Angel conversava com Murilo e tentava fazê-lo entender que não tinha interesse nele como namorado.
Eles estavam sentados num tronco de árvore perto do riacho que cortava a propriedade dos Murat e adentrava nas terras vizinhas, que pertencia à família de Taylor. Ela e Murilo se conheciam desde criança e ela sabia que ele nutria um sentimento maior por ela. Mesmo sabendo que em alguns momentos ela deu a entender que um dia seriam namorados, ela não sentia o coração acelerar quando ele chegava perto, não como sentia com Taylor. Murilo, no entanto, estava decepcionado e triste por saber que Angel não correspondia aos seus sentimentos.
- Sinto muito, Murilo, mas não dá pra namorar quando se tem apenas sentimento de amigo.
Ele parecia inconformado.
- Já sei. Você está saindo com outro cara, não é? É aquele Taylor, eu sei.
Angel ficou calada. Não queria negar e nem afirmar nada até mesmo porque depois daquele dia na estrada já fazia uma semana que eles não se falavam.
- Estamos falando dos nossos sentimentos e não de sair ou não com outra pessoa.
- Ele vai te magoar, você vai ver. Ele só vive cheio de mulheres por aí. Não vai querer nada sério com você.
Angel não queria discutir aquele assunto com ele. Qualquer coisa que ela dissesse naquele momento não iria ajudar em nada.
- Tudo bem, não posso mudar seu pensamento, mas eu não queria que ficasse mágoas entre a gente e que nossa amizade acabasse .
Ele se aproximou dela e abraçou com carinho.
- Claro que não, Angel, somos amigos e eu gosto de você. Não é porque não seremos namorados que vamos esquecer o que já vivemos juntos.
Ela retribuiu o abraço.
- Eu te amo, viu!
- Viu, sua marrenta!
- Bom, nossos pais vão ficar meio chateados, eles já pensavam nos netos em comum.
Ele arqueou os ombros.
- Eu também pensava, mas...
- Hei, já falamos sobre isso!
- Será que a Karen aceitaria namorar comigo?
- Que!?
- Ora Angel, você me deu o fora, agora preciso partir pra outra.
Ela deu um soco no braço dele.
- Você já estava a fim dela, seu malandro?
- Não. Estava a fim de você, mas já que não deu.
Eles deitaram no chão rindo e tentando achar uma forma de convencer Karen a namorar com o melhor amigo que ela achava que seria namorado da melhor amiga.
***
Uma semana depois daquele conversa com Murilo, Angel estava na faculdade e pensava como faria para voltar para casa. Seu carro tinha quebrado e estava na oficina e ela tinha vindo de carona com Vanessa, mas essa precisaria ficar na cidade para uma reunião de trabalho. Ela pretendia pegar um ônibus, mas como sair no meio daquela chuva? As chuvas naquela região costumavam ser fortes e demoradas e na última tempestade a fazenda tinha sofrido grandes estragos. Tentou ligar para os pais, mas a ligação não completou. Com certeza já tinha caído a luz e o sinal de telefone.
Angel pensou umas dez vezes se deveria ligar para ele, mas como sempre o seu irracional levou a melhor e ela discou o número de Taylor. Sem sinal também. Ela enviou uma mensagem e dois minutos depois ele visualizou.
- O que quer menina?
Ela sorriu intimamente.
- Estou ilhada aqui na faculdade, você não quer vim aqui me buscar não?
- Não.
- Por favor, Taylor, não tenho como voltar para casa.
- Espere a chuva passar!
Angel enviou uma mensagens de voz.
- Eu sabia que você ia responder isso! Você é um grosso e mal educado, não sei porque ainda insisto em tentar conversar com você, tchau.
Ele respondeu com outra mensagem de voz e o corpo de Angel estremeceu só de ouvir aquela voz rouca perto do seu ouvido.
- Está bem garota malcriada, eu vou aí pegar você.
Meia hora depois ele a encontrou toda molhada na frente do portão da faculdade.
Ele parou e abriu a porta do carona esperando que ela entrasse.
- Venha logo, vai molhar meu carro todo!
Angel entrou e o fuzilou com o olhar.
- Se era pra vim de cara feia, melhor não ter vindo.
Taylor a encarou segurando o sorriso.
- Mal agradecida, como sempre, hein!
Angel empinou o nariz e tentou secar o cabelo com o casaco, tentando não olhar para ele e demonstrar no olhar o quanto estava abalada por vê-lo novamente.
Taylor, por outro lado, tentava controlar as batidas do coração. Sempre ficava daquele jeito perto dela. Era difícil controlar a vontade de agarrar aquela garota insolente e baixar aquele topete dela com um beijo. Ainda tentava entender como ela tinha tanto poder sobre ele. Senão como explicar ter saído da sua casa debaixo daquela chuva apenas porque ela pediu para ir buscá-la? Ela mexia com ele quando o encarava com aquele olhar desafiador e destemido. Parecia estar sempre travando uma luta e a danada sabia que podia vencer. O certo era esquecer aquela garota e procurar outra forma de resolver seus problemas com o pai dela, mas o destino parecia jogá-la em seu caminho de novo e Taylor podia juntar o útil ao agradável e acabar de vez com aquele problema.
Ela virou para ele impaciente.
- Está esperando o que? Vamos logo, estou toda molhada!
Ele arrancou do lugar cantando pneus.
A chuva aumentava a cada metro da estrada que eles percorriam e os vidros estavam completamente embaçados dificultando enxergar a estrada. Já estava se aproximando da casa de Taylor e ele achou melhor parar um pouco e esperar chuva diminuir.
- Não tem como passar ali no riacho não, teremos que ficar por aqui.
Angel concordou, pois sabia que com toda aquela chuva o riacho com certeza estava bloqueando totalmente a estrada. Talvez agora seu pai finalmente entendesse que teria que fazer a ponte sobre o Riacho da Esperança para evitar que ficassem ilhados em época de chuva. Teria que ser ele a fazer já que a única fazenda depois do riacho era a deles e ninguém teria interesse em colaborar com algo que não lhe serviria.
- Tudo bem, espero que sua mãe não fique chateada, pois acho que terei que dormir aqui.
Taylor a olhou demoradamente.
- Minha mãe não está em casa.
Angel engoliu em seco.
- Então não tem ninguém aí?
- Eu não sou ninguém.
Angel desceu do carro e correu em direção à casa. Taylor a seguiu e abriu a porta.
- Entre.
Ela entrou devagar observando como a casa era grande e arrumada por dentro. Os móveis eram antigos, mas bem conservados e o piso de madeira brilhava encerado. As paredes pareciam pintadas recentemente e o teto de madeira fazia um belo contraste com as paredes amarelas. Uma escada grande levava ao segundo andar da casa e a sala tinha uma infinidade de janelas.
- Nossa! Sua casa é linda!
- Obrigada.
- E seu pai? Não mora com vocês?
Taylor sentiu o coração bater mais rápido ao ouvir falar sobre o pai e de como aquele assunto o incomodava.
- Meu pai já morreu.
Angel virou-se para ele surpresa.
- Desculpe, eu não sabia.
- Tudo bem. Vem aqui no banheiro trocar essa roupa molhada.
Ele subiu as escadas e entrou em um quarto. Com certeza era o quarto dele. Era bem amplo e uma cama de madeira artesanal enorme ocupava o centro do quarto. Eram bem baixinha e por baixo saíam feixes de luz na cor azul que iluminava as paredes de madeira. O resto da decoração era bem moderna com tapetes, sofás e cortinas brancas.
- Taylor! Que coisa linda!
Ele sorriu meio envergonhado.
- Eu gosto desse quarto, aqui é onde me escondo pra pensar na vida.
Sem querer, Angel imaginou quantas mulheres já teriam passado por aquela cama e com certeza seu pensamento refletiu em seu rosto, pois ele deu uma risada irônica.
- Está pensando que faço esse quarto de motel, não é? Mas já falei que não sou o mulherengo que dizem por aí e não costumo trazer mulheres para dentro da minha casa.
- Não pensei nada disso!
- Claro que pensou, vai tomar um banho. Vou pegar uma camisa pra você.
Ele colocou a camisa no trinco da porta e desceu para deixá-la à vontade.
Angel tomou banho e vestiu a camisa xadrez de mangas compridas que ele colocou na porta. Por sorte era grande o suficiente para cobrir suas pernas até quase o joelho. Ela prendeu os cabelos em um coque e como os sapatos estavam molhados ela desceu as escadas descalça mesmo. Encontrou-o na sala com um copo na mão olhando a chuva que caía intensamente lá fora.
- Parece que essa chuva não vai passar tão cedo.
Ele virou e a observou calado.
Mesmo que quisesse não poderia dizer nada naquele momento. Estava perdido na visão à sua frente. Como aquela garota conseguia mexer tanto com ele? Por que ela olhava para ele com aqueles olhos inocentes que deixavam tão claro que ela estava atraída por ele? Não era o que ele queria? Não era seu plano de vingança que ela se apaixonasse perdidamente por ele e então ele a abandonaria levando a vergonha e a desgraça para a família dela?
- É, acho que você terá de passar a noite aqui.
Ela se aproximou.
- Me leva até a cozinha, eu faço um café enquanto você toma banho.
A cozinha também era bem moderna em relação ao que aparentava a casa por fora e Angel tentou localizar as coisas para fazer o café.
Tentou não pensar que passaria a noite ali sozinha com Taylor e que se ele quisesse ela faria amor com ele sim. Estava curiosa como seria fazer sexo de verdade. Ela tinha tentado uma vez com um colega no segundo ano, mas tinha sido uma experiência um pouco constrangedora, pois nenhum dos dois sabia direito o que estava fazendo e acabou sendo um ensaio meio sem ritmo. Angel sorriu ao lembrar como Jonatas ficara assustado ao ver que ela tinha sangrado. Ele não sabia que ela era virgem.
- Você é louca, Angel! Você é virgem!
Ele tinha levantado nervoso e começou a vestir a roupa.
Ela tinha rido com a cara de medo dele.
- E daí? O que tem?
- Seu pai vai me matar!
Angel também tinha vestido a roupa calmamente.
- Calma Jonatas, eu não vou contar nada para meu pai não.
Aquilo tinha sido há dois anos e desde então ela não tivera mais a chance de ficar com ninguém. E nem queria. Não seria qualquer um que ela permitiria ter tamanha intimidade. Com Jonatas foi apenas a curiosidade de como seria a primeira vez. Agora quando se entregasse para alguém teria que ser alguém muito especial.
Entretida em seus pensamentos ela terminou de coar o café e subiu as escadas para ver porque Taylor estava demorando tanto.
Encontrou-o saindo do banheiro enxugando os cabelos. Ele vestia uma calça moletom preta e estava sem camisa.
Ele parou ao ver que ela estava ali no quarto e seu olhar encontrou o dela fixo em seu peito.
Ela tentou disfarçar, mas foi impossível não perceber que o corpo dele evidenciava uma excitação clara e explícita.
Angel estava nervosa e se atrapalhou com as palavras.- Eu... deixei minha roupa no seu banheiro, queria colocar pra secar...Taylor se afastou da porta e fez sinal para ela passar.- Pode pegar, eu coloco lá fora.Ela voltou com a roupa e olhou para ele.- Onde posso colocar?Ele estendeu a mão.- Me dá aquiEla apertou a roupa contra o peito.- Não... não vou deixar você pegar na minha calcinha, né.O olhar dele escureceu um pouco e ele se aproximou dela.- Sua calcinha está ai? Então você está...- Quer calar a boca, por favor!Ele puxou a roupa da mão dela e jogou no chão e então a puxou para seus braços colando o corpo ao dela de cima a baixo. Angel sentiu o ar faltar em seus pulmões ao sentir a ereção dele pulsando junto ao seu corpo.Ele desceu a mão
Angel estava sentada com Karen na lanchonete da faculdade e contava para amiga os últimos acontecimentos da sua vida.- Não! Não acredito que você transou com ele!Angel jogou a cabeça para trás e respirou sonhadora.- Sim, passamos a noite inteira nos amando.Karen fez um gesto de abano para um calor que não existia.- Jesus! Imagino aquele homem fazendo amor. Deve ser uma coisa!- Nossa! Ele é muito gostoso.Karen se aproximou mais e cochichou no ouvido de Angel.- O p... é grande?Angel tapou a boca, sorrindo baixinho e fez uma medida com as mãos respondendo para a amiga.- Ai Meu Deus! Não machuca não?- Machucar de verdade não, mas eu ainda estou toda quebrada.- E seus pais? Sabem?Angel torceu o nariz e revirou os olhos.- Meu pai foi me buscar lá na casa dele e me passou um serm&atil
No mês que se seguiu, Taylor e Angel praticamente não se desgrudaram. Estavam juntos o tempo todo. Ele inventava motivos para ir à cidade só para levá-la para a faculdade e geralmente na saída sempre acabavam no apartamento dele transando loucamente. As vezes faziam amor dentro do carro mesmo a caminho de casa e algumas vezes ela teve a coragem de ir até a fazenda na calada da noite e dormir com ele saindo logo cedo.Izabel tentou de todas as maneiras que o filho desistisse daquele namoro e chegou a ameaçar que se Angel continuasse a frequentar o quarto dele às escondidas, ela iria contar ao pai dela.- Para, mãe, deixa de drama!- Não é drama, Taylor, isso está errado.- Errado por quê?- Porque os pais dela não concordam com esse namoro e se alguma coisa acontecer eu vou ser acusada de estar acobertando vocês aqui.- Eu não s
Angel não costumava comer na cantina da faculdade. Preferia levar seu lanche de casa, pois seu estômago não aceitava bem aquelas comidas cheias de gorduras, mas sempre sentava por ali entre uma aula e outra para acompanhar os colegas e bater papo. Foi ali que ela conheceu Joana, uma senhora meio estranha que fazia a limpeza da cantina e retirava os pratos e copos das mesas. Angel não soube explicar, mas ela simpatizara logo de cara com Joana e passou a puxar conversa com ela, principalmente ao perceber que ela tinha um olhar triste. Parecia uma pessoa muito sofrida. Certo dia, Angel percebeu que ela estava com um olho meio roxo e não precisou imaginar muito como aquilo teria acontecido. Com certeza uma agressão feita por um marido violento. Desde então sentiu uma certa afeição e um pouco de pena daquela mulher que ainda era jovem, mas parecia carregar um grande peso nos ombros. Ela não devia ter mais que quarenta a
Taylor estava limpando as baias antigas dos cavalos que ficava nos fundos da casa da fazenda. Enfim ia revitalizar aquelas baias e trazer vida para aquela parte da fazenda esquecida desde a morte do pai. Com muito esforço, ele tinha conseguido comprar algumas éguas para inseminação, inclusive um garanhão reprodutor e já tinha várias encomendas de crias. Aos poucos sua fazenda ganhava vida novamente e o dinheiro começava a entrar. Agora ele tinha certeza que fizera a coisa certa ao abandonar a carreira de advogado na cidade e se estabelecer ali. A terra era sua paixão, ali ele sentia o coração bater mais forte e sua vida adquiria um novo sentido. Quando ele cavalgava por aquelas terras sentia-se livre e ele não se imaginava morando em outro lugar. Ainda doía em seu peito quando ele chegava nos limites que dividiam o que um dia fora terras daquela fazenda e ele não podia avanç
Fazia três dias que Angel não saía do quarto. Ela chorou todas as lágrimas que um dia pensou ser possível e recusou a comida que a mãe insistia em levar para ela.Estava ausente de si mesma e cansou de procurar uma explicação para os últimos acontecimentos de sua vida. Seria verdade que ela estava mesmo grávida aos dezoitos anos e fora cruelmente abandonada pelo homem que pensou ter se apaixonado? Por mais doloroso que fosse admitir aquela verdade, ela sabia que tudo acontecera daquela forma. Taylor tinha se aproximado dela não porque se sentiu atraído ou algo parecido, mas porque já tinha um plano em mente. Tudo foi arquitetado pensando apenas na vingança dele contra sua família. Ela relembrou detalhadamente todos os momentos, as conversas, as inúmeras vezes que tinham feito amor e procurou uma pista de que ele pudesse estar mentindo. Como ele tivera coragem de enga
Taylor descansou a perna dobrada sobre a cela do cavalo e olhou o horizonte ao longe ao entardecer. O gado pastava calmamente na campina verde à sua frente e as últimas gotas de chuva caíam silenciosas.Aqueles últimos dias tinham sido frios e chuvosos e de certa forma pareciam refletir em seu interior. Seu coração estava frio e nebuloso.Fazia um mês desde a última vez que ele vira Angel e aquilo o estava matando por dentro. No auge do seu desespero ele tinha pedido para Vanessa fazer um vídeo dela e enviar para ele e agora aquele pequeno filme de apenas vinte segundos já tinha sido reproduzido um milhão de vezes em seu celular. No vídeo ela se olhava no espelho experimentando um vestido novo e tentando ajustar em volta da barriga provavelmente na tentativa de esconder que estava grávida. Continuava linda, mas exibia um olhar triste e distante e Taylor se sentiu a pior das criatu
Angel olhou o relógio pela milésima vez. Estava esperando sua vez de ser atendida no consultório médico onde sua mãe tinha marcado uma consulta para acompanhar a gravidez. Ela tinha adiado aquela visita o quanto pôde, mas sabia que uma hora teria que ir ao médico. Pelas contas, ela estava com dois ou três meses e seria muito arriscado não saber se tudo estava bem com ela e o bebê. - Angel Cavalcanti Murat.A secretária anunciou seu nome e ela levantou respirando fundo e segurando a mão que Marta lhe estendia.