Capítulo 1

Capítulo 1

Clare Vallence

França | 02 de Maio

Minha vida finalmente estava do jeito que eu queria, porque depois dos últimos três anos, desde que deixei Londres… essa tinha sido a primeira vez que eu tinha conseguido ter o mínimo de paz na minha vida — afinal, Marcelus… ainda não tinha me achado na França (até porque, ele nunca esperaria que eu estivesse no seu país de origem, esperaria?).

Eu poderia finalmente descansar, sem a constante apreensão de que aquele desgraçadö apareceria na minha frente a qualquer momento. Meus dias eram previsíveis, e a rotina médica preenchia meu tempo e minha mente por completo.

Estava tudo ótimo.

Estava tudo perfeito.

Ou pelo menos, era o que eu queria acreditar, mas… eu não conseguia tirar o rosto de Marcelus da minha cabeça! Ele ainda habitava meus pensamentos, especialmente durante a noite.

Naquela manhã inclusive? Acordei irritada depois de um sonho erótico que eu tive com aquele moreno filho da putä! E isso me deixava profundamente frustrada, porque parecia que mesmo à distância, ele ainda tinha o poder de me desestabilizar por completo.

Levantei da cama, resmungando enquanto me preparava para o trabalho, e quando me olhei no espelho? Eu pude ver a irritação nos meus olhos, que tinham círculos escuros embaixo deles.

Merdä!

Não bastava estar tirando a minha sanidade, tinha que me dar olheiras também?

— Por que ele ainda me afeta tanto? — murmurei, enquanto prendia meu cabelo loiro em um coque apressado, — isso nem mesmo faz sentido! Eu me afastei dele! Eu nem… vejo mais a cara dele, a uns… sei lá, meses?

“Não importa, Clare… hoje o dia vai ser cheio, talvez… isso ajude…” eu pensei, e assim que eu cheguei no hospital? Eu vi que o turno no hospital realmente prometia ser longo — ou seja… eu podia me iludir, achando que eu não teria pensamentos indesejados.

O hospital estava bem movimentado, então, eu fiquei andando de um lado para o outro como uma completa doida, ao ponto de quase não ter tido tempo de cumprimentar todo mundo que eu via, porque eu estava tentando me focar em cada tarefa.

Trabalhar como médica era algo um tanto cansativo ás vezes, mas era o que eu amava fazer — e o que eu tinha decidido pra minha vida, no fim das contas —, e honestamente? Ajudar as pessoas me dava uma sensação de propósito que, ultimamente, era a única coisa que conseguia me manter longe das lembranças de Marcelus, bom… tudo o que tínhamos feito.

— Bom dia, Clare — uma das minhas colegas de trabalho disse, junto de um sorriso. — Você parece cansada… teve uma noite difícil?

— Você não faz ideia — respondi, forçando um arquear nos meus lábios. — Pesadelos, ou algo assim.

Sophie levantou uma sobrancelha, claramente não convencida, mas… ela também não parecia querer ir mais a fundo.

— Sinto muito por isso… espero que pelo menos essa noite, você consiga dormir, nem que seja… um pouco melhor, — ela disse, enquanto se aproximava. — Ah, e temos um paciente um pequeno paciente chegando hoje, o nome dele é David, — Sophie começou, — ele está aqui para um exame de rotina, por conta da diabetes… pode ir dar uma olhada?

— Claro, estou indo para lá agora mesmo — respondi, enquanto eu ia direto até o consultório, para examinar o garoto.

E bom… ocorreu tudo certo no exame do garotinho — até porque ele parecia ter uma alimentação bem regrada, de acordo com o que os pais diziam —, e depois dele? Eu tive mais alguns trabalhos no hospital, o que me manteve bem ocupada durante a maior parte do dia.

Mas… quem disse que eu consegui manter Marcelus longe da minha cabeça o tempo todo? Porque sempre que eu tinha uma pausa qualquer, ou qualquer mínimo momento para pensar em outra coisa que não fosse um paciente… ele me via a mente.

“Moreno malditö!” Eu acabei pensando em dado momento, mas quando eu fui notar… o meu plantão tinha terminado, e eu? Estava completamente exausta.

Decidi ir a um café próximo ao hospital para relaxar um pouco antes de ir para casa — um que eu queria muito visitar, porque me lembrava o Break Time, porque por mais que eu odiasse admitir… eu sentia falta daquele café, e claro… de Ágape, do Aaron…

“Pare de ficar pensando neles…” eu acabei me forçando a pensar, porque… eu precisava desse tempo longe, porque se eu ficasse perto deles… eu teria que ficar perto de Marcelus também (afinal, ele era a droga do melhor amigo do marido da Ágape), então… não tinha muito a ser feito.

Então, entrei no café e pedi um cappuccino, apenas para ir até uma mesa ao canto, porque eu precisava de um canto para descansar, nem que fosse um pouco.

O lugar estava relativamente calmo, com o som suave de conversas ao fundo e o cheiro do café? Céus… aquilo me trazia uma calmaria...

Depois de sentar, eu peguei um livro que eu tinha começado a ler há alguns dias na bolsa, na tentativa de fazer a minha mente ficar distraída, enquanto o meu pedido não ficava pronto.

— Posso me sentar aqui? — A voz masculina era suave e gentil, me tirando dos meus pensamentos, e quando levantei os olhos, encontrei um homem alto e loiro sorrindo para mim. Seus olhos âmbar tinham um brilho que era difícil de ignorar.

— Claro — respondi, gesticulando para a cadeira à minha frente.

— Obrigado. Eu sou Flyn — ele disse, estendendo a mão.

— Clare — respondi, apertando a mão dele. Sua pele era quente e reconfortante, e eu senti uma onda de calma me envolver (o que foi um tanto… inusitado).

— Então, Clare, você trabalha aqui perto? — Flyn perguntou, enquanto mexia em seu café.

— Sim, sou médica no hospital aqui ao lado — respondi. — E você? O que faz da vida?

— Sou fotógrafo. Trabalho principalmente com moda e publicidade, mas estou explorando alguns projetos pessoais também — ele disse com um sorriso.

— Que interessante… deve ser um trabalho bem criativo — comentei, enquanto inclinava o meu corpo pra frente, — e bem legal também.

— É, eu gosto bastante. E você, como é ser médica? Deve ser estressante às vezes.

— Sim, é um trabalho que exige muito, mas também é muito gratificante. Gosto de saber que estou ajudando as pessoas.

— Isso é admirável. Acho que precisamos de mais pessoas como você no mundo — disse Flyn, arqueando os lábios, e porra… que sorriso bonito…

Na verdade, Flyn em si era bonito, e também… parecia ser uma ótima companhia para ser bem honesta, além de claro, parecer ser bem atencioso.

É isso.

Sim, agora que eu pensava melhor… ele era exatamente o que eu precisava no momento: uma distração.

Ele não tinha a intensidade perigosa de Marcelus, e talvez isso fosse exatamente o que eu precisava para tirá-lo da minha cabeça, pelo menos por um tempo, até… eu esquecer ele de vez, e quem sabe… eu poderia até mesmo começar a gostar de Flyn em dado momento — afinal, ele parecia ser o exemplo perfeito do que eu sempre quis, que era um príncipe encantado.

Então, quando precisamos ir embora, e saímos do café, ele começou a me olhar pelo canto do olho, como se quisesse me perguntar algo.

— O que foi? — Acabei o questionando, — tem algo para me dizer?

— Eu, bem… — ele desviou o olhar por alguns segundos, — eu gostaria de te ver novamente, Clare, e eu estava pensando se… não poderíamos jantar juntos algum dia desses? — Flyn sugeriu, com um brilho de expectativa nos olhos.

— Eu adoraria — Me vi surpresa com minha própria resposta. — Pode ser na sexta-feira?

— Está combinado, — Flyn sorriu, — ah, é… eu posso ter o seu número?

— Claro. — Peguei o seu celular já que ele logo o colocou na minha mão, e só digitei o meu número nele, — prontinho.

Perfeito. — Ele disse ao começar a se afastar, — bom, então até sexta, doutora.

— Até. — Falei ao acenar,

Ah…

Talvez agora… eu consiga tirar aquela coisa da minha cabeça.

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