Capítulo 04

No dia seguinte, pontualmente às sete horas, Angel tocou a buzina na entrada da fazenda de Taylor. Ele demorou apenas alguns segundos e apareceu na frente dela. Estava terrivelmente bonito. Aquelas calças justas, o cinto com uma fivela enorme e uma camisa branca de mangas compridas arregaçadas até o cotovelo deixavam á mostra o braço forte.  Ele estava sem chapéu e o cabelo preto cacheado meio grande caía pela testa e dava  certo charme ao rosto dele. E a boca? Era linda. Ele só precisava sorrir um pouco mais. Era muito sério, mas as poucas vezes que ela o vira sorrindo era de parar o coração de qualquer mulher. Meu Deus! Eu vou sair com Taylor Belinari sozinha à noite.

Ela tentou controlar as batidas do coração e esperou ele entrar no carro.

- Você quer ir no seu carro mesmo ou vamos no meu?

Ela sorriu meio tonta com o perfume dele.

- Já estamos aqui, vamos no meu mesmo.

- Seus amigos não vão?

Ela sacudiu a cabeça.

- Não. Eu saí escondido dos meus pais.

Taylor tossiu espantado.

- Você fez o que?!

- Meu pai não deixou, então eu saí escondido.

Ela falou calma enquanto manobrava o carro.

- Pare aí e volte para casa, não quero me meter em confusão.

Ela deu uma gargalhada.

- Está com medo, Taylor? Onde está seu espírito de aventura?

Ele estava surpreso com a coragem daquela garota.

- Você tem mesmo dezoito anos, não é? Não quero problemas com a polícia.

- Sim. Sou maior, não se preocupe.

- Ainda acho que você deveria voltar para sua casa.

Ela brecou o carro de vez.

- Se quiser pode sair, eu vou sozinha.

Taylor não sabia o que era pior. Ir com aquela garota maluca ou deixá-la sozinha numa festa. Ela com certeza aprontaria alguma loucura.

- Não, eu prefiro ir com você.

- Então vamos lá, quero me divertir muito essa noite.

                               ***

Angel estava feliz e eufórica. Estava dançando como homem mais lindo daquelas redondezas e ele a tinha beijado na boca ali no meio da pista de dança. As outras garotas olhavam com inveja e ela se sentiu linda e desejada.

Ela tomou o cuidado de não beber além da conta, não queria estragar aquela noite ficando bêbada novamente.

Taylor era atencioso e não a deixou sozinha em nenhum momento, apesar de parecer um pouco preocupado. Talvez ele tivesse com algum problema, mas ela ainda não tinha intimidade suficiente para perguntar o que o preocupava tanto. Melhor era aproveitar a companhia dele e fazê-lo se divertir um pouco. Talvez o ajudasse a esquecer o que o afligia.

Já passava da meia noite quando Taylor pegou-a pela mão e puxou-a em direção à saída do bar.

- Agora devemos ir embora, já é um pouco tarde.

Angel não discutiu e estavam quase na porta de saída quando uma moça o chamou.

- Taylor?

Ele virou e pareceu meio sem jeito diante da moça loira

- Oi Caroline.

- Você sumiu, ficou de me ligar.

- Eu... tenho andado um pouco ocupado.

A loira olhou para Angel de alto a baixo e ela sustentou o olhar.

- Sua namorada? Ela se dirigiu a Taylor.

- Não...

- Sim, eu sou a namorada dele, por quê? - Angel respondeu.

A loira fez uma cara de deboche.

- Parece que ele não sabe que é seu namorado, querida.

Taylor resolveu acabar com aquela discussão sem sentido.

- Não é da conta de nenhuma de vocês duas com quem eu namoro ou deixo de namorar, vamos embora, Angel!

Angel se recusou a entrar no carro e olhou para ele de cara amarrada.

- Se você tem namorada, por que me convidou para sair?

Taylor estava a ponto de explodir.

- Eu não tenho namorada, e eu convido quem eu quiser para sair.

- Mas você me beijou ontem e hoje também, isso não é namorar?

Taylor respirou fundo tentando se acalmar e falou lentamente.

- Angel, me dê as chaves e entre nesse carro, por favor.

Ela obedeceu e bateu a porta com força.

Ele olhou demoradamente para ela e então deu uma risada meio forçada.

- Garota, você é muito nervosinha, as coisas não são como você quer não. Precisa baixar um pouco esse nariz!

Ela continuava calada.

- Não gostei da cara daquela Caroline!

Taylor ligou o carro.

- Ela também parece que não foi muito com sua cara.

- Vocês tem alguma coisa?

Ele demorou para responder, parecia concentrado na estrada.

- Não. Talvez pudéssemos ter, mas agora...acho que não.

Angel não perguntou o que ele queria dizer com talvez agora não. Agora que estava com ela? Resolveu ficar calada.

Ele dirigiu em silêncio e meia hora depois parou em frente ao portão da casa dele e desceu.

- Espera que eu vou pegar meu carro e acompanho você até sua casa, é um pouco tarde pra você ir sozinha.

Angel sentiu-se protegida ao vê-lo dirigir atrás dela até chegar em casa. Ela estacionou o carro, desceu e foi até ele debruçando-se na janela do carro.

- Obrigada, eu gostei muito de sair com você.

Taylor levantou a mão e tocou o rosto dela afastando o cabelo que caía na testa.

- Eu também gostei, me fala se teve algum problema com seus pais.

Ela sorriu.

- Ele vai dar um gritos, mas eu sei contornar meu pai. Ele só tem cara de mau, mas comigo ele sempre se acalma.

Ela percebeu que a mão de Taylor tremeu um pouco e ela então segurou a mão dele preocupada.

- Você está bem? Pareceu meio triste o tempo todo.

Ele desviou o olhar.

- Está tudo bem, pode ir.

Ela acariciou o rosto dele timidamente.

- Obrigada por me acompanhar até aqui.

Angel percebeu que o olhar dele realmente estava triste, mas não quis insistir no assunto.

- Tchau.

Taylor manobrou o carro e deu um soco no volante. Precisava se acalmar. As coisas não estavam saindo como ele planejara. Aquela garota era muito perspicaz, sacava as coisas com rapidez e ele precisava ter muito cuidado ao lidar com ela. Ela era inocente e madura ao mesmo tempo e não seria fácil esconder seus sentimentos.

Ele tentava não pensar que estava envolvendo uma pessoa inocente em seu plano de vingança. Mas naquele momento ela era o único meio que ele tinha de atingir Robert Murat e ele faria isso custasse o que custasse, mesmo que tivesse de fechar o coração e a mente para a voz que dizia que ele estava enveredando por um caminho muito perigoso.

                               ***

Angel entrou em casa silenciosamente, porém, ao pisar na sala a luz foi acesa e seu pai estava em pé na porta com os braços cruzados.

- Pai!

- Bom dia, Angel, será que é um pouco cedo, ou é muito tarde para você está chegando em casa?

Ela respirou fundo e sentou no sofá.

- Está bem, pode começar o sermão.

- Quem trouxe você para casa, porque já vi que não era o carro do Benício.

- Um amigo...

- Que amigo, Angel? Eu conheço todos os seus amigos.

Ela levantou e foi em direção ao quarto seguida pelo pai.

- Um amigo novo meu, pai, o senhor não conhece.

- Não fiquei acordado até essa hora pra você mentir pra mim, Angel, quem era o rapaz?

Ela jogou a bolsa sobre a cama.

- O nome dele é Taylor.

Se Angel tivesse olhado para o rosto do pai naquele momento teria visto a expressão de choque que ele demonstrava.

- Você... não quer dizer que é Taylor que mora na fazenda Boa Esperança, não é?

- Ele mesmo.

Roberto se aproximou da filha e segurou forte em seu braço.

- Prometa que não vai ver esse rapaz de novo, Angel!

Ela se assustou com a voz autoritária do pai e estranhou a forma como ele a segurou pelo braço.

- Pai? O que está acontecendo? Por que não posso me encontrar com ele?

Robert soltou o braço da filha e se afastou passando a mão pela cabeça preocupado.

- Filha, não temos um bom relacionamento com a família dele, por isso não quero que vocês sejam amigos.

Ela se aproximou do pai.

- Desde quando você me proíbe de ter amigos? Você nunca se importou com isso. A mamãe também não gosta muito da mãe da Karen e nós somos amigas e ninguém diz nada.

- Angel, isso é diferente!

- Diferente por quê? Eu gostei do Taylor, por que não posso ser amiga dele?

Robert estava visivelmente alterado.

- Porque não pode, Angel, e essa história está encerrada!

Ele saiu batendo a porta com força e Angel deixou-se cair sobre a cama chorando. Não era justo seu pai estragar o início do seu namoro. Taylor não era um bandido, era uma pessoa conhecida, morava ali vizinho e todos sabiam quem era ele. Por que não podiam ter um relacionamento? Ela não tinha nada a ver com os problemas que eles tinham com a família dele. Ninguém nunca tinha contado que tinha rixas com a família vizinha e agora ele vinha com aquele ideia.

Que droga! Logo agora que ele parece interessado em mim.

Ela assoou o nariz e puxou a coberta sobre a cabeça. Tinha que haver um jeito de convencer os pais a permitirem que eles namorassem.

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