O acolher dos braços do moço bonito e traiçoeiro durou tempo o bastante para que o coração da garota pulasse em seu peito e toda emoção fosse demonstrava em seus suspiros e em seu estômago inquieto.
O moço bonito e traiçoeiro foi quem finalizou o abraço e afastou a garota de seus braços, numa distância curta o suficiente para ainda sentir-se a respiração um do outro.
Aquele contato dos olhos durou um tempo curto, pois o garoto logo anunciou a sua ida e se despediu brevemente da garota. Ele disse ter esquecido que teria um compromisso naquele momento e que passou apenas para ver a menina ingênua por mais uma vez. De modo desconfiado, ele foi embora e ela manteve-se o observando pensativa.
Observando ao seu redor, ela se deparou com sua amiga caminhando em sua direção, com uma expressão cansada. Consertou a alça de sua mochila em seu ombro e deu um sorriso fraco para Deyse, a garota com a qual seguia para casa.
As duas garotas conversaram sobre coisas triviais até o momento em que chegaram às duas curvas, separando duas direções e era ali que elas se separavam. Com um breve abraço e um "até logo", elas foram para suas respectivas casas.
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― Ah! Calleb...
Quando aquela moça ingênua chegara em sua casa e adentrara a sala, ouviu risos vindos da cozinha. Seu pai e sua mãe conversavam distraídos. Calleb, o pai de Catarina, quase nunca estava em casa por conta de seus plantões no trabalho, portanto, não era de se admirar que sua mulher aproveitasse tanto a sua presença.
Catarina tentou seguir para o seu quarto, com o intuito de não atrapalhar o casal abraçado na cozinha, mas seu pai a chamou furtivamente e ambos a acolheram no que chamaram de "Abraço de família". Certamente, na presença de seu pai aquela casa tornara-se mais meiga e atenciosa, e a garota se aninhou ali nos braços e respirou fundo, a sentir um fecho breve de amor pela sua família.
Cumprimentando-os e falando brevemente sobre o seu dia, ela seguiu para seu quarto assim que deu a "conversa" por finalizada, com o intuito de estudar para as provas, mas ela apenas deitou na cama e se encheu de devaneios por longos minutos.
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Catarina de fato estudou, e em uma de suas pausas ela pôs-se a navegar pelas redes sociais que tinha. E não demorou muito para seu celular vibrar em sua mão, com a chegada de uma mensagem de quem ela sentia o prazer em responder. Porém, daquela vez fora diferente, de uma forma avassaladora. "Com o abraço tão bom, não consigo parar de imaginar como seria o beijo."
A garota sentiu suas mãos suarem e um imaginário comichão em seus lábios faziam-na umedece-los repetitivamente. Ela resolveu por deixar aquela mensagem sem reposta por enquanto e levantou da cama para achegar-se à janela e observar o tempo, com os minutos se passando depressa.
"E se ele me beijar?" Falou consigo mesma. "O que eu faria? Não sei como reagiria."
Estava angustiada. E não era pra menos, já que ela estava no grupo de garotas "deslocadas" que nunca haviam beijado alguém. Certamente, é de se imaginar, tendo uma mãe severa e o peso de se estar na igreja. Pelo menos para ela esse era o significado.
É claro que ela queria e desejava conversar com sua mãe, mas, só de imaginar todos os sermões que receberia, ela desistia. Ela não esperava receber permissões para fazer o que queria, ela ansiava por explicações e isso ela não recebia. Por este fato, procurava ajuda por si mesma, ou por quem estava disposto a ajudar.
Ela telefonou para sua amiga, Deyse e lhe contou tudo que estava ocorrendo.
― Eu não sei o que fazer, ele quer me beijar e eu tenho certeza de que ele fará isso... me ajuda!
― E? O que tem de errado nisso?
― Eu nunca beijei ninguém.
Pasma, a amiga respeitou aquele "segredo" e não riu, mas apenas a aconselhou.
― É natural, se ele te beijar, não o deixe saber que é o seu primeiro beijo. Aja naturalmente, sinta o momento, deixe ele guiar você e vai dar tudo certo.
― Mesmo sendo fácil, parece tão difícil...
― Se ele te beijar, você corre.
― Deyse! Não há tempo para brincadeiras, estou desesperada.
― Desculpa ― ela riu. ― Então, seja você mesma e aja com tranquilidade. Mas lembre de ter certeza do que quer, para não ter decepção. Seu primeiro beijo precisa ser o mais marcante.
A moça ingênua agradeceu e elas desligaram. Apesar de ter sido bem ajudada, ela mantinha uma ansiedade incontrolável em seu peito. Era inevitável que o nervosismo tomasse conta a cada vez que pensava ou imaginava.
Ela temia que isso acontecesse um dia, e agora, vendo tão perto de realizar, se sentia completamente despreparada. Talvez sua mãe estivesse certa, afinal.
Catarina forçou-se a voltar para seus estudos, olhando para os livros espalhados em sua cama. Porém, se encontrou totalmente sem cabeça para tal coisa. Conferiu o horário e aproveitou que estava perto de começar o tal ensaio que Jéssica a convidou e fora tomar um banho e se vestir para ir, sem qualquer expectativa.
Lembrou-se de quando ainda se esforçava para cumprir seus trabalhos na igreja, o encanto vívido em seus olhos, olhos que brilhavam enquanto arrecadava dinheiro para novos trajes de dança. Seu corpo todo se acendia e fazia jus ao sentimento que ardia em seu peito enquanto dançava.
Os passos eram delicados, ele ainda lembrava. E ela obtinha extremo prazer naquilo que fazia, naquilo que dedicava sutilmente e inteiramente para Deus. Sua devoção era inteira e completa. Todos admiravam.
Com o passar do tempo, aquele prazer passara-se por obrigação. Isso se deu às suas novas obrigações e novas proibições, sua privação de "tudo", como ela julgava. Fora se distanciando pouco a pouco, se libertando do peso que passara a atrapalhará toda vez que dançava mais uma vez.
Arrastando os pensamentos que começaram, de repente, a vagar entre escola, Vinícius e beijo, lá estava Catarina caminhando pelas ruas de Belo Horizonte. Dessa vez ela não teria nenhum contratempo, ou ao menos esperava que não.
҉
A noite chegava lentamente em Belo Horizonte. Algumas ruas ficavam numa penumbra, o céu escurecia rapidamente e as lâmpadas dos postes se ascendiam. Algumas pessoas vagavam silenciosamente pelo caminho. O clima estava ameno e o ar levava para todos os lados o cheiro de pães frescos e café moído. Era quase impossível passar por aquelas ruas naquele horário e não parar em uma padaria ou em uma lanchonete para provar um pouco do café amargo, mas muito saboroso e, é claro, os pães frescos com o queijo mineiro tradicional.Catarina passava pela rua, indo em direção à igreja, o ambiente do qual passara um período sem visitar. Um misto de ansiedade cobria a garota, ela não podia evitar, a dança era a sua paixão. Entrou em uma ruazinha, algumas pessoas estavam em frente às suas casas, conversando distraidamente com algum vizinho ou alguém conhecido.Ela trajava roupas leves e calçava uma sapatilha branca, levando uma meia para vestir assim que chegasse. Seu
Catarina não dormiu bem aquela noite. O céu estava limpo, a brisa estava suave e fresca, não havia sons da noite se esvaindo lá fora, mas ainda assim, ela não dormiu, pois, os seus pensamentos estavam acesos e sua cabeça latejava a cada vez que um pensamento voltava a se ascender. Era como se eles ganhassem forma.— Como foi lá, querida? — a mãe havia perguntado, assim que ela chegou em casa.— Ah! Mãe... — ela respirou fundo e disfarçou. — Foi legal! Mas, sinceramente... isso não me serve mais.— Bom... você pode tentar outra coisa, filha, há bastantes possibilidades...— Por favor, mãe. Não mais, só quero ficar na minha, e certamente nunca voltarei lá.— Então... — resolveu finalizar — ok.Naquele momento, eles jantaram silenciosamente e se despediram com afeto, cada um para seu cômodo ainda mais silencioso, onde Cat se encontrava agora.Ela não sabia,
Fora uma manhã chata com provas chatas. O outono se aproximava, o clima ficava uma loucura e as pessoas se agitavam. Catarina começava a lembrar de sua época morando no campo, um pouco longe dali, nas colheitas de outono sem previsão de como viria o inverno, da fome que já enfrentara por conta de dias chuvosos ou de terra infrutífera. Certamente ela não queria voltar àquele tempo e não comentava com ninguém sobre seus medos.— Catarina?Ela se virou bruscamente, estava sentada na cadeira, em uma mesa da lanchonete, a voz que surgiu por trás dela pertencia, sim, a pessoa que ela não queria ver, definitivamente. Ela sentiu seu rosto ganhar rubor, mas não lhe era mais vergonha, era raiva. Ela segurou a mochila e se preparou para ir embora.— Vinícius? Desculpe, já estou de saída.&nb
Tem pessoas que, quando chegam em nossa vida, conseguem fazer uma revira-volta no nosso subconsciente, não é verdade? Dono de uma beleza de tirar o folego, Vinícius é um dos garotos mais desejados da cidade — digamos assim —, estava sempre recebendo fretes, pedidos de namoro e, é claro, estava sempre dando esperanças para as garotinhas. Piscadinhas aqui, sorrisinhos ali. Ele nunca iria assumir um compromisso sério, era o que todos diziam.Quando ele via Catarina, com seus cabelos esvoaçantes, passando distraidamente pelos corredores, ignorando-o totalmente, ele acreditou que aquela seria a garota certa. Ele certamente não iria querer garotas oferecidas para viver, precisava de um ser puro e intocado.Passara muito tempo observando-a em certa distância e quando fez contato, não se importou com mais nada que o cercava. Trabalho, casa, namorada. Ele queria em parte provar que conseguiria ficar com a menina certinha do colégio, mas, por outro lado, ele
Haviam se passado três dias. Três dias desde o dia em que Catarina entrou no carro de Vinícius e debateu com ele o tamanho da falta de vergonha que ele obtinha, dando um fora recheado de esperanças, recheados de "sim, estou apaixonada por você", talvez ela tivesse decidido jogar um jogo com ele antes, até se decidir se ele era uma diversão válida ao erro ou se era apenas o desperdício de tempo que ela já havia notado.Durante esses três dias, Vinícius se empenhava em conversar sobre assuntos inteligentes, recomendando leituras, se mostrando altruísta e responsável. Ela o ignorava e falava o quanto ele poderia ter feito melhor e no como ela se sairia bem no lugar dele.Ele havia mudado um pouco o seu jeito, mas, sempre que ela estava longe, ele virava uma garrafa de cerveja, de uma vez só, depois xingava e xingava. É claro que ele "passava o tempo" das melhores formas possíveis, em baladas e em lugares específicos, com pessoas peculiares,
*Os próximos capítulos serão com Catarina narrando-os.— Sim, eu lhe digo sim para a primeira pergunta. Eu pensei a respeito. Vinícius, eu te vejo como um bom amigo, eu pedi pra me provar e me fazer ver o contrário, mas isso ainda não aconteceu.— Caramba! Então, o que mais eu tenho que fazer?— Toma — levantei um pequeno livro na direção dele —, creio que vai aprender mais rápido. É um livro de romance.Ele ficou surpreso com a minha iniciativa, dava para ver em seus olhos e ele não disfarçava muito bem. Apesar de eu querer muito acabar com o drama e dizer sim de uma só vez, mas eu queria provar pra mim mesma que eu seria capaz de mudá-lo e deixar ele da melhor forma para me receber como qualquer coisa além de amiga.Deixei que ele o
— Sabe Cat — olhei para Jess, estávamos na saída do shopping, esperando que o pai dela viesse nos buscar. — Você tinha me perguntado, por que eu escolhi você para ficar já que tenho tantas outras amigas...Eu sentia ela como uma conselheira, era como se na verdade eu estivesse fazendo-a a vontade para desabafar. Esperei que ela suspirasse e me surpreendi com a palavra que veio logo em seguida.— Sou muito julgada. Não basta ser sobrinha do pastor, morar bem longe da igreja, estar me esforçando sempre pra me deslocar e estar presente nas reuniões e nos ensaios. Eu busco fazer tudo certinho e ouvir, de verdade, a voz de Deus. Me entende?Eu não soube mais o que dizer, apenas assenti com a cabeça. Por toda a minha vida, vi como Jess sempre se dedicou a faculdade e as coisas direcionadas a Deus, não via tempo de me aproximar, ou melhor, ainda não havia achado um momento certo para conversar com ela. Saber que esse momento havia chegado
Quebra de tempo:Catarina, após a visita de Jess, aceita participar de uma coreografia na igreja, poucas coisas acontecem com ela neste meio tempo, porém, ela não pode negar que sente algo diferente dentro dela... Ela precisa decidir se irá ouvir o coração, ou se continuará a ignorar.__As duas meninas cantaram mais alguns louvores, quando Cat abriu os olhos, percebeu que deixou as lágrimas rolarem. Com a vista embaçada, viu que sua mãe já havia chegado e estava ao seu lado e que a igreja estava parcialmente cheia.O pastor pegou o microfone novamente para ministrar um pouco a palavra, Jess a chamou pro banheiro novamente, mas já com todas as outras que iriam dançar; iriam repassar alguns passos para aquelas que estavam com uma mínima dificuldade e logo após iriam orar e se vestir.Vestiram um vestido longo branco com as mangas azuis e ficaram descalças. Fizeram uma breve oração pedindo ajuda e pedindo que