Angel Murat estava eufórica. Enfim ia poder sair à noite sem os pais. Lógico que tinha sido uma quebra de braços sem tamanho com o pai Robert para que ele a deixasse sair para um barzinho com as amigas.
- Mas pai, eu agora já tenho dezoito anos, posso sair à noite sim.
Robert tinha achado graça na forma como ela falou.
- Você fez dezoito anos na semana passada, mocinha, não pode sair por aí em bares com esses seus amigos que só pensam em beber e namorar.
- O que tem beber e namorar?
- Não tem nada, mas você precisa ir devagar e além do mais você já tem namorado.
Ela tinha torcido o nariz.
- Eu não disse ainda que vou aceitar a namorar com o Murilo.
- Você sabe que ele estava só esperando você ficar maior para pedir você em namoro, não é?
- Sei sim, mas o Murilo é um chato! Parece que tem dez anos e não vinte.
Robert tinha suspirado, cansado daquela discussão. Em toda a sua vida ele não conseguira vencer nenhum embate com ela. Angel era decidida e firme em tudo que fazia e desde pequena sabia como convencer os pais a fazer suas vontades.
- Está bem, eu deixo você ir se for com o Murilo.
Ela tinha pulado no pescoço do pai e estalado um beijo em seu rosto.
- Obrigada, paizinho, vou falar com a mamãe.
Mais tarde, enquanto se arrumava no quarto para sair, Angel pensava em como sua vida era maravilhosa. Adorava sua família e vivia feliz ali na fazenda. Muitas das suas amigas lhe indagavam por que ela não queria morar na cidade enquanto fazia faculdade como todas as garotas da sua turma e ela tinha respondido:
- Para quê? Se eu tenho pais que fazem tudo por mim em casa. Tenho meu próprio carro e posso ir e vim em menos de meia hora?
E era verdade. Como filha única do grande Fazendeiro Robert Murat ela era a queridinha da fazenda e todos faziam o que ela queria. Ali tinha conforto e amor. Para que morar sozinha em uma cidade grande onde ela não conhecia ninguém? Estava bem ali e pretendia terminar o curso de medicina veterinária e trabalhar ali com o pai, cuidando dos animais da fazenda.
Quanto a namorar com o Murilo ela sabia que provocaria algumas lamentações, mas estava decidida. Não queria namorar com ele. Lógico que já tinham trocado uns beijinhos, mas daí a assumir um relacionamento era bem diferente. Ela era muito nova para pensar em casamento e sabia que a intenção de Murilo era justamente se casar. Era muito comum na área rural as moças se casarem um pouco mais cedo e começarem logo a formar família, mas Angel não tinha pressa. Queria fazer tudo a seu tempo e esperar encontrar sua alma gêmea para depois pensar em casamento.
Por ora, o que ela queria mesmo era sair e curtir a noite de Goiânia com os amigos, mesmo que para isso tivesse que suportar Murilo grudado em seu pé.
Ela caprichou no visual e escolheu uma calça caríssima que ela tinha comprado omitindo o verdadeiro valor para a mãe e calçou suas eternas botas de couro e uma mini blusa vermelha que evidenciava sua barriga. Ela gostaria de estar um pouco mais magra, mas de forma geral estava satisfeita com seu corpo. No entanto, o que ela mais gostava em si mesma eram os cabelos. Gastava rios de dinheiro em cremes e shampoos para manter o preto liso e brilhante, mas o resultado compensava.
E agora ela estava ali no Posto 15, um dos bares mais frequentados pela juventudeem Goiânia. Ela tinha ido com as amigas Vanessa e Karen e lógico, o Murilo que fingia ser o guarda costa de todas elas. Vanessa era filha do vaqueiro da fazenda e tinha vinte e um aos. Era professora e mãe solteira, um estado civil um pouco complicado para quem morava em uma região onde as tradições familiares eram muito arraigadas e o casamento era visto como um troféu para as famílias. Ela, no entanto, encarava com naturalidade e enfrentava de cabeça erguida as críticas que ouvia a respeito de ter sido abandonada pelo pai do seu filho. Karen tinha dezoito anos como ela e era filha do fazendeiro vizinho, Josué Matias. Benício era o mais novo dos filhos do veterinário da fazenda e morava em Goiânia, mas vivia o tempo todo na fazenda de Angel ajudando o pai com os animais.
Aqueles eram os principais amigos de Angel e eles estavam juntos o tempo todo.
Ela não quisera festa de aniversário ao fazer dezoito anos, apenas queria ter um pouco de liberdade e poder sair com os amigos e não apenas com os pais.
Naquela noite Angel estava disposta a se divertir. E isso incluía beber e namorar. O problema era justamente namorar. Como fazer aquilo com Murilo em sua cola o tempo todo? Principalmente agora quando aquele homem lindo não parava de olhar para ela. Ela sabia quem era ele. Taylor Belinari. Já tinha ouvido falar dele pela fama que fazia com as garotas da região e sabia que a fazenda dele era vizinha da sua, mas nunca o tinha visto pessoalmente. Ele devia ser um pouco mais velho, pois Vanessa tinha comentado que o vizinho tinha terminado a faculdade e tinha voltado para viver com a mãe na fazenda.
Ele era alto e tinha um corpo bem alongado com poucos músculos. Os olhos azuis faziam um lindo contraste com a pele um pouco morena e os cabelos pretos. Aquele chapéu de cowboy combinava perfeitamente com o rosto comprido dele e a calça justíssima mostrava todos os detalhes do corpo dele. Jesus! Que homem lindo!
Ela puxou Karen para um canto e falou sem tirar os olhos de Taylor.
- Karen, olha só quem tá ali me comendo com os olhos!
- Nossa! É aquele gato do Taylor?
- Ai meu Deus, será que ele está a fim de mim?
Karen sacudiu o braço dela.
- Pare de sonhar com isso, ele tem fama de mulherengo viu!
Ela sacudiu os ombros
- Não estou nem aí pra isso, eu quero é beijar ele.
- Menina, você é louca!
- Me ajuda, Karen, tira o Murilo do meu pé e eu vou lá perto dele.
- Vai falar o que com ele?
- Não vou falar nada, vou pedir uma bebida e fingir que passei perto por acaso, ora!
Karen levantou as mãos.
- Desisto.
Angel foi até o balcão, pediu uma bebida e sentou no banquinho passeando o olhar distraidamente pelo salão, mas fixando a atenção no rapaz de olhar enigmático à sua frente.
Ele falou alguma coisa com o rapaz que estava ao seu lado e avançou na direção dela.
Angel engoliu em seco e fingiu não perceber que ele se aproximava.
Ele chegou perto, muito perto, para dizer a verdade e deu um sorrisinho de canto.
- Acho que você devia parar um pouquinho de beber.
Ela voltou-se para ele e empinou o nariz.
- Por quê? Aqui é um bar e todos vem aqui pra beber.
Ele arqueou uma sobrancelha
- Parece que você não está muito acostumada a frequentar bares.
- Veio aqui perto de mim pra me dar sermão ou pra me passar uma cantada?
Taylor deu uma gargalhada.
- Não quero passar uma cantada numa garota bêbada.
Angel colocou o copo sobre o balcão.
- Não seja por isso então... Paro de beber agora.
Taylor estreitou os olhos tentando não ri da forma como ela se jogava para cima dele. A menina realmente queria tirar o atraso. Bom para ele que não teria muito trabalho em iniciar seu plano de conquistá-la.
- Quer dançar?
Ela pareceu não entender a pergunta dele.
- Dançar?
- Sim, tem uma pista de dança ali, você gosta de música sertaneja?
- Acho que todos aqui gostam. Eu não sei dançar direito não.
- Eu também não. Então vamos.
Angel parecia flutuar com o cheiro que emanava dele.
A música era lenta e romântica e ela encostou a cabeça no peito dele. Ela era bem mais baixa e o queixo dele ficada acima da sua cabeça. Bom porque ela não precisava olhar para o rosto dele e demostrar que estava meio trêmula nos braços dele. Seria o álcool ou porque o corpo dele era quente, macio e cheiroso? As mãos dele cercaram sua cintura e ela sem saber onde colocar as suas rodeou o pescoço dele e deixou-se levar pelo ritmo da melodia de Zé Filipe, um cantor sertanejo que fazia sucesso na região. De longe ela viu Karen fazendo sinais para que ela voltasse para junto delas, mas ela ignorou a amiga e puxou conversa com Taylor.
- Você dança bem.
Ele abaixou a cabeça e a olhou divertido.
- Obrigada, geralmente não costumo dançar.
Angel estava meio inebriada com a voz rouca dele perto do seu ouvido.
Tentou desviar os olhos dele, mas não conseguiu, ao contrário fixou o olhar em sua boca e não escondeu que esperava que ele a beijasse.
- Calma, garota, não quer que eu beije você aqui no meio da pista de dança, não é?
Ela encostou provocante no corpo dele.
- Por quê? Não pode beijar aqui?
Taylor sentiu que precisava frear um pouco aquela menina.
- Pode, mas seu amigo não para de olhar para cá.
- Esquece o Murilo, ele é um chato!
Ele segurou o rosto dela entre as mãos e olhou fixamente para ela.
- Cuidado, garota! Não pode sair por aí se jogando assim nos braços de qualquer um.
O álcool deixava o corpo de Angel mole e ela insistia em se agarrar a cintura dele.
- Você não é qualquer um. Eu sei que seu nome é Taylor e você mora ao lado da minha casa e eu quero beijar você.
Taylor pressentiu que teria problemas se não tirasse aquela garota dali naquele momento.
Olhou em direção aos amigos dela e fez sinal para que eles a levassem para casa.
Ela ainda resistia em sair com os amigos.
- Não quero ir com vocês. Deixa que ele me leva!
Vanessa, sempre mais ajuizada, se aproximou e a pegou com força pelo braço olhando envergonhada para Taylor.
- Desculpe, ela não está acostumada a beber.
Ele estava irritado porque aquela pirralha tinha estragado o momento que poderia significar o início de seu plano. Agora ia ser mais difícil se reaproximar dela.
- Tudo bem, acho que deviam levá-la para casa.
Ela saiu carregada pelo braço pelas amigas, mas ainda virou e lançou um olhar provocador para Taylor e acenou com a mão.
Ele virou-se e se aproximou dos amigos que o aguardavam com um sorriso provocante.
- O que foi aquilo meu amigo? Que garota maluca!
Ele tirou o chapéu e passou a mão ajeitando o cabelo.
- Vamos embora, acho que essa noite já deu.
- A garota ficou doidinha por você.
Taylor fingiu não ouvir, não estava interessado no que ela pensava dele.
Uma semana depois daquele vergonhoso encontro Angel procurava coragem para ir falar com Taylor.- Você vai na casa dele?!Ela encarou a amiga.- Vou, sim, Vanessa, vou falar com ele e pedir desculpas.- Porque não deixa isso pra lá? Você nem conhece ele direito.- De jeito nenhum, ele deve estar pensando muito mal de mim. Nunca mais vai querer falar comigo.Ela falou meio chorosa.Vanessa estava curiosa.- E você está doidinha pra falar com ele, não é?- Claro, Vanessa, quem não quer falar, beijar, fazer tudo com um homem daquele?- Cuidado, Angel, você sabe que seus pais não vão gostar nada disso, não é?- Só se você contar pra eles. Então amanhã quando eu voltar da faculdade eu vou lá na casa dele.Angel deixou a amiga em casa e foi para a fazenda. Ao chegar, foi direto en
No dia seguinte, pontualmente às sete horas, Angel tocou a buzina na entrada da fazenda de Taylor. Ele demorou apenas alguns segundos e apareceu na frente dela. Estava terrivelmente bonito. Aquelas calças justas, o cinto com uma fivela enorme e uma camisa branca de mangas compridas arregaçadas até o cotovelo deixavam á mostra o braço forte. Ele estava sem chapéu e o cabelo preto cacheado meio grande caía pela testa e dava certo charme ao rosto dele. E a boca? Era linda. Ele só precisava sorrir um pouco mais. Era muito sério, mas as poucas vezes que ela o vira sorrindo era de parar o coração de qualquer mulher. Meu Deus! Eu vou sair com Taylor Belinari sozinha à noite.Ela tentou controlar as batidas do coração e esperou ele entrar no carro.- Você quer ir no seu carro mesmo ou vamos no meu?Ela sorriu meio tonta com o perfume dele.<
Izabel observou o filho virar um copo de uísque e ficou preocupada. Ele não era de beber assim em casa. Alguma coisa o estava preocupando. Ele sempre fora meio calado e introspectivo, mas nos últimos tempos estava com um olhar triste e distante. Ela não fez nenhum comentário, mas sabia que ele tinha saído na noite anterior com a filha de Robert e aquilo pareceu deixá-lo ainda mais nervoso. Ela tentava entender os motivos para ele estar saindo com aquele menina e uma suspeita se formava em sua mente. Será que ele estava querendo se vingar de Robert através da filha? Se assim fosse ela não permitiria de jeito nenhum. Ele não podia envolver uma garota inocente naquela ideia maluca de vingança contra uma pessoa que não era um monstro como ele pensava. Ela só não podia contar todos os detalhes assim de hora para outra, mas tentaria dissuadia-lo daquela loucura.Aproximou-se del
Angel conversava com Murilo e tentava fazê-lo entender que não tinha interesse nele como namorado.Eles estavam sentados num tronco de árvore perto do riacho que cortava a propriedade dos Murat e adentrava nas terras vizinhas, que pertencia à família de Taylor. Ela e Murilo se conheciam desde criança e ela sabia que ele nutria um sentimento maior por ela. Mesmo sabendo que em alguns momentos ela deu a entender que um dia seriam namorados, ela não sentia o coração acelerar quando ele chegava perto, não como sentia com Taylor. Murilo, no entanto, estava decepcionado e triste por saber que Angel não correspondia aos seus sentimentos.- Sinto muito, Murilo, mas não dá pra namorar quando se tem apenas sentimento de amigo.Ele parecia inconformado.- Já sei. Você está saindo com outro cara, não é? É aquele Taylor, eu sei.Ang
Angel estava nervosa e se atrapalhou com as palavras.- Eu... deixei minha roupa no seu banheiro, queria colocar pra secar...Taylor se afastou da porta e fez sinal para ela passar.- Pode pegar, eu coloco lá fora.Ela voltou com a roupa e olhou para ele.- Onde posso colocar?Ele estendeu a mão.- Me dá aquiEla apertou a roupa contra o peito.- Não... não vou deixar você pegar na minha calcinha, né.O olhar dele escureceu um pouco e ele se aproximou dela.- Sua calcinha está ai? Então você está...- Quer calar a boca, por favor!Ele puxou a roupa da mão dela e jogou no chão e então a puxou para seus braços colando o corpo ao dela de cima a baixo. Angel sentiu o ar faltar em seus pulmões ao sentir a ereção dele pulsando junto ao seu corpo.Ele desceu a mão
Angel estava sentada com Karen na lanchonete da faculdade e contava para amiga os últimos acontecimentos da sua vida.- Não! Não acredito que você transou com ele!Angel jogou a cabeça para trás e respirou sonhadora.- Sim, passamos a noite inteira nos amando.Karen fez um gesto de abano para um calor que não existia.- Jesus! Imagino aquele homem fazendo amor. Deve ser uma coisa!- Nossa! Ele é muito gostoso.Karen se aproximou mais e cochichou no ouvido de Angel.- O p... é grande?Angel tapou a boca, sorrindo baixinho e fez uma medida com as mãos respondendo para a amiga.- Ai Meu Deus! Não machuca não?- Machucar de verdade não, mas eu ainda estou toda quebrada.- E seus pais? Sabem?Angel torceu o nariz e revirou os olhos.- Meu pai foi me buscar lá na casa dele e me passou um serm&atil
No mês que se seguiu, Taylor e Angel praticamente não se desgrudaram. Estavam juntos o tempo todo. Ele inventava motivos para ir à cidade só para levá-la para a faculdade e geralmente na saída sempre acabavam no apartamento dele transando loucamente. As vezes faziam amor dentro do carro mesmo a caminho de casa e algumas vezes ela teve a coragem de ir até a fazenda na calada da noite e dormir com ele saindo logo cedo.Izabel tentou de todas as maneiras que o filho desistisse daquele namoro e chegou a ameaçar que se Angel continuasse a frequentar o quarto dele às escondidas, ela iria contar ao pai dela.- Para, mãe, deixa de drama!- Não é drama, Taylor, isso está errado.- Errado por quê?- Porque os pais dela não concordam com esse namoro e se alguma coisa acontecer eu vou ser acusada de estar acobertando vocês aqui.- Eu não s
Angel não costumava comer na cantina da faculdade. Preferia levar seu lanche de casa, pois seu estômago não aceitava bem aquelas comidas cheias de gorduras, mas sempre sentava por ali entre uma aula e outra para acompanhar os colegas e bater papo. Foi ali que ela conheceu Joana, uma senhora meio estranha que fazia a limpeza da cantina e retirava os pratos e copos das mesas. Angel não soube explicar, mas ela simpatizara logo de cara com Joana e passou a puxar conversa com ela, principalmente ao perceber que ela tinha um olhar triste. Parecia uma pessoa muito sofrida. Certo dia, Angel percebeu que ela estava com um olho meio roxo e não precisou imaginar muito como aquilo teria acontecido. Com certeza uma agressão feita por um marido violento. Desde então sentiu uma certa afeição e um pouco de pena daquela mulher que ainda era jovem, mas parecia carregar um grande peso nos ombros. Ela não devia ter mais que quarenta a