Taylor Belinari amarrou as rédeas do cavalo ao tronco da árvore e sentou no chão encostado no tronco do velho pé de mangueira.
Era final de tarde e o tom alaranjado enfeitava o céu e trazia calmaria ao ambiente. Uma calma que não se estendia para o interior de Taylor. Ele estava inquieto. Não que aquilo fosse novidade, já que fazia muito tempo que ele não sentia paz interior.
Olhou ao longe e viu as planícies verdejantes tremulando sob os raios do sol poente. Era uma visão linda de encher os olhos. As últimas chuvas tinham revitalizado o capim e ele agora exibia um verde escuro digno de uma boiada. Pena que ali só existiam duas ou três vacas que não dariam conta do farto capim que se descortinava à sua frente.
Ele não lembrava, há quanto tempo não parava para admirar aquelas terras. Nos últimos anos sua vida fora longe dali e as poucas visitas eram rápidas e práticas, apenas para resolver problemas e ajudar a mãe com as decisões de uma fazenda velha e falida. Agora, no entanto, ele teria tempo para se familiarizar de novo com aquelas terras.
Ele fechou os olhos e lembrou-se do pai. Fazia dez anos que ele tinha morrido vítima de um infarto fulminante e desde então o sorriso tinha desaparecido de seu rosto.
O infarto foi apenas o ponto culminante do sofrimento dele. Na verdade, Rodolfo Belinari já vinha morrendo aos poucos fazia muito tempo.
Desde que Taylor começou a entender as coisas, lá pelos cinco anos de idade, que ele começou a acompanhar a ruína de sua família.
Todas as noites o pai saía de casa e chegava de madrugada bêbado e Taylor ouvia sempre sua mãe gritando com ele dizendo que ele estava perdendo todo o dinheiro da família no jogo.
Como ainda era muito pequeno, Taylor apenas ouvia aquelas discussões e ia dormir chorando, mas não perguntava nada aos pais no dia seguinte. Quando foi crescendo, no entanto, Taylor começou a perguntar para o pai porque ele bebia tanto e perdia dinheiro nas mesas de jogo dos bares da cidade e ele então começou a contar que era para esquecer a raiva que ele tinha do homem que tinha tomado suas terras.
E todos os dias ele reforçava aquela tese de que o fazendeiro vizinho, Robert Murat, era o responsável pela sua ruína. Repetia incansavelmente que Robert se aproveitava de momentos em que ele estava bêbado para comprar suas terras por um preço muito abaixo do que elas valiam e quando ele estava sóbrio e tentava desfazer o negócio, Robert não aceitava.
Taylor cresceu ouvindo aquelas histórias e vendo o patrimônio do pai se desfazer lentamente.
A cada dia ele era informado que determinada propriedade não pertencia mais aos Belinari e sim aos Murat e a situação financeira de sua família decaía vertiginosamente, a ponto de não mais poderem manter os empregados da fazenda e nem as funcionárias da casa.
Taylor estava, então, com quinze anos quando em uma manhã chuvosa ele viu o caminhão boiadeiro estacionar atrás do curral e levar as últimas cabeças de gado que ali existiam e uma discussão acalorada entre seu pai e o homem responsável pela retirada dos bois.
- Desgraçado! Aquele miserável do Robert levou meus últimos animais!
O homem fechou a porta do caminhão sem nenhuma piedade e voltou-se para ele.
- Você tem dívidas com ele e esta é a forma que ele tem de receber, antes que você jogue fora nas mesas de roleta.
E daquele dia em diante ele não mais encontrou forças para viver. Mergulhou numa depressão profunda e dois meses depois teve um infarto fulminante.
Naquele momento, Taylor sentiu o ódio que ele tinha de Robert atingir níveis estratosféricos, sua vontade era ir até lá e dar um tiro no peito do homem que tinha matado seu pai, mas ele só tinha quinze e não tinha uma arma. Talvez se tivesse também não atiraria, pois sua criação não permitia que tirasse a vida de uma pessoa, mas se fosse um pouco mais velho teria enfrentado cara a cara seu inimigo e acharia um jeito de vingar a morte do pai, nem que fosse dando uma corsa naquele sujeito vil e cruel.
Com a morte do pai a situação financeira da família chegou ao fundo do poço e ele se viu obrigado a mudar de escola e sua mãe passou a fazer sozinha o serviço doméstico da enorme casa da fazenda, um dos poucos patrimônios que tinha restado. Foram anos difíceis e ele esteve ao lado da mãe, Izabel, em todos os momentos de dificuldade que eles viveram. Apesar de serem vizinhos, ele e Robert nunca tinham se encontrado. Ele evitava todas as situações que pudessem o colocar frente a frente com seu algoz e assim Taylor viveu os últimos dez anos de sua vida odiando uma pessoa que ele nunca tinha visto. No entanto, a raiva e o ressentimento estavam guardados no fundo do seu coração e um dia ele acertaria as contas com o vizinho.
Aos poucos, Izabel conseguiu recuperar parte dos animais vendidos e a fazenda lentamente voltou a dar um pouco de lucro, mas não o suficiente para terem uma vida tranquila. Estavam sempre no vermelho e os poucos funcionários que recontrataram não recebiam de forma integral o seu salário.
Aos dezoito anos, Taylor ingressou na faculdade de Direito de Goiás e passou quatro anos entre idas e vindas da fazenda para Goiânia até concluir o curso.
Foram anos difíceis de grana curta, mas sua mãe tinha guardado um pouco de dinheiro em uma poupança em seu nome e aquilo lhe permitiu comprar um apartamento e custear de forma humilde os estudos e os gastos decorrentes dele. Ele era um aluno exemplar, não podia se dar ao luxo de perder tempo ou repetir matérias. Precisava se formar e arrumar uma forma de ganhar dinheiro para ajudar a mãe. Tudo correu como ele planejou. Terminou a faculdade dentro do tempo regulamentar e montou um escritório de advocacia com alguns colegas da faculdade. Durante dois anos, ele ganhou dinheiro suficiente para investir em algumas áreas da fazenda e contratar funcionárias para ajudar sua mãe na casa.
Embora gostasse da profissão que escolhera, a fazenda era sua paixão e depois de muito pensar ele resolveu vender sua parte na sociedade no escritório, voltar para a fazenda e fazer aquilo que aprendera desde criança.
E agora ele estava de volta aos vinte e cinco anos de idade e disposto a recuperar tudo que tinham tirado de sua família. Trabalharia incansavelmente até ver aquela fazenda no auge e ganharia de volta todo o dinheiro que ele vira escorrer pelo ralo durante anos da sua vida.
Essa era apenas uma parte do que ele pretendia fazer, a outra era acertar as contas com o responsável pela ruína da sua família. Antes de tudo ele arrumaria um jeito de se vingar de Robert Murat.
Foram anos da sua vida pensando em uma forma eficaz de fazê-lo pagar pelo mal que tinha feito a seu pai levando-o ao desespero e a morte.
Por mais que tentasse, não conseguia pensar em uma vingança a altura do seu ódio, mas na noite passada o destino o apresentou ao meio mais fácil e mais rápido de destruir a família daquele homem odioso. Através de sua única filha, Angel Murat.
Ele tinha ido ao bar Posto 15, lugar onde todos os jovens daquela região se encontravam nos fins de semana para dançar, beber e namorar.
Ele sempre saía com os amigos Rodrigo e Rafael e eles estavam sempre rodeados de mulheres. Taylor era considerado o sonho das garotas e uma ameaça aos pais de família daquela região marcada por tradições familiares e que viam qualquer namoro como um possível casamento. Todas elas de alguma forma queriam namorá-lo e ele não recusava quase nenhuma. Tinha fama de mulherengo, mas na verdade era um estereótipo que não condizia muito com a verdade. Já pegara muitas garotas sim, mas quase sempre eram romances supérfluos, beijos em festas e saidinhas para shows e cinemas. Namorada séria mesmo, Taylor nunca tivera nenhuma.
Ele nunca tinha encontrado Angel Murat em nenhuma das baladas que frequentava. Ela aparentava ser bem mais nova que ele e talvez por isso não frequentasse muito a noite em Goiânia. Naquela noite, porém, ela estava com algumas amigas dançando e bebendo e ele indagou Rodrigo a respeito da garota morena de longos cabelos pretos.
- Sabe quem é aquela moça ali de calça branca e blusa vermelha?
Rodrigo tentou localizar a garota a quem ele se referia.
- Aquela ali quase pendurada no pescoço do chato do Murilo? É a filha de Robert Murat, seu vizinho.
O estômago de Taylor se contraiu e ele engoliu em seco.
Aquela garota era filha do seu maior inimigo?
- Dizem que é a queridinha do papai. É filha única e acabou de completar dezoito anos. Já está querendo pegar a menina é, cowboy?
Filha única? Queridinha do papai?
- Nunca a vi antes.
- Ela era menor até outro dia, talvez o pai não a deixasse sair, sei lá.
Taylor observou bem a garota que dançava animada e virava um copo atrás do outro. Ela era bonita. Era morena e tinha longos cabelos pretos lisos e eles estavam presos pela metade no alto da cabeça. Ela usava uma calça branca super colada no corpo e uma blusa que deixava à mostra metade da barriga. Taylor deu uma risada irônica. Se alguém não tomasse conta daquela garota ela ia causar um estrago naquela noite. Mas ela não era problema dele, ao contrário, poderia ser a solução. Ali estava um dos melhores caminhos para destruir Robert Murat. Não era a queridinha do papai? Então era por ali que ele começaria. Não seria tão difícil se aproximar dela e se tivesse que dar uns beijinhos para conseguir o que ele queria, até que não seria um castigo tão grande.
Pensando nisso, ele passou a olhar insistentemente para ela com a intenção de chamar sua atenção. Não demorou muito e ela capturou seu olhar e então Taylor teve certeza que seu plano daria certo. A forma como ela sustentou seu olhar não deixava dúvidas que ele poderia avançar o sinal, pois ela cairia facilmente em seus braços.
Angel Murat estava eufórica. Enfim ia poder sair à noite sem os pais. Lógico que tinha sido uma quebra de braços sem tamanho com o pai Robert para que ele a deixasse sair para um barzinho com as amigas.- Mas pai, eu agora já tenho dezoito anos, posso sair à noite sim.Robert tinha achado graça na forma como ela falou.- Você fez dezoito anos na semana passada, mocinha, não pode sair por aí em bares com esses seus amigos que só pensam em beber e namorar.- O que tem beber e namorar?- Não tem nada, mas você precisa ir devagar e além do mais você já tem namorado.Ela tinha torcido o nariz.- Eu não disse ainda que vou aceitar a namorar com o Murilo.- Você sabe que ele estava só esperando você ficar maior para pedir você em namoro, não é?- Sei sim, mas o Murilo é
Uma semana depois daquele vergonhoso encontro Angel procurava coragem para ir falar com Taylor.- Você vai na casa dele?!Ela encarou a amiga.- Vou, sim, Vanessa, vou falar com ele e pedir desculpas.- Porque não deixa isso pra lá? Você nem conhece ele direito.- De jeito nenhum, ele deve estar pensando muito mal de mim. Nunca mais vai querer falar comigo.Ela falou meio chorosa.Vanessa estava curiosa.- E você está doidinha pra falar com ele, não é?- Claro, Vanessa, quem não quer falar, beijar, fazer tudo com um homem daquele?- Cuidado, Angel, você sabe que seus pais não vão gostar nada disso, não é?- Só se você contar pra eles. Então amanhã quando eu voltar da faculdade eu vou lá na casa dele.Angel deixou a amiga em casa e foi para a fazenda. Ao chegar, foi direto en
No dia seguinte, pontualmente às sete horas, Angel tocou a buzina na entrada da fazenda de Taylor. Ele demorou apenas alguns segundos e apareceu na frente dela. Estava terrivelmente bonito. Aquelas calças justas, o cinto com uma fivela enorme e uma camisa branca de mangas compridas arregaçadas até o cotovelo deixavam á mostra o braço forte. Ele estava sem chapéu e o cabelo preto cacheado meio grande caía pela testa e dava certo charme ao rosto dele. E a boca? Era linda. Ele só precisava sorrir um pouco mais. Era muito sério, mas as poucas vezes que ela o vira sorrindo era de parar o coração de qualquer mulher. Meu Deus! Eu vou sair com Taylor Belinari sozinha à noite.Ela tentou controlar as batidas do coração e esperou ele entrar no carro.- Você quer ir no seu carro mesmo ou vamos no meu?Ela sorriu meio tonta com o perfume dele.<
Izabel observou o filho virar um copo de uísque e ficou preocupada. Ele não era de beber assim em casa. Alguma coisa o estava preocupando. Ele sempre fora meio calado e introspectivo, mas nos últimos tempos estava com um olhar triste e distante. Ela não fez nenhum comentário, mas sabia que ele tinha saído na noite anterior com a filha de Robert e aquilo pareceu deixá-lo ainda mais nervoso. Ela tentava entender os motivos para ele estar saindo com aquele menina e uma suspeita se formava em sua mente. Será que ele estava querendo se vingar de Robert através da filha? Se assim fosse ela não permitiria de jeito nenhum. Ele não podia envolver uma garota inocente naquela ideia maluca de vingança contra uma pessoa que não era um monstro como ele pensava. Ela só não podia contar todos os detalhes assim de hora para outra, mas tentaria dissuadia-lo daquela loucura.Aproximou-se del
Angel conversava com Murilo e tentava fazê-lo entender que não tinha interesse nele como namorado.Eles estavam sentados num tronco de árvore perto do riacho que cortava a propriedade dos Murat e adentrava nas terras vizinhas, que pertencia à família de Taylor. Ela e Murilo se conheciam desde criança e ela sabia que ele nutria um sentimento maior por ela. Mesmo sabendo que em alguns momentos ela deu a entender que um dia seriam namorados, ela não sentia o coração acelerar quando ele chegava perto, não como sentia com Taylor. Murilo, no entanto, estava decepcionado e triste por saber que Angel não correspondia aos seus sentimentos.- Sinto muito, Murilo, mas não dá pra namorar quando se tem apenas sentimento de amigo.Ele parecia inconformado.- Já sei. Você está saindo com outro cara, não é? É aquele Taylor, eu sei.Ang
Angel estava nervosa e se atrapalhou com as palavras.- Eu... deixei minha roupa no seu banheiro, queria colocar pra secar...Taylor se afastou da porta e fez sinal para ela passar.- Pode pegar, eu coloco lá fora.Ela voltou com a roupa e olhou para ele.- Onde posso colocar?Ele estendeu a mão.- Me dá aquiEla apertou a roupa contra o peito.- Não... não vou deixar você pegar na minha calcinha, né.O olhar dele escureceu um pouco e ele se aproximou dela.- Sua calcinha está ai? Então você está...- Quer calar a boca, por favor!Ele puxou a roupa da mão dela e jogou no chão e então a puxou para seus braços colando o corpo ao dela de cima a baixo. Angel sentiu o ar faltar em seus pulmões ao sentir a ereção dele pulsando junto ao seu corpo.Ele desceu a mão
Angel estava sentada com Karen na lanchonete da faculdade e contava para amiga os últimos acontecimentos da sua vida.- Não! Não acredito que você transou com ele!Angel jogou a cabeça para trás e respirou sonhadora.- Sim, passamos a noite inteira nos amando.Karen fez um gesto de abano para um calor que não existia.- Jesus! Imagino aquele homem fazendo amor. Deve ser uma coisa!- Nossa! Ele é muito gostoso.Karen se aproximou mais e cochichou no ouvido de Angel.- O p... é grande?Angel tapou a boca, sorrindo baixinho e fez uma medida com as mãos respondendo para a amiga.- Ai Meu Deus! Não machuca não?- Machucar de verdade não, mas eu ainda estou toda quebrada.- E seus pais? Sabem?Angel torceu o nariz e revirou os olhos.- Meu pai foi me buscar lá na casa dele e me passou um serm&atil
No mês que se seguiu, Taylor e Angel praticamente não se desgrudaram. Estavam juntos o tempo todo. Ele inventava motivos para ir à cidade só para levá-la para a faculdade e geralmente na saída sempre acabavam no apartamento dele transando loucamente. As vezes faziam amor dentro do carro mesmo a caminho de casa e algumas vezes ela teve a coragem de ir até a fazenda na calada da noite e dormir com ele saindo logo cedo.Izabel tentou de todas as maneiras que o filho desistisse daquele namoro e chegou a ameaçar que se Angel continuasse a frequentar o quarto dele às escondidas, ela iria contar ao pai dela.- Para, mãe, deixa de drama!- Não é drama, Taylor, isso está errado.- Errado por quê?- Porque os pais dela não concordam com esse namoro e se alguma coisa acontecer eu vou ser acusada de estar acobertando vocês aqui.- Eu não s