Assim que chegou ao topo da escada, Evangeline sentia que o fino elástico que prendia seu cabelo, poderia arrebentar a qualquer momento.
Ela caminhou até a famosa porta proibida e não pensou duas vezes, antes de empurrá-las. As duas imensas portas de madeira, se abriram para os lados e fez com que todos os olhos ao redor da mesa, a encarassem.
As coisas ocorreram em questão de segundos. Ao ver a quantidade de armas e drogas que tinha em cima da mesa, as mãos de Evangeline vacilaram e a bandeja acabou indo de encontro ao chão. Como se isso já não fosse vergonhoso o suficiente, o elástico do seu cabelo cessou e deixou todo aquele emaranhado de fios, armado.
— QUE MERDA VOCÊ FAZ AQUI?
Assim que o homem na ponta da mesa grita, todos os outros se levantam e tiraram as armas da cintura, prontos para arrancar Evangeline dali e fazer com que ela nunca mais bisbilhotasse nada.
— Eu... eu... — ela não conseguia formular uma frase, de tão nervosa que estava.
Evangeline olhou para todos os rostos ali e focou no único que ela conhecia. Sua boca estava tremula e ela era capaz de chorar a qualquer momento. Evie se vira e corre escada abaixo, se odiando por ser tão curiosa e por perder o único dinheiro que a levaria ao recital.
— O QUE ESTÃO ESPERANDO? — Blake Castello, o homem na ponta da mesa e dono de tudo aquilo onde pisavam, grita, irritado com a lerdeza de seus funcionários. — VÃO ATRÁS DELA!
Antes que eles pudessem fazer o que o chefe pedia, Alec também se levantou e mandou que todos parassem.
— Eu vou até lá. — ele diz, fechando os botões do paletó.
— Para que? A menina viu o que não devia. Precisa ser silenciada!
Alec suspira pesadamente e se vira para o seu pai. Recém-chegado de Londres, onde passou metade da sua vida, ele estava bastante cansado para começar uma discussão.
— O senhor me mandou vir para cá, para que eu assumisse os negócios, não foi? — Blake não responde, apenas ocupa sua cadeira novamente. — Então eu vou descer e resolver esse problema.
Alec caminha para deixar a sala, mas antes de fechar as portas, seu pai o lembra de uma coisa.
— Nós somos mafiosos, Alec. Nada de ser um cuzão.
Enquanto sorria para os convidados e procurava a garota do cabelo ruivo, a frase de Blake ecoava pela cabeça de Alec. Ele não queria aquele destino. Não queria ser um mafioso, como seu pai diz. Mas também como Blake Castello sempre entoa, aquilo era sua única opção de vida.
No vasto jardim, ele escuta um choro vindo da área florida. Para não a assustar, ele caminha na ponta dos pés e a observa de longe. Ela estava sentada no chão, agarrada a suas pernas e chorava de soluçar.
— Por que está chorando?
Ao falar, todo o plano de não assustar Evangeline, vai pelo ralo. Ela da um salto e encara Alec com os olhos vermelhos e arregalados.
Evie ainda não tinha noção do lugar onde estava ou quem era aquelas pessoas, em posse de armas e drogas. Então ela não estava chorando por medo do que poderiam fazer com ela. Evangeline chorava pois tinha certeza de que seria demitida antes da hora e perderia o dinheiro que tanto precisava.
— Te fiz uma pergunta. — Alec diz, ao ver que Evangeline apenas o olhava assustada. — Por que está chorando?
— Eu não devia ter entrado lá...
— Não.
— E por culpa da minha m*****a curiosidade, eu vou perder o dinheiro que ganharia hoje. — ela começa a andar de um lado para o outro, completamente afobada. — Nossa... que ódio!
— Para o que é o dinheiro?
— Não é da sua conta. — as palavras saíram mais rápido do que Evie conseguiu pensar, mas ela não se arrependeu por isso. — Você veio até aqui para me demitir, não foi? Faça logo.
Tinha algo na voz raivosa de Evangeline, que acendeu todo o corpo de Alec. Diferente do que seu pai esperava, Alec era romântico. Ele esperava encontrar uma pessoa, que ficasse ao seu lado por quem ele é e não pela quantidade de dinheiro que carrega. E no auge dos seus vinte e oito anos, ele ainda não tinha se apaixonado.
— Eu não vou demitir você. Me responde uma coisa?
— Depende. — Evie funga e cruza os braços, mantendo sua pose de durona.
— Como veio parar aqui? Quer dizer, você faz parte da equipe de funcionários dessa casa?
— Não. — ela responde. Não parecia ser uma pergunta invasiva. — A minha mãe... ela faz. Ela me disse que teria uma festa e que precisavam de ajuda.
Aquela resposta fez Alec ter a resposta que procurava. Evangeline não fazia ideia de quem eles eram ou o que faziam. E ele não sabia se devia contar.
— Aqueles homens lá em cima, não ficaram nada satisfeitos com a sua intromissão. — Alec murmura, caminhando até o banco de pedra que havia ali. — Ninguém deveria saber o que estava acontecendo naquela sala. Não deveria ver o que tinha sobre a mesa.
Apesar da voz de Alec ter sido a mais tranquila que existia, Evie sentiu medo. Ela sabia que se alguém estava em posse de armas e drogas, boa coisa essa pessoa não deveria ser.
— Vocês vão me matar?
— O que? — Alec ri, tentando amenizar a situação. Afinal, os capangas de seu pai com certeza fariam isso. — Não! Eu só preciso que você mantenha em segredo, tudo o que viu.
— E caso eu fale, aí vocês me matam?
— Céus, não! — ele continua rindo. — Eu pareço ser tão ruim assim?
Evangeline não achava isso. Na verdade, ela não conseguia pensar em nada sobre aquele homem misterioso e bonito. Ela estava tão preocupada em perder a única coisa boa da sua vida, que nada a importava mais.
— Não. — ela finalmente ocupa o espaço vazio ao lado de Alec, no banco de pedra. — Desculpe. Eu só... desculpe.— Você ainda não me disse o seu nome.— Evangeline. Evie.Ele não fala, mas acha que aquele nome combina perfeitamente com Evie. O cabelo ruivo volumoso, a pele branca e os olhos levemente esverdeados, deixava aquela menina incrivelmente linda, aos olhos de Alec.— Por que veio trabalhar aqui? — ele continua com seu interrogatório. Havia tanto que Alec queria saber. — Você parece ser muito mais do que uma simples empregada.— Não sou tudo isso também. Eu só precisava do dinheiro. Preciso, na verdade.Evie olha na direção da mansão, onde a festa continuava sem nenhum empecilho. Ela então pensa em sua mãe, no motivo que a fez estar ali naquela noite e novamente sente vontade de chorar.— Eu odeio a minha mãe. — Evie sussurra, com os olhos queimando.— Olha, nós temos algo em comum. Mas primeiro você. O que aconteceu?Ela olha para Alec e o inspeciona. Além da beleza impecável;
O dia de Evangeline foi corrido. De manhã ela foi quase se arrastando para a faculdade e assistiu algumas aulas. A tarde quando foi ocupar o seu turno no pequeno mercado em que trabalhava, descobriu que o dono não gostou da troca de funcionários que teve no dia anterior e acabou por demiti-la. Ela saiu do estabelecimento triste, mas com um cheque de duzentos dólares.Decidida a não deixar aquilo abalá-la, Evie resolveu ir comprar a roupa que usaria no recital. Ela caminhou a tarde toda e entrou em diversas lojas, sem encontrar nada ela pudesse dizer ser A ROUPA. Até que quando estava quase desistindo, ela optou pelo clássico. Um vestido midi preto, com mangas curtas.Ela foi para casa e pediu para que sua melhor amiga, guardasse aquela roupa em seu trailer. Apesar de sua mãe ainda não ter aparecido, Evie continuava não confiando nela. Ela pegou sua case com o violino e foi para sua aula da noite.Evangeline não havia percebido, mas Howard, o motorista dos Castello, estava a seguindo d
Os dez alunos já estavam em suas cadeiras e seguravam seus violinos, quando as cortinas se abriram. Evangeline não precisou de nenhum esforço para encontrar Alec. Ele tinha ocupado a cadeira ao lado de Felippa, que o encarava como se fosse uma maníaca.Jude adentra o palco e todos se levantam para aplaudi-lo. Ele faz uma reverencia e logo estão sentados novamente.A primeira música escolhida, era um clássico. Eine kleine Nachtmusik (Pequena Serenata Noturna), de Mozart. Foram quase dezenove minutos daquela música, que fez algumas pessoas chorarem e outras dormirem de puro tédio. Ao fim daquela música, era hora das apresentações solos. Um por um iniciava uma música de sua escolha.Antes das cortinas serem abertas, Jude e Marylin tiveram uma conversa ao pé do ouvido e a ordem das apresentações individuais foi alterada. Evangeline que seria a terceira, era a última. Ela e seus outros colegas, não entenderam o porquê dessa decisão, mas aceitaram.Quando finalmente chega a vez dela, Evie c
Felippa devorava um hamburguer imenso e ketchup escorria pelos seus dedos. Ela era comicamente observada por Evangeline e Alec, que ocupavam uma outra mesa.— Ela é divertida. — Alec murmura, virando-se para Evangeline.— É. Felippa é a melhor coisa que tem na minha vida.— E pela forma que ela ficou me encarando durante todo o recital, você falou sobre mim.As bochechas de Evangeline queimaram com aquela frase. Talvez ela tenha usado a palavra lindo, diversas vezes, enquanto contava sobre seu encontro com Alec.— Falei. — ela confessa, mordendo uma batata. — Não é todo dia que eu chego em casa com quinhentos dólares na mão.— Você não contou para ela sobre aquela sala. Contou?— Não. Não. Eu prometi que não contaria e não fiz.— Obrigado. — Alec sorri e pega o copo de plástico, repleto de refrigerante. — Hmm... eu não quero parecer esnobe, mas eu não tomava refrigerante desde a minha infância.— Eu imagino. Também imagino que esse deveria ser o último lugar em que você pensou em colo
Evangeline acordou disposta a fazer com que Ruby caísse aos seus pés. Era mais um dia quente no Bronx e ela estava sozinha no trailer. Aproveitando a falta de Leah, Evie provou todos os seus vestidos e optou pelo mais florido. Ele tinha alças finas, valorizava seus seios e era um pouco acima do joelho. Após calçar seus tênis que julga ser dar sorte e pegar os livros que seriam devolvidos, Evie sai do seu trailer.— Que produção!Felippa estava sentada em sua cadeira de praia, usando um biquini e com um ventilador refrescando seu rosto. Ela odiava os dias quentes, mas isso não significava que ela não deveria aproveitá-los para pegar uma corzinha.— Você está realmente disposta a fisgar o coração daquele nerd.— Ele não é nerd! — ela balança a cabeça, para afastar o fio de cabelo que insistia em encostar em seus lábios embalsamado de gloss. — É inteligente.— E qual a diferença?— Tchau, Felippa. Bom banho de sol.Depois de soprar um beijo para sua amiga risonha, Evangeline deixa o camp
Evangeline murmurou meia dúzia de palavras para Ruby e correu para fora do restaurante. Eram cinco minutos de onde ela estava, para o campo de trailers. Evie fez aquilo em dois. Já da esquina, ela conseguia guindastes de demolição e muita gente em volta. Evangeline olhou todas aquelas pessoas desesperadas, até achar sua amiga.— FELIPPA! — Evie grita e Felippa a olha. Elas correm uma para a outra e se abraçam no meio do caminho. — O que é tudo isso? O que está acontecendo?— Eu não sei! Papai está lá falando com aquele homem alto. Amiga, eles querem nos colocar para fora.Evie agarra no braço da amiga e a puxa até onde está William, seu pai, e um homem alto, negro e desconhecido.— Vocês não podem simplesmente chegar aqui e jogar uma bomba dessa nas pessoas. — William diz, para o homem que não está se importando com nenhuma daquelas palavras. — Tem gente que nasceu nesse lugar. E se estamos aqui, é porque não temos para onde ir.Assim que Evangeline se aproxima, o homem desconhecido a
Howard estava com o carro parado em frente ao restaurante escolhido por Alec, já fazia dez minutos. Evangeline se recusava em sair do carro, por não ter fé no plano que havia elaborado.— Menina? — Howard a encara pelo espelho. — Precisa descer.Evie bufa e finalmente faz aquilo que tanto postergou. Ela balança os ombros e caminha até a entrada do restaurante, onde há uma recepcionista. Sem dar um boa noite, a mulher loira a olha de cima a baixo. Evangeline usava a pior roupa possível. Uma saia jeans rasgada, uma blusa vermelha de alças finas e chinelos. Seu cabelo ruivo e feroz, estava muito mal preso em um rabo de cavalo.— Se você está procurando o restaurante de mendigos, não tem nesse bairro.— Querida, Alec Castello está a minha espera. — Evie se debruça no balcão e bate na tela do computador. — Dê uma olhadinha aí. Evangeline.Ela olha novamente Evangeline de cima a baixo, se perguntando qual era o problema de Alec. Após uma revirada de olhos, a recepcionista caminha para dentr
Disposta a afastar a voz de Alec e a ameaça que ele havia lhe feito de sua cabeça, Evie resolveu arrumar todo seu trailer. Ela ligou o rádio nas alturas e aproveitou a falta da sua mãe, para exalar toda sua raiva com a limpeza.Embora Leah já estava sem aparecer há dois dias, Evie não se importava com aquilo. Sempre que ela tinha um novo e recorrente namorado, era normal que ficasse sem aparecer em casa por dias.Perto de acabar a sua grande arrumação, Evie mexe em uma mala antiga de sua mãe. Ela sabia que ali era guardado roupas e alguns pertences mais importantes, coisa que nunca lhe importou. Até que ela nota uma pequena caixa de bijuterias, com um pedaço de papel para fora. Aquilo atiça a curiosidade de Evangeline, que pega a caixa e se senta na cama.Tinha uma carta lacrada, endereçada a Evie e diversos outros envelopes já abertos, também endereçados a ela. Evangeline estranha, já que nunca havia visto nada daquilo. Ao virar a carta, leu o nome do destinatário. Samuel Atkins.— P