Capítulo 4

Capítulo 4

Clare Vallence

França | 03 de Maio

Uma parte de mim se sentia culpada por estar "usando" Flyn para ser bem honesta, afinal… ele era gentil, atencioso e merecia alguém que realmente estivesse interessada nele.

Mas, ao mesmo tempo? Eu precisava desesperadamente de algo ou alguém que me ajudasse a tirar Marcelus da minha cabeça. Então, quando Flyn me convidou para uma exposição de arte naquela noite, aceitei, sem pensar duas vezes.

A galeria de arte era um lugar elegante, com paredes brancas e luzes suaves destacando as obras expostas, e mesmo que grande parte das fotógrafias fossem algo — aparentemente, mais abstrato — Flyn parecia animado enquanto caminhávamos pelo local, comentando sobre as fotografias em preto e branco que preenchiam as paredes.

E eu por outro lado, tentava sorrir e fingir interesse, mas nada daquilo parecia realmente me tocar, só parecia ser... cinza e sem graça, sem muita história para contar.

Afinal, eu estava acostumada com os vários quadros que tinham na casa do meu pai, que iam de Leonardo Da Vinci a Eugène Delacroix, com todas aquelas cores, e uma história por trás.

Não… preto e branco.

Tudo menos preto e branco.

— O que você acha dessa aqui? — Flyn perguntou, apontando para uma fotografia de uma paisagem urbana desolada, — eu particularmente, gostei muito.

— É... interessante — respondi, forçando um sorriso. Mas, na verdade, tudo o que eu via era uma imagem fria e… mais nada.

Flyn parecia não perceber minha falta de entusiasmo — por sorte —, continuando a falar sobre as técnicas usadas pelos fotógrafos e as histórias por trás de algumas das imagens. Eu tentava prestar atenção, mas minha mente vagava constantemente, voltando para as memórias de Marcelus. Cada risada, cada gesto de Flyn me lembrava de como Marcelus era diferente.

Afinal, Marcelus nunca me traria para uma exposição de artes — até porque, eu acho que o máximo que ele sabia de artes, eram as que tinham no livro do kama sutra.

— Clare? — Flyn me chamou, me tirando dos meus pensamentos.

— Sim? — Eu me apressei a dizer, — sinto muito, acho que… fiquei muito absorta naquela foto ali… ela parece ter tanta profundidade nela, — tentei desconversar, apenas para Flyn abrir um amplo sorriso.

— Aquela? Ah, sim! Eu ia falar dela mesmo com você, — ele parecia empolgado ao dizer, — o campo mostrado nela é todo aberto, e parece até mesmo brilhante, mas… fica bem nítido que a foto também deixa um ar bem solitário.

— Sim, isso… foi o mesmo que eu pensei. — Menti descaradamente, mas… aquilo pareceu ter deixado ele feliz de certo modo (o que sinceramente, pode se dizer que foi um ponto positivo naquela noite).

E quando a exposição finalmente terminou, Flyn me acompanhou até a porta do meu apartamento. Ele se inclinou e me beijou suavemente, seus lábios quentes contra os meus. Eu retribuí o beijo, mas não senti nada além de uma leve pressão.

Não havia faíscas, nenhuma chama, nenhuma vontade de arrastá-lo para dentro do apartamento.

— Eu me diverti muito hoje, Clare. Gostaria de fazer isso de novo em breve — ele disse, sorrindo.

— Eu também, Flyn. Obrigada pela noite — respondi, tentando soar sincera.

Subi para o meu apartamento sozinha, sentindo uma mistura de frustração e culpa.

Por que eu não conseguia sentir nada por Flyn? Ele era perfeito no papel, mas, na realidade, não conseguia despertar em mim nem uma fração do que Marcelus conseguia, e isso? Era tão… irritante.

As memórias dele surgiam em minha mente como um fantasma, assombrando meus pensamentos.

Me sentei no sofá, abraçando um travesseiro e fechando os olhos. As lembranças de Marcelus invadiam minha mente: suas mãos quentes tocando meu corpo, o jeito que ele me olhava com uma intensidade que me fazia perder o fôlego, e a boca dele quando ele descia e ficava entre as minhas pernas, sempre fazia a minha mente ficar em branco.

— Porrä, eu me odeio, só pode! — Eu pensei comigo mesma, apenas para me afundar ainda mais no sofá, enquanto eu tampava os meus olhos, com o braço.

Tentei afastar aquelas memórias, mas elas continuavam a me perseguir. Era como se Marcelus tivesse deixado uma marca que não dava para apagar na minha alma.

Eu queria seguir em frente, queria parar de pensar naquele desgraçado, mas… por que parecia que nada dava certo? Por que parecia que quanto mais eu tentava me afastar, mais parecia que a minha mente não conseguia se afastar daquele desgraçado.

“Não devia ser tão díficil…” eu pensei comigo mesma, enquanto eu suspirava, mas a minha mente continuava indo para o mesmo caminho, pensando nas noites que eu tive com Marcelus, e como ele fazia o meu corpo ficar quente, e o meu corpo desejar ele por completo, como se ele fosse a porra de uma droga que eu não conseguia me desintoxicar por completo.

Sim, era isso.

Marcelus era como uma drogä, então… em dado momento, eu conseguiria me livrar dessa sensação de abstinência, certo? Afinal, um dos maiores fatores que ajudava os viciados a pararem de ir atrás da droga, era quando os seus corpos se acostumavam com a falta dela.

“Eu só… preciso ficar mais tempo longe dele, e… tudo vai se resolver, eu sei disso…” eu acabei pensando, então… eu só tinha que continuar tentando mais um pouco.

Eu fui tomar um banho quente depois disso pra me preparar para dormir, porque era isso o que eu precisava fazer agora — afinal, a minha vida iria continuar de qualquer jeito, então… eu precisava descansar.

Porque no fim, antes de tudo, eu ainda era médica, e… eu precisava estar bem o suficiente para focar nos meus pacientes amanhã — e saber que logo eu poderia fazer isso sem pensar em Marcelus… me deixava um pouco mais feliz.

Então, eu logo saí da água quente, e me permiti deitar na minha cama, me aconchegando nela, para poder só… dormir.

Mas quem disse que eu tinha conseguido fazer isso?

Não.

Aparentemente eu não podia, porque novamente, as sensações tomaram conta do meu corpo quando aquele moreno desgraçado veio na minha mente, e aquilo? Fez o meu corpo esquentar por completo, enquanto eu sentia a minha buceta ficar molhada, só de pensar nos cenários que eu poderia ter com Marcelus naquele momento.

É, era oficial… eu me odiava muito.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo