Evangeline sequer pensou duas vezes. Ela se sentou na cama rapidamente e encarou sua mãe. Pela primeira vez em anos, ela sentia que aquela mulher a sua frente, estava sendo sincera.
— Como assim?
Observando que conseguiu a atenção de Evangeline, Leah empurrou um dos potes para a filha e se levantou para pegar garfos. Só então quando retornou, que começou a falar.
— Sabe que trabalho para um pessoal endinheirado. — diz e Evie apenas balança a cabeça, enchendo a boca de comida. — Então, eles dão uma festa amanhã. Uma grande festa. Ouvi alguém dizer mais de duzentos convidados.
— Nossa... e cabe essa gente toda lá?
— Bem mais do que isso. Enfim. A chefe das empregadas pediu para que conseguíssemos quantas pessoas desse, para ajudar. E já que você precisa de dinheiro para aquela chatice lá...
Evangeline sentiu uma imensa vontade de abraçar sua mãe, mas conhecendo-a bem, reprimiu à vontade e continuou comendo o que tinha a sua frente.
— Quanto vão pagar? — ela tentou mostrar desinteresse.
— Acho que uns trezentos dólares.
— Uau... eu...
Ela iria aceitar. Daria para pagar o recital e ainda comprar uma roupa belíssima, para impressionar todos os presentes.
— Tem uma condição, Evangeline. — Leah diz, séria. — Naquela casa, moram pessoas muito importantes. Tão importantes, que você jamais veria qualquer um deles no meio da rua. — Evangeline estava atenta ao que sua mãe falava. Ela não fazia ideia que Leah, sendo a mulher fuleira que é, trabalhasse para alguém desse nível. — A festa vai ocupar todo o primeiro andar, que é imenso. Evie, presta bem atenção no que vou dizer. Em hipótese NENHUMA, você pode subir as escadas e entrar na sala da esquerda. Ouviu?
— O que tem lá?
Leah segura o braço da filha com força e a puxa para mais perto. Evie a encara assustada, sem entender os motivos da mãe estar agindo daquela maneira.
— Não sei e nem quero saber. Você precisa me prometer que vai fazer exatamente o que eu falei. Anda, promete.
A menina não conseguia entender o que de tão perigoso podia estar atrás de uma porta, a ponto de ela não poder nem subir as escadas. Mas como a única coisa que Evie queria, era dinheiro para enfim participar do recital de violino, ela concordaria até com injeção da testa.
— Tudo bem, mãe. Prometo que não vou entrar nessa sala.
[...]
Era verão em Nova York e o Bronx estava mais quente do que nunca. Evie e sua melhor amiga, estavam sentadas em cadeiras de praia em frente ao trailer da família de Felippa. Evangeline se refrescada com um miniventilador, que tinha o vento mais quente que o normal, enquanto sua amiga passava pedaços de gelo pelo pescoço.
— Ainda bem que você conseguiu um jeito de reaver esse dinheiro. — Felippa murmura, enfiando um cubo de gelo na boca e mastigando-o sem parar. — Estava a ponto de eu mesma ligar para JJ e conversar com o cara lá do dinheiro.
— Deixa de ser doida, menina. Aliás, eu sempre quis perguntar, mas não achava relevante. — Evangeline diz, se virando para sua amiga. — Qual o nome do JJ?
Felippa dá de ombros.
— É segredo. Ele não conta para ninguém.
— Nem mesmo para você?
A garota balança a cabeça negativamente, enquanto observa as unhas malfeitas. JJ não era nenhum pseudônimo importante. Jonathan Jensen sempre foi o menino nerd da escola, que todos caçoavam e batiam. Quando o ensino médio começou, em uma tentativa desesperada de ser descolado como a maioria daqueles que o batiam, Jonathan começou a vender drogas em festas. Quando as pessoas perguntavam seu nome ou quem procurar para conseguir drogas, ele apenas dizia JJ.
— Nossa, amiga. Isso é triste.
— Triste? Por quê?
— Porque vocês transavam, transam... sei lá.
Felippa faz uma careta.
— Eu não ligo, Evie. — ela olha para a amiga. — Nós apenas nos divertimos. Não tem romantismo algum. Então, logo, não me importa o nome dele.
Ela realmente não se importava, pois Felippa era o tipo de pessoa que não criava laços emocionais com homem algum. Durante toda sua estadia no campo de trailers, ao ver a mãe de sua melhor amiga, sofrer por cada homem que conhecia, a ajudou a ser fria nesse quesito.
Bem diferente de Evangeline, que apesar da aparência fria, causada pelo abandono dos pais, ela era completamente apaixonada pela ideia do felizes para sempre. Depois de ser uma violinista de sucesso, seu sonho era encontrar um grande amor e vivê-lo. E era exatamente isso que ela esperava de Rubens Monroe, ou Ruby, como ele gostava de ser chamado. Eles estavam na mesma turma da faculdade comunitária.
Evie iria desistir das aulas no primeiro dia. Ela achou que o descaso dos professores, diante daqueles que faziam arruaças por ali, era o fim da picada. A faculdade devia ser para aqueles que realmente querem aprender. Que querem ter um futuro longe daquela cidade.
Ruby era a única pessoa, a pensar daquela maneira. Ele fazia abaixo assinado, reclamações, tudo para a melhora daquela faculdade. Talvez fosse a perseverança dele, que fez com que Evangeline começasse a gostar daquele rapaz. Ou os olhos verdes.
— Ei? Onde você está?
Felippa salpicava água gelada em sua amiga, que estava com a cabeça nas nuvens. Ou melhor, em uma vida que sonhava ao lado de Ruby.
— Estava pensando em chamar Ruby para sair. O que acha?
— Ah, Evie... eu nem o conheço pessoalmente e já sinto tédio.
— Para! — Evangeline ri. — Ele é um doce. E eu realmente gosto dele. Ele é o único homem por aqui, que parece ter os mesmos ideais que eu.
Felippa decide não ir contra a sua amiga. Ela sempre achou Evangeline gigante. Que sua bondade e inteligência, era demais para qualquer pessoa no bairro onde moravam.
— Eu vou para casa. Tenho que me arrumar e ir para a festa.
— E eu tenho que cobrir você no seu emprego de meio período. — Felippa disse, com preguiça. Ela fazia qualquer coisa por sua melhor amiga. — Assim que você chegar em casa, me liga. Quero saber tudo o que vai acontecer hoje à noite.
— Pode deixar.
Evie se despede da amiga com uma piscadela e vai para seu trailer. Ela estava bastante ansiosa para esse trabalho e mal podia esperar o que estava por vir.
Leah havia deixado um papel preso a geladeira, com o endereço e quais conduções Evangeline precisaria pegar. Ela já tinha dado instruções de como queria que a filha arrumasse o cabelo ruivo e cacheado. Evie precisaria amarrá-lo em um coque arrumado e nenhum fio poderia estar fora do lugar.— O que eu falei sobre seu cabelo? — Leah questiona, assim que vê a filha no portão da mansão.— Sabe que meu cabelo não fica no lugar. Ainda mais depois de dois ônibus e o metrô.O segurança manda Leah decidir o que fazer, na parte de dentro. Ela então agarra no braço da filha e a puxa, enquanto a garota admira a imensidão da casa a sua frente.Elas entram pelos fundos, que dava diretamente para a gigantesca cozinha. Diversas pessoas iam e viam, com pressa e esbarrando em outras, que se ocupavam em encher bandejas. Os convidados começariam a chegar a qualquer minuto.— Carol? — Leah chama a mulher mais velha que estava gritando com outra. Carol era a manda chuva daquela cozinha e organizava toda e
Assim que chegou ao topo da escada, Evangeline sentia que o fino elástico que prendia seu cabelo, poderia arrebentar a qualquer momento.Ela caminhou até a famosa porta proibida e não pensou duas vezes, antes de empurrá-las. As duas imensas portas de madeira, se abriram para os lados e fez com que todos os olhos ao redor da mesa, a encarassem.As coisas ocorreram em questão de segundos. Ao ver a quantidade de armas e drogas que tinha em cima da mesa, as mãos de Evangeline vacilaram e a bandeja acabou indo de encontro ao chão. Como se isso já não fosse vergonhoso o suficiente, o elástico do seu cabelo cessou e deixou todo aquele emaranhado de fios, armado.— QUE MERDA VOCÊ FAZ AQUI?Assim que o homem na ponta da mesa grita, todos os outros se levantam e tiraram as armas da cintura, prontos para arrancar Evangeline dali e fazer com que ela nunca mais bisbilhotasse nada.— Eu... eu... — ela não conseguia formular uma frase, de tão nervosa que estava.Evangeline olhou para todos os rostos
— Não. — ela finalmente ocupa o espaço vazio ao lado de Alec, no banco de pedra. — Desculpe. Eu só... desculpe.— Você ainda não me disse o seu nome.— Evangeline. Evie.Ele não fala, mas acha que aquele nome combina perfeitamente com Evie. O cabelo ruivo volumoso, a pele branca e os olhos levemente esverdeados, deixava aquela menina incrivelmente linda, aos olhos de Alec.— Por que veio trabalhar aqui? — ele continua com seu interrogatório. Havia tanto que Alec queria saber. — Você parece ser muito mais do que uma simples empregada.— Não sou tudo isso também. Eu só precisava do dinheiro. Preciso, na verdade.Evie olha na direção da mansão, onde a festa continuava sem nenhum empecilho. Ela então pensa em sua mãe, no motivo que a fez estar ali naquela noite e novamente sente vontade de chorar.— Eu odeio a minha mãe. — Evie sussurra, com os olhos queimando.— Olha, nós temos algo em comum. Mas primeiro você. O que aconteceu?Ela olha para Alec e o inspeciona. Além da beleza impecável;
O dia de Evangeline foi corrido. De manhã ela foi quase se arrastando para a faculdade e assistiu algumas aulas. A tarde quando foi ocupar o seu turno no pequeno mercado em que trabalhava, descobriu que o dono não gostou da troca de funcionários que teve no dia anterior e acabou por demiti-la. Ela saiu do estabelecimento triste, mas com um cheque de duzentos dólares.Decidida a não deixar aquilo abalá-la, Evie resolveu ir comprar a roupa que usaria no recital. Ela caminhou a tarde toda e entrou em diversas lojas, sem encontrar nada ela pudesse dizer ser A ROUPA. Até que quando estava quase desistindo, ela optou pelo clássico. Um vestido midi preto, com mangas curtas.Ela foi para casa e pediu para que sua melhor amiga, guardasse aquela roupa em seu trailer. Apesar de sua mãe ainda não ter aparecido, Evie continuava não confiando nela. Ela pegou sua case com o violino e foi para sua aula da noite.Evangeline não havia percebido, mas Howard, o motorista dos Castello, estava a seguindo d
Os dez alunos já estavam em suas cadeiras e seguravam seus violinos, quando as cortinas se abriram. Evangeline não precisou de nenhum esforço para encontrar Alec. Ele tinha ocupado a cadeira ao lado de Felippa, que o encarava como se fosse uma maníaca.Jude adentra o palco e todos se levantam para aplaudi-lo. Ele faz uma reverencia e logo estão sentados novamente.A primeira música escolhida, era um clássico. Eine kleine Nachtmusik (Pequena Serenata Noturna), de Mozart. Foram quase dezenove minutos daquela música, que fez algumas pessoas chorarem e outras dormirem de puro tédio. Ao fim daquela música, era hora das apresentações solos. Um por um iniciava uma música de sua escolha.Antes das cortinas serem abertas, Jude e Marylin tiveram uma conversa ao pé do ouvido e a ordem das apresentações individuais foi alterada. Evangeline que seria a terceira, era a última. Ela e seus outros colegas, não entenderam o porquê dessa decisão, mas aceitaram.Quando finalmente chega a vez dela, Evie c
Felippa devorava um hamburguer imenso e ketchup escorria pelos seus dedos. Ela era comicamente observada por Evangeline e Alec, que ocupavam uma outra mesa.— Ela é divertida. — Alec murmura, virando-se para Evangeline.— É. Felippa é a melhor coisa que tem na minha vida.— E pela forma que ela ficou me encarando durante todo o recital, você falou sobre mim.As bochechas de Evangeline queimaram com aquela frase. Talvez ela tenha usado a palavra lindo, diversas vezes, enquanto contava sobre seu encontro com Alec.— Falei. — ela confessa, mordendo uma batata. — Não é todo dia que eu chego em casa com quinhentos dólares na mão.— Você não contou para ela sobre aquela sala. Contou?— Não. Não. Eu prometi que não contaria e não fiz.— Obrigado. — Alec sorri e pega o copo de plástico, repleto de refrigerante. — Hmm... eu não quero parecer esnobe, mas eu não tomava refrigerante desde a minha infância.— Eu imagino. Também imagino que esse deveria ser o último lugar em que você pensou em colo
Evangeline acordou disposta a fazer com que Ruby caísse aos seus pés. Era mais um dia quente no Bronx e ela estava sozinha no trailer. Aproveitando a falta de Leah, Evie provou todos os seus vestidos e optou pelo mais florido. Ele tinha alças finas, valorizava seus seios e era um pouco acima do joelho. Após calçar seus tênis que julga ser dar sorte e pegar os livros que seriam devolvidos, Evie sai do seu trailer.— Que produção!Felippa estava sentada em sua cadeira de praia, usando um biquini e com um ventilador refrescando seu rosto. Ela odiava os dias quentes, mas isso não significava que ela não deveria aproveitá-los para pegar uma corzinha.— Você está realmente disposta a fisgar o coração daquele nerd.— Ele não é nerd! — ela balança a cabeça, para afastar o fio de cabelo que insistia em encostar em seus lábios embalsamado de gloss. — É inteligente.— E qual a diferença?— Tchau, Felippa. Bom banho de sol.Depois de soprar um beijo para sua amiga risonha, Evangeline deixa o camp
Evangeline murmurou meia dúzia de palavras para Ruby e correu para fora do restaurante. Eram cinco minutos de onde ela estava, para o campo de trailers. Evie fez aquilo em dois. Já da esquina, ela conseguia guindastes de demolição e muita gente em volta. Evangeline olhou todas aquelas pessoas desesperadas, até achar sua amiga.— FELIPPA! — Evie grita e Felippa a olha. Elas correm uma para a outra e se abraçam no meio do caminho. — O que é tudo isso? O que está acontecendo?— Eu não sei! Papai está lá falando com aquele homem alto. Amiga, eles querem nos colocar para fora.Evie agarra no braço da amiga e a puxa até onde está William, seu pai, e um homem alto, negro e desconhecido.— Vocês não podem simplesmente chegar aqui e jogar uma bomba dessa nas pessoas. — William diz, para o homem que não está se importando com nenhuma daquelas palavras. — Tem gente que nasceu nesse lugar. E se estamos aqui, é porque não temos para onde ir.Assim que Evangeline se aproxima, o homem desconhecido a