— Não. — ela finalmente ocupa o espaço vazio ao lado de Alec, no banco de pedra. — Desculpe. Eu só... desculpe.
— Você ainda não me disse o seu nome.
— Evangeline. Evie.
Ele não fala, mas acha que aquele nome combina perfeitamente com Evie. O cabelo ruivo volumoso, a pele branca e os olhos levemente esverdeados, deixava aquela menina incrivelmente linda, aos olhos de Alec.
— Por que veio trabalhar aqui? — ele continua com seu interrogatório. Havia tanto que Alec queria saber. — Você parece ser muito mais do que uma simples empregada.
— Não sou tudo isso também. Eu só precisava do dinheiro. Preciso, na verdade.
Evie olha na direção da mansão, onde a festa continuava sem nenhum empecilho. Ela então pensa em sua mãe, no motivo que a fez estar ali naquela noite e novamente sente vontade de chorar.
— Eu odeio a minha mãe. — Evie sussurra, com os olhos queimando.
— Olha, nós temos algo em comum. Mas primeiro você. O que aconteceu?
Ela olha para Alec e o inspeciona. Além da beleza impecável; do rosto recentemente barbeado; os olhos azuis e serenos; o cabelo liso e penteado para trás, Alec aparentava ser um bom ouvinte. E só por esse motivo, ela resolveu abrir seu coração.
— Eu vou violinista e o maior sonho da minha vida, é viver disso. Onde eu estudo, terá um recital e vale uma boa quantia em dinheiro. Mas apesar de eu ter uma bolsa, o recital é pago. Se não fosse pela mãe ferrada que eu tenho, não precisaria estar aqui essa noite.
— Deixe-me adivinhar. Ela pegou o seu dinheiro? — Evangeline apenas confirma com a cabeça. — Quanto era?
— Tinha um pouco mais de duzentos dólares. E se eu não tivesse sido intrujona e invadido aquela sala, ganharia uns trezentos por trabalhar essa noite.
Aquele valor não era nada para Alec. Com duas notas de cem dólares, ele limparia coco de cachorro de seus sapatos. Enquanto Evangeline se ocupava em limpar embaixo dos olhos, Alec retirou sua carteira do bolso e dali sacou cinco notas de cem dólares. Ele esticou aquelas notas na direção de Evangeline, que piscou algumas vezes.
— O que...
— Seu pagamento pelos serviços dessa noite.
— Mas tem bem mais aí. Eu não posso...
— Pode. — Alec segura na mão de Evie e coloca as notas ali. — É para o seu sonho.
Por um impulso, Evangeline atacou Alec em um abraço. Ele ficou tão surpreso por aquilo, que levou alguns segundos para retribuir.
— Não sei como agradecer por isso. — ela murmura, se afastando dele e encarando as notas.
— Você não precisa me agradecer. Trabalhou para isso.
— Eu xeretei mais do que trabalhei... — Evie sussurra, encarando seus pés.
— O que?
— Oh... nada... acho que eu vou embora. Eu só preciso ir pegar minhas roupas.
— E como vai para casa?
— Dois ônibus e um metrô. — ela ri e Alec não o acompanha. Ele torce o nariz e faz uma careta.
— Uma hora dessa?
— Já estou acostumada. Bem... vou me trocar para ir embora. Obrigada pela ajuda que me deu. Você é um bom homem, Alec.
Evie deposita um beijo rápido no rosto de Alec e anda apressadamente para dentro da casa. Enquanto ela se ocupava em procurar suas roupas para sair dali, Alec pensava no que tinha acabado de lhe acontecer. O singelo toque dos lábios de Evangeline, em suas bochechas frias, fez com que um calor extremamente único percorresse por seu corpo. Ele não entendeu aquela sensação, já que era a primeira vez que aquilo o ocorria.
Alec se levantou e foi até Howard, seu motorista particular. Ele estava prestes a falar, quando Evangeline surgiu como um furacão, ainda vestindo a roupa de empregada.
— Ei, tudo bem? — ele questiona, antes que ela pudesse sair do seu território.
— Eu já disse que odeio a minha mãe? Arg!
— O que aconteceu?
Evangeline hesitou. Ela não tinha certeza se contar que viu sua mãe fazendo sexo oral em um dos convidados no banheiro, era exatamente o que Alec esperava ouvir.
— Nada. — ela fala, com um suspiro em seguida. — Vou para casa.
— Espera... Howard irá levar você.
— Não... — Evie intercala seu olhar entre Alec e o motorista calado. — Não precisa.
— Claro que precisa. Não vou deixar você sair daqui essa hora da noite e sozinha. Howard!
O motorista sem dizer nenhuma palavra, abre a porta traseira do carro e espera que Evangeline suba. Ela ainda estava hesitante, sem saber se deveria entrar no carro de um desconhecido.
Por fim, depois de pensar bastante, ela entrou. Evie deu um último sorriso grato para Alec, antes que o motorista pudesse fechar a porta e a levar para casa.
Alec por sua vez, esperou o carro sair da propriedade para então voltar para sua casa. A festa continuava sem ter noção das novas sensações que ele havia experimentado. Ele sobe as escadas e volta para a sala de reuniões, encontrando seu pai apertando a mão de um dos convidados.
— Alec! Que bom que resolveu se juntar a nós de novo. Nós acabamos de finalizar nossa união. — Blake sorri, para o homem alto e mal-encarado que estava ali. — Todas as boates de Staten Island e Queens, agora respondem a família Castello. Ou melhor dizendo, a você.
— Ótimo. E as armas?
Blake ri para o homem ao seu lado e lhe da um tapinha no braço. Aquele cara não gostou disso e Blake não se importou.
— Olha para esse garoto! Até ontem não queria ser vinculado a máfia e agora quer mais informações. Ah, Alec! Uma coisa de cada vez.
Alec reprime sua vontade de revirar os olhos e espera que aqueles homens estranhos finalmente saiam da sala. Antes que ele pudesse fazer o mesmo, seu pai o chama.
— E a garota?
— O que tem?
— O que fez com ela?
— Já resolvi. A mandei para casa. — Blake ergue uma sobrancelha. — O que foi?
— Ela viu o que não devia, Alec. E você a manda para casa? Qual seu problema?
Blake estava sentado na cabeceira da mesa e acendia um charuto, enquanto esperava a resposta do filho. Alec respira fundo e coloca as duas mãos nos bolsos da calça.
— Você disse que eu tinha que criar mais responsabilidades e que por isso, eu teria que comandar a máfia daqui. Então quando eu digo, que a mandei para casa e resolvi tudo, é o que importa.
O dia de Evangeline foi corrido. De manhã ela foi quase se arrastando para a faculdade e assistiu algumas aulas. A tarde quando foi ocupar o seu turno no pequeno mercado em que trabalhava, descobriu que o dono não gostou da troca de funcionários que teve no dia anterior e acabou por demiti-la. Ela saiu do estabelecimento triste, mas com um cheque de duzentos dólares.Decidida a não deixar aquilo abalá-la, Evie resolveu ir comprar a roupa que usaria no recital. Ela caminhou a tarde toda e entrou em diversas lojas, sem encontrar nada ela pudesse dizer ser A ROUPA. Até que quando estava quase desistindo, ela optou pelo clássico. Um vestido midi preto, com mangas curtas.Ela foi para casa e pediu para que sua melhor amiga, guardasse aquela roupa em seu trailer. Apesar de sua mãe ainda não ter aparecido, Evie continuava não confiando nela. Ela pegou sua case com o violino e foi para sua aula da noite.Evangeline não havia percebido, mas Howard, o motorista dos Castello, estava a seguindo d
Os dez alunos já estavam em suas cadeiras e seguravam seus violinos, quando as cortinas se abriram. Evangeline não precisou de nenhum esforço para encontrar Alec. Ele tinha ocupado a cadeira ao lado de Felippa, que o encarava como se fosse uma maníaca.Jude adentra o palco e todos se levantam para aplaudi-lo. Ele faz uma reverencia e logo estão sentados novamente.A primeira música escolhida, era um clássico. Eine kleine Nachtmusik (Pequena Serenata Noturna), de Mozart. Foram quase dezenove minutos daquela música, que fez algumas pessoas chorarem e outras dormirem de puro tédio. Ao fim daquela música, era hora das apresentações solos. Um por um iniciava uma música de sua escolha.Antes das cortinas serem abertas, Jude e Marylin tiveram uma conversa ao pé do ouvido e a ordem das apresentações individuais foi alterada. Evangeline que seria a terceira, era a última. Ela e seus outros colegas, não entenderam o porquê dessa decisão, mas aceitaram.Quando finalmente chega a vez dela, Evie c
Felippa devorava um hamburguer imenso e ketchup escorria pelos seus dedos. Ela era comicamente observada por Evangeline e Alec, que ocupavam uma outra mesa.— Ela é divertida. — Alec murmura, virando-se para Evangeline.— É. Felippa é a melhor coisa que tem na minha vida.— E pela forma que ela ficou me encarando durante todo o recital, você falou sobre mim.As bochechas de Evangeline queimaram com aquela frase. Talvez ela tenha usado a palavra lindo, diversas vezes, enquanto contava sobre seu encontro com Alec.— Falei. — ela confessa, mordendo uma batata. — Não é todo dia que eu chego em casa com quinhentos dólares na mão.— Você não contou para ela sobre aquela sala. Contou?— Não. Não. Eu prometi que não contaria e não fiz.— Obrigado. — Alec sorri e pega o copo de plástico, repleto de refrigerante. — Hmm... eu não quero parecer esnobe, mas eu não tomava refrigerante desde a minha infância.— Eu imagino. Também imagino que esse deveria ser o último lugar em que você pensou em colo
Evangeline acordou disposta a fazer com que Ruby caísse aos seus pés. Era mais um dia quente no Bronx e ela estava sozinha no trailer. Aproveitando a falta de Leah, Evie provou todos os seus vestidos e optou pelo mais florido. Ele tinha alças finas, valorizava seus seios e era um pouco acima do joelho. Após calçar seus tênis que julga ser dar sorte e pegar os livros que seriam devolvidos, Evie sai do seu trailer.— Que produção!Felippa estava sentada em sua cadeira de praia, usando um biquini e com um ventilador refrescando seu rosto. Ela odiava os dias quentes, mas isso não significava que ela não deveria aproveitá-los para pegar uma corzinha.— Você está realmente disposta a fisgar o coração daquele nerd.— Ele não é nerd! — ela balança a cabeça, para afastar o fio de cabelo que insistia em encostar em seus lábios embalsamado de gloss. — É inteligente.— E qual a diferença?— Tchau, Felippa. Bom banho de sol.Depois de soprar um beijo para sua amiga risonha, Evangeline deixa o camp
Evangeline murmurou meia dúzia de palavras para Ruby e correu para fora do restaurante. Eram cinco minutos de onde ela estava, para o campo de trailers. Evie fez aquilo em dois. Já da esquina, ela conseguia guindastes de demolição e muita gente em volta. Evangeline olhou todas aquelas pessoas desesperadas, até achar sua amiga.— FELIPPA! — Evie grita e Felippa a olha. Elas correm uma para a outra e se abraçam no meio do caminho. — O que é tudo isso? O que está acontecendo?— Eu não sei! Papai está lá falando com aquele homem alto. Amiga, eles querem nos colocar para fora.Evie agarra no braço da amiga e a puxa até onde está William, seu pai, e um homem alto, negro e desconhecido.— Vocês não podem simplesmente chegar aqui e jogar uma bomba dessa nas pessoas. — William diz, para o homem que não está se importando com nenhuma daquelas palavras. — Tem gente que nasceu nesse lugar. E se estamos aqui, é porque não temos para onde ir.Assim que Evangeline se aproxima, o homem desconhecido a
Howard estava com o carro parado em frente ao restaurante escolhido por Alec, já fazia dez minutos. Evangeline se recusava em sair do carro, por não ter fé no plano que havia elaborado.— Menina? — Howard a encara pelo espelho. — Precisa descer.Evie bufa e finalmente faz aquilo que tanto postergou. Ela balança os ombros e caminha até a entrada do restaurante, onde há uma recepcionista. Sem dar um boa noite, a mulher loira a olha de cima a baixo. Evangeline usava a pior roupa possível. Uma saia jeans rasgada, uma blusa vermelha de alças finas e chinelos. Seu cabelo ruivo e feroz, estava muito mal preso em um rabo de cavalo.— Se você está procurando o restaurante de mendigos, não tem nesse bairro.— Querida, Alec Castello está a minha espera. — Evie se debruça no balcão e bate na tela do computador. — Dê uma olhadinha aí. Evangeline.Ela olha novamente Evangeline de cima a baixo, se perguntando qual era o problema de Alec. Após uma revirada de olhos, a recepcionista caminha para dentr
Disposta a afastar a voz de Alec e a ameaça que ele havia lhe feito de sua cabeça, Evie resolveu arrumar todo seu trailer. Ela ligou o rádio nas alturas e aproveitou a falta da sua mãe, para exalar toda sua raiva com a limpeza.Embora Leah já estava sem aparecer há dois dias, Evie não se importava com aquilo. Sempre que ela tinha um novo e recorrente namorado, era normal que ficasse sem aparecer em casa por dias.Perto de acabar a sua grande arrumação, Evie mexe em uma mala antiga de sua mãe. Ela sabia que ali era guardado roupas e alguns pertences mais importantes, coisa que nunca lhe importou. Até que ela nota uma pequena caixa de bijuterias, com um pedaço de papel para fora. Aquilo atiça a curiosidade de Evangeline, que pega a caixa e se senta na cama.Tinha uma carta lacrada, endereçada a Evie e diversos outros envelopes já abertos, também endereçados a ela. Evangeline estranha, já que nunca havia visto nada daquilo. Ao virar a carta, leu o nome do destinatário. Samuel Atkins.— P
Alec estava sentado diante de sua enorme televisão, assistindo a uma partida de futebol americano, quando uma das empregadas surgiu na sala. Sem olhá-la ele pega no balde de pipoca quase vazio e estica em sua direção.— Mais.— Oh... sim... claro. — ela caminha até ele e pega o objeto. — Desculpe atrapalhar, senhor, mas há uma mulher no portão dizendo que o senhor a espera.— Não estou esperando ninguém.Alec se encosta no sofá e antes mesmo da pobre empregada deixar a sala, ele a grita novamente. Ele havia acabado de se dar conta, de que não esperava ninguém pessoalmente, mas esperava uma resposta.— Ela é ruiva? — ele questiona, olhando na direção da empregada confusa.— O que?— A mulher! Ah, esquece.Ele se levanta do sofá e caminha para fora da casa. Ainda da escada, ele conseguia ver a garota ruiva andando de um lado para o outro, do lado de fora do portão de ferro. Enquanto Alec se aproximava daquele portão, a cabeça de Evangeline fervilhava e lhe arrumava mil e um motivos para