Capítulo 4

Catarina não dormiu bem aquela noite. O céu estava limpo, a brisa estava suave e fresca, não havia sons da noite se esvaindo lá fora, mas ainda assim, ela não dormiu, pois, os seus pensamentos estavam acesos e sua cabeça latejava a cada vez que um pensamento voltava a se ascender. Era como se eles ganhassem forma.

— Como foi lá, querida?  — a mãe havia perguntado, assim que ela chegou em casa.

— Ah! Mãe... — ela respirou fundo e disfarçou. — Foi legal! Mas, sinceramente... isso não me serve mais.

— Bom... você pode tentar outra coisa, filha, há bastantes possibilidades...

— Por favor, mãe. Não mais, só quero ficar na minha, e certamente nunca voltarei lá.

— Então...  — resolveu finalizar — ok.

Naquele momento, eles jantaram silenciosamente e se despediram com afeto, cada um para seu cômodo ainda mais silencioso, onde Cat se encontrava agora.

Ela não sabia, mas do outro lado da parede, no quarto à (quatro) passos do seu, o casal estava aflito e a mulher desesperada, meneava sua cabeça e continha soluços silenciosos, envolta nos braços de seu esposo.

"O que eu estou fazendo de errado?" perguntava ela.

"Tenha paciência, Deus está conosco." dizia ele, frase habitual.

Enquanto Catarina, dispersa dos sentimentos alheios, se mantinha em seu mundo duvidoso e sentimental, com a imagem  do garoto com sua possível namorada cravada em sua memória. Era uma tortura e ela não sabia mais o que fazer.

Pensava sim que estava tudo acabado. Todas as suas chances imaginárias e todo seu desejo impulsivo de ter um alguém, um "amor".

Depois, hesitava em lembrar da igreja, das garotas arrogantes expondo a pura verdade e o que ela vinha temendo. A verdade é dura, mesmo que venhamos evitá-la, ela sempre nos atingirá de maneiras cruéis. Portanto, era a hora dela parar de se iludir e de mentir para si mesma.

No dia seguinte, começou ela a pensar, irei ignorá-lo. Não me entregarei aos delírios do que quer que esteja sentindo por ele. Era hora de finalizar antes que fosse tarde demais e ela não queria ter outro sermão de sua mãe e ter de ver a raiva nos olhos dela.

҉

Os pássaros cantavam? Catarina poderia jurar que ouviu um sobrevoando o pequeno jardim de sua casa. Ela abriu a janela de seu quarto e respirou o ar fresco da manhã, observando algumas flores e o céu azul com poucas nuvens e o sol irradiando como sempre. Era um dia agradável, embora seus olhos doessem com a claridade.

Catarina sabia que estava com bolsas escuras embaixo dos seus olhos e poupou-se da decepção de se observar. Passou direto pela sua pequena penteadeira, abriu a porta e saiu de seu quarto. Poderia ser um dia bom vindo pela frente e ela não queria estragá-lo.

Após suas necessidades básicas, ela se esticou e foi até a mesa, onde seus pais estavam terminando de colocar o café da manhã.

— Catarina, minha filha — chamou a mãe —, bom dia! Não dormiu essa noite?

— Estou bem, mãe — disse se esquivando das mãos curiosas que vinham ver seu rosto inchado. — Bom dia... bom dia, pai.

— Bom dia, filha,  venha e ajude-me com esse café, aliás, pegue os pães no forno, por favor.

Ela foi, obedientemente e abriu o forno, sentindo o cheiro de massa salgada e de queijo fresco invadir todo o ambiente. Pegou a forma com uma luva e a levou para a mesa, colocando-a em cima de um sousplat florido. Logo, o ambiente cheirava a café, queijo e frutas.

O café fora silencioso. Rita e Catarina ouvindo atentamente seus próprios pensamentos, enquanto Caleb lia um jornal e vez ou outra mencionava algo que era interessante apenas para ele, mas querendo quebrar o silêncio doentio, ele acabava falando e falando.

Após alguns minutos muito longos, eles finalizaram a refeição e foram se aprontar para mais uma rotina possivelmente cheia. Catarina se dirigiu ao quarto, para ir à escola. Caleb se dirigiu ao banheiro para relaxar e se preparar para um longo trabalho. E Rita se dirigiu à sua cadeira de balanço, onde repousava seus materiais de tricô, ela organizou alguns de seus trabalhos já acabados e juntou-os, pois secretamente tentaria vendê-los a vizinhança.

A vida e a família de Catarina não obtinha riquezas e bens. Pelo contrário, eles se vinham por muitas vezes inseguros se teriam o bastante para comer naquele mês e ficavam agitados toda vez que faziam contas e somavam as dívidas, desejando que elas sumissem como mágica.

Caleb se esforçava ao máximo. Durante três dias em uma semana ele era um dos cozinheiros de um restaurante da cidade e durante outros dias ele era o vigia noturno de um hotel. Esses dias eram quase aleatórios e um dependia do outro para determinar os dias e horários pelo qual trabalharia. Não era de todo ruim, mas lhe era extremamente cansativo e limitava muito seu valioso tempo com sua família.

Rita não conseguia mais emprego em lugar algum. Tentou muitas vezes alguns bicos de duas semanas ou mais, tentou vender salgados ou doces em sua rua, tentou de quase tudo. E agora, sem que ninguém soubesse, ela iria até algumas conhecidas donas de casa e apresentaria seus trabalhos de tricô e eram formidáveis aos seus olhos, do seu marido e de sua filha.

Catarina seguia estudando e tirando notas boas para agradar seus pais. Ela queria poder fazer mais, até havia procurado algo que pudesse se encaixar e fazer para ajudar, mas as coisas não foram tão agradáveis e cheias de possibilidades como ela imaginava, e é claro, seu pai não queria aquilo para ela, pelo contrário, ele queria sua filha formada e ingressando na carreira que escolhera para si, algo que aquecesse seu coração, não uma coisa fútil por necessidade.

Os pais de Cat desejavam muito que o futuro dela fosse melhor que o deles. Eles tinham muito medo de estar errando na educação dela, de estar falhando em algo e era muito difícil apenas deixar nas mãos de Deus.

Lá estavam eles, se dirigindo cada um para o prosseguimento do dia. Catarina estava de volta naquelas ruas conhecidas, mas dessa vez estava grogue de sono e julgava não conseguir finalizar sua prova que ela mal estudara. E, dito o certo, ela quase dormia durante o processo da leitura das perguntas e no esforço de lembrar das respostas. Ela acabou chutando algumas das questões de Humanas. 

Caleb chegava no restaurante, adentrando a cozinha e cumprimentando seus dois colegas, pegando seu avental, amarrando-o na cintura e logo em seguida cobrindo sua cabeça com o enorme chapéu de cozinheiro. "O que temos pra hoje" ele perguntou, sempre sorrindo, para seus camaradas e conferiu o cardápio do dia. O fluxo do restaurante sempre era agitado e eles sempre acabavam tendo muito trabalho a se fazer. O dia começou bem cedo para ele.

Enquanto isso, Rita vestia um vestido florido e prendia seus cabelos loiros em um coque apertado, colocando em sua cabeça um pequeno chapéu. Ela calçou os pés com sandálias confortáveis, pegou o cesto decorado onde separara seus apetrechos e seguiu, deixando sua casa no conforto do silêncio. Esperançosa, as elegantes donas de casa não iriam recusar seus belos acessórios de mesa, itens de cama, mesa e até banho, com pontos detalhadamente  lindos de tricô. Aquilo tinha de dar certo de algum jeito.

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