— Sim — respondeu ela, deletando os sentimentos de seu coração e aceitando o que Deus lhe dizia —, eu aceito.
🌟
— Radassa — gritou com a voz ofegante —, espere.
Suas pernas estavam doloridas, correr atrás da filha era um trabalho incrivelmente árduo, mas ela não podia deixar isso para a mãe, temia que algo de ruim acontecesse com as marcas deixadas nas pernas dela.
— Minha filha, deixe a criança, você era pior — aconselhou sua mãe, sentada na varanda descascando uma laranja numa paz incompreensível.
— Eu sei mãe, mas ela precisa comer — suspirou e sentou-se no chão, ao lado da poltrona onde sua mãe se sentará. — Ela já não nasceu tão fortinha, porque não segue as atitudes dos irmãos?
Radassa surgiu rindo, colocando as mãozinhas nos joelhos simbolizando seu cansaço. Quando levantou-se, encontrou um olhar nada agradável de sua mãe, dando um sorriso desajeitado, a criança
― Mãe, por que eu não posso namorar?Catarina Moura julga viver sofridamente os dilemas de uma juventude avassaladora, onde tudo lhe é proibido, porém, o desejo de ter e fazer é maior e isso a angustiava. Aqui, ela via-se necessitada de um amor, de uma paixão, coberta de carências, ela buscava satisfazer a sua carne e não fazê-lo parecia-lhe cruel e doloroso.O caso perturbante é que sua mãe proibia-lhe quaisquer ação e desejo da mocidade, consciente do resultado dos "desejos carnais" e tentando ao máximo proteger sua filha, para que a mesma não acabasse por vivenciar e repetir tudo que a mãe, Rita, consequentemente vivera. E Catarina, apelidada por Cat, caminhava pela praça movimentada de seu bairro, com as lembranças ávidas em sua mente, questionando-se quando ela poderia, finalmente, alcançar sua liberdade.Enquanto ela se distraía, chutando uma pequena pedra pelo caminho, a pessoa que seria a sua perdição, ou a sua liberda
Catarina dava passos lentos e errantes até a cantina da escola, ignorando as pessoas a sua volta, ela pensava em algo ao mesmo tempo que não pensava em nada.Tivera uma noite, inegavelmente boa, porém, coberta de pensamentos e inseguranças. Ela certamente não sabia o que se sucederia e nem sabia como melhor encarar os acontecimentos de sua vida. Ao acordar, não sentiu tanta vontade de levantar, a não ser a lembrança de um certo garoto determinado que ansiava — segundo ele — vê-la naquele dia.Certamente não escolhemos o rumo que nossas vidas pode tomar repentinamente, acabamos também vivendo rodeado de questões. De fato, nos encontramos em um mundo repleto de perguntas e sedento de respostas.Cat havia pedido seu lanche e o degustava calmamente enquanto observava as folhas repousadas no chão do pátio e o clima ameno se transformar em algo indiferente e dispensável. Deixou-se esvair aos pensamentos e imaginações do que certamente nun
O acolher dos braços do moço bonito e traiçoeiro durou tempo o bastante para que o coração da garota pulasse em seu peito e toda emoção fosse demonstrava em seus suspiros e em seu estômago inquieto.O moço bonito e traiçoeiro foi quem finalizou o abraço e afastou a garota de seus braços, numa distância curta o suficiente para ainda sentir-se a respiração um do outro.Aquele contato dos olhos durou um tempo curto, pois o garoto logo anunciou a sua ida e se despediu brevemente da garota. Ele disse ter esquecido que teria um compromisso naquele momento e que passou apenas para ver a menina ingênua por mais uma vez. De modo desconfiado, ele foi embora e ela manteve-se o observando pensativa.Observando ao seu redor, ela se deparou com sua amiga caminhando em sua direção, com uma expressão cansada. Consertou a alça de sua mochila em seu ombro e deu um sorriso fraco para Deyse, a garota com a qual seguia para casa.As dua
A noite chegava lentamente em Belo Horizonte. Algumas ruas ficavam numa penumbra, o céu escurecia rapidamente e as lâmpadas dos postes se ascendiam. Algumas pessoas vagavam silenciosamente pelo caminho. O clima estava ameno e o ar levava para todos os lados o cheiro de pães frescos e café moído. Era quase impossível passar por aquelas ruas naquele horário e não parar em uma padaria ou em uma lanchonete para provar um pouco do café amargo, mas muito saboroso e, é claro, os pães frescos com o queijo mineiro tradicional.Catarina passava pela rua, indo em direção à igreja, o ambiente do qual passara um período sem visitar. Um misto de ansiedade cobria a garota, ela não podia evitar, a dança era a sua paixão. Entrou em uma ruazinha, algumas pessoas estavam em frente às suas casas, conversando distraidamente com algum vizinho ou alguém conhecido.Ela trajava roupas leves e calçava uma sapatilha branca, levando uma meia para vestir assim que chegasse. Seu
Catarina não dormiu bem aquela noite. O céu estava limpo, a brisa estava suave e fresca, não havia sons da noite se esvaindo lá fora, mas ainda assim, ela não dormiu, pois, os seus pensamentos estavam acesos e sua cabeça latejava a cada vez que um pensamento voltava a se ascender. Era como se eles ganhassem forma.— Como foi lá, querida? — a mãe havia perguntado, assim que ela chegou em casa.— Ah! Mãe... — ela respirou fundo e disfarçou. — Foi legal! Mas, sinceramente... isso não me serve mais.— Bom... você pode tentar outra coisa, filha, há bastantes possibilidades...— Por favor, mãe. Não mais, só quero ficar na minha, e certamente nunca voltarei lá.— Então... — resolveu finalizar — ok.Naquele momento, eles jantaram silenciosamente e se despediram com afeto, cada um para seu cômodo ainda mais silencioso, onde Cat se encontrava agora.Ela não sabia,
Fora uma manhã chata com provas chatas. O outono se aproximava, o clima ficava uma loucura e as pessoas se agitavam. Catarina começava a lembrar de sua época morando no campo, um pouco longe dali, nas colheitas de outono sem previsão de como viria o inverno, da fome que já enfrentara por conta de dias chuvosos ou de terra infrutífera. Certamente ela não queria voltar àquele tempo e não comentava com ninguém sobre seus medos.— Catarina?Ela se virou bruscamente, estava sentada na cadeira, em uma mesa da lanchonete, a voz que surgiu por trás dela pertencia, sim, a pessoa que ela não queria ver, definitivamente. Ela sentiu seu rosto ganhar rubor, mas não lhe era mais vergonha, era raiva. Ela segurou a mochila e se preparou para ir embora.— Vinícius? Desculpe, já estou de saída.&nb
Tem pessoas que, quando chegam em nossa vida, conseguem fazer uma revira-volta no nosso subconsciente, não é verdade? Dono de uma beleza de tirar o folego, Vinícius é um dos garotos mais desejados da cidade — digamos assim —, estava sempre recebendo fretes, pedidos de namoro e, é claro, estava sempre dando esperanças para as garotinhas. Piscadinhas aqui, sorrisinhos ali. Ele nunca iria assumir um compromisso sério, era o que todos diziam.Quando ele via Catarina, com seus cabelos esvoaçantes, passando distraidamente pelos corredores, ignorando-o totalmente, ele acreditou que aquela seria a garota certa. Ele certamente não iria querer garotas oferecidas para viver, precisava de um ser puro e intocado.Passara muito tempo observando-a em certa distância e quando fez contato, não se importou com mais nada que o cercava. Trabalho, casa, namorada. Ele queria em parte provar que conseguiria ficar com a menina certinha do colégio, mas, por outro lado, ele
Haviam se passado três dias. Três dias desde o dia em que Catarina entrou no carro de Vinícius e debateu com ele o tamanho da falta de vergonha que ele obtinha, dando um fora recheado de esperanças, recheados de "sim, estou apaixonada por você", talvez ela tivesse decidido jogar um jogo com ele antes, até se decidir se ele era uma diversão válida ao erro ou se era apenas o desperdício de tempo que ela já havia notado.Durante esses três dias, Vinícius se empenhava em conversar sobre assuntos inteligentes, recomendando leituras, se mostrando altruísta e responsável. Ela o ignorava e falava o quanto ele poderia ter feito melhor e no como ela se sairia bem no lugar dele.Ele havia mudado um pouco o seu jeito, mas, sempre que ela estava longe, ele virava uma garrafa de cerveja, de uma vez só, depois xingava e xingava. É claro que ele "passava o tempo" das melhores formas possíveis, em baladas e em lugares específicos, com pessoas peculiares,