Uma semana depois daquele vergonhoso encontro Angel procurava coragem para ir falar com Taylor.
- Você vai na casa dele?!
Ela encarou a amiga.
- Vou, sim, Vanessa, vou falar com ele e pedir desculpas.
- Porque não deixa isso pra lá? Você nem conhece ele direito.
- De jeito nenhum, ele deve estar pensando muito mal de mim. Nunca mais vai querer falar comigo.
Ela falou meio chorosa.
Vanessa estava curiosa.
- E você está doidinha pra falar com ele, não é?
- Claro, Vanessa, quem não quer falar, beijar, fazer tudo com um homem daquele?
- Cuidado, Angel, você sabe que seus pais não vão gostar nada disso, não é?
- Só se você contar pra eles. Então amanhã quando eu voltar da faculdade eu vou lá na casa dele.
Angel deixou a amiga em casa e foi para a fazenda. Ao chegar, foi direto encontrar a mãe na cozinha. Ela não entendia porque a mãe insistia em permanecer tanto tempo ali coordenando o trabalho da cozinheira. Ela gostava de escolher os pratos e acompanhar todo o preparo até o final. Na verdade ela queria era que tudo fosse feito à maneira dela. Dona Marta era daquelas donas de casa que comandava tudo com mãos de ferro e nada saía do seu controle.
- Oi, mãezinha.
Ela voltou-se e retribuiu o abraço da filha.
- Oi, filhota, onde estava?
- Fui levar a Vanessa em casa.
- Vocês duas não se desgrudam, hein!
Angel sentou na mesa e pegou um pedaço do bolo de milho que tinha acabado de sair do forno.
- Claro, ela é minha melhor amiga.
- Tenho pena da Vanessa, criar um filho sozinha.
- É verdade, eu não sei o que eu faria em uma situação dessas.
Marta olhou para o céu e juntou as mãos numa prece.
- Deus te livre, filha, você vai casar com um homem bonito e rico.
- Não venha a senhora também me falar sobre o Murilo, eu vou falar com papai que não quero namorar com ele.
Marta riu.
- Você sabe que ele vai ficar chateado, não é?
Angel empinou o nariz teimosa.
- Eu que vou ficar chateada namorando com aquele bobo.
Elas ficaram um bom tempo na cozinha dando risadas dos casos engraçados que Laura contava. Laura era a cozinheira e trabalhava ali fazia muito tempo, na verdade Angel não se lembrava de outra pessoa trabalhando ali, então possivelmente Laura estava lá antes mesmo de ela nascer. Ela era solteira e nunca tivera filhos. Angel sabia que ela tinha uma casa em um sitio próximo, mas preferia morar ali mesmo na fazenda. Angel sempre fora mimada por Laura e muitas vezes Laura dormia com ela no quarto quando os pais precisavam viajar. Agora, no entanto, ela já estava adulta e não precisava mais de tantos cuidados, mas Laura insistia em fazer todas as suas vontades.
Angel levantou e beijou o rosto da mãe.
- Tchau, meus amores, preciso estudar.
***
No dia seguinte, Taylor estava na varanda da fazenda selando o cavalo quando viu que um carro se aproximava pela estrada que dava acesso a casa. Era uma pick-up vermelha e ele suspeitou de quem se tratava. Será que ela teria coragem?
Ela se aproximou e estacionou o carro bem em frente à entrada da fazenda e desceu.
Ela estava arrumada feito uma manequim de loja. Os cabelos presos no alto da cabeça do mesmo jeito que ele vira no bar. A calça jeans apertada delineava uma cintura fininha e pernas bem torneadas.
Ele continuou amarrando a sela do cavalo e ela se aproximou.
- Oi.
Ele levantou os olhos e a encarou.
Angel estava meio sem jeito e esboçou um sorriso tímido.
- Queria falar com você.
A voz dela estava mais firme e ela parecia bem mais séria do que na noite da bebedeira.
Taylor amarrou o cavalo e virou-se para ela.
- Vamos dar uma volta.
Ele saiu em direção ao riacho que passava em frente a casa e Angel o seguiu.
Andaram calados por um tempo e ele então falou.
- Por que veio aqui?
- Eu... queria pedir desculpas, fiz você passar vergonha lá no bar.
Eles tinham chegado ao lugar preferido de Taylor. Ele encostou no tronco do pé de mangueira e olhou para o chão chutando a terra.
- Tudo bem, não foi só eu que fui parar na boca do povo.
Ela riu
- Acho que exagerei na bebida.
- Sem dúvida.
Taylor não podia deixar passar a oportunidade que surgia à sua frente. Ele tinha pensado em milhares de formas de se aproximar dela e agora ela estava ali em sua frente sem que ele precisasse fazer nada. Era o destino contribuindo com ele.
Assim à luz do dia ela parecia ainda mais bonita. A pele era morena clara e os olhos que ele achou que fossem pretos, na verdade eram de um castanho meio esverdeados e faziam um contraste bonito com o cabelo liso e preto. Ela usava um aparelho dentário e aquilo a fazia parecer um pouco mais nova do que realmente era, mas também dava certo charme ao sorriso dela.
Mas aquilo não interessava para ele. Não importava se ela fosse bonita ou feia. O que ele queria mesmo era iniciar seu plano de fazê-la se apaixonar por ele. Estava tudo muito bem arquitetado em sua mente. Pretendia namorar com ela, pedi-la em casamento e então abandoná-la no altar da igreja. Sua vitória seria desgraçar a família dela, fazer o pai dela passar pela pior vergonha que um homem poderia enfrentar. Queria que ele sofresse ao ver a filha querida abandonada na hora do casamento, assim como ele tinha sofrido ao ver o pai definhando ao longo dos anos.
Taylor voltou à realidade ao perceber que ela o olhava de uma forma meio curiosa.
- Você estava longe!
- Desculpe, me distraí um pouco.
- Eu... acho que vou embora então.
Ele se aproximou dela.
- Angel é seu nome, não é?
- Sim.
- Hum... O meu é Taylor.
- Eu sei, todas as moças da região sabem quem é você.
Ele riu meio sem jeito.
- O povo fala demais. Não peguei nem a metade das mulheres que atribuem a mim.
- Minha amiga, Vanessa, falou pra eu ficar longe de você.
Ele se aproximou mais dela e ficou a centímetros do seu rosto olhando fixamente para a boca dela.
- Então por que veio até aqui?
Angel não se moveu do lugar e deu um sorrisinho provocante.
- Eu costumo fazer aquilo que eu tenho vontade.
Ele levantou a mão e tocou o rosto dela levemente.
- Acho que deixei você com vontade naquela noite.
- Não entendi.
- Você disse que queria me beijar.
Ela desviou o olhar sem graça.
- Eu não lembro bem o que eu disse naquela noite.
Ele passou o polegar sobre os lábios dela e Angel estremeceu
- Mas eu lembro, então dessa vez não vou deixar você sair sem fazer o que tem vontade.
E então ele abaixou a cabeça e beijou-a na boca.
Angel sentiu as pernas tremulas e se apoiou no braço dele. Para ela era um sonho estar ali nos braços dele. A boca dele se movia devagar sobre a dela e a língua tocava a sua de forma sensual. Ele segurava o rosto dela com as duas mãos e os corpos se tocaram transmitindo calor um para o outro. Angel colocou as mãos no peito dele e sentiu que o coração dele estava acelerado assim como o dela.
Ele se afastou devagar e mordeu o lábio inferior.
- Nunca beijei uma garota de aparelho, preciso treinar um pouco.
Angel se aproximou e tentou tocar a boca dele.
- Você se machucou, desculpe.
Ele segurou a mão dela e impediu que ela se aproximasse.
- Tudo bem, não foi nada.
Eles ficaram num silencio meio constrangedor e Angel então disparou.
- Nós vamos namorar?
Taylor estava agoniado e queria sair de perto daquela garota. Ela era muito direta e ele não tinhas todas as respostas para ela naquele momento.
- Não é porque beijei você que temos que namorar, não é?
Ela sacudiu os ombros.
- Eu achei que você estava interessado em mim lá no bar.
- Estava... estou... mas daí a chamar você de namorada não acha que é um pouco cedo?
Ela começou a andar de volta para o carro e Taylor a seguiu tentando encontrar uma forma de lidar com aquela menina.
- É, mas tudo bem, não vim aqui para isso, queria só pedir desculpas pelo meu comportamento.
Ele pigarreou para limpar a garganta.
- Amanhã tem show novamente, você vai?
Ela fez uma cara emburrada.
- Meu pai não quer deixar.
Ali era a chance de ele começar a exercer seu poder sobre ela.
- Eu ia convidar você, mas se é assim acho que vou ter que arranjar outra companhia.
Angel voltou-se para ele.
- Não precisa convidar ninguém, eu vou com você.
- Mas seu pai...
- Eu me entendo com meus pais.
- Então nós iremos. Espero você aqui às sete, pode ser?
Ela entrou no carro e bateu a porta.
- Pode me esperar Taylor, estarei aqui ás sete horas.
Ela ligou o carro e saiu deixando uma nuvem de poeira e um olhar pensativo do rapaz que a observou até ela desaparecer na curva da estrada.
Ao virar-se ele deu de cara com a mãe o observando de braços cruzados.
- Oi, mãe, você me assustou!
- Por favor, me diga que aquela moça não é a filha de Robert Murat.
Ele virou as costas e foi em direção à casa.
- Ela mesma.
- Vocês estão namorando?
- Não.
- Como não, Taylor? Eu vi vocês se beijando!
Ele estancou e olhou para a mãe. Ela parecia preocupada demais com um simples beijo.
- Beijar não é namorar.
Ela franziu a testa e olhou bem para o filho.
- O que está pretendendo, Taylor? Você odeia Robert, o que quer com a filha dele?
- Eu odeio Robert e todos daquela m*****a família.
Izabel não gostou de ver a forma como o filho praticamente cuspiu aquelas palavras. O coração dele não conseguia se livrar daquele ódio. Fazia muito tempo que Izabel começou a se preocupar com a forma como o filho se referia ao fazendeiro vizinho, culpando-o pela desgraça que se abatera sobre sua família. E mesmo agora, depois de terem conseguindo se firmar e melhorar a situação da fazenda, ele insistia em manter vivo aquele ressentimento. Ela não sabia o que fazer para tirar aquela ideia de vingança da cabeça do filho, principalmente porque nem tudo era como ele pensava.
- Não me agrada ver você com aquela moça, Taylor.
- Não se preocupe, eu também não me sinto bem perto de ninguém daquela casa.
- Então o que ela fazia aqui?
- Nada, mãe, não se mete nisso não.
- Taylor...
- Não quero falar sobre isso, por favor, depois conversaremos.
Izabel observou o filho se afastar e sentiu um aperto no peito. Por que as coisas não podiam ficar onde sempre estiveram? No passado. Por que de repente ela pressentiu que coisas muito ruins estavam se aproximando e que talvez ela tivesse que interferir para que a tragédia não fosse ainda maior?
No dia seguinte, pontualmente às sete horas, Angel tocou a buzina na entrada da fazenda de Taylor. Ele demorou apenas alguns segundos e apareceu na frente dela. Estava terrivelmente bonito. Aquelas calças justas, o cinto com uma fivela enorme e uma camisa branca de mangas compridas arregaçadas até o cotovelo deixavam á mostra o braço forte. Ele estava sem chapéu e o cabelo preto cacheado meio grande caía pela testa e dava certo charme ao rosto dele. E a boca? Era linda. Ele só precisava sorrir um pouco mais. Era muito sério, mas as poucas vezes que ela o vira sorrindo era de parar o coração de qualquer mulher. Meu Deus! Eu vou sair com Taylor Belinari sozinha à noite.Ela tentou controlar as batidas do coração e esperou ele entrar no carro.- Você quer ir no seu carro mesmo ou vamos no meu?Ela sorriu meio tonta com o perfume dele.<
Izabel observou o filho virar um copo de uísque e ficou preocupada. Ele não era de beber assim em casa. Alguma coisa o estava preocupando. Ele sempre fora meio calado e introspectivo, mas nos últimos tempos estava com um olhar triste e distante. Ela não fez nenhum comentário, mas sabia que ele tinha saído na noite anterior com a filha de Robert e aquilo pareceu deixá-lo ainda mais nervoso. Ela tentava entender os motivos para ele estar saindo com aquele menina e uma suspeita se formava em sua mente. Será que ele estava querendo se vingar de Robert através da filha? Se assim fosse ela não permitiria de jeito nenhum. Ele não podia envolver uma garota inocente naquela ideia maluca de vingança contra uma pessoa que não era um monstro como ele pensava. Ela só não podia contar todos os detalhes assim de hora para outra, mas tentaria dissuadia-lo daquela loucura.Aproximou-se del
Angel conversava com Murilo e tentava fazê-lo entender que não tinha interesse nele como namorado.Eles estavam sentados num tronco de árvore perto do riacho que cortava a propriedade dos Murat e adentrava nas terras vizinhas, que pertencia à família de Taylor. Ela e Murilo se conheciam desde criança e ela sabia que ele nutria um sentimento maior por ela. Mesmo sabendo que em alguns momentos ela deu a entender que um dia seriam namorados, ela não sentia o coração acelerar quando ele chegava perto, não como sentia com Taylor. Murilo, no entanto, estava decepcionado e triste por saber que Angel não correspondia aos seus sentimentos.- Sinto muito, Murilo, mas não dá pra namorar quando se tem apenas sentimento de amigo.Ele parecia inconformado.- Já sei. Você está saindo com outro cara, não é? É aquele Taylor, eu sei.Ang
Angel estava nervosa e se atrapalhou com as palavras.- Eu... deixei minha roupa no seu banheiro, queria colocar pra secar...Taylor se afastou da porta e fez sinal para ela passar.- Pode pegar, eu coloco lá fora.Ela voltou com a roupa e olhou para ele.- Onde posso colocar?Ele estendeu a mão.- Me dá aquiEla apertou a roupa contra o peito.- Não... não vou deixar você pegar na minha calcinha, né.O olhar dele escureceu um pouco e ele se aproximou dela.- Sua calcinha está ai? Então você está...- Quer calar a boca, por favor!Ele puxou a roupa da mão dela e jogou no chão e então a puxou para seus braços colando o corpo ao dela de cima a baixo. Angel sentiu o ar faltar em seus pulmões ao sentir a ereção dele pulsando junto ao seu corpo.Ele desceu a mão
Angel estava sentada com Karen na lanchonete da faculdade e contava para amiga os últimos acontecimentos da sua vida.- Não! Não acredito que você transou com ele!Angel jogou a cabeça para trás e respirou sonhadora.- Sim, passamos a noite inteira nos amando.Karen fez um gesto de abano para um calor que não existia.- Jesus! Imagino aquele homem fazendo amor. Deve ser uma coisa!- Nossa! Ele é muito gostoso.Karen se aproximou mais e cochichou no ouvido de Angel.- O p... é grande?Angel tapou a boca, sorrindo baixinho e fez uma medida com as mãos respondendo para a amiga.- Ai Meu Deus! Não machuca não?- Machucar de verdade não, mas eu ainda estou toda quebrada.- E seus pais? Sabem?Angel torceu o nariz e revirou os olhos.- Meu pai foi me buscar lá na casa dele e me passou um serm&atil
No mês que se seguiu, Taylor e Angel praticamente não se desgrudaram. Estavam juntos o tempo todo. Ele inventava motivos para ir à cidade só para levá-la para a faculdade e geralmente na saída sempre acabavam no apartamento dele transando loucamente. As vezes faziam amor dentro do carro mesmo a caminho de casa e algumas vezes ela teve a coragem de ir até a fazenda na calada da noite e dormir com ele saindo logo cedo.Izabel tentou de todas as maneiras que o filho desistisse daquele namoro e chegou a ameaçar que se Angel continuasse a frequentar o quarto dele às escondidas, ela iria contar ao pai dela.- Para, mãe, deixa de drama!- Não é drama, Taylor, isso está errado.- Errado por quê?- Porque os pais dela não concordam com esse namoro e se alguma coisa acontecer eu vou ser acusada de estar acobertando vocês aqui.- Eu não s
Angel não costumava comer na cantina da faculdade. Preferia levar seu lanche de casa, pois seu estômago não aceitava bem aquelas comidas cheias de gorduras, mas sempre sentava por ali entre uma aula e outra para acompanhar os colegas e bater papo. Foi ali que ela conheceu Joana, uma senhora meio estranha que fazia a limpeza da cantina e retirava os pratos e copos das mesas. Angel não soube explicar, mas ela simpatizara logo de cara com Joana e passou a puxar conversa com ela, principalmente ao perceber que ela tinha um olhar triste. Parecia uma pessoa muito sofrida. Certo dia, Angel percebeu que ela estava com um olho meio roxo e não precisou imaginar muito como aquilo teria acontecido. Com certeza uma agressão feita por um marido violento. Desde então sentiu uma certa afeição e um pouco de pena daquela mulher que ainda era jovem, mas parecia carregar um grande peso nos ombros. Ela não devia ter mais que quarenta a
Taylor estava limpando as baias antigas dos cavalos que ficava nos fundos da casa da fazenda. Enfim ia revitalizar aquelas baias e trazer vida para aquela parte da fazenda esquecida desde a morte do pai. Com muito esforço, ele tinha conseguido comprar algumas éguas para inseminação, inclusive um garanhão reprodutor e já tinha várias encomendas de crias. Aos poucos sua fazenda ganhava vida novamente e o dinheiro começava a entrar. Agora ele tinha certeza que fizera a coisa certa ao abandonar a carreira de advogado na cidade e se estabelecer ali. A terra era sua paixão, ali ele sentia o coração bater mais forte e sua vida adquiria um novo sentido. Quando ele cavalgava por aquelas terras sentia-se livre e ele não se imaginava morando em outro lugar. Ainda doía em seu peito quando ele chegava nos limites que dividiam o que um dia fora terras daquela fazenda e ele não podia avanç