Felippa devorava um hamburguer imenso e ketchup escorria pelos seus dedos. Ela era comicamente observada por Evangeline e Alec, que ocupavam uma outra mesa.
— Ela é divertida. — Alec murmura, virando-se para Evangeline.
— É. Felippa é a melhor coisa que tem na minha vida.
— E pela forma que ela ficou me encarando durante todo o recital, você falou sobre mim.
As bochechas de Evangeline queimaram com aquela frase. Talvez ela tenha usado a palavra lindo, diversas vezes, enquanto contava sobre seu encontro com Alec.
— Falei. — ela confessa, mordendo uma batata. — Não é todo dia que eu chego em casa com quinhentos dólares na mão.
— Você não contou para ela sobre aquela sala. Contou?
— Não. Não. Eu prometi que não contaria e não fiz.
— Obrigado. — Alec sorri e pega o copo de plástico, repleto de refrigerante. — Hmm... eu não quero parecer esnobe, mas eu não tomava refrigerante desde a minha infância.
— Eu imagino. Também imagino que esse deveria ser o último lugar em que você pensou em colocar seus pés.
Alec solta uma risada genuína, que surpreende Evangeline. Ela não esperava aquela reação.
— O lugar não importa. Apenas a companhia.
— Oh... eu...
— Não fique envergonhada. — ele pede, mesmo que isso já tenha acontecido. — Eu posso confessar uma coisa?
— Claro.
Evangeline estreita seu olhar para Felippa, que agora se deliciava com um imenso milk-shake de chocolate.
— Eu não consegui parar de pensar em você ontem. — ela encara Alec. — Depois que foi embora, aquela festa perdeu até a graça. Tentei dormir e só me vinha seu rosto na mente.
— Alec, eu...
— Então eu resolvi sair e abstrair a minha cabeça. Entrei naquele teatro por acaso e... — ele solta uma risada baixa, tentando fazer com que aquela desculpa caísse bem. — foi como se uma força maior, tivesse me feito entrar ali. Aí eu te vi e ouvi, e tudo fez sentido.
Alec esticou o braço e tocou a mão de Evangeline que estava sobre a mesa. Ela encarou suas mãos e depois olhou para Alec.
— Você está confundindo as coisas. — ela diz, puxando sua mão com gentileza. — Desculpa, Alec, mas... eu... eu gosto de outra pessoa.
Alec pisca algumas vezes. Ele havia visto as fotos que Howard trouxera diversas vezes e em nenhuma delas aparecia um suposto namorado. Mas aquilo não deveria ser um empecilho para ele.
— Isso não muda as minhas vontades. — ele diz, se ajeitando no banco. — Gostaria de levá-la para jantar amanhã a noite. Em um restaurante de verdade. Com salmão e vinho do bom.
Evangeline odiava a ideia de ser grossa com alguém, mas para ela, Alec estava se fazendo de maluco. Ela tinha acabado de dizer que gostava de outra pessoa e ele a convidou para jantar.
— Você não me entendeu. — Evie se levanta e ajeita o vestido. Felippa permanecia alheia ao que estava acontecendo. — Eu não tenho interesse amoroso em você, Alec. Agradeço a ajuda na outra noite e esse lanche, mas... é só isso.
Alec não lidava com rejeições. Nunca houve uma mulher que lhe tenha dito não. E aquilo o deixou desnorteado.
— Eu estou te oferecendo algo grandioso e você está rejeitando? — ele também se levanta, fechando o terno que vestia. — Qual o problema? Qual o meu problema?
— Não tem nada a ver com você, Alec! Isso tem a ver comigo. Com os meus sentimentos. Felippa? FELPS? — a garota a olha e Evie faz um sinal com as mãos, indicando que estava indo. — Me desculpe, de verdade. Tchau, Alec.
Decidida a não falar mais nada que pudesse magoar Alec, Evie da as costas e caminha para fora da lanchonete. Felippa agarra no novo milk-shake que havia chegado e sai atrás a amiga, sem sequer se despedir de Alec. Ele j**a algumas notas em cima da mesa e também sai, encontrando com Howard próximo do carro.
— Achei que elas iriam conosco. — o motorista comenta, olhando para o fim da rua, onde as duas amigas andavam apressadamente. — O que aconteceu?
— Isso é o que você vai descobrir para mim amanhã. — Alec entra no carro e espera que Howard tome o volante. — Vamos para o clube.
O carro se afastou rapidamente e ainda passou pelas garotas na outra esquina. Evangeline o reconheceu, já que Howard a havia levado em casa naquele carro.
— O que aconteceu lá? Você saiu tão bruscamente.
— Ele deu em cima de mim! — Evangeline exclama, como se aquilo fosse um ultraje. — Por que todos os homens agem assim? Por que sempre que uma mulher é mais educada do que outra, parece que ela está dando abertura para ser cortejada?
— Cortejada?
— Foi só isso que você ouviu?
— Ei! — Felippa se defende. — Não seja grossa comigo. — ela para abruptamente e segura sua amiga nervosa. — É claro que ele se interessaria por você, Evangeline. Você é linda, culta, educada, inteligente... eu posso ficar aqui a noite toda, te elogiando. E ele é lindo! Rico! Ele poderia te dar a vida que você sempre mereceu. Por que você parece tão ofendida por ele ter se interessado?
— Eu não fiquei ofendida. Eu só... — Evie suspira. — Eu gosto do Ruby. Você sabe.
Felippa revirou os olhos com tanta vontade, que aquilo irritou sua amiga. Evangeline voltou a andar e fez com que a outra precisasse correr um pouco para alcançá-la.
— Caramba, Evie! Aquele cara nem sabe que você existe.
— Sabe sim.
— Você entendeu o que eu quis dizer. Vocês nunca falaram mais do que meia dúzia de palavras, sobre uma matéria qualquer. Ele não sabe do seu penhasco por ele.
— Ainda. — Evie murmura. — Amanhã eu vou resolver isso.
— Amanhã é sábado. Não tem aula.
— Eu sei. — foi a vez de Evangeline revirar os olhos. — Mas tenho que entregar uns livros na biblioteca e sei que ele estará lá. E então, irei dar um jeito de ele saber dos meus sentimentos.
Evangeline acordou disposta a fazer com que Ruby caísse aos seus pés. Era mais um dia quente no Bronx e ela estava sozinha no trailer. Aproveitando a falta de Leah, Evie provou todos os seus vestidos e optou pelo mais florido. Ele tinha alças finas, valorizava seus seios e era um pouco acima do joelho. Após calçar seus tênis que julga ser dar sorte e pegar os livros que seriam devolvidos, Evie sai do seu trailer.— Que produção!Felippa estava sentada em sua cadeira de praia, usando um biquini e com um ventilador refrescando seu rosto. Ela odiava os dias quentes, mas isso não significava que ela não deveria aproveitá-los para pegar uma corzinha.— Você está realmente disposta a fisgar o coração daquele nerd.— Ele não é nerd! — ela balança a cabeça, para afastar o fio de cabelo que insistia em encostar em seus lábios embalsamado de gloss. — É inteligente.— E qual a diferença?— Tchau, Felippa. Bom banho de sol.Depois de soprar um beijo para sua amiga risonha, Evangeline deixa o camp
Evangeline murmurou meia dúzia de palavras para Ruby e correu para fora do restaurante. Eram cinco minutos de onde ela estava, para o campo de trailers. Evie fez aquilo em dois. Já da esquina, ela conseguia guindastes de demolição e muita gente em volta. Evangeline olhou todas aquelas pessoas desesperadas, até achar sua amiga.— FELIPPA! — Evie grita e Felippa a olha. Elas correm uma para a outra e se abraçam no meio do caminho. — O que é tudo isso? O que está acontecendo?— Eu não sei! Papai está lá falando com aquele homem alto. Amiga, eles querem nos colocar para fora.Evie agarra no braço da amiga e a puxa até onde está William, seu pai, e um homem alto, negro e desconhecido.— Vocês não podem simplesmente chegar aqui e jogar uma bomba dessa nas pessoas. — William diz, para o homem que não está se importando com nenhuma daquelas palavras. — Tem gente que nasceu nesse lugar. E se estamos aqui, é porque não temos para onde ir.Assim que Evangeline se aproxima, o homem desconhecido a
Howard estava com o carro parado em frente ao restaurante escolhido por Alec, já fazia dez minutos. Evangeline se recusava em sair do carro, por não ter fé no plano que havia elaborado.— Menina? — Howard a encara pelo espelho. — Precisa descer.Evie bufa e finalmente faz aquilo que tanto postergou. Ela balança os ombros e caminha até a entrada do restaurante, onde há uma recepcionista. Sem dar um boa noite, a mulher loira a olha de cima a baixo. Evangeline usava a pior roupa possível. Uma saia jeans rasgada, uma blusa vermelha de alças finas e chinelos. Seu cabelo ruivo e feroz, estava muito mal preso em um rabo de cavalo.— Se você está procurando o restaurante de mendigos, não tem nesse bairro.— Querida, Alec Castello está a minha espera. — Evie se debruça no balcão e bate na tela do computador. — Dê uma olhadinha aí. Evangeline.Ela olha novamente Evangeline de cima a baixo, se perguntando qual era o problema de Alec. Após uma revirada de olhos, a recepcionista caminha para dentr
Disposta a afastar a voz de Alec e a ameaça que ele havia lhe feito de sua cabeça, Evie resolveu arrumar todo seu trailer. Ela ligou o rádio nas alturas e aproveitou a falta da sua mãe, para exalar toda sua raiva com a limpeza.Embora Leah já estava sem aparecer há dois dias, Evie não se importava com aquilo. Sempre que ela tinha um novo e recorrente namorado, era normal que ficasse sem aparecer em casa por dias.Perto de acabar a sua grande arrumação, Evie mexe em uma mala antiga de sua mãe. Ela sabia que ali era guardado roupas e alguns pertences mais importantes, coisa que nunca lhe importou. Até que ela nota uma pequena caixa de bijuterias, com um pedaço de papel para fora. Aquilo atiça a curiosidade de Evangeline, que pega a caixa e se senta na cama.Tinha uma carta lacrada, endereçada a Evie e diversos outros envelopes já abertos, também endereçados a ela. Evangeline estranha, já que nunca havia visto nada daquilo. Ao virar a carta, leu o nome do destinatário. Samuel Atkins.— P
Alec estava sentado diante de sua enorme televisão, assistindo a uma partida de futebol americano, quando uma das empregadas surgiu na sala. Sem olhá-la ele pega no balde de pipoca quase vazio e estica em sua direção.— Mais.— Oh... sim... claro. — ela caminha até ele e pega o objeto. — Desculpe atrapalhar, senhor, mas há uma mulher no portão dizendo que o senhor a espera.— Não estou esperando ninguém.Alec se encosta no sofá e antes mesmo da pobre empregada deixar a sala, ele a grita novamente. Ele havia acabado de se dar conta, de que não esperava ninguém pessoalmente, mas esperava uma resposta.— Ela é ruiva? — ele questiona, olhando na direção da empregada confusa.— O que?— A mulher! Ah, esquece.Ele se levanta do sofá e caminha para fora da casa. Ainda da escada, ele conseguia ver a garota ruiva andando de um lado para o outro, do lado de fora do portão de ferro. Enquanto Alec se aproximava daquele portão, a cabeça de Evangeline fervilhava e lhe arrumava mil e um motivos para
Depois da resposta positiva de Evangeline, Alec foi até seu escritório e pegou o dinheiro que ela precisava do cofre. Ele a entregou, mas quando Evie esticou o cheque para ele, Alec o rejeitou.— Desconte quando for ao banco. — ele diz.— Não! Você me deu o dinheiro. Fique com o cheque.— Guarde, Evangeline.Alec a ignorou com a mão no ar e andou até a janela. Alguns jardineiros estavam por ali, regando e podando as plantas. Ele escuta um barulho de vidro e se vira. Evie estava colocando o cheque embaixo de um cinzeiro e em seguida ajeitou a mochila nas costas.— Quer conhecer o resto da mansão? — ele questiona, querendo ficar mais um tempo com ela. — Digo, o que tem além dela. Vem. Deixe a mochila aí.Alec sequer espera a resposta de Evangeline e a segura pela mão, puxando-a para a saída dos fundos, dando de cara com a imensa piscina que tinha ali. Evie é incapaz de admirar o azul daquela água. Era como se Alec tivesse um mar próprio.Descendo as escadas, tinha um imenso lago com pat
— Eu já estava ficando preocupada com você!Felippa suspira aliviada, ao ver sua melhor amiga entrar no trailer de sua família.— Preciso te pedir dois favores. — Evie diz, sentando-se a mesa. Felippa prontamente pega alguns tacos que havia guardado e coloca diante dela. — Não era isso, mas obrigada por ter guardado para mim.— Você saiu sem comer. Não pode fazer isso.Evangeline abre a boca o máximo que pode e morde com bastante gosto aquele alimento. Adriane, a mãe de Felippa, era conhecida pelas mãos de fada que tinha. Ela trabalhava como auxiliar de cozinha em um restaurante bem chique e tinha o sonho de ser chefe um dia.— Quais são os favores?— Hmmm... quero que guarde isso para mim. — Evie puxa sua mochila e antes de retirar o dinheiro que estava ali, ela avista o cheque. — Meu Deus... ele é impossível.— Quem é impossível?Embora odeie guardar segredos de sua melhor amiga, Evangeline não queria contar o que estava rolando com Alec. Ela sequer entendia o que estava acontecendo
Alec devia estar em seu vigésimo sono, quando uma empregada abriu as cortinas da janela, fazendo com que a claridade do final de verão, invadisse o quarto dele.— Fecha isso!— Desculpe, senhor. Seu pai pediu para acordá-lo.Alec empurra as cobertas e se senta na cama, encarando a velha e tímida empregada.— Meu pai? — ela afirma com a cabeça. — Mas ele não tinha viajado?— Chegou agora pouco e pediu para que você se junte ao café com ele.— Eu já vou.Assim que a empregada sai, deixando Alec sozinho, ele joga as pernas para fora da cama e percebe que seu celular está com a luz de notificação piscando. Alec pega o aparelho e lê a mensagem de seu motorista.O garoto nunca mais será um problema. Aquela simples, mas aterrorizante frase, deixa Alec revigorado. Ele saiu da cama e esticou os braços, sendo capaz de escutar alguns ossos estalarem. Ao ir para o banheiro, Alec encara sua imagem no espelho e repara em um pingo de sangue no pescoço. Apesar de ter se lavado bem na noite passada,