Leah havia deixado um papel preso a geladeira, com o endereço e quais conduções Evangeline precisaria pegar. Ela já tinha dado instruções de como queria que a filha arrumasse o cabelo ruivo e cacheado. Evie precisaria amarrá-lo em um coque arrumado e nenhum fio poderia estar fora do lugar.
— O que eu falei sobre seu cabelo? — Leah questiona, assim que vê a filha no portão da mansão.
— Sabe que meu cabelo não fica no lugar. Ainda mais depois de dois ônibus e o metrô.
O segurança manda Leah decidir o que fazer, na parte de dentro. Ela então agarra no braço da filha e a puxa, enquanto a garota admira a imensidão da casa a sua frente.
Elas entram pelos fundos, que dava diretamente para a gigantesca cozinha. Diversas pessoas iam e viam, com pressa e esbarrando em outras, que se ocupavam em encher bandejas. Os convidados começariam a chegar a qualquer minuto.
— Carol? — Leah chama a mulher mais velha que estava gritando com outra. Carol era a manda chuva daquela cozinha e organizava toda e qualquer festa tivesse ali. — Essa é a Evangeline. Minha filha.
Carol sequer olhou na direção de Evie. Ela pegou um embrulho de plástico e jogou na mão de Leah.
— Sabe onde fica o banheiro... NÃO É PARA USAR ESSE VINHO!
A velha mulher larga mãe e filha para trás e caminha atras do ser humano que tinha pegado um dos vinhos mais caros que aquela família guardava.
— Vem, Evie.
Leah agarra no braço da filha e a leva até o minúsculo banheiro dos funcionários. Não havia nada além de um vaso sanitário, pia e espelho. Ninguém era autorizado a tomar banho ali. Nem mesmo Carol, que tinha mais de vinte anos trabalhando para aquela família.
— Vista isso.
Evangeline tira o tecido preto de dentro do saco e quase ri. Aquilo parecia fantasia sexual, de tão curta.
— Isso é uma piada? — ela pergunta, olhando para a sua mãe. — Não tem nada mais longo?
— Evangeline, você quer ou não o dinheiro que esse trabalho trará?
— Quero, mas...
— Então cala a boca e se veste logo.
Leah não tinha paciência com nada e isso incluía a sua filha. Ela não a odiava, mas também não conseguia sentir amor de mãe pela garota. O pai de Evangeline largou-as naquele campo de trailer, quando a vida começou a ficar complicada. E apesar de saber que sua filha não tinha nada a ver, com a ida do marido, Leah achava mais fácil culpar a ela, do que ter qualquer outro motivo.
Evangeline não conseguia evitar a cara de desgosto, ao terminar de vestir o pequeno uniforme. Ela havia abotoado a blusa até o pescoço, o que fez Leah revirar os olhos, enquanto prendia o avental branco.
— Isso fica assim... — ela diz, abrindo os primeiros botões, que deixavam os seios de Evangeline a mostra. — Agora sim! Haverá homens ricos nessa festa. Quem sabe você ganha alguma gorjeta...
— Mãe! Caramba...
Antes que as duas pudessem começar uma DR familiar, Carol b**e na porta do banheiro e as apressa para sair.
Mãe a filha são postas em uma fila indiana, onde bandejas de champanhe lhes são entregues, ao mesmo tempo em que a manda chuva da cozinha, começa a listar o que não poderiam fazer. Em resumo, tudo o que deveriam dizer era: boa noite, está servido? e sem muito contato visual.
Quando começaram a caminhar para o ambiente da festa, Evie não aguentou a curiosidade de encarar tudo. As pinturas, os vasos caros, o tapete persa em que pisava. E enquanto entoava a frase que Carol havia ensinado, Evangeline não parava de encarar as escadas que davam para o segundo andar.
Um de seus maiores defeitos, era ser curiosa. Desde que sua mãe mencionara sobre o segundo andar e a proibiu de ir até lá, essa era a única coisa que rodava na mente de Evie.
— Isso é champanhe? — uma voz forte e rouca soprou a nuca de Evangeline, enquanto ela encarava a escada.
Quase derrubando a bandeja e as três taças que ainda restavam ali, ela se vira e encara o homem com sede. Ela tenta não se intimidar com o olhar forte e penetrante que ele tinha. Ou em como ele estava extremamente bonito dentro daquele terno, que parecia mais caro do que o trailer em que Evie vivia.
— Sim. — ela finalmente responde, dando um pigarro. — Está servido, senhor?
— Por favor. Sem essa de senhor. Eu sou Alec. E você?
Evangeline teria o respondido, mas o olhar amedrontador de Carol, do outro lado da sala, a fez sorrir e se afastar calmamente.
Assim que ela se virou, Alec a acompanhou com o olhar. Seus olhos primeiro focaram em sua bunda levemente arrebitada, por aquela saia rodada, mas o que mais lhe chamou atenção, foi o cabelo ruivo e desgrenhado.
Ele fez isso durante uma hora inteira. Conforme ela caminhava entre os convidados, ele a seguia sorrateiramente. E sendo a garota esperta que sempre foi, Evangeline percebeu. Então da mesma forma que ele a observava, ela começou a fazer o mesmo.
Evangeline estava parada com uma bandeja de canapés, quando ela viu um homem se aproximar de Alec. Eles trocaram meia dúzia de palavras e depois subiram as enormes escadas. Não demorou para que mais alguns homens grandes e engravatados, fizessem o mesmo.
Ela encara as outras pessoas, tentando buscar um pingo de curiosidade no rosto dos outros convidados, mas nenhum deles se importavam ou olhavam na direção das escadas. Afinal, Evangeline era a única pessoa naquela casa, que não sabia de quem era a festa, o que estavam comemorando ou o que aqueles homens foram fazer no andar de cima. Mas ela estava prestes a saber.
Evie pegou uma bandeja com taças de champanhe e tinha a desculpa perfeita para bisbilhotar. Ela sobe as escadas calmamente, tentando não chamar atenção ou derrubar o que estava em suas mãos.
Assim que chegou ao topo da escada, Evangeline sentia que o fino elástico que prendia seu cabelo, poderia arrebentar a qualquer momento.Ela caminhou até a famosa porta proibida e não pensou duas vezes, antes de empurrá-las. As duas imensas portas de madeira, se abriram para os lados e fez com que todos os olhos ao redor da mesa, a encarassem.As coisas ocorreram em questão de segundos. Ao ver a quantidade de armas e drogas que tinha em cima da mesa, as mãos de Evangeline vacilaram e a bandeja acabou indo de encontro ao chão. Como se isso já não fosse vergonhoso o suficiente, o elástico do seu cabelo cessou e deixou todo aquele emaranhado de fios, armado.— QUE MERDA VOCÊ FAZ AQUI?Assim que o homem na ponta da mesa grita, todos os outros se levantam e tiraram as armas da cintura, prontos para arrancar Evangeline dali e fazer com que ela nunca mais bisbilhotasse nada.— Eu... eu... — ela não conseguia formular uma frase, de tão nervosa que estava.Evangeline olhou para todos os rostos
— Não. — ela finalmente ocupa o espaço vazio ao lado de Alec, no banco de pedra. — Desculpe. Eu só... desculpe.— Você ainda não me disse o seu nome.— Evangeline. Evie.Ele não fala, mas acha que aquele nome combina perfeitamente com Evie. O cabelo ruivo volumoso, a pele branca e os olhos levemente esverdeados, deixava aquela menina incrivelmente linda, aos olhos de Alec.— Por que veio trabalhar aqui? — ele continua com seu interrogatório. Havia tanto que Alec queria saber. — Você parece ser muito mais do que uma simples empregada.— Não sou tudo isso também. Eu só precisava do dinheiro. Preciso, na verdade.Evie olha na direção da mansão, onde a festa continuava sem nenhum empecilho. Ela então pensa em sua mãe, no motivo que a fez estar ali naquela noite e novamente sente vontade de chorar.— Eu odeio a minha mãe. — Evie sussurra, com os olhos queimando.— Olha, nós temos algo em comum. Mas primeiro você. O que aconteceu?Ela olha para Alec e o inspeciona. Além da beleza impecável;
O dia de Evangeline foi corrido. De manhã ela foi quase se arrastando para a faculdade e assistiu algumas aulas. A tarde quando foi ocupar o seu turno no pequeno mercado em que trabalhava, descobriu que o dono não gostou da troca de funcionários que teve no dia anterior e acabou por demiti-la. Ela saiu do estabelecimento triste, mas com um cheque de duzentos dólares.Decidida a não deixar aquilo abalá-la, Evie resolveu ir comprar a roupa que usaria no recital. Ela caminhou a tarde toda e entrou em diversas lojas, sem encontrar nada ela pudesse dizer ser A ROUPA. Até que quando estava quase desistindo, ela optou pelo clássico. Um vestido midi preto, com mangas curtas.Ela foi para casa e pediu para que sua melhor amiga, guardasse aquela roupa em seu trailer. Apesar de sua mãe ainda não ter aparecido, Evie continuava não confiando nela. Ela pegou sua case com o violino e foi para sua aula da noite.Evangeline não havia percebido, mas Howard, o motorista dos Castello, estava a seguindo d
Os dez alunos já estavam em suas cadeiras e seguravam seus violinos, quando as cortinas se abriram. Evangeline não precisou de nenhum esforço para encontrar Alec. Ele tinha ocupado a cadeira ao lado de Felippa, que o encarava como se fosse uma maníaca.Jude adentra o palco e todos se levantam para aplaudi-lo. Ele faz uma reverencia e logo estão sentados novamente.A primeira música escolhida, era um clássico. Eine kleine Nachtmusik (Pequena Serenata Noturna), de Mozart. Foram quase dezenove minutos daquela música, que fez algumas pessoas chorarem e outras dormirem de puro tédio. Ao fim daquela música, era hora das apresentações solos. Um por um iniciava uma música de sua escolha.Antes das cortinas serem abertas, Jude e Marylin tiveram uma conversa ao pé do ouvido e a ordem das apresentações individuais foi alterada. Evangeline que seria a terceira, era a última. Ela e seus outros colegas, não entenderam o porquê dessa decisão, mas aceitaram.Quando finalmente chega a vez dela, Evie c
Felippa devorava um hamburguer imenso e ketchup escorria pelos seus dedos. Ela era comicamente observada por Evangeline e Alec, que ocupavam uma outra mesa.— Ela é divertida. — Alec murmura, virando-se para Evangeline.— É. Felippa é a melhor coisa que tem na minha vida.— E pela forma que ela ficou me encarando durante todo o recital, você falou sobre mim.As bochechas de Evangeline queimaram com aquela frase. Talvez ela tenha usado a palavra lindo, diversas vezes, enquanto contava sobre seu encontro com Alec.— Falei. — ela confessa, mordendo uma batata. — Não é todo dia que eu chego em casa com quinhentos dólares na mão.— Você não contou para ela sobre aquela sala. Contou?— Não. Não. Eu prometi que não contaria e não fiz.— Obrigado. — Alec sorri e pega o copo de plástico, repleto de refrigerante. — Hmm... eu não quero parecer esnobe, mas eu não tomava refrigerante desde a minha infância.— Eu imagino. Também imagino que esse deveria ser o último lugar em que você pensou em colo
Evangeline acordou disposta a fazer com que Ruby caísse aos seus pés. Era mais um dia quente no Bronx e ela estava sozinha no trailer. Aproveitando a falta de Leah, Evie provou todos os seus vestidos e optou pelo mais florido. Ele tinha alças finas, valorizava seus seios e era um pouco acima do joelho. Após calçar seus tênis que julga ser dar sorte e pegar os livros que seriam devolvidos, Evie sai do seu trailer.— Que produção!Felippa estava sentada em sua cadeira de praia, usando um biquini e com um ventilador refrescando seu rosto. Ela odiava os dias quentes, mas isso não significava que ela não deveria aproveitá-los para pegar uma corzinha.— Você está realmente disposta a fisgar o coração daquele nerd.— Ele não é nerd! — ela balança a cabeça, para afastar o fio de cabelo que insistia em encostar em seus lábios embalsamado de gloss. — É inteligente.— E qual a diferença?— Tchau, Felippa. Bom banho de sol.Depois de soprar um beijo para sua amiga risonha, Evangeline deixa o camp
Evangeline murmurou meia dúzia de palavras para Ruby e correu para fora do restaurante. Eram cinco minutos de onde ela estava, para o campo de trailers. Evie fez aquilo em dois. Já da esquina, ela conseguia guindastes de demolição e muita gente em volta. Evangeline olhou todas aquelas pessoas desesperadas, até achar sua amiga.— FELIPPA! — Evie grita e Felippa a olha. Elas correm uma para a outra e se abraçam no meio do caminho. — O que é tudo isso? O que está acontecendo?— Eu não sei! Papai está lá falando com aquele homem alto. Amiga, eles querem nos colocar para fora.Evie agarra no braço da amiga e a puxa até onde está William, seu pai, e um homem alto, negro e desconhecido.— Vocês não podem simplesmente chegar aqui e jogar uma bomba dessa nas pessoas. — William diz, para o homem que não está se importando com nenhuma daquelas palavras. — Tem gente que nasceu nesse lugar. E se estamos aqui, é porque não temos para onde ir.Assim que Evangeline se aproxima, o homem desconhecido a
Howard estava com o carro parado em frente ao restaurante escolhido por Alec, já fazia dez minutos. Evangeline se recusava em sair do carro, por não ter fé no plano que havia elaborado.— Menina? — Howard a encara pelo espelho. — Precisa descer.Evie bufa e finalmente faz aquilo que tanto postergou. Ela balança os ombros e caminha até a entrada do restaurante, onde há uma recepcionista. Sem dar um boa noite, a mulher loira a olha de cima a baixo. Evangeline usava a pior roupa possível. Uma saia jeans rasgada, uma blusa vermelha de alças finas e chinelos. Seu cabelo ruivo e feroz, estava muito mal preso em um rabo de cavalo.— Se você está procurando o restaurante de mendigos, não tem nesse bairro.— Querida, Alec Castello está a minha espera. — Evie se debruça no balcão e bate na tela do computador. — Dê uma olhadinha aí. Evangeline.Ela olha novamente Evangeline de cima a baixo, se perguntando qual era o problema de Alec. Após uma revirada de olhos, a recepcionista caminha para dentr