balançou a cabeça negativamente e respirou fundo, tentando não guardar suspeitas que possivelmente não a levaria a lugar nenhum.

Mais tarde, antes de juntar-se ao sono, Cat estava em sua cama, divagando, com os olhos fixos ao teto. Começara a novamente se iludir e, instintivamente, lembrava-se e se forçava a esquecer furiosamente de sua mão. A voz rude soava em sua cabeça. "Está louca? Você tem apenas quinze anos, Catarina. Estude."

Seu olho, bem no cantinho, começava a mostrar-se molhado e uma lágrima desceu timidamente, a qual ela limpou rapidamente ao se assustar com o barulho de seu celular sobre o criado-mudo.

Era uma mensagem... De Vinícius.

Ao visualizar, deixou um sorriso escapar em meio a lágrima. Respirou fundo e, por mais uma noite, não conseguiu dormir. Dessa vez, por mil pensamentos sonhadores e distantes.

Docinho! Adorei falar com você! Estou mandando esta mensagem só para lhe desejar uma boa noite. Estou louco para vê-la novamente e já estou com saudades da sua voz... 

Vini 

Tola, boba, um tanto infeliz, ela não imaginava que sua vida tomaria um rumo tão inacreditável que nem sua própria imaginação conseguirá sequer imaginar, nem a entrada do caminho divergente, nem a saída, a escapatória d e tudo que a tornou tão livre. Brevemente, você saberá.

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