Capítulo 03

Uma semana depois daquele vergonhoso encontro Angel procurava coragem para ir falar com Taylor.

- Você vai na casa dele?!

Ela encarou a amiga.

- Vou, sim, Vanessa, vou falar com ele e pedir desculpas.

- Porque não deixa isso pra lá? Você nem conhece ele direito.

- De jeito nenhum, ele deve estar pensando muito mal de mim. Nunca mais vai querer falar comigo.

Ela falou meio chorosa.

Vanessa estava curiosa.

- E você está doidinha pra falar com ele, não é?

- Claro, Vanessa, quem não quer falar, beijar, fazer tudo com um homem daquele?

- Cuidado, Angel, você sabe que seus pais não vão gostar nada disso, não é?

- Só se você contar pra eles. Então amanhã quando eu voltar da faculdade eu vou lá na casa dele.

Angel deixou a amiga em casa e foi para a fazenda. Ao chegar, foi direto encontrar a mãe na cozinha. Ela não entendia porque a mãe insistia em permanecer tanto tempo ali coordenando o trabalho da cozinheira. Ela gostava de escolher os pratos e acompanhar todo o preparo até o final. Na verdade ela queria era que tudo fosse feito à maneira dela. Dona Marta era daquelas donas de casa que comandava tudo com mãos de ferro e nada saía do seu controle.

- Oi, mãezinha.

Ela voltou-se e retribuiu o abraço da filha.

- Oi, filhota, onde estava?

- Fui levar a Vanessa em casa.

- Vocês duas não se desgrudam, hein!

Angel sentou na mesa e pegou um pedaço do bolo de milho que tinha acabado de sair do forno.

- Claro, ela é minha melhor amiga.

- Tenho pena da Vanessa, criar um filho sozinha.

- É verdade, eu não sei o que eu faria em uma situação dessas.

Marta olhou para o céu e juntou as mãos numa prece.

- Deus te livre, filha, você vai casar com um homem bonito e rico.

- Não venha a senhora também me falar sobre o Murilo, eu vou falar com papai que não quero namorar com ele.

Marta riu.

- Você sabe que ele vai ficar chateado, não é?

Angel empinou o nariz teimosa.

- Eu que vou ficar chateada namorando com aquele bobo.

Elas ficaram um bom tempo na cozinha dando risadas dos casos engraçados que Laura contava. Laura era a cozinheira e trabalhava ali fazia muito tempo, na verdade Angel não se lembrava de outra pessoa trabalhando ali, então possivelmente Laura estava lá antes mesmo de ela nascer. Ela era solteira e nunca tivera filhos. Angel sabia que ela tinha uma casa em um sitio próximo, mas preferia morar ali mesmo na fazenda. Angel sempre fora mimada por Laura e muitas vezes Laura dormia com ela no quarto quando os pais precisavam viajar. Agora, no entanto, ela já estava adulta e não precisava mais de tantos cuidados, mas Laura insistia em fazer todas as suas vontades.

Angel levantou e beijou o rosto da mãe.

- Tchau, meus amores, preciso estudar.

***

No dia seguinte, Taylor estava na varanda da fazenda selando o cavalo quando viu que um carro se aproximava pela estrada que dava acesso a casa. Era uma pick-up vermelha e ele suspeitou de quem se tratava. Será que ela teria coragem?

Ela se aproximou e estacionou o carro bem em frente à entrada da fazenda e desceu.

Ela estava arrumada feito uma manequim de loja. Os cabelos presos no alto da cabeça do mesmo jeito que ele vira no bar. A calça jeans apertada delineava uma cintura fininha e pernas bem torneadas.

Ele continuou amarrando a sela do cavalo e ela se aproximou.

- Oi.

Ele levantou os olhos e a encarou.

Angel estava meio sem jeito e esboçou um sorriso tímido.

- Queria falar com você.

A voz dela estava mais firme e ela parecia bem mais séria do que na noite da bebedeira.

Taylor amarrou o cavalo e virou-se para ela.

- Vamos dar uma volta.

Ele saiu em direção ao riacho que passava em frente a casa e Angel o seguiu.

Andaram calados por um tempo e ele então falou.

- Por que veio aqui?

- Eu... queria pedir desculpas, fiz você passar vergonha lá no bar.

Eles tinham chegado ao lugar preferido de Taylor. Ele encostou no tronco do pé de mangueira e olhou para o chão chutando a terra.

- Tudo bem, não foi só eu que fui parar na boca do povo.

Ela riu

- Acho que exagerei na bebida.

- Sem dúvida.

Taylor não podia deixar passar a oportunidade que surgia à sua frente. Ele tinha pensado em milhares de formas de se aproximar dela e agora ela estava ali em sua frente sem que ele precisasse fazer nada. Era o destino contribuindo com ele.

Assim à luz do dia ela parecia ainda mais bonita. A pele era morena clara e os olhos que ele achou que fossem pretos, na verdade eram de um castanho meio esverdeados e faziam um contraste bonito com o cabelo liso e preto. Ela usava um aparelho dentário e aquilo a fazia parecer um pouco mais nova do que realmente era, mas também dava certo charme ao sorriso dela.

Mas aquilo não interessava para ele. Não importava se ela fosse bonita ou feia. O que ele queria mesmo era iniciar seu plano de fazê-la se apaixonar por ele. Estava tudo muito bem arquitetado em sua mente. Pretendia namorar com ela, pedi-la em casamento e então abandoná-la no altar da igreja. Sua vitória seria desgraçar a família dela, fazer o pai dela passar pela pior vergonha que um homem poderia enfrentar. Queria que ele sofresse ao ver a filha querida abandonada na hora do casamento, assim como ele tinha sofrido ao ver o pai definhando ao longo dos anos.

Taylor voltou à realidade ao perceber que ela o olhava de uma forma meio curiosa.

- Você estava longe!

- Desculpe, me distraí um pouco.

- Eu... acho que vou embora então.

Ele se aproximou dela.

- Angel é seu nome, não é?

- Sim.

- Hum... O meu é Taylor.

- Eu sei, todas as moças da região sabem quem é você.

Ele riu meio sem jeito.

- O povo fala demais. Não peguei nem a metade das mulheres que atribuem a mim.

- Minha amiga, Vanessa, falou pra eu ficar longe de você.

Ele se aproximou mais dela e ficou a centímetros do seu rosto olhando fixamente para a boca dela.

- Então por que veio até aqui?

Angel não se moveu do lugar e deu um sorrisinho provocante.

- Eu costumo fazer aquilo que eu tenho vontade.

Ele levantou a mão e tocou o rosto dela levemente.

- Acho que deixei você com vontade naquela noite.

- Não entendi.

- Você disse que queria me beijar.

Ela desviou o olhar sem graça.

- Eu não lembro bem o que eu disse naquela noite.

Ele passou o polegar sobre os lábios dela e Angel estremeceu

- Mas eu lembro, então dessa vez não vou deixar você sair sem fazer o que tem vontade.

E então ele abaixou a cabeça e beijou-a na boca.

Angel sentiu as pernas tremulas e se apoiou no braço dele. Para ela era um sonho estar ali nos braços dele. A boca dele se movia devagar sobre a dela e a língua tocava a sua de forma sensual. Ele segurava o rosto dela com as duas mãos e os corpos se tocaram transmitindo calor um para o outro. Angel colocou as mãos no peito dele e sentiu que o coração dele estava acelerado assim como o dela.

Ele se afastou devagar e mordeu o lábio inferior.

- Nunca beijei uma garota de aparelho, preciso treinar um pouco.

Angel se aproximou e tentou tocar a boca dele.

- Você se machucou, desculpe.

Ele segurou a mão dela e impediu que ela se aproximasse.

- Tudo bem, não foi nada.

Eles ficaram num silencio meio constrangedor e Angel então disparou.

- Nós vamos namorar?

Taylor estava agoniado e queria sair de perto daquela garota. Ela era muito direta e ele não tinhas todas as respostas para ela naquele momento.

- Não é porque beijei você que temos que namorar, não é?

Ela sacudiu os ombros.

- Eu achei que você estava interessado em mim lá no bar.

- Estava... estou... mas daí a chamar você de namorada não acha que é um pouco cedo?

Ela começou a andar de volta para o carro e Taylor a seguiu tentando encontrar uma forma de lidar com aquela menina.

- É, mas tudo bem, não vim aqui para isso, queria só pedir desculpas pelo meu comportamento.

Ele pigarreou para limpar a garganta.

- Amanhã tem show novamente, você vai?

Ela fez uma cara emburrada.

- Meu pai não quer deixar.

Ali era a chance de ele começar a exercer seu poder sobre ela.

- Eu ia convidar você, mas se é assim acho que vou ter que arranjar outra companhia.

Angel voltou-se para ele.

- Não precisa convidar ninguém, eu vou com você.

- Mas seu pai...

- Eu me entendo com meus pais.

- Então nós iremos. Espero você aqui às sete, pode ser?

Ela entrou no carro e bateu a porta.

- Pode me esperar Taylor, estarei aqui ás sete horas.

Ela ligou o carro e saiu deixando uma nuvem de poeira e um olhar pensativo do rapaz que a observou até ela desaparecer na curva da estrada.

Ao virar-se ele deu de cara com a mãe o observando de braços cruzados.

- Oi, mãe, você me assustou!

- Por favor, me diga que aquela moça não é a filha de Robert Murat.

Ele virou as costas e foi em direção à casa.

- Ela mesma.

- Vocês estão namorando?

- Não.

- Como não, Taylor? Eu vi vocês se beijando!

Ele estancou e olhou para a mãe. Ela parecia preocupada demais com um simples beijo.

- Beijar não é namorar.

Ela franziu a testa e olhou bem para o filho.

- O que está pretendendo, Taylor? Você odeia Robert, o que quer com a filha dele?

- Eu odeio Robert e todos daquela m*****a família.

Izabel não gostou de ver a forma como o filho praticamente cuspiu aquelas palavras. O coração dele não conseguia se livrar daquele ódio. Fazia muito tempo que Izabel começou a se preocupar com a forma como o filho se referia ao fazendeiro vizinho, culpando-o pela desgraça que se abatera sobre sua família. E mesmo agora, depois de terem conseguindo se firmar e melhorar a situação da fazenda, ele insistia em manter vivo aquele ressentimento. Ela não sabia o que fazer para tirar aquela ideia de vingança da cabeça do filho, principalmente porque nem tudo era como ele pensava.

- Não me agrada ver você com aquela moça, Taylor.

- Não se preocupe, eu também não me sinto bem perto de ninguém daquela casa.

- Então o que ela fazia aqui?

- Nada, mãe, não se mete nisso não.

- Taylor...

- Não quero falar sobre isso, por favor, depois conversaremos.

Izabel observou o filho se afastar e sentiu um aperto no peito. Por que as coisas não podiam ficar onde sempre estiveram? No passado. Por que de repente ela pressentiu que coisas muito ruins estavam se aproximando e que talvez ela tivesse que interferir para que a tragédia não fosse ainda maior?

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