Catarina não dormiu bem aquela noite. O céu estava limpo, a brisa estava suave e fresca, não havia sons da noite se esvaindo lá fora, mas ainda assim, ela não dormiu, pois, os seus pensamentos estavam acesos e sua cabeça latejava a cada vez que um pensamento voltava a se ascender. Era como se eles ganhassem forma.
— Como foi lá, querida? — a mãe havia perguntado, assim que ela chegou em casa.
— Ah! Mãe... — ela respirou fundo e disfarçou. — Foi legal! Mas, sinceramente... isso não me serve mais.
— Bom... você pode tentar outra coisa, filha, há bastantes possibilidades...
— Por favor, mãe. Não mais, só quero ficar na minha, e certamente nunca voltarei lá.
— Então... — resolveu finalizar — ok.
Naquele momento, eles jantaram silenciosamente e se despediram com afeto, cada um para seu cômodo ainda mais silencioso, onde Cat se encontrava agora.
Ela não sabia, mas do outro lado da parede, no quarto à (quatro) passos do seu, o casal estava aflito e a mulher desesperada, meneava sua cabeça e continha soluços silenciosos, envolta nos braços de seu esposo.
"O que eu estou fazendo de errado?" perguntava ela.
"Tenha paciência, Deus está conosco." dizia ele, frase habitual.
Enquanto Catarina, dispersa dos sentimentos alheios, se mantinha em seu mundo duvidoso e sentimental, com a imagem do garoto com sua possível namorada cravada em sua memória. Era uma tortura e ela não sabia mais o que fazer.
Pensava sim que estava tudo acabado. Todas as suas chances imaginárias e todo seu desejo impulsivo de ter um alguém, um "amor".
Depois, hesitava em lembrar da igreja, das garotas arrogantes expondo a pura verdade e o que ela vinha temendo. A verdade é dura, mesmo que venhamos evitá-la, ela sempre nos atingirá de maneiras cruéis. Portanto, era a hora dela parar de se iludir e de mentir para si mesma.
No dia seguinte, começou ela a pensar, irei ignorá-lo. Não me entregarei aos delírios do que quer que esteja sentindo por ele. Era hora de finalizar antes que fosse tarde demais e ela não queria ter outro sermão de sua mãe e ter de ver a raiva nos olhos dela.
҉
Os pássaros cantavam? Catarina poderia jurar que ouviu um sobrevoando o pequeno jardim de sua casa. Ela abriu a janela de seu quarto e respirou o ar fresco da manhã, observando algumas flores e o céu azul com poucas nuvens e o sol irradiando como sempre. Era um dia agradável, embora seus olhos doessem com a claridade.
Catarina sabia que estava com bolsas escuras embaixo dos seus olhos e poupou-se da decepção de se observar. Passou direto pela sua pequena penteadeira, abriu a porta e saiu de seu quarto. Poderia ser um dia bom vindo pela frente e ela não queria estragá-lo.
Após suas necessidades básicas, ela se esticou e foi até a mesa, onde seus pais estavam terminando de colocar o café da manhã.
— Catarina, minha filha — chamou a mãe —, bom dia! Não dormiu essa noite?
— Estou bem, mãe — disse se esquivando das mãos curiosas que vinham ver seu rosto inchado. — Bom dia... bom dia, pai.
— Bom dia, filha, venha e ajude-me com esse café, aliás, pegue os pães no forno, por favor.
Ela foi, obedientemente e abriu o forno, sentindo o cheiro de massa salgada e de queijo fresco invadir todo o ambiente. Pegou a forma com uma luva e a levou para a mesa, colocando-a em cima de um sousplat florido. Logo, o ambiente cheirava a café, queijo e frutas.
O café fora silencioso. Rita e Catarina ouvindo atentamente seus próprios pensamentos, enquanto Caleb lia um jornal e vez ou outra mencionava algo que era interessante apenas para ele, mas querendo quebrar o silêncio doentio, ele acabava falando e falando.
Após alguns minutos muito longos, eles finalizaram a refeição e foram se aprontar para mais uma rotina possivelmente cheia. Catarina se dirigiu ao quarto, para ir à escola. Caleb se dirigiu ao banheiro para relaxar e se preparar para um longo trabalho. E Rita se dirigiu à sua cadeira de balanço, onde repousava seus materiais de tricô, ela organizou alguns de seus trabalhos já acabados e juntou-os, pois secretamente tentaria vendê-los a vizinhança.
A vida e a família de Catarina não obtinha riquezas e bens. Pelo contrário, eles se vinham por muitas vezes inseguros se teriam o bastante para comer naquele mês e ficavam agitados toda vez que faziam contas e somavam as dívidas, desejando que elas sumissem como mágica.
Caleb se esforçava ao máximo. Durante três dias em uma semana ele era um dos cozinheiros de um restaurante da cidade e durante outros dias ele era o vigia noturno de um hotel. Esses dias eram quase aleatórios e um dependia do outro para determinar os dias e horários pelo qual trabalharia. Não era de todo ruim, mas lhe era extremamente cansativo e limitava muito seu valioso tempo com sua família.
Rita não conseguia mais emprego em lugar algum. Tentou muitas vezes alguns bicos de duas semanas ou mais, tentou vender salgados ou doces em sua rua, tentou de quase tudo. E agora, sem que ninguém soubesse, ela iria até algumas conhecidas donas de casa e apresentaria seus trabalhos de tricô e eram formidáveis aos seus olhos, do seu marido e de sua filha.
Catarina seguia estudando e tirando notas boas para agradar seus pais. Ela queria poder fazer mais, até havia procurado algo que pudesse se encaixar e fazer para ajudar, mas as coisas não foram tão agradáveis e cheias de possibilidades como ela imaginava, e é claro, seu pai não queria aquilo para ela, pelo contrário, ele queria sua filha formada e ingressando na carreira que escolhera para si, algo que aquecesse seu coração, não uma coisa fútil por necessidade.
Os pais de Cat desejavam muito que o futuro dela fosse melhor que o deles. Eles tinham muito medo de estar errando na educação dela, de estar falhando em algo e era muito difícil apenas deixar nas mãos de Deus.
Lá estavam eles, se dirigindo cada um para o prosseguimento do dia. Catarina estava de volta naquelas ruas conhecidas, mas dessa vez estava grogue de sono e julgava não conseguir finalizar sua prova que ela mal estudara. E, dito o certo, ela quase dormia durante o processo da leitura das perguntas e no esforço de lembrar das respostas. Ela acabou chutando algumas das questões de Humanas.
Caleb chegava no restaurante, adentrando a cozinha e cumprimentando seus dois colegas, pegando seu avental, amarrando-o na cintura e logo em seguida cobrindo sua cabeça com o enorme chapéu de cozinheiro. "O que temos pra hoje" ele perguntou, sempre sorrindo, para seus camaradas e conferiu o cardápio do dia. O fluxo do restaurante sempre era agitado e eles sempre acabavam tendo muito trabalho a se fazer. O dia começou bem cedo para ele.
Enquanto isso, Rita vestia um vestido florido e prendia seus cabelos loiros em um coque apertado, colocando em sua cabeça um pequeno chapéu. Ela calçou os pés com sandálias confortáveis, pegou o cesto decorado onde separara seus apetrechos e seguiu, deixando sua casa no conforto do silêncio. Esperançosa, as elegantes donas de casa não iriam recusar seus belos acessórios de mesa, itens de cama, mesa e até banho, com pontos detalhadamente lindos de tricô. Aquilo tinha de dar certo de algum jeito.
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Fora uma manhã chata com provas chatas. O outono se aproximava, o clima ficava uma loucura e as pessoas se agitavam. Catarina começava a lembrar de sua época morando no campo, um pouco longe dali, nas colheitas de outono sem previsão de como viria o inverno, da fome que já enfrentara por conta de dias chuvosos ou de terra infrutífera. Certamente ela não queria voltar àquele tempo e não comentava com ninguém sobre seus medos.— Catarina?Ela se virou bruscamente, estava sentada na cadeira, em uma mesa da lanchonete, a voz que surgiu por trás dela pertencia, sim, a pessoa que ela não queria ver, definitivamente. Ela sentiu seu rosto ganhar rubor, mas não lhe era mais vergonha, era raiva. Ela segurou a mochila e se preparou para ir embora.— Vinícius? Desculpe, já estou de saída.&nb
Tem pessoas que, quando chegam em nossa vida, conseguem fazer uma revira-volta no nosso subconsciente, não é verdade? Dono de uma beleza de tirar o folego, Vinícius é um dos garotos mais desejados da cidade — digamos assim —, estava sempre recebendo fretes, pedidos de namoro e, é claro, estava sempre dando esperanças para as garotinhas. Piscadinhas aqui, sorrisinhos ali. Ele nunca iria assumir um compromisso sério, era o que todos diziam.Quando ele via Catarina, com seus cabelos esvoaçantes, passando distraidamente pelos corredores, ignorando-o totalmente, ele acreditou que aquela seria a garota certa. Ele certamente não iria querer garotas oferecidas para viver, precisava de um ser puro e intocado.Passara muito tempo observando-a em certa distância e quando fez contato, não se importou com mais nada que o cercava. Trabalho, casa, namorada. Ele queria em parte provar que conseguiria ficar com a menina certinha do colégio, mas, por outro lado, ele
Haviam se passado três dias. Três dias desde o dia em que Catarina entrou no carro de Vinícius e debateu com ele o tamanho da falta de vergonha que ele obtinha, dando um fora recheado de esperanças, recheados de "sim, estou apaixonada por você", talvez ela tivesse decidido jogar um jogo com ele antes, até se decidir se ele era uma diversão válida ao erro ou se era apenas o desperdício de tempo que ela já havia notado.Durante esses três dias, Vinícius se empenhava em conversar sobre assuntos inteligentes, recomendando leituras, se mostrando altruísta e responsável. Ela o ignorava e falava o quanto ele poderia ter feito melhor e no como ela se sairia bem no lugar dele.Ele havia mudado um pouco o seu jeito, mas, sempre que ela estava longe, ele virava uma garrafa de cerveja, de uma vez só, depois xingava e xingava. É claro que ele "passava o tempo" das melhores formas possíveis, em baladas e em lugares específicos, com pessoas peculiares,
*Os próximos capítulos serão com Catarina narrando-os.— Sim, eu lhe digo sim para a primeira pergunta. Eu pensei a respeito. Vinícius, eu te vejo como um bom amigo, eu pedi pra me provar e me fazer ver o contrário, mas isso ainda não aconteceu.— Caramba! Então, o que mais eu tenho que fazer?— Toma — levantei um pequeno livro na direção dele —, creio que vai aprender mais rápido. É um livro de romance.Ele ficou surpreso com a minha iniciativa, dava para ver em seus olhos e ele não disfarçava muito bem. Apesar de eu querer muito acabar com o drama e dizer sim de uma só vez, mas eu queria provar pra mim mesma que eu seria capaz de mudá-lo e deixar ele da melhor forma para me receber como qualquer coisa além de amiga.Deixei que ele o
— Sabe Cat — olhei para Jess, estávamos na saída do shopping, esperando que o pai dela viesse nos buscar. — Você tinha me perguntado, por que eu escolhi você para ficar já que tenho tantas outras amigas...Eu sentia ela como uma conselheira, era como se na verdade eu estivesse fazendo-a a vontade para desabafar. Esperei que ela suspirasse e me surpreendi com a palavra que veio logo em seguida.— Sou muito julgada. Não basta ser sobrinha do pastor, morar bem longe da igreja, estar me esforçando sempre pra me deslocar e estar presente nas reuniões e nos ensaios. Eu busco fazer tudo certinho e ouvir, de verdade, a voz de Deus. Me entende?Eu não soube mais o que dizer, apenas assenti com a cabeça. Por toda a minha vida, vi como Jess sempre se dedicou a faculdade e as coisas direcionadas a Deus, não via tempo de me aproximar, ou melhor, ainda não havia achado um momento certo para conversar com ela. Saber que esse momento havia chegado
Quebra de tempo:Catarina, após a visita de Jess, aceita participar de uma coreografia na igreja, poucas coisas acontecem com ela neste meio tempo, porém, ela não pode negar que sente algo diferente dentro dela... Ela precisa decidir se irá ouvir o coração, ou se continuará a ignorar.__As duas meninas cantaram mais alguns louvores, quando Cat abriu os olhos, percebeu que deixou as lágrimas rolarem. Com a vista embaçada, viu que sua mãe já havia chegado e estava ao seu lado e que a igreja estava parcialmente cheia.O pastor pegou o microfone novamente para ministrar um pouco a palavra, Jess a chamou pro banheiro novamente, mas já com todas as outras que iriam dançar; iriam repassar alguns passos para aquelas que estavam com uma mínima dificuldade e logo após iriam orar e se vestir.Vestiram um vestido longo branco com as mangas azuis e ficaram descalças. Fizeram uma breve oração pedindo ajuda e pedindo que
— Vai ficar para o culto? — ela demorou um tempo para organizar os pensamentos na cabeça. — Não, já estou indo — a expressão dele se tornou confusa e aparentemente apressada. — Tudo bem então — ela ficou levemente triste, mas não podia fazer nada. — Preciso ir.— Eu sei, docinho. Nos vemos depois — disse ele e deu um beijo na bochecha dela, que ficou levemente corada e preocupada por estar na igreja, olhou para dentro,mas a oração continuava. — Tchau.Ela entrou, tentando respirar calmamente e fechou os olhos. Não demorou muito para as lágrimas inundarem seus olhos.Sua concentração filtrou-se no pastor e na sua oração que estava ao fim. Um clamor pela nação.Após terminar de orar e de todos se sentarem, ele começou a pregar.— Muitos dizem que o arrependimento é fazer um giro de 180 graus; mas sem dúvid
Cheron Martinez, o pastor, vestia mais um dos seus ternos, o que mais se destacava nele era o seu cabelo que caía constantemente, deixando à mostra o início de uma careca.Catarina se dirigiu até ele, perto do altar, com um certo receio e com várias perguntas rodeando sua mente.— Sim?— Foi muito boa a apresentação.— Obrigada.— Percebi que chorava. Algo a incomoda?Silêncio.— Tudo bem, não quero ser intrometido. Se não consegue desabafar comigo, tem também a minha filha, a minha mulher, ou qualquer outro daqui, pois o bom é receber e seguir os conselhos dos cristãos. Sei que nesta idade não queremos desabafar com nossas mães.— Ah... Sim, pastor. Eu nã