Catarina dava passos lentos e errantes até a cantina da escola, ignorando as pessoas a sua volta, ela pensava em algo ao mesmo tempo que não pensava em nada.
Tivera uma noite, inegavelmente boa, porém, coberta de pensamentos e inseguranças. Ela certamente não sabia o que se sucederia e nem sabia como melhor encarar os acontecimentos de sua vida. Ao acordar, não sentiu tanta vontade de levantar, a não ser a lembrança de um certo garoto determinado que ansiava — segundo ele — vê-la naquele dia.
Certamente não escolhemos o rumo que nossas vidas pode tomar repentinamente, acabamos também vivendo rodeado de questões. De fato, nos encontramos em um mundo repleto de perguntas e sedento de respostas.
Cat havia pedido seu lanche e o degustava calmamente enquanto observava as folhas repousadas no chão do pátio e o clima ameno se transformar em algo indiferente e dispensável. Deixou-se esvair aos pensamentos e imaginações do que certamente nunca seria realidade.
Todos estavam em semana de provas e corriam contra o tempo para encontrarem um tempo livre entre seus afazeres, para estudarem e se prepararem para obter um resultado positivo. Porém, naquele instante, Catarina parecia não se importar com qualquer fato existente à sua volta. Era só ela, seu lanche e seus pensamentos velozes.
Ela esperava pacientemente a sua colega que ainda estava respondendo as questões. Observando as pessoas se retirarem do colégio com expressões difíceis em seus rostos, ela acabou ficando aflita por um momento. Finalizando sua degustação, sentou-se num banco de praça e pôs-se a pensar na vida, apreensiva.
Retirando-se de súbito de sua zona de pensamento, ouviu seu nome sendo chamado por alguém ali perto e se inclinou para procurar uma jovem moça acenando sem parar. Era conhecida e de uma beleza muito agradável, Jéssica.
A garota trajava um body branco, daqueles que usam em ballet, juntamente com um jeans rasgado e um tênis preto, o estilo dela naquele dia era o mais despojado possível. Seus cabelos castanho-claro estavam soltos e, de hora em hora, ela brincava com a franja recaída em sua testa que insistia em invadir seu campo de visão.
— Que ótimo te ver, não imagina o quanto estou sentindo a sua falta — ela anunciou, abraçando a incrédula Cat, desconfiada de tamando afeto — não some assim, você é importante. Quando vai aparecer?
— Está difícil — respondeu apenas, notando logo o olhar questionador e se recompondo de sua arrogância. — Estou em semana de provas, mas logo logo eu retornarei à minha rotina habitual.
— Compreendo perfeitamente — dizia ela, sorridente —, aparece logo, a gente quer você em uma coreografia que estamos criando, seria tão legal sua participação, e eu sei que você gosta de dançar.
— Posso dar um jeito de comparecer a um ensaio... não prometo nada.
— Perfeito! — anunciou, saltitante, mas em alerta para não perder seu transporte para casa. — Seis da noite, hoje lá na igreja, vamos te esperar.
— Não prometo nada — afirmou mais uma vez.
— Eu sei qur vai se esforçar para ir — ela sorriu —, agora eu tenho que ir. Mais uma vez, foi ótimo de ver — disse, dando dois beijos nas bochechas de Cat.
— Igualmente — retribuiu timidamente.
E lá ia-se a figura engraçada, alegre e radiante, demonstrando força e tudo que há de melhor e desejável. Jéssica era uma garota maravilhosa.
Catarina observava a garota sumindo, se virou bruscamente e se bateu depressa em seu professor. Fora tão de repente que ela mal teve tempo de respirar.
Desculpando-se, aproveitou o momento para perguntar educadamente como tinha se saído na prova daquele dia. E a resposta dele havia deixado-a com uma estranha sensação.
— Catarina, isso não é pergunta que se faça. Você é a melhor aluna do Ensino Médio e eu não consigo fazer outra coisa a não ser admirar a sua imensa capacidade e inteligência. — Ele parou por um instante, pensativo, como se precisasse falar algo. Olhou profundamente nos olhos ansiosos que estavam diante de si e suspirou, pousando sua mão na cabeça da garota. — Catarina, algo peço-te de coração... não permita nunca que nada, nem ninguém, venha abalar esse tamanho talento que há em você. Nunca mesmo. Confio em você.
— Certo, professor — ela disse, sorrindo timidamente. Não compreendia muito bem o motivodaquelas palavras e nem da sua repentina reação.
Eles se despediram e ela acabou-se por manter a sua mente ocupada, por mais longos minutos.
O que exatamente o professor quis dizer com aquilo?
Por um momento, Cat despreocupou-se e resolveu deixar pra lá, retornando para o lugar que estava inicialmente, resolvendo pegar um livro que estava em sua mochila, mas nada a acalmava.
Os raios de sol não apenas esquentavam, mas também iluminavam o local. As pessoas mal andavam calmamente, vivem correndo, com pressa. Era incrível como nem tinham tempo para dar uma simples olhadinha no céu ou no sol.
E, de repente, duas mãos cobriram-lhe a visão, e ela que já estava apreensiva, chegou quase ao próprio desespero.
A pessoa atrás dela, sussurrou em voz baixa que era para ela adivinhar quem era. Mas é claro que ela reconheceu aquela voz e não deixou de sorrir.
— Vinícius — ela suspirou e se virou para o encarar.
― Acertou! ― disse ele sorrindo.
Ela retribuiu o sorriso e observou a cena. Eles estavam próximos um do outro. Próximos até demais. Talvez pela confusão ou pelo nervosismo, ela inclinou-se bruscamente, e quase caía do banco em que estava.
― Calma, docinho! ― disse-lhe com um sorriso hipnotizador, um riso no canto dos lábios e olhos impassíveis, incapazes de demonstrar qualquer verdade em seus atos.
Ela ficou pensativa, não sabia o que devia fazer para cumprimentá-lo da melhor forma. Queria abraça-lo, então se pôs de pé, fingindo estar ajeitando a mochila em suas costas.
Parecendo perceber ou ler os pensamentos da garota, ele deu dois passos para frente, tocou a cintura dela, puxando-a para si. O coração dela batia acelerado e um arrepio percorreu pela espinha.
Vamos, é só um abraço, pensou.
A cada segundo que se passava, seu coração acelerava mais e para disfarçar um pouco o nervosismo, ela fechou os olhos. Quando foi perceber, já estava acolhida nos braços dele, em uma praça pública, sem ao menos se importar com qualquer consequência.
҉
O acolher dos braços do moço bonito e traiçoeiro durou tempo o bastante para que o coração da garota pulasse em seu peito e toda emoção fosse demonstrava em seus suspiros e em seu estômago inquieto.O moço bonito e traiçoeiro foi quem finalizou o abraço e afastou a garota de seus braços, numa distância curta o suficiente para ainda sentir-se a respiração um do outro.Aquele contato dos olhos durou um tempo curto, pois o garoto logo anunciou a sua ida e se despediu brevemente da garota. Ele disse ter esquecido que teria um compromisso naquele momento e que passou apenas para ver a menina ingênua por mais uma vez. De modo desconfiado, ele foi embora e ela manteve-se o observando pensativa.Observando ao seu redor, ela se deparou com sua amiga caminhando em sua direção, com uma expressão cansada. Consertou a alça de sua mochila em seu ombro e deu um sorriso fraco para Deyse, a garota com a qual seguia para casa.As dua
A noite chegava lentamente em Belo Horizonte. Algumas ruas ficavam numa penumbra, o céu escurecia rapidamente e as lâmpadas dos postes se ascendiam. Algumas pessoas vagavam silenciosamente pelo caminho. O clima estava ameno e o ar levava para todos os lados o cheiro de pães frescos e café moído. Era quase impossível passar por aquelas ruas naquele horário e não parar em uma padaria ou em uma lanchonete para provar um pouco do café amargo, mas muito saboroso e, é claro, os pães frescos com o queijo mineiro tradicional.Catarina passava pela rua, indo em direção à igreja, o ambiente do qual passara um período sem visitar. Um misto de ansiedade cobria a garota, ela não podia evitar, a dança era a sua paixão. Entrou em uma ruazinha, algumas pessoas estavam em frente às suas casas, conversando distraidamente com algum vizinho ou alguém conhecido.Ela trajava roupas leves e calçava uma sapatilha branca, levando uma meia para vestir assim que chegasse. Seu
Catarina não dormiu bem aquela noite. O céu estava limpo, a brisa estava suave e fresca, não havia sons da noite se esvaindo lá fora, mas ainda assim, ela não dormiu, pois, os seus pensamentos estavam acesos e sua cabeça latejava a cada vez que um pensamento voltava a se ascender. Era como se eles ganhassem forma.— Como foi lá, querida? — a mãe havia perguntado, assim que ela chegou em casa.— Ah! Mãe... — ela respirou fundo e disfarçou. — Foi legal! Mas, sinceramente... isso não me serve mais.— Bom... você pode tentar outra coisa, filha, há bastantes possibilidades...— Por favor, mãe. Não mais, só quero ficar na minha, e certamente nunca voltarei lá.— Então... — resolveu finalizar — ok.Naquele momento, eles jantaram silenciosamente e se despediram com afeto, cada um para seu cômodo ainda mais silencioso, onde Cat se encontrava agora.Ela não sabia,
Fora uma manhã chata com provas chatas. O outono se aproximava, o clima ficava uma loucura e as pessoas se agitavam. Catarina começava a lembrar de sua época morando no campo, um pouco longe dali, nas colheitas de outono sem previsão de como viria o inverno, da fome que já enfrentara por conta de dias chuvosos ou de terra infrutífera. Certamente ela não queria voltar àquele tempo e não comentava com ninguém sobre seus medos.— Catarina?Ela se virou bruscamente, estava sentada na cadeira, em uma mesa da lanchonete, a voz que surgiu por trás dela pertencia, sim, a pessoa que ela não queria ver, definitivamente. Ela sentiu seu rosto ganhar rubor, mas não lhe era mais vergonha, era raiva. Ela segurou a mochila e se preparou para ir embora.— Vinícius? Desculpe, já estou de saída.&nb
Tem pessoas que, quando chegam em nossa vida, conseguem fazer uma revira-volta no nosso subconsciente, não é verdade? Dono de uma beleza de tirar o folego, Vinícius é um dos garotos mais desejados da cidade — digamos assim —, estava sempre recebendo fretes, pedidos de namoro e, é claro, estava sempre dando esperanças para as garotinhas. Piscadinhas aqui, sorrisinhos ali. Ele nunca iria assumir um compromisso sério, era o que todos diziam.Quando ele via Catarina, com seus cabelos esvoaçantes, passando distraidamente pelos corredores, ignorando-o totalmente, ele acreditou que aquela seria a garota certa. Ele certamente não iria querer garotas oferecidas para viver, precisava de um ser puro e intocado.Passara muito tempo observando-a em certa distância e quando fez contato, não se importou com mais nada que o cercava. Trabalho, casa, namorada. Ele queria em parte provar que conseguiria ficar com a menina certinha do colégio, mas, por outro lado, ele
Haviam se passado três dias. Três dias desde o dia em que Catarina entrou no carro de Vinícius e debateu com ele o tamanho da falta de vergonha que ele obtinha, dando um fora recheado de esperanças, recheados de "sim, estou apaixonada por você", talvez ela tivesse decidido jogar um jogo com ele antes, até se decidir se ele era uma diversão válida ao erro ou se era apenas o desperdício de tempo que ela já havia notado.Durante esses três dias, Vinícius se empenhava em conversar sobre assuntos inteligentes, recomendando leituras, se mostrando altruísta e responsável. Ela o ignorava e falava o quanto ele poderia ter feito melhor e no como ela se sairia bem no lugar dele.Ele havia mudado um pouco o seu jeito, mas, sempre que ela estava longe, ele virava uma garrafa de cerveja, de uma vez só, depois xingava e xingava. É claro que ele "passava o tempo" das melhores formas possíveis, em baladas e em lugares específicos, com pessoas peculiares,
*Os próximos capítulos serão com Catarina narrando-os.— Sim, eu lhe digo sim para a primeira pergunta. Eu pensei a respeito. Vinícius, eu te vejo como um bom amigo, eu pedi pra me provar e me fazer ver o contrário, mas isso ainda não aconteceu.— Caramba! Então, o que mais eu tenho que fazer?— Toma — levantei um pequeno livro na direção dele —, creio que vai aprender mais rápido. É um livro de romance.Ele ficou surpreso com a minha iniciativa, dava para ver em seus olhos e ele não disfarçava muito bem. Apesar de eu querer muito acabar com o drama e dizer sim de uma só vez, mas eu queria provar pra mim mesma que eu seria capaz de mudá-lo e deixar ele da melhor forma para me receber como qualquer coisa além de amiga.Deixei que ele o
— Sabe Cat — olhei para Jess, estávamos na saída do shopping, esperando que o pai dela viesse nos buscar. — Você tinha me perguntado, por que eu escolhi você para ficar já que tenho tantas outras amigas...Eu sentia ela como uma conselheira, era como se na verdade eu estivesse fazendo-a a vontade para desabafar. Esperei que ela suspirasse e me surpreendi com a palavra que veio logo em seguida.— Sou muito julgada. Não basta ser sobrinha do pastor, morar bem longe da igreja, estar me esforçando sempre pra me deslocar e estar presente nas reuniões e nos ensaios. Eu busco fazer tudo certinho e ouvir, de verdade, a voz de Deus. Me entende?Eu não soube mais o que dizer, apenas assenti com a cabeça. Por toda a minha vida, vi como Jess sempre se dedicou a faculdade e as coisas direcionadas a Deus, não via tempo de me aproximar, ou melhor, ainda não havia achado um momento certo para conversar com ela. Saber que esse momento havia chegado